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Capítulo 12 – Novos ares

No dia seguinte as coisas estavam calmas até certo ponto. As autoridades ainda não satisfeitas com as explicações da grande explosão, deixaram o país em estado de alerta.

A área em volta da cratera foi fechada e várias viaturas circulavam pela cidade, cerca de 3 vezes mais delas.

Mayck foi para a escola normalmente, uma coisa que não pôde deixar de notar, foi que Hana estava mais grudada que o comum, chegando a convidá-lo para matar aula no telhado do colégio.

Eles ficaram bastante tempo juntos no passado, mas em algum momento, se afastaram um pouco.

Fora isso, Mayck tomou a decisão de pôr um fim às esperanças de Narumi acerca de seu irmão estar vivo.

Ele retirou o celular do fundo da gaveta e procurou um lugar isolado para descartá-lo. Nada melhor que uma ponte afastada do centro.

Havia lugares melhores? Sim. Mas o garoto esperava que alguém encontrasse e levasse a polícia.

Só então, Narumi acabaria com seu sofrimento, mesmo que a realidade fosse ruim, ela ainda deveria ser enfrentada.

Com esta tarefa terminada, só restava se preparar.

Os dias iam se passando e o mês de abril chegava ao fim.

Mayck treinava sua ID em um local indicado pela Black Room e depois de um tempo, aprendeu a lidar com os ataques psicológicos feitos por Alana.

Mas isso não durou muito tempo. À medida que ele usava sua ID mais e mais, suas dores de cabeça se tornavam mais curtas, porém, mais intensas.

Por outro lado, Hana vinha sendo mais ativa na Strike Down. Com o objetivo de proteger seu amigo de infância e evitar que ele usasse sua ID, ela vinha se empenhando bastante.

O time Delta receberia um novo membro, vindo da Academia Especial de Desenvolvimento. Mas ele usava uma fachada da Universidade Interplay, uma renomada instituição de ensino com sede nos EUA.

Foi criada há vários anos, com o objetivo de ajudar e controlar os portadores, usando um sistema em que apenas os usuários de ID eram aprovados e o segredo dos portadores eram protegidos.

O final de abril seguiu sem mais incidentes.

A Ascension simplesmente sumiu do mapa, após a explosão que foi nomeada de Catástrofe da Luz Vermelha.

A inatividade deles, pôs todas as outras organizações em alerta, mas isso não foi tudo.

Aproveitando o sumiço deles, vários pequenos grupos de portadores começaram a agir em prol de seus objetivos, o que causaria um problema.

Mayck foi convocado por Zero para investigar esses grupos e tanto a Strike Down como a GSN, entraram em cena nessas mesmas investigações.

Mas o maior problema veio antes disso.

Em silêncio, nas sombras, criaturas começaram a se espreitar e a se alimentar dos desavisados que perambulavam pela noite.

“Ele está indo até você. Tome cuidado”, Airi falou para um aparelho próximo a sua boca.

“Tudo bem.”

Hana se preparou e apontou uma pistola para o final do corredor, onde havia uma bifurcação.

Em segundos, uma criatura andando em quatro patas apareceu correndo enlouquecidamente em sua direção. Ele tinha, em seu rosto, um tipo de funil.

A garota se concentrou e disparou várias vezes.

Não era uma arma de fogo comum, o que mais chamava atenção também não era seu design sofisticado, mas o que ela disparava.

Uma pequena esfera vermelha saia do cano da pistola e causava uma pequena explosão ao acertar o alvo.

A criatura emitiu um rugido com a dor e caiu no chão, dando seu último suspiro.

“Eye Thief derrotado”, ela falou após pôr a mão em seu ouvido.

“Então a missão foi um sucesso. Ótimo. Já estamos chegando”, Ryuunosuke disse.

“Incrível, Hana-nee. Esse já é o terceiro que você derrota sozinha”, Yui pulou em cima de Hana. “Eu queria ter acabado com ele, mas você foi muito bem.”

“Obrigada, Yui-chan. Mas eu não o derrotei sozinha. Vocês me ajudaram bastante.”

“Hehe~”

“Ei vocês duas. Estão bem?” Asahi se aproximou.

“Sim. E quanto a vocês?”

“Estamos bem.”

Os cinco se reuniram. A missão estava completa.

“Vamos voltar agora. Outra equipe foi acionada para vir pegar os corpos. Bom trabalho, pessoal.”

“Então eu vou embora. Tenho que me apressar”, Hana acenou e se afastou.

“Certo. Tome cuidado”, Airi disse.

“Até mais.” Yui balançou a mão.

A garota chegou em casa e decidiu tomar um banho, para expelir o cansaço acumulado.

Hoje até foi fácil. Quanto mais informações melhor. No começo ficamos todos descoordenados enfrentando aquele tipo. Não sabíamos quais seriam os seus movimentos, mas depois de algumas vezes ficou mais simples.

Depois de alguns dias após a Catástrofe da Luz Vermelha, eles pesquisaram e descobriram o que era o Controle Espacial.

Vários Ninkais começaram a rodar pelo Japão e a devorar humanos e animais.

Eles começaram a surgir um atrás do outros e todas as organizações foram obrigadas a estudá-los e compartilharem os resultados.

Mesmo que eles fossem inimigos, um pensamento em comum era o de não machucar pessoas não relacionadas com aquele mundo.

Eye Thief. Ele não é muito forte. O maior problema é sua velocidade, o que torna ele difícil de ser pego. Ainda bem que eles foram ranqueados e classificados. Mas apenas os que foram vistos até agora. Provavelmente existe muito mais do que já vimos.

A garota terminou seu banho e foi para seu quarto.

Amanhã eu vou me esforçar de novo.

Ela pegou seu celular e viu uma mensagem de sua mãe. Olhou o conteúdo e lá, Tsukiko afirmava que iria voltar tarde.

“Então vai jantar fora, né?”

Ela desligou o aparelho e fechou os olhos.

Só se passou um mês desde que as aulas começaram… Falando nisso, o aniversário dele está chegando. Será que eu dou algum presente?

Ficou pensativa por um tempo, mas logo saiu de seu banho.

|×××|

Mais um dia que se passou rapidamente. Era sexta-feira, então não teria aula no dia seguinte.

“Hoje, vou fazer uma coisa que não faço há muito tempo”, ele falou para si mesmo, enquanto pegava uma caixa de papelão na estante.

Abriu a caixa e ela revelou várias capas de CDs de filmes variados.

“Faz tempo que não abro essa caixa… será que tem algum filme que eu nunca vi…”

A nostalgia foi interrompida quando ele pegou uma capa de CD e olhou para ela.

“Um filme adulto… né?”

Ele suspirou e guardou o objeto.

“Perdi o interesse. Não que eu não esteja curioso pelo conteúdo educativo, mas eu não queria ver agora…” Ele pôs a caixa em seu lugar.

“Colocados no lugar. Agora é dormir pra esquecer.”

Ele se virou na intenção de ir para o quarto, mas a campainha o impediu.

“…” Já estava subindo a escada, então fez uma poker face.

Através do olho mágico, ele viu que recebeu uma vista mais que incomum. Uma visita que ele nunca esperava receber.

“Olá, Mayck-kun. Boa noite”, Suzune falou após a porta ser aberta.

“Ah, boa noite.”

Imagina se eu estivesse assistindo aquilo…

Ele abriu completamente a porta e percebeu a presença de Haruna, um pouco atrás da mãe.

A garota se curvou educadamente.

“Desculpe por virmos assim do nada. É que encontramos seu pai quando voltávamos do mercado e ele nos convidou para vir aqui.”

“Ah, é isso?” Ele disse um pouco atordoado.

“Será que… ele não te avisou?”

Mayck inclinou o pescoço e olhou pelos cantos dos olhos.

“Não…” Ele pegou o celular e o olhou. “Na verdade, avisou sim…” Viu a mensagem enviada há alguns minutos.

Não tendo outra escolha, ele convidou as duas a entrar.

“Fiquem à vontade.”

Elas adentram a casa e fazem o que ele falou.

“Ah! Eu trouxe algumas coisas. Posso usar sua cozinha?” Suzune pergunta mostrando uma sacola.

Pelo que dava para ver, havia alguns legumes e outros produtos comestíveis.

“Hum.” Com um aceno de cabeça, Mayck permitiu. “Eu vou até meu quarto por um tempo. Se precisarem de mim, me chamem.”

“Tudo bem”, ela disse alegremente.

Deixando as visitas na cozinha e se isolando em seu quarto, o garoto suspirou intensamente.

Por quê?

Em meia hora, Takashi chegou, um tanto quanto cansado do trabalho.

“Hum… que cheiro bom”, ele disse assim que entrou.

“Você deveria tomar um banho antes”, Mayck o repreendeu.

“Sim, sim.”

Como se o obedecesse, Takashi seguiu para o banheiro.

Suzune deu um riso com a cena, o que despertou a curiosidade do garoto.

“Huh? Não é nada. Só achei interessante o quão próximos vocês são”, ela disse com um sorriso gentil.

“Eh… bem, de certa forma.” Ele evitou contato visual.

Haruna, que estava ao lado da mãe, observou o garoto por um tempo e desviou o olhar com um suspiro, continuando cortando uma batata.

A janta ficou pronta e todos se sentaram à mesa, Mayck e Haruna de um lado, Suzune e Takashi de outro.

“Essa é a segunda vez que jantamos juntos, não é?” Suzune comentou.

“Sim. Já faz um mês que anunciamos o casamento.”

Takashi e Suzune se olharam e seus rostos começaram a se aproximar um do outro e depois de ficarem bem pertos, um som agudo de uma colher batendo em um copo de vidro os interrompeu.

Eles olharam para frente e viram Mayck olhando para o lado e Haruna olhando para o outro, com o rosto corado. Só aí eles se tocaram do que aconteceu.

“A-ah, desculpem, não era nossa intenção… hahaha.”

“I-isso. Não foi de propósito.”

Eles ficaram constrangidos com a situação, então terminaram o jantar em silêncio.

“Que tal assistirmos algum filme? Apenas para passar o tempo…?”

Em uma tentativa de apaziguar o clima pesado, Takashi ofertou.

“Acho que pode ser bom. Jovens gostam bastante de filmes, não é?” Suzune reforçou.

“Bom, por mim tudo bem…” Mayck entendeu a situação e jogou a decisão para Haruna, quando olhou para ela.

Boa sorte.

É sério isso?!

Foi o que seus olhares diziam.

“Sem problemas…”

“Que bom. Então…” Takashi andou até a estante da sala e pegou uma certa caixa.

Um alarme soou na cabeça de Mayck e ele olhou para Takashi, em busca de uma forma de avisá-lo sobre o conteúdo do objeto.

Não há outra saída.

“Por que não procuramos algum filme da internet? Pode ser que tenha algo interessante.”

“Hum? Quer dizer que meus filmes não são bons?”

“Seus filmes são velhos. Talvez os discos nem rodem mais.”

“Esse é um ponto, mas…” voltando seus olhos para a caixa, que estava semiaberta, Takashi viu que foi salvo por um triz. “Você está certo. Vamos procurar algo na internet.”

Um olhar entre pai e filho de agradecimento deixou as duas mulheres presentes confusas.

No meio do filme, Mayck anunciou que iria em uma loja de conveniência.

Para evitar ficar no meio do casal, Haruna se ofereceu para acompanhá-lo, sob a fachada de querer algo específico.

Era por volta das 23:00. A rua estava vazia e diferente do calor escaldante da tarde, estava bem frio.

Mayck colocava suas mãos no bolso de seu agasalho para se manter um pouco aquecido.

Eu imagino o por que dela ter vindo… mas esse silêncio é um pouco perturbador. Eu não sei se falo alguma coisa ou deixo como está.

Uma guerra, entre falar e não falar, acontecia na cabeça do garoto.

“Escuta.”

Inesperadamente, Haruna iniciou uma conversa. Mayck a olhou um pouco surpreso.

“Lembra daquilo que aconteceu no início das aulas?”

“Aquilo… está falando daquilo com a Rika?”

“Hm.” Ela assentiu, balançando a cabeça.

“E então, ainda está irritada?”

“Se eu dissesse que não, estaria mentindo. Mas, eu acho… que me envolvi de forma desnecessária no meio de vocês, então… eu queria… pedir desculpas.”

Apesar de tudo, ela pensa por si própria.

“Não se preocupe com isso. Ficar irritada por uma amiga, eu vejo como algo bom. Mas eu vou aceitar suas desculpas por ter sido precipitada.”

“Pode ser um pouco mais humilde? Eu decidi pedir desculpas por espontânea vontade, sabia?”

“Claro, claro”, ele falou com indiferença.

“Ah…” Haruna suspirou. “Mas se você ainda fizer ela chorar, eu não vou te perdoar, okay?”

“Sim, senhora.”

Mayck fechou os olhos enquanto concordava, por isso não viu o pequeno sorriso que se fez no rosto da garota.

A loja de conveniência não estava muito cheia, como sempre.

Eles se separaram, pegando o que cada um queria, se encontrando no caixa.

Mayck saiu primeiro e parou em frente à loja.

Hoje até que não está muito frio.

Ele esfregou as mãos.

“Mayck-kun? Há quanto tempo. Boa noite.”

Uma mulher se aproximou dele.

“Yuigahama-san. Boa noite. Já faz um bom tempo.”

Depois que Mayck ‘jogou fora’ o celular de Nariyuki, não levou mais de uma semana até a polícia encontrar. O que provou que os defensores da justiça de Tóquio não brincavam em serviço.

Uma pequena cerimônia foi realizada em memória do garoto, cujo corpo não foi encontrado e isso abalou profundamente os familiares.

“Que bom que te encontrei. Eu queria te agradecer por toda ajuda que você me deu, mas eu não te vi desde o dia em que me levou até a delegacia.”

“Eu tenho estado ocupado ultimamente. Por isso acabei me mantendo em rotas diferentes.”

Mayck deu um pequeno sorriso.

“Entendo. De qualquer forma, me permita te agradecer de alguma forma. Se tiver algo que você precise, pode entrar em contato comigo, tudo bem?”

“Eu farei isso. Obrigado.”

“Não, não. Sou eu quem agradeço, afinal de contas, devo muito a você. Eu preciso ir. Até mais.”

Apesar do sorriso estampado em seu rosto, o garoto podia ver a tristeza que dominava seu coração.

O sumiço de um parente próximo, a possível morte dele e o corpo não sendo encontrado. Não tem como um ser humano que ainda possui sentimentos ficar feliz, mesmo depois de muito tempo.

“Sim, até.”

Ele acenou brevemente e observou Narumi se afastando.

Me desculpe, Yuigahama-san.

“Quem era? Uma conhecida?” Haruna indagou ao se aproximar.

“Pois é. Está tudo pronto?”

“Sim. Vamos indo.”

Os dois tomaram o caminho para casa e antes de chegarem, Mayck ligou para casa com seu celular, para evitar certas situações.

|×××|

O dia seguinte se iniciou sem mais problemas, ou era o que Mayck gostaria de dizer.

Takashi recebeu o fim de semana de folga e Mayck recebeu um chamado às sete da manhã.

Contra a sua vontade, ele se encontrava na sala de Zero, para uma reunião importante.

“Desculpe chamá-los tão cedo. Nós estaremos recebendo, hoje, no time Delta, um novo membro”, o líder da Black Room anunciou.

“Isso realmente parece importante. Mas, o que eu tenho a ver com isso?”

“Eu pensei que seria bom pra você saber quem seria o novo integrante. Até porque suas missões serão em conjunto com eles.”

“Mas…”

“É, eu sei que você não é um membro oficial, mas ainda assim, é nosso aliado.”

Com a persistência de Zero, Mayck decidiu ficar quieto. Ele se sentou, assim como os demais presentes na sala.

“Sendo assim, entre, por favor.”

Após a ordem, a porta se abriu e uma garota de cabelos longos adentrou a sala lentamente.

“Essa é Lucy, a recém formada na Academia Especial de Desenvolvimento.”

“Eh… bem, pra-prazer em conhecê-los”, a garota se apresentou inclinando o corpo em meio ao nervosismo. “Meu nome é Lucy, tenho 14 anos e possuo uma ID de suporte.”

“Eu sou Ruby. A capitã do time Delta. Seja bem-vinda.” Ela tomou a frente. “Esses são Isha, Keize e Stella.”

“Prazer, Lucy-chan.” A animada Stella chacoalhava as mãos empolgada.

“Sou Isha. Prazer”

Keize apenas balançou a cabeça.

“Esses são Mayck e Nikkie, que você já conhece. A partir de hoje, eles serão seus supervisores.”

“É a primeira vez que ouço isso.” Mayck jogou um olhar exasperado para Zero que, por sua vez, ignorou.

“O-obrigada por cuidar de mim.” Ela se curvou outra vez.”

E esse foi o motivo do primeiro suspiro de Mayck, do dia.

Depois de todas as formalidades, Mayck e Nikkie não receberam uma tarefa específica, então estavam livres.

O garoto viu ali, a oportunidade para fazer algo que deveria.

“Sobre aquilo que eu te pedi… Tem agora?”

“Aquilo? Ah, sim, claro. Você quer as informações, certo? Mas o que vai fazer com elas?”

“Depende do que a informação vai servir.”

Vendo que não conseguiria entender o garoto, Nikkie solta um pequeno suspiro. Ela põe a mão no bolso e retira um pendrive.

“As últimas estão aqui.”

“Ótimo. Eu vou dar uma olhada assim que chegar em casa”, ele afirma, enquanto recebe o objeto em suas mãos.

“O que você vai fazer daqui pra frente? Vai procurar a Ascension?”

“Isso também, mas, por ora, eu vou apenas coletar o máximo de informações possíveis. Ainda tem os Ninkais soltos por aí. Não posso fechar os olhos para isso.”

“Você poderia se juntar a nós oficialmente, assim teria suporte de verdade.”

“Eu passo. Não estou afim de ficar recebendo ordens ou que alguém me diga o que fazer. Meu trato com a Black Room é, de forma resumida, um meio de evitar que eu me vire contra vocês ou o contrário.”

“Não vou insistir nisso. Mas preste atenção no que vai fazer.”

“Escuta aqui, em parte eu só estou fazendo isso por sua causa. Poderia ser mais grata.”

Nikkie deu de ombros e saiu, deixando o garoto sozinho.

“Que seja.”

Mayck virou as costas e saiu da base da organização.

Chegando em casa, entrou cautelosamente.

Seu pai estava de folga e por conta do cansaço do trabalho, tinha um sono bem pesado, então não notou o garoto sair e voltar para casa.

“Agora, veremos o que tem aqui…”

Ele conectou o pendrive em seu computador e abriu uma pasta que apareceu no meio dos seus arquivos.

Clicou com o mouse e a pasta revelou inúmeros documentos.

Caramba… tudo isso?

O garoto se surpreendeu com a quantidade que encontrou.

“Eles conseguiram bem mais que da última vez. Agora pra ver tudo isso, vai dar um trabalho…”

Deixou a preguiça de lado e começou a analisar cada um dos documentos. Eles continham relatórios de investigação dos agentes da Black Room e alguns possuíam até mesmo localizações de bases recém descobertas da Ascension.

“Sim, muito útil. Se eu ir verificar todos esses locais eu posso encontrar alguma coisa. Afinal de contas, não tem como um grupo tão grande como eles desaparecer sem deixar rastros. Embora eu não tenha achado nada nessas últimas semanas…”

Continuou abrindo um atrás do outro e o tempo se passou. Mayck só notou isso quando a luz que entrava pela janela estava mais forte que antes.

“Tão tarde… digo… esquece.”

Ele desconectou o pendrive e desligou o computador, indo até a cozinha preparar o café da manhã.

Passei duas horas procurando e tudo o que eu achei são mapas. Eles só vão ser úteis se eu for até o local designado por cada um. Mas isso é meio impossível, já que estão espalhados por todo o Japão. Desculpe, Nikkie, mas você e sua irmã terão que esperar mais um pouco.

Terminando de aprontar a mesa, Takashi despertou e desceu para o café da manhã.

“Bom dia”, ele falou entre bocejos.

“Hum, bom dia.”

Depois de suas higienes diárias, eles se sentaram à mesa e degustaram os pães e o café preparado.

“Um dia de folga é muito bom.” Takashi se espreguiçou.

“Pra quem trabalha quase 24 horas por dia, imagino que sim.”

“Sem contar que nessas últimas semanas tudo tem ficado complicado. É bem raro ter folgas assim. Eu já perdi a conta de quantos assassinatos foram reportados em uma semana.”

“Hum.”

“Bom, isso não importa agora. Eu só quero descansar o dia inteiro. E você?”

“Eu não tenho nada planejado pra hoje… então talvez eu saia pra respirar um pouco.”

“Se for sair tome cuidado. Não se sabe o que pode acontecer com você se piscar uma só vez.”

“Eu vou tomar cuidado. Também não planejo passar o dia todo na rua.”

“Aconteça o que acontecer, venha para casa, okay?”

“Claro. Pode deixar.”

O garoto começou a lavar a louça, enquanto Takashi se deitou no sofá e ligou a TV.

Pode não ser uma boa hora, mas…

“Pai, eu estou curioso sobre algo.”

“Hum? O que é?”

“Eu estava olhando um álbum antigo. Aí acabou surgindo algo na minha cabeça.”

“Pode falar.”

As palavras ficaram presas em sua garganta, mas a hora era aquela. Ele não poderia mais deixar tudo em branco.

“Quem realmente é a Alana?”

“…”

Ele não respondeu, mas Mayck pode perceber sua hesitação com a pergunta.

“O que você está perguntando? Ela era sua irmã mais velha.”

“Realmente?”

“Realmente.”

“Então tudo bem.”

Certas coisas passavam pela cabeça do garoto. Por que Alana estava lhe perturbando sempre que usava sua ID? Era isso que ele almejava descobrir.

Terminou de lavar a louça e voltou para o quarto, passando mais meia hora lendo os documentos do pendrive.

“Eu não vou conseguir nada assim.”

Ele se levantou e trocou de roupa, se preparando para sair.

“Eu estou saindo”, anunciou a seu pai quando passava pela porta.

Pegou seu celular e abriu um aplicativo de mapas e digitou uma certa coordenada.

“Ao menos não é tão longe.”

Colocou as mãos no bolso e seguiu para a estação.

Pegou o trem que ia na direção norte de Tóquio. E esperou vários minutos até o local designado.

O garoto saiu da estação e andou em direção ao ponto marcado no mapa, dando de cara com uma velha rua comercial, que não era usada há anos.

“Não é de se admirar. Mas uma base num lugar tão clássico… que idiota faria isso?”

Mayck seguiu pela rua silenciosa. O ambiente ficou com uma cor monótona, apenas para deixar um clima mais misterioso.

Os edifícios tinham musgo por toda a parte, a ferrugem coloria os portões e a sujeira decorava a rua. Não dava a impressão de que pessoas moravam a apenas alguns metros dali.

O garoto verificava cada metro quadrado e mantinha sua guarda alta, para o caso de algo ou alguém aparecer.

Como algum tipo de instinto, ele se escondeu na fenda entre dois edifícios e olhou com cuidado.

Duas pessoas saíram de dentro de um local em ruínas.

“Bem, mesmo que ele reclame, não havia o que fazer. Depois que aqueles lixos da Ascension sumiram, nós finalmente podemos sair do esconderijo.”

“Só temos que tomar cuidado com as outras três. Só porque uma sumiu não quer dizer que estamos livres.”

Eles estão falando das três organizações? Mas quem são eles?

Mayck espreitava a conversa da dupla, tentando pegar o máximo de informações possíveis.

“O que surpreende é que todos agora estão começando a procurar aquela ID que lutou com Yang. Não podemos deixar aqueles ratos passarem na frente. O chefe vai nos mandar ir atrás dele a qualquer hora.”

“Mas isso não é só uma história idiota? Quer dizer, quem pode bater de frente com Yang e sair vivo? A não ser que o próprio Yang tenha deixado ele ir.”

Ele deixou mesmo, idaí?

“Mas se todos estão indo atrás, então pode ser verdade. Sabe como chamam ele?”

“Lua azul… ou algo assim, não é?”

Que apelido ridículo. Quem pensou nisso?

O apelido não agradou Mayck, que rangeu os dentes, mas se manteve calmo e quieto.

“De qualquer forma, quem quer que pegue ele primeiro vai sair na vantagem. E nós temos que fazer isso.”

“Sim. Vamos fazer o que pudermos.”

Os dois homens saíram andando na direção oposta a que Mayck estava, o dando uma oportunidade de sair do esconderijo.

“Uma quarta organização… alguém já mencionou isso antes, sobre ter outros pequenos grupos. Pelo visto, estão atrás de mim…”

Por um segundo, ele estava pensativo, mas quando se deu conta do problema em que estava metido, seu rosto refletiu seu desgosto.

“Mas… que merda.”

Aproveitou que os dois foram embora e correu até o local de onde eles saíram.

“Não parece ter algo importante aqui.”

Ele olhou ao redor e tudo o que viu era entulho e mais entulho.

Parece que nem eles são burros o suficiente para deixar algo aqui.

Mayck desistiu e virou de costas, mas algo no canto de sua visão o parou.

“O que é isso?” Ele andou até o objeto no chão.

Era um cartão amarelo com alguns desenhos, daqueles cartões de empresas.

“Eu poderia ignorar, mas ele está muito limpo para ser lixo. Talvez aqueles dois tenham derrubado.”

Atrás do cartão, havia um endereço.

“Isso é…”

Colocou o cartão no bolso e pegou o trem novamente, indo para onde o endereço levava.

“Hm… algo óbvio”, ele falou enquanto encarava o prédio de vinte andares no centro de Shibuya.

Andar entre essa multidão é cansativo, principalmente nesse calor.

O garoto atordoado deu um passo à frente e adentrou o edifício.

Havia um grande número de pessoas. Era um tipo de departamento com vários tipos de lojas.

“Encontrar algo suspeito aqui parece ser só um sonho…” Algo levava sua força de vontade embora.

Ele andou por entre as pessoas e olhava para todos os lados de forma cautelosa e vez ou outra checava a cartão.

“Eu quero ir pra casa.” O garoto olhou seu celular e percebeu que já estava fora de casa a duas horas. “Acho melhor deixar isso pra outro dia…”

Ele decidiu sair, mas quando olhou mais adiante, algo chamou sua atenção.

“Aquilo não pode ser um cosplay”, afirmou olhando para a figura usando trajes totalmente fora do comum.

Suas roupas brancas com detalhes em vermelho chamariam atenção de qualquer um.

“Eu já assisti Rangers. E isso não tem nada a ver com os uniformes deles.” Sob esse fato, Mayck decidiu seguir o estranho.

Shibuya estava lotada aquela hora do dia, então ninguém notaria se estivesse sendo seguido.

Após rodarem por todo o bairro, a figura se encontrou com mais três, vestidos da mesma forma.

Eu tô começando a achar que cometi um erro terrível… Vou tirar uma foto.

Com a ideia de não se esquecer dos uniformes estranhos, Mayck pegou seu celular e tirou algumas fotos dos rostos deles, para futuras referências.

“Tirando fotos de desconhecidos? Que coisa feia.”

Um sussurro repentino fez o coração do garoto errar uma batida e um calafrio foi de seus pés até a cabeça.

Ele olhou para trás rapidamente e viu um rosto que nunca havia visto na vida.

“Quem é você?”

Eu nem percebi ela se aproximar.

“Desculpe se te assustei. O que você está fazendo.”

“Tirando fotos da linda paisagem. Não é todo dia que eu venho até Shibuya.”

“E aquelas pessoas fazem parte da paisagem? Que legal, são cosplayers?” Ela disse com um tom empolgado.

Ou ela está fingindo ou é só uma idiota com uma boa percepção.

“Bem, quem sabe. Aquelas roupas chamam bastante atenção.”

“Então… que tal falarmos com eles?”

“Quê? Claro que não.”

“Vamos, vamos logo”, a garota falou e puxou a mão de Mayck e eles se arrastaram pela multidão.

Mas o que ela está pensando?!

Mayck não pôde reagir e só conseguia ver os cabelos esverdeados da garota balançando em sua frente.

Não quero parecer esquizofrênico nem nada do tipo, mas é bom não baixar minha guarda agora.

“Ei, ei, vocês”, ela os chamou quando se aproximaram.

“Hum? Que é essa?”

“Vocês são cosplayers? Eu posso tirar uma foto?”

“Não, isso não é cosplay…”

“É de algum anime? Eu nunca tinha visto.”

Sem esperar a consentimento dos três, a garota pegou o celular de Mayck e abriu a câmera de selfie.

“Vai, digam ‘x’.”

Sem escolha os quatro, incluindo Mayck, posaram para a câmera.

“Obrigado”, ela agradeceu no mesmo tom empolgado.

“Sim, não há de que…”

Eles ficaram tão confusos com a situação toda, que nem conseguiam pensar no que dizer. Então observaram a garota arrastar Mayck pela multidão.

“Pronto. Feliz agora.”

“Não vejo motivo para felicidade”, O garoto falou entre suspiros, tentando recobrar o fôlego.

“Huh? Não era uma foto com eles que você queria?”

“Não se importe mais com isso.”

Digo, de certa forma, eu consegui uma foto bem clara de seus rostos. Posso pedir para Nikkie analisar depois.

“Bem, obrigado, de qualquer forma.”

“Não precisa agradecer”, disse enquanto balançava a mão tentando parecer envergonhada.

“Não. Que tal a gente tomar um sorvete ou algo assim? Quero te agradecer de forma adequada.”

“Já que insiste.”

Nem precisei de muito.

“Eu conheço um lugar com um sorvete delicioso.”

Mais uma vez, Mayck foi conduzido pela garota pelas ruas lotadas.

Preciso aguentar só mais um pouco.

Em uma sorveteria, a garota energética degustava um grande copo de sorvete de morango.

“Eu ainda não me apresentei, né? Meu nome é Mayck Mizuki. E você é?”

“Eu? Keiko Suzuki. Prazer em conhece…” A fala dela estava estranha por que ela falava com uma colher de sorvete na boca.

“Então, Suzuki-san, o que você faz em Shibuya?”

“Me chame de Keiko-chan. Eu vim dar um passeio com algumas amigas.”

Elas não vão se irritar por você ter sumido?

“Então você não deveria voltar? Suzuki-san.”

“Keiko-chan.”

“Suzuki-san.”

“Keiko-chan.”

A discussão de como chamar a garota se estenderia se Mayck não desistisse.

“Keiko.”

“Tá bom assim. Não precisa se preocupar. Alguma hora elas me acham.”

“Tão brincando de esconde-esconde por acaso?”

O garoto não pode deixar de suspirar com a irresponsabilidade dela.

“Então, o que levou você a se aproximar de mim.”

Keiko parou de saborear o sorvete e abaixou a cabeça, deixando o clima um pouco pesado.

O que deu nela? Mayck engoliu a seco.

“É por que… eu te achei bonitão.”

“…”

Sem reação. O que ela disse deixou o garoto, literalmente, sem palavras. A surpresa foi tanta, que ele apenas desviou os olhos para a rua.

“Isso não é motivo.”

Aquela conversa não iria para lugar algum.

Eles saíram da sorveteria e caminharam pela rua, sem mais conversas. Mayck apenas observava a empolgação da garota ao parar em frente às vitrines.

“Keiko-chan!”

Uma voz veio de longe e um grupo de quatro garotas acenava.

“Mii-chan!” Keiko acenou de volta.

As garotas se aproximaram. Seus rostos mostravam o quão sem fôlego estavam.

“Droga, Keiko-chan, nós te procuramos por todos os lados.”

“Desculpe, desculpe. Mas eu tinha certeza que me achariam.”

“Isso é esconde-esconde por acaso?”

“Me perguntaram a mesma coisa há pouco tempo”, observou.

Depois de recuperarem o fôlego, elas notaram Mayck um pouco atrás.

“Quem é esse? Amigo seu?”

“Deixa eu apresentar. Ele é o meu namorado.”

“Quê?! Eh? Sério?!”

“Não. Vocês deveriam conhecer ela melhor que qualquer outra pessoa.”

“É-é verdade, né?” Elas se sentiram envergonhadas pelas reações que tiveram. “Obrigada por cuidar dessa idiota.”

“Tá tudo bem. Ela não causou muito problemas.”

“Eu espero…”

“Deixa eu apresentar todo mundo. Esse aqui é Mayck.” Apontou para o garoto. “Essas são, Midori, Saori, Aiko e Yuriko.”

Mayck balançou a cabeça e as garotas o cumprimentaram.

“Bom, eu preciso ir andando agora. Deixo ela em suas mãos.”

“Sim. Obrigada, mais uma vez”, Midori falou educadamente.

“Ei, ei, vamos sair juntos algum dia, que tal?” Keiko ofertou.

“Quem sabe algum dia.”

“Então, me dê seu número de telefone.”

Sem objeções, o garoto pegou seu celular e trocou contato com Keiko e se despediram.

No final, Mayck só conseguiu fotos e algumas informações, mas o descanso ainda não tinha chegado para ele.

Fez todo o seu trajeto de volta para casa e chegou cerca das 16 horas da tarde.

Quando chegou encontrou seu pai dormindo no sofá e decidiu ir preparar o jantar.

Depois de tudo feito, ficou em seu quarto até às 21 horas.

“Beleza. Hora da segunda parte do dia agitado.”

Desde que se aprofundou no mundo das IDs, Mayck saía de casa frequentemente para ir atrás de qualquer problema ou cuidar dos Ninkais soltos.

Algumas pessoas começaram a usar isso como forma de ganhar dinheiro. Eles caçavam os Ninkais e recebiam pagamentos de quem quer que os contratasse.

Em pouco tempo, eles criaram a profissão de Caçador de Ninkais.

“Vamos nessa então.”

Depois de pegar os equipamentos dados pela Black Room, Mayck se preparou para sair de casa, tomando cuidado para não ser visto por seu pai.

Trancou a porta do quarto por dentro e saiu pela janela. Iniciando, assim, sua noite de perseguição a monstros devoradores de humanos.

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Olá, eu sou RxtDarkn!

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