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Capítulo 21.25 – DS: O motivo da minha vida falsa

O tempo se passou, mas Hana, Kin e eu continuamos juntos. 

A parte mais difícil foi convencer nossos pais sobre a situação dela. 

Depois de insistirmos muito, eles fizeram um acordo com a gente: nós poderíamos ficar juntos, mas eles buscariam uma forma de encontrar a família dela. 

Eu aceitei essa condição, mesmo sabendo o quão impossível seria fazer isso. 

Na realidade, Kin não possuía família. Ela me disse que onde ela ficava era um local cheio de crianças que possuíam poderes iguais a ela. 

Eles não saiam de lá nunca e estavam sempre submetidos a treinamentos e testes estranhos. 

Após inúmeras confusões, Kin combinou com um grupo de amigas que fugiriam da instalação juntas. Porém, apenas Kin conseguiu tal façanha. As outras garotas foram pegas no ato final e se sacrificaram para que ela pudesse escapar. 

Em seu pulso, havia um tipo de pulseira que emitiria um sinal de rádio e entregaria sua posição para as pessoas que a perseguiam. 

Mas, ela corria para todo lado e isso me deixava preocupado. A forma que eu achei de me consolar, foi dizendo a mim mesmo que meu pai daria um jeito de manter essas pessoas longe. 

Eu também achei melhor não revelar os poderes estranhos dela para os outros e comuniquei isso a ela, que concordou prontamente. 

“Ei, Mayck.”

“O que foi, Chave?”

“Você não está curioso sobre os poderes da Kin-chan?”

Se eu dissesse que não, estaria mentindo, mas não queria tocar nesse assunto. 

“Eu não estou curioso. Pra mim, tanto faz.”

“E se eu disser que você também tem os mesmos poderes?”

Qualquer que fosse a oferta da Chave, eu iria recusar. No entanto, essas palavras foram como um grande choque que passava por todo o meu corpo. 

“Mas é claro que não. Como isso seria possível…”

“Então… Pode me dizer como você vê eu e Alana, que já está morta, aqui?”

“Isso é…”

“Eu, Chave! Eu tinha te dito que não era para comentar nada disso, não foi?” Alana chegou de repente e repreendeu a Chave, mas ela não parou. 

“Já se perguntou o motivo do meu nome ser esse ou o porquê dessa minha forma?”

Ela tinha razão. Eu sempre quis perguntar, mas sempre me reprimia para me manter em silêncio. 

“Você quer saber, não quer?”

“Chave!”

“Eu… quero.”

Essa foi a minha palavra final. 

A Chave esboçou um sorriso malicioso e uma luz tomou conta do ambiente em que estávamos. Logo eu acordei.

“Eu estou curioso.”

Durante uma semana, eu me perguntava se era realmente verdade. Queria perguntar mais sobre isso à Chave, mas elas não retornaram desde aquele dia, então eu decidi mudar meu alvo; perguntar para Kin. 

Contudo, mesmo me esforçando, eu não sabia como abordar esse tipo de assunto, portanto, optei por esperar o momento certo. 

Em um final de semana, Kin e eu estávamos em um parque. 

Hana havia me arrancado de casa para brincar com elas, mas, nesse momento, ela estava comprando sorvetes depois de perder em um pedra, papel e tesoura. 

“Ei, Kin.”

“Hum? O que foi?” Ele me olhou e sorriu gentilmente.”

Eu hesitei por um segundo, mas não podia parar. 

“Sobre os seus poderes… Você acha que eu também tenho?”

Ela não respondeu de imediato, então eu pensei que tinha feito a coisa errada em perguntar, mas…

“Eh?! Você está interessado?!” Ela pulou sobre mim e segurou minhas mãos. 

“Ah? Bem, sim… Um pouco.”

“Hmm… Mas eu não sei bem se você tem.” Ela se afastou um pouco decepcionada. 

“Entendo. Bem, esqueça que eu perguntei isso, tá bom? Olha, Hana já está voltando.”

Eu apontei a garota se aproximando com três picolés em mãos.

Acho que pode ser só uma brincadeira… Eu não posso pensar demais nisso.

Não importava o quanto eu me reprimia, essa curiosidade aumentava cada vez mais, no entanto, um sentimento ruim em relação a Kin também crescia; inveja. 

Eu comecei a invejar seus poderes e comecei a pedir para ela me mostrar cada vez mais. 

Eu fiquei obcecado por eles. 

Até que um dia, apontando minha mão para uma bola de futebol no chão de um parquinho, uma luz apareceu na frente da minha mão, junto com um som estridente de eletricidade. 

Meus olhos brilharam e meu coração começou a palpitar. 

“Isso é…?” 

Esse considerei esse como sendo o dia mais feliz da minha vida. 

Quando o mostrei a Kin, ela ficou a princípio e me ajudou a desenvolvê-los. 

Íamos diariamente aos finais de semana para uma floresta perto da cidade e usávamos nossos poderes. 

Era divertido usá-los. 

Eu coloquei na minha cabeça que poderia ajudar melhor as pessoas e comecei a brincar com elas. 

Fazia os valentões da turma de novos sem que ninguém percebesse e às vezes fazia algumas brincadeiras de mau gosto com os outros. 

Aos poucos, eu comecei a me afastar de Hana e Kin e qualquer pessoa, chegando a me importar mais com os meus poderes. 

“Mayck…” Alana me chamou. “Você não acha que é bom para de usar seus poderes por um tempo?”

“Eh? E porque?”

“Bom, você dizia que o papai era mais importante…”

“Não se preocupe. Se algo acontecer com ele, eu o salvo com meus poderes.”

“Mas…”

Eu não queria ouvir isso. Fechei meus olhos para os conselhos de Alana. 

“O que você quer afinal? Você manteve isso escondido de mim. Eu posso usar esses poderes para ajudar as pessoas. Se você só se importa com você mesma, então cale a boca.”

Alana arregalou os olhos e eu me calei quando percebi o que tinha falado. 

“Me desculpa…”

“Você está certo”, ela falou. “Eu não devia ter escondido nada de você, não é?”

Eu levantei meus olhos e vi Alana sorrindo com lágrimas escorrendo de seus olhos. 

Mais uma vez eu tinha feito alguém chorar e aquilo colocou algum tipo de pressão sobre mim. 

Quando Kin vinha me chamar para brincar, eu dizia a ela que iria treinar os poderes e sempre saia sozinho. 

Isso começou a acontecer todo dia. 

“Ei, Mayck. Você não deveria usar seus poderes o tempo todo.”

“Hã? O que você quer, hein?”

“Nã-não é nada. Eu só estava preocupada com você. Só isso…”

“Eu não preciso da sua preocupação.”

Eu estava cada dia mais distante. 

Deveria ter dado ouvidos aos conselhos de Alana e Kin. 

Quando eu estava voltando da escola, um grupo de pessoas vestidas de preto me cercaram. 

“Encontramos o garoto. Vamos levá-lo.”

Eu dei um passo para trás e fiquei assustado. Era uma tentativa de sequestro? Eu só pensei que deveria fugir. 

“Fique quieto, garotinho.”

Eles começaram a diminuir a distância que havia entre nós. 

Momentos desesperadores precisavam de ações desesperadas. 

Eu projetei uma esfera de eletricidade e a explodi no chão, criando uma onda de choque que fez os homens cobrirem seus rosto e recuarem parcialmente. Eu aproveitei a brecha para fugir. 

A partir desse dia, minha vida virou de cabeça para baixo e, todos os dias, várias pessoas tentavam me levar.

Eu não sabia o que eles queriam, mas foram tantas vezes que foram o suficiente para que eu melhorasse em escapar deles. 

No entanto, uma nova pessoa surgiu. Seus companheiros se referiam a ele como ‘Furacão vermelho.’

Eu comecei a ter dificuldades em escapar dele e algumas vezes precisava lutar por alguns minutos. 

Eu nunca tinha entrado em combate real, mas tinha auxílio de Alana e da Chave para saber o que fazer em cada situação. 

Eu sempre chegava tarde em casa. 

Kin estava aos cuidados da família Tsubaki, mas ela sempre ficava em parente a porta da minha casa esperando o meu retorno. 

Meu maior erro foi não ter pensado na ligação dela com aquelas pessoas. 

Em um certo dia, eu voltava para casa com cautela, mas não apareceu ninguém tentando me sequestrar. 

Cheguei em casa e encontrei um pedaço de papel sobre a mesa com um endereço e uma foto. 

Meus olhos quase saltaram ao ver Kin amarrada e com seu rosto cheio de hematomas. 

“E agora? O que você vai fazer?” A Chave me provocou.

“Eu vou até lá, é óbvio.”

“Mayck…”

Alana sempre demonstrava sua preocupação comigo, mas eu não dava valor a isso. 

Saí de casa correndo e fui para o local indicado. 

O dia estava chuvoso, então eu escorreguei algumas vezes enquanto corria. 

Mas não importava. Tudo o que eu queria era que Kin estivesse bem. 

Eu cheguei próximo do local. Era um prédio em construção. Havia apenas grandes estruturas de metal e a área era enorme. 

Assim que cheguei fui recebido com ataques de vários lados. Eu me esquivei deles e contra ataquei com minhas habilidades mais poderosas e continuei seguindo em frente. 

Por favor…

A cada passo que eu dava, mais ataques vinham em minha direção. 

Por favor…

Eu me aproximei do meu alvo, sob uma parte coberta do local. 

“Solte ela agora!” gritei. 

O Furacão vermelho estava à minha espera, com Kin presa em cordas ao seu lado. 

A raiva que queimava em meu coração se mostrava na forma em que meus dentes estavam rangidos. 

“Se acalme. Eu vou soltá-la se você fizer o que eu mandar.”

“Não, Mayck-kun, vá embora. Não precisa se preocupar comigo!” Kin levantou a voz. 

“Não seja idiota. Eu não vou te deixar pra trás.”

Nesse momento havia uma balança pesando o meu orgulho e os meus sentimentos por Kin. Poderiam não ser sentimentos amorosos, mas eles eram sentimentos que eu prezava muito, mas quase joguei no lixo. 

“Eu tô falando sério. Eu vou ficar bem. Isso é só…” Ela mordeu os lábios antes de continuar. Suas lágrimas começaram a descer por seu rosto. “… É só o mesmo de sempre.”

Meu corpo parou de se mover.

O mesmo de sempre…? Então quer dizer que você tem passado por isso há tanto tempo assim? Isso não é justo

“Não diga essas coisas. Eu sei que fiz errado em te deixar de lado. Eu me desculpo por isso. Vamos voltar juntos. Prometo fazer um prato especial essa noite.”

Apesar de tudo o que eu falava, não conseguia olhar em seus olhos.

“Você pode fazer isso e se divertir com Hana-chan. Então vai embora.”

Eu não queria sair de lá de jeito nenhum. Só de pensar em deixar ela sozinha, eu sentia como se estivesse esmagando meu próprio coração. 

Minha respiração pesou. 

“A gente pode sair pra brincar juntos. Eu não vou te pedir para usar seus poderes, então nós vamos poder brincar como crianças normais. Se você quiser, eu paro de usar meus poderes, eu peço para Masato-san te matricular em nossa escola, aí poderemos nos divertir com as outras crianças.”

Eu não sabia mais o que eu estava dizendo. Talvez eu só quisesse um empurrão para tirar ela de lá a qualquer custo. 

“Já chega! Vai embora. Eu não preciso da sua ajuda. Eu só te causei problemas. Se eu nunca tivesse te mostrado meus poderes, você não precisaria passar por isso.”

“Isso não é verdade…”

“É sim. Eu só queria… alguém que pudesse rir e brincar comigo e eu achei. Você e Hana-chan são as pessoas mais especiais para mim. Eu não quero ter que perder vocês.”

Você está se contradizendo, Kin. 

“Eu queria passar mais tempo com vocês… Queria me divertir ao máximo. Ir até o oceano, ver as estrelas da praia e ver o sol nascer das montanhas… Tem tanta coisa que eu queria fazer com vocês.” Ela não tinha percebido, mas seu sorriso se converteu em uma face chorosa e deprimida. 

Eu não estava mais aguentando ver aquilo. 

“Eu vou te levar até lá. Eu posso te prometer isso… Eu…”

“Ah… que merda entediante.” O homem que estava ao seu lado puxou uma faca e desferiu um corte no pescoço de Kin. “Já cansei de ouvir essa porcaria.”

Kin se calou. O mundo parou. O barulho da chuva já não chegava aos meus ouvidos. Nenhum outro som.

Eu queria chamá-la pelo nome e ouvir ela responder entusiasmada como sempre fazia. 

Aquilo não era mais possível. Nunca mais seria. 

Sempre que eu chamava por Alana, ela não respondia e o mesmo seria com Kin a partir desse dia. 

Por que…? por que? Por que? Por que?!

Mate todos eles. A Chave repetia para mim.

Meus olhos ficaram encharcados com lágrimas e eu já não me importava com mais nada e nem ninguém. 

As pessoas que haviam começado a me rodear avançaram sobre mim, mas, em um estalar de dedos, suas cabeças rolaram com várias lâminas de vento projetadas por mim. 

Ainda restavam muitas pessoas. Eu julguei que eles pretendiam me levar a qualquer custo. 

Que pena pra vocês. Eu vou fazer vocês sofrerem. 

Eu avancei contra eles.

Um a um, eu comecei a massacrá-los, perfurando seus olhos com suas próprias armas ou decapitando-os com lâminas de vento, jatos d’ água super pressurizados ou queimando os com raios. Não me importava a forma como eles morriam. 

Ao mesmo tempo, o ambiente ia entrando em colapso. Por causa das explosões decorrentes dos choques entre as habilidades, a estrutura de metal se abalou e começou a cair e focos de incêndio se espalharam por causa de produtos químicos. 

O Furacão Vermelho foi contra mim e tentou resistir, lutando com suas mais fortes habilidades. 

Eu recebia um ataque ou outro, mas me levantava e continuava a avançar. 

Nossas velocidades estavam empatadas, mas não por muito tempo. 

Eu esquivei de uma rajada de fogo e reconheci que minha situação estava difícil. 

Isso não é tudo o que você tem, né? A Chave falou em minha mente. 

O que quer dizer?

Parei de me mover para ouvi-la.

Apenas repita minhas palavras em voz alta. 

Eu não questionei. Se tivesse um poder maior para derrotar o inimigo que estava na minha frente, eu o usaria sem hesitar. 

Após ouvir com cuidado, eu movi meus lábios e fiz minha voz sair da minha boca.

“Moonlight Nightmare.”

O ambiente ao meu redor parou e tudo se escureceu.

Eu podia ver meus inimigos perfeitamente e eles também podiam me ver, mas não havia mais nada à nossa volta. Apenas um breu interminável. 

No primeiro instante, o Furacão vermelho se mostrou confuso. Aparentemente ele não esperava que isso acontecesse e acabou recuando alguns passos.

“Vamos acabar logo com isso”, falei sem mostrar nenhum sentimento de raiva, apenas a minha voz fria. 

“Você vai se arrepender, pirralho.”

Ele correu contra mim com o punho em chamas, mas não foi um problema. Na minha visão, ele era tão lento quanto um vídeo pausado.

Deu alguns passos para o lado e ele errou seus golpes, mas continuou com outros socos e chutes, no entanto, a mesma coisa se repetia.

Vendo que não venceria a minha velocidade, ele optou por ataques a longa distância e começou a lançar várias espadas flamejantes e labaredas em sequência.

Eu me defendia delas facilmente, usando um vórtice de água que absorvia e anulava os ataques. 

Era divertido ver ele se desesperando a cada segundo que se passava, mas era hora de terminar aquilo. 

Ele veio até mim novamente e eu levantei minha mão, quando saltou no ar, ele ficou parado como se estivesse congelado. 

Eu movimentei minha mão direita para cima e o corpo dele fez o mesmo. Em seguida o direcionei para baixo e para a esquerda e direita, consecutivamente. 

“Já chega.”

E o soltei e corri até ele, projetando uma esfera elétrica na minha mão. 

Ele estava tossindo e cuspindo sangue. Eu cheguei perto dele e o atingi com o ataque. 

A esfera o derrubou e se dispersou por seu corpo como uma grande descarga elétrica que parou completamente seus movimentos. 

O meu poder ocular chegou ao seu limite e nós voltamos para o ambiente inicial. 

Eu olhei ao redor. Haviam vários corpos espalhados por todos os lados. Uma cena terrível. 

Voltei meus olhos para o homem e notei que ele estava fazendo muita força para se mexer. 

Ele estava bastante determinado a continuar. 

“Pai…?”

Uma voz chegou aos meus ouvidos. 

Assim como eu, o Furacão vermelho olhou na direção do som. 

Um garoto se aproximava devagar com os olhos esbugalhados, não conseguindo acreditar no que via. 

Ele parecia ter a minha idade. 

Quem é esse?

“Haruki, o que está fazendo aqui? Vá embora?”

O homem elevou a voz. 

Então ele é seu filho? 

“Mas, eu…” O garoto tremia. Mesmo de longe eu conseguia notar isso. 

Eles trocaram algumas palavras e o garoto voltou sua atenção para mim. 

“O que você fez? Você machucou meu pai!”

“…” Eu olhei para ele sem demonstrar reação e nenhum sentimento de surpresa. 

“Fala alguma coisa!” 

“Haruki! Saia já daqui. Volte para casa e me espere lá.”

O homem falou angustiado e agarrou os ombros de seu filho. 

“Mas, pai, o que…”

“Me escuta! Aqui é perigoso. Vá embora agora.”

“Se… se falarmos com ele… ele pode nos entender e te deixar em paz…”

“Não tem como falar com ele.”

Ignorando as ordens de seu pai, Haruki olhou para mim novamente. 

“Ei, pare com isso. Você não pode continuar. Eu… não quero que você machuque o meu pai.” 

Embora com medo, ele deu um passo à frente. 

Que piada. Não haveria espaço para diálogo, não depois do que tinha acabado de acontecer. 

Se ele tivesse tentando isso há 10 minutos antes, talvez eu pudesse ouvi-lo.

“Você se importa com ele?” Depois de pensar um pouco, um sentimento maligno brotou em meu coração. 

“Sim! Ele é meu pai, eu amo ele.”

Era isso o que eu queria. 

Levantei minha mão para o alto e o respondi. 

“Você se importa… mas eu não.”

Ao meu comando, um círculo azul soltando descargas elétricas apareceu no ar e começou a acumular energia. Ao jogar minha mão para frente, ele disparou como um canhão de luz, limpando o que estava no caminho. 

De onde eu estava, só pude ver Haruki sendo empurrado para longe para não ser atingido. 

O local foi iluminado e o raio durou apenas três segundos, mas foi o suficiente para fazer o corpo do homem desaparecer completamente. 

Parece que eu não tinha ficado satisfeito em bater nele, já que eu também queria que seu filho sofresse ao vê-lo, literalmente, sumir em sua frente. 

Eu me afastei, fui até o corpo de Kin e o toquei no rosto. Ele era frio. 

Eu nunca mais sentiria seu calor e nunca mais veria o seu sorriso. O sangue que encharcou suas roupas, sujou minhas mãos, mas não fazia diferença; minhas roupas também estavam imundas. 

Eu não aguentei mais segurar e deixei que todas as lágrimas reprimidas escapassem, mas sem elevar minha voz. 

A mesma dor de três anos atrás. Era mais uma vida que se foi por minha causa. 

Eu fiquei ajoelhado ali por um bom tempo. 

Várias pessoas chegaram ao local rapidamente e anunciaram sua chegada. 

A polícia…? Será que meu pai também está junto?

“Coloque as mãos para cima!” Ums voz masculina me ordenou. 

Eu me levantei e virei para eles de cabeça baixa. 

“Uma criança…? Mas, por quê?” 

Sua confusão era justificável. 

Várias coisas se passavam em minha cabeça também. 

“Ei, espera quem é você? Você não pode passar daqui!”

Após alguns segundos, uma outra pessoa avançou e se abaixou para ficar na minha altura.

Ela começou a falar, mas suas palavras não me alcançaram, já que minha consciência estava em outro lugar. 

Eu me encontrava em pé, olhando para aquele chão branco, sem vida em meus olhos. 

Alana me observava com um certo grau de hesitação em seus movimentos.

“Mayck…”

“Tá tudo bem. É culpa minha. Estou apenas colhendo o que plantei.”

Com lágrimas nos olhos, Alana me abraçou forte e chorou no meu ombro, se desculpando. 

Ela tentou me impedir, mas a Chave a prendeu com seu poder e ela só conseguiu se libertar depois de tudo já ter acabado. 

“Me desculpe, Mayck. Eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto. Por isso eu não quis te falar nada.”

“Me desculpe, Alana. Se eu tivesse ouvido você… as coisas poderiam ter sido diferentes.”

As minhas lágrimas secaram. Tudo o que eu sentia era remorso e decepção comigo mesmo. 

Eu deixei sentimentos ruins dominarem e me perdi no caminho, causando tudo o que aconteceu. 

Não era culpa de ninguém além de mim. 

“E onde a Chave está?”

“Eu não sei. Ela sumiu quando eu voltei.”

“Ei, Alana… será que se eu quiser esquecer tudo o que aconteceu hoje… é egoísmo?”

“Sim. Muito egoísta.”

“Eu imaginei.”

“Que sem graça. É assim que tudo vai terminar?” A Chave se pronunciou, aparecendo ao nosso lado

“Então você ainda está aí? Saia daqui imediatamente.”

“Ora, ora. Vamos lá, Alana, você sabe que não tem como.”

Eu não sabia o que elas estavam falando, então me limitei a ouvir. 

Elas começaram a discutir sobre o que aconteceu comigo. A hostilidade entre elas era algo que eu nunca tinha visto desde que começamos a ficar juntos. 

A discussão estava prestes a subir para o nível de violência, mas fomos interrompidos por uma voz que veio de fora. 

“O melhor a se fazer, é apagar as memórias dele.”

Eu nunca tinha escutado aquela voz antes.

“Não existe mesmo outro jeito?”

Essa eu já tinha ouvido. Pertencia ao meu pai. 

Tanto Alana quanto a Chave ficaram abismadas com o assunto. 

Para elas o motivo daquela conversa era claro. 

“Ei, Chave. Você não quer desaparecer, quer?”

“Que pergunta. É claro que não.”

Elas voltaram seus olhos para mim. 

“Mayck, apenas desta vez, eu quero que você aceite um pedido egoísta meu.”

Eu não estava em posição de recusar nada. Apenas deixei que qualquer um, não importava quem, decidisse o meu destino. 

Eu balancei a cabeça, dando um sinal para elas fazerem o que quisessem. 

“Eu vou trancar suas memórias no local mais fundo que puder achar. Elas vão voltar algum dia, mas existe um efeito colateral.”

“Efeito colateral?”

“Sim. A personalidade dele também vai ser trancada. Sendo mais específico, ele vai se tornar uma casca vazia, mas consciente.”

Eu ouvi atentamente. Se houvesse a menor chance de eu me esquecer, eu aceitaria sem objeções. 

Alana era a que mais parecia estar contra isso. Ela lutava em seu próprio coração sobre o que era melhor. 

“Nesse caso, eu quero fazer uma coisa.”

“O que é, Alana?”

“Entregue minhas emoções a ele.”

“O quê? Você está falando sério?”

“Sim.” Ela reforçou. 

“Mas você sabe que tudo tem um preço, né?”

“Eu estou ciente. Em troca, você pode ficar com o que sobrar de mim.”

“Entregar suas emoções significa desaparecer para sempre.”

Alana abaixou a cabeça, mas logo a levantou com um sorriso. Parecia que ela já tinha se decidido há muito tempo. 

“Eu não me importo. Se eu for desaparecer, que ao menos o meu eu atual esteja com a pessoa que mais amo nesse mundo.”

Ela caminhou até mim e segurou minhas mãos, dando um sorriso gentil. 

“Se é o que você quer…”

A Chave se posicionou e fechou os olhos. Depois de alguns segundos uma luz branca consumiu todo o espaço, juntamente com nós três. 

“A partir de agora, as memórias, assim como essa existência de Mayck Mizuki será trancada. Em troca, as emoções e sentimentos de Alana Mizuki vão ajudar a compor o seu novo ‘eu’.”

O que me aguardava depois disso? Eu não saberia. Nada do que aconteceu naquele dia estaria em minhas memórias e não fariam mais parte de mim. 

Eu escolhi abandonar tudo o que havia juntado até aquele momento. 

O som do alarme tocou e eu abri meus olhos. 

Pelo meu rosto, volumosas lágrimas escorriam.

“Que droga.”

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