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Capítulo 21 – Prévia de aniversário III

Faltava pouco até que algo acontecesse. Mayck sabia disso, mas não sabia o que exatamente. Seu coração batia forte e ele se sentia ansioso esperando por alguma coisa que ele não fazia ideia. 

A palpitação em seu peito não cessou desde que ele saiu da sala, deixando Nikkie para trás. 

Ele tinha pensado em seguir Zero para descobrir o que aconteceria com Kihon, mas não se importava tanto ao ponto de fazer isso, portanto pensou que seria melhor ir para casa. 

Com essa parte do incidente resolvida, os motivos que ele tinha para não usar sua ID desapareceram, então ele podia voltar à cena com o poder que não sabia nem como funcionava completamente. 

Tudo o que ele vinha fazendo era por instinto, como se já soubesse o que fazer; era a mesma coisa que respirar ou piscar os olhos. 

“Eu vou ficar sabendo depois de um jeito ou de outro. Logo, logo também vamos descobrir onde Yuuko-san está.”

Mayck caminhava pela rua já com o seu equipamento pronto. A máscara branca apenas deixava seus olhos visíveis e era intrigante pensar em como eles criaram uma máscara que impedia o reconhecimento. 

O manto não possuía habilidades impressionantes, ele apenas aumentava a ocultação do usuário e evitava cortes e perfurações. 

Sair pelas ruas procurando Ninkais chegava a ser uma tarefa cansativa e entediante, mas caçadores que estavam apenas atrás de dinheiro não se importavam com isso. 

O trabalho de caçadores foi uma jogada feita pela Strike Down. 

Depois que os monstros começaram a perambular pelas cidades, os líderes decidiram que não poderiam lidar com os portadores e cuidar dos Ninkais ao mesmo tempo, então lhes ofereceram uma condição: se eles derrotassem as criaturas, seriam recompensadas, em dinheiro, proporcionalmente. 

E como o mundo era movido a dinheiro, todos abraçaram a ideia e cada vez menos portadores continuavam nas atividades ilegais da sociedade. Entretanto, dizer que foram diminuindo, não significava que haviam parado, pelo contrário, isso abriu portas para outros tipos de atividade. 

“Ei, você aí.”

Tendo sua atenção chamada, Mayck parou de andar e olhou para trás. 

“Você é o Olhos azuis, não é?”  

“Não, não sou. Você deve ter me confundido.” Ele deu de ombros. 

“Não adianta tentar fugir. Existem imagens suas nas páginas dos caçadores, eu nunca ia me esquecer da sua aparência.”

Página? Em uma rede social?

Algumas engrenagens na cabeça do garoto começaram a girar. Ele precisava de mais informações. 

“Você tem certeza? Eu ainda acho que você me confundiu”, afirmou indiferente. 

“Há, então será melhor se eu te chamar de Mayck Mizuki?”

Em menos de um segundo, o desconhecido teve seu corpo arremessado no chão e seu pescoço pressionado. 

“Onde você ouviu esse nome?” 

“…E-e-espera…” O aperto estava impedindo-o de falar. 

Como ele descobriu o meu nome? Será que é a armadilha que Kihon falou? Desgraçado.

Mayck perdeu a calma por um momento, mas respirou fundo e largou o pescoço do garoto que se levantou tossindo e tentando recuperar o fôlego. 

“Agora, me fala, onde você ouviu esse nome?”

“Haha… se você ficou desse jeito, quer dizer que é verdade?” Ele se levantou e bateu o pó das roupas. 

“Não, não é. Mas eu conheço alguém com esse nome.”

“Vai precisar de uma mentira melhor.”

“Eu não quero seus conselhos. De fato, eu sou o Olhos azuis, mas isso não quer dizer que eu seja Mayck Mizuki.”

Mayck usou sua ID para intimidar o garoto e teve sucesso. 

“Que página é essa que você mencionou?”

“Hã? Você nem ao menos sabe disso?” Ele tentou usar um tom arrogante, mas foi pressionado a ficar quieto pelo olhar fixo que estava recebendo. 

“… É uma página secreta criada por alguns portadores para dividir informações.”

Eles estão pensando que isso é mesmo uma profissão? Cadê a confidencialidade?

“E o que mais?”

“Bem, desde que Yang colocou sua cabeça a prêmio… ele disse que receberíamos mais informações em breve, então, há poucos dias, foi revelado que você era Mayck Mizuki.”

“Entendi. Alguém que sabe quem eu sou usou o nome de uma pessoa que me conhece para chegar até mim. Que brincadeira de mau gosto.”

Mayck usou essa mentira para desviar a atenção dele de sua verdadeira identidade. 

Se um rumor como esses se alastrasse, ele não poderia continuar escondido e isso não era tudo. Se eles ficassem mais obcecados pelo ‘prêmio’ que Yang ofereceu, sua família e amigos também poderia correr perigo. 

O foco dele era tirar a atenção dessa informação. 

“Se eu descobrir quem é Mayck Mizuki eu posso descobrir quem é você, sabia?”

“Tá tentando me ameaçar?” Ele ficou um pouco surpreso com a mudança de atitude do desconhecido. 

“Você não quer que alguém importante para você fique em perigo, certo?” Ele sorriu maliciosamente, pensando que faria Mayck se entregar. 

“Aaah… se você vai mesmo tentar alguma coisa, então é melhor eu silenciar você aqui mesmo.” Mayck mostrou a palma da mão e projetou uma esfera elétrica. 

“E-eu estava brincando. Não quero recompensa por sua cabeça nem nada. Eu só queria te fazer uma proposta.” 

“Proposta? Dependendo do que você falar, isso aqui vai direto na sua cara.” 

O garoto engoliu a saliva e deu um passo para trás.

“Você não quer se aliar comigo? Se você me ajudar a derrotar vários Ninkais e me ajudar a conseguir dinheiro, eu te ajudo a limpar seu nome.” Ele gritou suas intenções. 

Mayck não esboçou nenhum sentimento, mas a última coisa que ele ouviu levantou questionamentos. 

“O que você quer dizer com ‘limpar meu nome’?”

“Bom… é que você tem fama de assassino… estou errado?”

Ele exalou um suspiro e fechou os olhos. 

“E? Porque você quer que eu me junte a você?”

“Bem, é que… eu sou fraco e preciso de dinheiro. Aí, quando eu ouvi os rumores sobre você, pensei que se me aliasse a alguém forte, poderia conseguir.”

“E como exatamente você me ajudaria a limpar meu nome?”

“Sabe, eu sou um hacker. Eu posso invadir as páginas e apagar tudo sobre você.”

Pensando por um lado, não era má ideia. Porém, não dava pra confiar tão facilmente na palavra de alguém que conhecia sua identidade. 

“Eu vou pensar no seu caso. Mas, antes eu quero ver o que você pode fazer.”

“Sério?! Valeu.” Seus olhos cintilavam e ele balançou as mãos empolgado.” Ah! Eu não me apresentei, né? Meu nome é Hubble.”

“Hubble?”

“Bom tá mais pra um apelido. Mas eu uso ele por conta da minha ID.”

“Hmm…” Mayck virou de costas e começou a andar e Hubble o seguiu.

“Então, Olhos azuis-san.”

“Ouvir isso é irritante. Me chame apenas de M.”

“Tudo bem então.”

Os dois se colocaram a caminho pela rua vazia. 

Caminharam por quinze minutos até encontrarem um alvo para fazer o pequeno teste. 

Andando pelas sombras dos prédios, eles localizaram um Ninkai com uma aparência estranha. Ele não tinha semelhança com animais, como os outros que haviam encontrado. 

Se fosse usar um exemplo para descrevê-lo, poderia comparar ele com uma letra do alfabeto. 

Seu corpo era reto e sua cabeça parecia um traço horizontal, lembrando a letra ‘T’. 

“Ótimo. Hey, Hubble. Derrote aquele Ninkai. Aí eu digo se você vai ser útil ou não.”

“O quê?! Você quer que eu derrote uma coisa daquelas? Eu te falei que sou fraco. Não vou durar dois minutos.” Ele balançou as mãos em recusa. 

“Você é tão fraco assim?”

“Sim…” Hubble abaixou a cabeça. Aparentemente, ele não gostava de admitir isso. 

“Eu quero saber o quão fraco você é.” 

Após essas palavras, Mayck beslicou e empurrou o garoto. Com o grito que ele emitiu com a dor, chamou a atenção do monstro que mudou sua feição e avançou imediatamente. 

Uma boca cheia de dentes apareceu em seu rosto disforme e as pontas de sua cabeça se dividiram em dois. 

“Ele tá vindo. Toma cuidado”, Mayck alertou. 

“Eu não consigo fazer isso!” Hubble gritou em lágrimas ao ver os olhos brancos e arregalados do monstro se aproximando. 

Mayck se escondeu para não ser visto pelo Ninkai e atrair a sua atenção. 

No momento, seu plano era descobrir os motivos que levaram Hubble a entrar em contato com ele. 

Não iria confiar nele tão facilmente, então decidiu testar e descobrir a real intenção dele. 

O Ninkai era rápido, mas Hubble também conseguia fugir dele e começaram a correr em círculos. 

Durante 5 minutos, a criatura não havia mostrado sinais de ter alguma habilidade especial, mas, por precaução, Mayck pegou um aparelho em seu bolso e o ligou, visando conseguir informações sobre ele. 

A Black Room, assim como a Strike Down, desenvolveram um banco de dados onde armazenavam todas as informações que conseguiam sobre os Ninkais. 

Vejamos… aqui. Ele não parece ser um perigo tão grande para os portadores em geral, mas… suas habilidades são de acúmulo. Acúmulo? O que quer dizer? Ele não conseguiu compreender perfeitamente, então voltou a observar a brincadeira de pega-pega. 

Aos poucos, Mayck foi notando uma diferença no comportamento do Ninkai. 

“Ei, Hubble. Esse Ninkai é fraco. Acaba com ele de uma vez!” Pela distância entre eles, precisou aumentar a voz. 

“É impossível…” dava para perceber que eles já estavam ficando cansados. “Eu não posso derrotar ele. Minha ID é de suporte.”

“É sério isso? Parece que não tem jeito mesmo.”

Já não aguentando mais correr, Hubble tropeçou e caiu no chão. 

O Ninkai viu sua chance de devorá-lo e foi até ele, não andando, mas, sim, flutuando. 

Ele não possuía pés, então Mayck assumiu que sua habilidade era essa, mas ainda havia a palavra ‘acúmulo’. 

Ele correu até Hubble e se pôs entre ele e a criatura, evitando que o garoto fosse devorado. 

“Você devia ter dito antes.”

“Mas você não perguntou”, ele disse com a voz chorosa. 

Olhando para frente, Mayck observou atentamente a criatura e se preparou para eliminá-la, mas após alguns segundos ele se sentiu cansado e seus olhos estavam para se fechar a qualquer momento. Também sentiu seu corpo cambalear. 

O que é isso? Parece que eu não vou ficar de pé… será que…

Ele olhou para os olhos da criatura e imaginou o que seria a habilidade dela. 

Acúmulo. Se ela acumulasse cansaço por um tempo e despejasse toda essa exaustão no seu alvo, seria fácil destruí-lo depois. 

Uma habilidade interessante. Então eu preciso acabar com você antes que piore. 

Os olhos de Mayck mudaram e, em questão de segundos, ele desferiu um corte diagonal no monstro, deixando faíscas azuis para trás. 

O corte foi perfeito e cortou o Ninkais ao meio e cada parte sua caiu para ambos os lados, escorrendo um líquido preto pela rua. 

O espanto ficou visível na face de Hubble. Naquele momento, ele pensou consigo mesmo que se tornar inimigo daquela pessoa a sua frente seria um problema e tanto.

Mesmo com a morte da criatura, a exaustão não se foi. Mayck acabou caindo sobre um joelho e se apoiando em sua espada, arfando. 

“O que era essa coisa afinal?” 

“Aparentemente tem aparecido uns monstros esquisitos. Diferente dos Ninkais comuns, estes se parecem mais com assombrações.” Hubble explicou.

Entendi. A Black Room vai gostar de saber disso. Isso é, se ele ainda não souberem.

“Bom, de qualquer forma, eu quero saber mais sobre sua ID. Que tipo de suporte ela é?” Mayck perguntou ao se levantar.”

“Não tenho problemas em dizer, mas… eu acho que ela é um pouco inútil para você.”

“Isso eu decido depois de saber. Vamos sair daqui. Pode ficar com a recompensa por essa coisa.”

Mayck não via valor na recompensa. Se ele simplesmente chegasse em casa com uma grande quantia em dinheiro, não haveria coisa mais suspeita. Além do mais, ele não sabia e preferia não ter que lidar com tanto dinheiro. 

A página criada pelos caçadores, tinha uma tabela em que um único Ownerless dog valia cerca de 200 dólares. 

“Valeu!” Ele ficou empolgado e com os olhos brilhando. 

Depois de coletar o corpo do monstro com um dispositivo de teletransporte, os dois partiram para uma área mais isolada do centro. 

Mayck se sentou em um banco e esperou que Hubble se explicasse. 

“Eu vou ser direto. Minha ID me permite ver o passado.”

“O passado?” 

Então é daí que vem o nome. Em homenagem ao telescópio… que original, hein. 

“Para especificar, eu posso checar o passado do meu alvo apenas olhando para ele, por isso eu mantenho um dos meus olhos fechados, já que eu não consigo desativar.”

“Então, quer dizer que só de olhar para alguém você já pode saber sobre ela?”

“Para entender tudo eu preciso de explicações mais diretas. Apenas ver o que está acontecendo não é o suficiente.” Ele coçou a cabeça e sorriu amargamente. 

“Hmm…”

Mayck o olhou por alguns segundos e moveu os lábios. 

“Então, o que você quer comigo?”

“Eh?… Eu quero cooperar com você para lutar contra os Ninkais…”

“Não vem com essa. Você é da GSN, não é?”

“Como você pode afirmar isso?”

“Eu já encontrei alguém da GSN e já lutei com ele. Seu dispositivo de teletransporte é o mesmo. Se quisesse me enganar deveria ter usado um igual aos que os caçadores comuns usam.”

“Aaah… você é bem inteligente assim como ele disse.”

“Não creio que minha identidade tenha sido revelada em uma página da internet. Você falou que viu isso há alguns dias, mas a única pessoa que poderia ter feito algo assim, só faria hoje ou amanhã.”

“Que pena. Eu pensei que estava tudo caminhando bem.”

“Quem foi que falou algo a você?”

“Não adianta esconder, né? Foi o meu superior. Eu fui mandado para encontrar você e conseguir alguma informação.”

“Hyu, certo?”

“Você sabe demais…”

Na verdade, Mayck apenas usou o nome de alguém aleatório, ou melhor, da única pessoa que conhecia na GSN. 

“Bem, eu estou indo embora. Não me importo se você é da GSN. Se me seguir eu não vou pegar leve.”

“Não se preocupe. Eu não farei isso.”

“Assim espero.”

Mayck se levantou e seguiu para sua casa e antes de entrar, confirmou se não havia sido seguido, ele olhou para todos os lados onde poderia ter alguém e depois de se sentir seguro, entrou. 

|×××|

O alarme tocou no mesmo horário de sempre, fazendo Mayck acordar e lutar de novo para sair da cama. 

A escola também estava como sempre, exceto pela ausência de Haruki. 

A manhã se passou e o horário do almoço bateu à porta. 

Era um dia comum, como todos os outros. 

A fila na cantina era imensa como sempre. Mayck se perguntava se ainda tinha a determinação necessária para enfrentá-la. 

Mais uma vez, ele havia esquecido o seu almoço. Não era nem surpreendente. 

Se Haruki estivesse por perto, ele poderia pedir a ele para comprar alguma coisa. 

Chika também não estava por perto, ela escolheu almoçar com Akari e algumas outras amigas. 

Encarando a multidão, o garoto sentiu a amargura só de pensar em não encontrar algo que lhe agradaria. 

“O que tá fazendo?” Hana se aproximou dele e encarou-o. 

“Criando coragem para comprar algumas coisas.”

“Você sabe que não vai conseguir algo bom se apenas esperar.”

“Eu sei… mas me sinto incapaz de entrar ali. Sinto que vou ser jogado para longe apenas tentando.” Mayck semicerrou os olhos. 

“Você, hein… toma.” Hana lhe estendeu uma embalagem com um pão dentro. 

“Vai me dar mesmo?”

“Sim.”

“Eu não vou devolver depois que eu pegar.”

“Apenas pegue.”

Ele estendeu a mão e tomou a embalagem para si, mas depois de pegá-la, parou de se mover por um segundo e logo em seguida olhou para Hana, que esboçou um sorriso malicioso em seu rosto. 

“Você está me devendo.”

“Sabia.”

Não era comum que a garota simplesmente entregasse alguma coisa sem mais nem menos. 

Mas no momento, ele não tinha pensado em segundas intenções ou o que ela faria após entregar o lanche a ele. 

Não havia mais volta. 

Os dois seguiram até o telhado para almoçarem juntos, embora o que Mayck comeria não passava de um lanche. 

“Haruki faltou hoje de novo, não é?” A garota perguntou abrindo a sua marmita. 

“Sim… não sei o motivo, mas sei que não é por estar doente.”

“Conhecendo ele, é possível que tenha dormido demais.”

“Pode ser isso também. Eu não consigo imaginar ele sendo rebelde ou doente.”

Os dois começaram a especular os motivos que fizeram Haruki faltar. 

“Ah, falando nisso, eu ouvi alguns rumores de que você brigou com Ren-kun por causa da Saki, é verdade?”

“Briguei…” Depois de pensar um pouco, Mayck se lembrou do ocorrido em que ele deu de cara com Ren no corredor depois da briga de Haruki. “Aah… tinha alguém vendo? Que droga.”

“Então é verdade mesmo?” O tom de voz da garota mudou e ela bateu os pauzinhos que usava para comer no recipiente onde estava seu almoço. 

“Aconteceu uma pequena briga, sim. Mas não é esse o contexto.”

“Eh… Mas até algum tempo atrás você e Saki estavam juntos, não é? Você nunca quis tocar no assunto do término.” 

Apesar de estar falando sem parar, Hana demonstrava certo desconforto em falar do relacionamento de seu amigo. 

“São coisas complicadas. Eu gostaria de apenas esquecer.”

“Se você não quer me falar então tudo bem. Não vou te forçar a isso.”

“Obrigado pela compreensão.”

Mayck abriu a embalagem do pão e começou a degustá-lo. 

Hana também comeu seu almoço calmamente. 

Depois de terminarem, os dois viram que ainda tinham tempo até o fim do intervalo, então decidiram matar o tempo conversando. 

“A propósito, você já descobriu o que houve com Haruki?” 

“Não tem como eu descobrir algo assim tão rápido.”

“É verdade. Levando em conta o quão preguiçoso você é, duvido que as coisas se resolvam tão facilmente.”

O insulto repentino foi como uma faca perfurando o peito do garoto. 

Mas era verdade. A situação de Haruki era complicada para ele. Principalmente quando se tem o costume de não se meter na vida alheia. 

Mayck sempre foi versátil. Haviam coisas que ele fazia diretamente e coisas que ele gostaria de ficar longe. 

Para ele, relações humanas eram complicadas demais, por isso, passava a maior parte do tempo sozinho e gostava disso. 

“Pra falar a verdade, eu nem sei por onde começar. Nunca tinha visto Haruki desse jeito e não faço ideia do que pode estar acontecendo com ele.”

“Você sempre foi assim. Sempre que brigávamos no passado, você apenas assumia a culpa e mesmo que eu estivesse errada você passava o pano. Sinceramente, até hoje eu não sei o que se passa na sua cabeça.”

“Sério? Eu não acho que sou tão difícil de compreender. Eu simplesmente não gosto de me meter em problemas ou ter que ouvir o egoísmo dos outros.”

“Isso também é egoísmo, sabia?”

“Pode ser… Mas você também não fica pra trás. Sempre quis fazer tudo o podia e me arrastava junto. É egoísmo também.”

“Mas é diferente.”

“Eu não acho.”

“Mas o papel de irmã mais velha é meu.”

“Tenho minhas objeções. Você não é mais velha que eu. Afinal… Ah! Amanhã é meu aniversário.”

“Ah, é. Eu tinha esquecido.”

Mayck olhou para o céu aberto e fechou os olhos. 

Seu aniversário já estava aí. Todos os anos ele escolhia um lugar para passar o tempo sozinho. 

Aos olhos de outras pessoas pode parecer solitário, mas para ele é uma ótima forma de passar o seu aniversário. 

“Você vai sair sozinho amanhã também?”

“Bom, pro meu azar, amanhã é Sexta-feira, então eu tenho que vir para a escola. Parece que esse ano vai ser em casa.”

“Hmm…” Hana terminou seu almoço e fechou a tampa do recipiente, se levantando em seguida. “Eu vou indo agora. Que tal irmos pra casa juntos?”

“Por mim tudo bem.”

“Então, até mais.”

Mayck observou as costas de Hana até ela sair de sua vista e se levantou. Andou até a grade, apoiando suas mãos e olhando para a cidade. 

É estranho. Diferente de antes, quando eu me sentia mais depressivo por perceber que meu aniversário estava próximo, hoje meu coração bate forte… eu estou ansioso, mas não sei porque.

Após um longo suspiro, ele decidiu voltar para a classe.

A próxima aula era educação física. Todas as alunas da classe foram para um vestiário específico e os garotos se trocaram na sala. 

A aula seria uma corrida de 100 metros, dividida entre meninos e meninas logo depois. 

Chegou a vez de Mayck juntamente com mais quatro colegas. Eles se prepararam e esperaram o professor dar o sinal. 

“Certo. Vão.” 

Dada a ordem, os cinco correram até a linha de chegada, onde tiveram seus tempos marcados por outros colegas. 

Mayck chegou em segundo. 

“9.61. Seu tempo está bom, Mayck. Foi melhor que na última semana.”

“Que bom, eu acho.” Mayck ouviu seu resultado enquanto recuperava o fôlego. 

O primeiro que chegou teve seu resultado de 9.60 segundos, então a diferença não era muito grande. 

“Como esperado de alguém do clube de atletismo. Ele é rápido.”

“Mas a diferença foi tão pequena.”

“Ainda assim. Ele continua rápido.”

“O que mais me surpreende é você. Não participa de nenhum clube e nem joga muito durante as aulas de educação física, mas consegue um tempo tão bom. Você pratica fora da escola?”

“Não exatamente…”

Quer dizer… eu estou sempre correndo atrás de Ninkais, então talvez eu tenha melhorado em algumas coisas.

“Ah, agora é minha vez. Conto com você.”

“Claro.”

Mayck pegou o cronômetro e se posicionou para marcar o tempo de seu colega. 

O resultado foi de 9.70 segundos. 

Ao ver o resultado, Keiichi parecia querer chorar. Segundo ele, seu tempo havia piorado e ele cogitou a possibilidade de fazer mais exercícios. 

Mayck o consolou, dizendo que o tempo dele estava ótimo, mas o tiro saiu pela culatra e o garoto se convenceu de que aquele era seu limite. 

O sol estava forte e ainda teve que correr, esses dois fatores foram o suficiente para Mayck se desgastar. 

Ele pediu permissão ao professor para que pudesse beber água e lavar o rosto. Recebeu a permissão e saiu. 

Um pouco mais longe de onde eles praticavam as aulas, havia um lavatório com algumas torneiras que podiam ser usadas para beber água. 

A água escorrendo em seu rosto dava uma sensação refrescante, mesmo que por pouco tempo. 

Ele aproveitou para reabastecer a garrafa que tinha em mãos. 

Enquanto sentia o conforto momentâneo, uma pessoa se aproximou. 

“Bom trabalho correndo”, Chika falou e jogou uma toalha por cima de sua cabeça. 

“Oh, valeu.”

“Mas você se segurou, não foi?”

“Você acha?”

“É claro. Não tem como alguém que possui uma ID tão forte assim ser uma pessoa comum e lenta. Eu imagino que você não queira chamar atenção.”

“Você pode estar certa. É meio difícil de controlar às vezes. Mas é melhor do que estar nos holofotes.”

Mayck não se deu conta de primeira, mas logo voltou sua atenção para um pequeno fato. 

“Eu pensei que você não falaria sobre isso aqui. Você não estava se escondendo?”

“Do que adianta? É libertador ter alguém com quem eu possa desabafar sobre o trabalho.”

“Eu imagino que sim. Mas e a Miyabe-san? Você não fala com ela sobre esse tipo de coisa?”

Chika pôs a mão na cabeça e deu um sorriso amargo antes de abrir a boca outra vez. 

“É um pouco complicado. Falar com a Stella é mais fácil.”

“Complicado, né…”

“Sim… Mas, na verdade, eu queria falar sobre outra coisa.”

“Estou ouvindo.”

Chika respirou fundo e mudou um pouco o clima em volta dela. 

“Eu fiquei sabendo de Nikkie-san, que você descobriu que Kihon era um traidor.”

“Você duvida dela?”

“Não, não é isso. Eu só fiquei um pouco surpresa. Passei tanto tempo com ele, que é um pouco irreal. Só isso.”

“Entendo. Eu consigo imaginar o quão complicado pode ser.”

“Uhum…”

“Mas tem uma coisa que me incomoda.”

“…?”

“Kihon me falou que havia uma armadilha preparada pra mim e no mesmo dia a GSN soube sobre minha identidade. Isso deve ter alguma ligação, certo?”

“Uma ligação?”

“Sim. E também acho que você sabe o que é?”

“Hã? Eu…”

“Eu gostaria de ouvir. Porque não me diz… qual a relação do Hyu, ou melhor do Haruki com essa organização?”

“Você é muito perspicaz mesmo. Não tem como esconder algo de você.”

“Não é bem assim. Normalmente eu teria jogado tudo para o alto e ficado quieto, mas é de um amigo que estamos falando.”

“É bom ouvir isso.”

Chika se apoiou na parede e relaxou o corpo por um momento. 

“Bem, como você já sabe, eu e Haruki somos amigos de infância, assim como você e Hana. Eu sei do que houve no passado dele e o que levou ele a se juntar a GSN, porém é melhor você ouvir isso dele. A única coisa que eu vou falar, é que ele está atrás de você.”

“Atrás de mim? Mas porquê?”

“De uma forma ou de outra, você vai descobrir em breve. A essa altura, ele já deve estar se preparando.”

“Mas se você já sabe quem ele é, então ele também sabe sobre você?”

“Não. Eu mantenho qualquer coisa sobre mim em silêncio.” Ele levantou o indicador e sorriu, piscando o olho direito.

“Fala sério… Mas, de qualquer forma, eu sei que estamos chegando ao final de alguma coisa. Eu conto com você na Black Room.”

“Claro. Se você quiser ser meu subordinado, eu estarei de braços abertos, no entanto.”

“Nem brinca com isso.”

A garota soltou uma pequena risada e se despediu, voltando para a aula, que iria acabar em poucos minutos. 

Mayck decidiu refletir sobre o que havia acabado de descobrir. 

Ele só perguntou sobre Haruki, porque a situação era conveniente, mas existia a possibilidade de não ter nenhuma relação entre eles. 

O que eu faço agora?

Metade do problema já estava descoberto e já era possível criar teorias sobre o estranho comportamento de Haruki. Porém, não podia concluir nada ainda. 

Apenas o tempo diria a verdade. 

“Acho melhor voltar.”

A aula seguiu como de costume até o horário final. 

Na saída, Mayck se encontrou com Hana, da forma que eles planejaram e foram para casa juntos. 

Mas eles nunca iriam direto para casa. Pelo menos Hana quis parar várias vezes no caminho para comprar algum lanche ou outro objeto que lhe despertou interesse. 

Mais uma vez, Mayck viu o quão cansativo era andar com sua amiga de infância, que o fazia carregar suas compras e ainda o insultava quando tinha a oportunidade. 

Contudo, ele não levava essas coisas para o coração. 

Eles estavam juntos a tanto tempo, que insultos e pequenos conflitos eram coisas comuns. 

E tanto Mayck quanto Hana valorizavam esses momentos. 

Depois de largar Hana em casa, o garoto seguiu seu próprio rumo. 

O dia estava cheio como sempre e ele quase não tinha coragem de levantar da cama para fazer seu trabalho rotineiro. 

Eu acho que vou tirar o dia de folga. Os outros que se virem hoje a noite.

Depois de jantar e tomar um banho, Mayck deitou-se em sua cama e dormiu até o dia seguinte. 

Sua mente já estava cansada assim como seu corpo. Quando ele se deitou, relaxou de tal maneira que foi como se todos os problemas do mundo desaparecessem. 

Foi uma noite tranquila, como ele nunca tinha experimentado na vida.

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