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As emoções eram o fole de sua forja interna. Como uma fogueira, seu poder prosperava com a alimentação constante de sentimentos. Embora qualquer emoção forte pudesse atiçar as chamas, a raiva agia como o combustível mais potente.

Não era uma queima constante, mas um inferno furioso, um vórtice agitado que sugava cada lampejo de paixão e o transformava em uma dança tempestuosa.

Essa conflagração interna não era um caos aleatório, no entanto. Ela esculpiu seu próprio ser. A cada batimento cardíaco intenso, uma explosão em miniatura se propagava, moldando sutilmente a sua fisiologia para lidar melhor com a imensidão do poder que exercia.

As chamas dispararam os seus pés mais uma vez, aproximando-se num piscar de olhos.

O ataque foi rápido e sem tréguas, enquanto ele procurava dar um pontapé letal na minha bochecha com o seu pé direito.

Porém, a minha defesa estava preparada. 

Levantei o meu antebraço precisamente como um escudo para desviar o impacto. O ruído foi sentido através do longo músculo palmar, mas o desconforto valeu a pena para evitar um golpe direto na bochecha.

Girei meu corpo rapidamente, procurando uma abertura em sua defesa, aproveitando sua vulnerabilidade momentânea. 

Minha perna direita arqueou no ar, mirando em sua coxa esquerda, colidindo-o.

Senti o impacto reverberar em meu pé, mas Lewis não cedia ao golpe.

“Cacete, isso parece uma parede.”

As fibras musculares ali eram mais rígidas do que eu havia previsto, como cordas esticadas sob sua pele, resistindo à pressão que eu estava aplicando.

“Por quanto tempo ele treinou?”

Notei, porém, a insana dilatação das suas pupilas enquanto os nossos corpos se moviam num terrível bálsamo de golpes e defesas. 

Era como se a sede de sangue estivesse a arder febrilmente dentro dele, levando-o a um pico extraordinário. 

“Acho que eu tô fodido.”

O corpo de Lewis se enrolou como uma víbora. Seu pé esquerdo girou, um borrão de caos controlado. Sua perna direita, bem fechada, erguia-se em um arco vicioso, traçando uma meia-lua. O tempo pareceu ao meus olhos desacelerar, o mundo reduzido ao silvo do vento.

Minha própria sobrevivência dependia de uma fração de segundo. A distância de um fio de cabelo separava o instinto do esquecimento. Minha cabeça se inclinou para trás, um movimento de chicotada guiada pela consciência visual e pela rápida transmissão de sinais da coisa.

O pé de Lewis, um míssil balístico em sua trajetória, passou por mim, errando por um sussurro.

Por um momento repugnante, o mundo inclinou-se sobre o seu eixo. Então, bendito alívio. Eu tinha me esquivado. Mas esse alívio durou pouco. Um sabor metálico encheu minha boca, quente e acobreado. Estendi a mão, meus dedos roçando uma umidade que se espalhava pela ponta do meu nariz. Uma hemorragia nasal.

“Como? Ele ainda conseguiu me acertar?”

Com um estremecimento doentio, percebi que a mudança abrupta de pressão deve ter sido suficiente para romper os frágeis vasos sanguíneos do meu nariz. Não foi um ferimento grave, mas serviu como um claro lembrete da força pura e cruel que Lewis possuía.

Usei o dorso da palma da mão para limpar o sangue.

— Já deu, né? Não falei por ma…

Lewis não permitiu que eu continuasse, então aplicou outro golpe realmente habilidoso. 

Com um impulso de energia das chamas, seu pé direito disparou para frente. Os músculos da sua perna estavam preparados para detonar com força, e o tornozelo funcionou como um estopim para multiplicar o ritmo do movimento quando ele lançou o golpe.

Seu pé atingiu-me frontalmente o esterno, na área do meu peito. 

Apesar de uma tentativa minha de colocar os braços cruzados naquela área, a pressão e o som oco da batida ressoaram em meus ouvidos e impulsionaram-me para 4 metros. 

Aterrissei no solo irregular, rolando um pouco mais antes de parar. 

O chão duro e áspero embaixo de mim causou um tremor em minhas costas. 

Enquanto me recuperava da queda, a poeira pairava no ar, sentindo cada pedra e rebordo sob minhas palmas. 

Minha respiração foi brevemente interrompida e, em seguida, retomada com respirações rápidas e curtas.

“Porra, o que eu faço? Ele tá completamente maluco.”

Seus ataques eram uma torrente de impulso e fúria, como se ele estivesse disposto a desistir de tudo para vencer. O seu mundo se tornou um redemoinho carmesim no calor da batalha, uma cortina escarlate que obscurecia tudo, exceto sua forte vontade de triunfar. A luta atingiu níveis sem precedentes e a linha entre vontade e obsessão ficou cada vez mais nebulosa.

— Respeite o calor, ou ele o derreterá mais rápido que manteiga em uma frigideira.

A ficha caiu. Cada crítica, cada gesto arrogante era um golpe direto no ego de Lewis, acendendo uma chama interminável de ódio. Era como se um manto de desprezo tivesse se infiltrado profundamente em seu espírito, reabrindo uma ferida antiga, uma cicatriz emocional que latejava nesses momentos. 

Ser subestimado não era apenas um incômodo, era uma faísca que acendia a brasa de seu orgulho. Abriu uma mágoa antiga, uma angústia enterrada que voltou à superfície. Ele não estava apenas com raiva, estava desesperado para provar seu valor, para queimar tão intensamente que eles não ousariam desviar o olhar.

A necessidade de extinguir a imagem dele como uma piada, tornou-se um inferno dentro de si. Isso o alimentou, levando-o a feitos cada vez maiores, uma dança distorcida entre a validação e a autodestruição.

— É sério, deixa eu…

Outra erupção estourou sob os pés de Lewis, um gêiser de fogo esculpido por sua vontade. As chamas, não mais simplesmente agarradas a ele, dançavam um balé macabro em torno de sua forma, extensões de sua fúria ardente. Ele avançou, um cometa humano impulsionado por seu próprio poder.

O próprio ar parecia se distorcer ao seu redor. As moléculas de oxigênio, levadas a um frenesi pela intensidade do calor, aceleraram a combustão, alimentando as chamas e empurrando Lewis cada vez mais rápido. O crepitar do fogo se transformou em um rugido constante, o estrondo sônico de um homem que ultrapassava os limites do mundo físico.

Ele era um projétil vivo, um prenúncio de destruição que vinha em minha direção com uma velocidade que desafiava a lógica. Naquele batimento cardíaco congelado, o mundo se reduziu a Lewis, sua forma em chamas e a certeza arrepiante de que a fuga era uma ilusão.

O pico da onda de choque, vindo de um ataque espantoso, percorreu a área como um ciclone rugindo, uma expressão horrível da imensa concentração de energia liberada no momento do impacto, sacudindo o chão sob nossos pés balançou em resposta. 

A poeira e os detritos encheram o ar, envolvendo-nos em um manto de confusão e escuridão. 

Cof, cof!

Enquanto a poeira entrava em meus pulmões naquele momento vital da minha suposta derrota, a visibilidade era genuinamente de outro mundo. 

Um silêncio peculiar se abateu sobre a atmosfera, como se o próprio mundo estivesse prendendo a respiração, esperando o resultado desse conflito épico.

— Huh?

Mikael se destacou de forma imponente em meio ao tumulto. Sua mão levantada, sólida como uma rocha, agiu como um escudo intransponível diante do valente ataque de Lewis.

A colisão da força de Lewis com a proeza física de Mikael criou uma tempestade de energia, gerando aquela onda de choque que dispersou a poeira e revelou a cena antes oculta.

O olhar dele falava por si só; exalava seriedade e resolutividade. 

Cada centelha em seus olhos transmitia uma dedicação intransigente, uma vontade inabalável de preservar e lutar pela causa, um juramento silencioso gravado na pedra da convicção, mais alto do que qualquer palavra proferida.

A investida inexorável de Lewis foi neutralizada por um lampejo de percepção, e fomos conduzidos a uma breve, mas notável, pausa no conflito. 

O silêncio resultante foi intenso, pulsando com a antecipação de um cessar-fogo iminente.

— Foi mal.

Lewis sofreu uma mudança durante esse raro momento de discernimento. Seu olhar mudou de uma intensa atitude de obstinação para uma profunda contemplação. Era como se um vórtice interno de turbulência tivesse se evaporado, permitindo uma pequena pausa.

— Deixei a raiva subir à cabeça.

— Deixou mesmo.

Uma marca de queimadura, como uma cicatriz temporária, se revelou quando Lewis desceu sua perna, destacada na pele de seu antebraço. A área danificada estava vermelha e um pouco inchada. Mesmo assim, Mikael parecia não sofrer com os danos.

— Você estava indo longe demais. Tem que aprender a se controlar antes que o fogo queime tudo o que resta.

Mikael deu-lhe um peteleco na testa.

— Você é do Clã Agni, por isso suas ações sempre extrapolaram todos os parâmetros. 

Ele me deu uma olhada de lado, verificando discretamente minha condição.

— Caramba, olha o seu estado. 

O suor caía em gotas sobre minha testa, com os fios de cabelos grudados sobre a pele. Meus músculos, rígidos e dispostos para a luta, começaram a relaxar. A respiração era difícil e pesada, pois meus pulmões precisavam de oxigênio após o que ocorreu. Havia hematomas e arranhões por todos os meus braços.

— Deve ter sido pegado.

Seu semblante solene deu lugar a uma expressão descontraída, iluminada por um sorriso. E, apesar de sua natureza, esse sorriso transmitia uma sensação de conforto e simpatia.

— Eu peço uma coisa simples e vocês só faltam se matar, né? — Riu-se. — Bem, deu para testar o combate físico.

Enquanto isso, limpei o sangue que ainda escorria do meu nariz.

— Se eu não interviesse, acho que vocês estariam em problemas. — Ponderou por um breve momento a respeito do que disse. — Até eu também.

Lewis deu um suspiro profundo.

— É difícil manter o controle. — Bateu a palma da mão na cabeça. — Foi um vacilo meu.

— Não, na verdade, foi idiotice minha ter dito aquilo. — confessei. — Vou me certificar de nunca mais abrir a boca, porque, né…

Estendi minha mão, com a palma para fora. Este era um gesto que, de maneira clara, transmitia a mensagem de “vai me fazer mal de novo”.

— Mesmo que tenha apanhado, você foi bem. — Esfregou a mão sobre minha cabeça. — Só tem que melhorar bastante.

— Pff. — Lewis prendeu a risada.

Minhas pupilas se contraíram, meus lábios se curvaram em uma linha reta e meu olhar se aguçou, revelando um descontentamento. 

Foi uma reação visceral, uma expressão imediata de profundo ressentimento.

— Mas, é, realmente. — Lewis concordou. — Pensei que o Krynt não soubesse lutar, mas ele manja pra caramba.

— É claro, sou pouca coisa não.

Mikael estava procurando um objeto específico nos bolsos da calça.

— Tenho uma coisa pra te mostrar.

Ele exibiu com orgulho o distintivo da força-tarefa.

A luz refletiu no objeto, revelando o símbolo que denotava a minha posição como Agente de Campo Classe Regular.

A insígnia, com seu brilho metálico, simbolizava autoridade e responsabilidade.

— Ah, não acredito… — disse, incrédulo.

— Agora você oficialmente faz parte da gente. Incrível, não é?

Nada pude dizer, visto que estava em um estado de total admiração. 

Meu silêncio foi uma reação à grandiosidade da surpresa que me pegou de surpresa, como se as palavras tivessem desaparecido.

Minha expressão fixa e atônita mostrava toda a extensão do choque com a notícia.

— Isso não vai ser perigoso? — Lewis perguntou.

— Se fosse eu jamais cogitaria chamá-lo para trabalhar com a gente. O Krynt será de grande suporte, principalmente na missão de amanhã.

Lewis considerou a ideia de Mikael, mas um lampejo de percepção iluminou sua mente com a revelação de suas verdadeiras intenções. 

— Não sou tão burro, mas acho que saquei. — disse, sorrindo. — Genial, Kael!

Fiquei surpreso com a elegância do distintivo quando ele me foi entregue. 

Eu o segurei cuidadosamente em minhas mãos, admirando cada detalhe.

O centro do distintivo era ornamentado com uma bela águia em voo, com as asas estendidas, emoldurada por uma folha de carvalho e uma guirlanda de louros. 

O nome da força-tarefa foi escrito em uma caligrafia delicada e elaborada com a sigla: U.E.C.

— O nosso papel é separar o mal das pessoas para que essa espécie desapareça. Você, como um novo funcionário, tem esse dever agora. Você acha que consegue?

Agarrei-me ao meu distintivo com uma firme resolução. 

Apesar das lembranças angustiantes da catástrofe que eu havia criado involuntariamente, decidi, de agora em diante, curar o dano. 

O fato de agarrar-me firmemente ao distintivo simbolizava meu desejo incondicional de enfrentar meus pecados e seguir o caminho da expiação, transformando um erro cometido em algo que pudesse produzir o bem.

— Vou fazer o meu melhor.

Mikael sorriu com um toque de orgulho.

Picture of Olá, eu sou Nyck!

Olá, eu sou Nyck!

E aí, queridos leitores.

Tenho estado com a cabeça fervilhando de ideias, e pensei: que tal aumentar o ritmo das publicações para dois capítulos por semana? O que vocês acham disso?

Então, se essa ideia for bem-recebida, a proposta é soltar um capítulo novinho em folha no sábado e outro no domingo. Assim, vocês teriam um fim de semana inteiro para mergulhar na história. Que tal?

Ah, e tem mais! Estou super empolgado com a ideia de um servidor no Discord dedicado à novel. Já criei o espaço, e vocês estão mais do que convidados a entrar e dar sugestões. O link direto é este: https://discord.gg/7z3RBqw8.

Ainda tô montando o lugar, mas já dá para trocar uma ideia.

Enfim, era só isso que eu queria compartilhar com vocês.

Espero que tenham gostado das novidades. Conto com o feedback de vocês e também espero encontrá-los no nosso servidor.

Com entusiasmo,

Nyck.

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