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Quando a noite caiu, Mayck saiu de casa em busca da primeira pessoa que lhe veio à mente: Alexander. 

Algo lhe dizia que se encontrasse tal pessoa, conseguiria descobrir tudo o que estava acontecendo. Talvez não tudo, mas teria acesso a uma boa parte de informações. 

Andou pelas ruas cautelosamente para não ser notado por quem quer que estivesse fora de casa e aproveitou para verificar a existência de mais Ninkais na área. 

No início da caminhada tudo parecia tranquilo. Não havia nada de anormal. 

Vez ou outra trombava com alguns bêbados na rua ou adolescentes que não tinham o que fazer e que provavelmente pensavam o mesmo dele. 

Enquanto observava ao redor, memórias nostálgicas vinham só de olhar para as placas escritas em português. 

Era estranho, mas ele sentia um conforto diferente do Japão. Talvez pensava que ali ele ficava mais perto de casa, o que era tranquilizador, mas longe dali, lhe dava uma sensação de alívio por não ter que carregar nenhum peso. 

Era um pouco contraditório, por outro lado. 

Depois de andar bastante, ele se deparou com o parque do dia anterior e foi tentado a dar uma volta por ele. 

O ar frio e o silêncio da noite o ajudava a pensar com calma, sem ter que se apressar para resolver os seus problemas. 

Desde o início daquele ano, tudo o que ele tinha experimentado eram lutas e mais lutas. Um mundo cheio de mortes e coisas sujas. Ele aceitou que essa era a sua realidade, afinal de contas, suas mãos também estavam cheias de sangue. 

Eu me pergunto como Hana lida com isso. 

A imagem de sua amiga de infância veio à sua mente. 

Era curioso como ela, uma garota tão séria e justa, conseguia lidar com esse tipo de ambiente. 

Acho que meu respeito por ela aumentou um pouco. 

Cansado, ele se sentou no mesmo banco de praça e apoiou uma perna sobre a outra. 

Levantou seus olhos e observou o céu cheio de estrelas e sem nenhuma nuvem. 

Uma noite bonita… Quanto tempo faz que eu não relaxo assim? 

Ele queria apenas descansar, mas não tinha tempo para isso. 

Havia muitas coisas que ele precisava pensar e solucionar. 

O primeiro caso seria da garota do avião. Ele conseguiu confirmar que ela era uma portadora por causa da gravação, mas, infelizmente, não pôde fazer contato com ela. 

O segundo, se tratava do Ninkai que apareceu de repente e em seguida tinha Alexander, o homem misterioso que estava o seguindo. 

Ele já tinha suas suspeitas e algumas teorias, mas nada concreto a ponto de acusar alguém. Era necessário um pouco mais de tempo, além de que não possuía informações o bastante. 

“Oh, estava à minha espera?” Era uma fala refinada com um tom sarcástico. Mayck reconheceu imediatamente. 

“Eu fico feliz que você me conheça tão bem.”

“É preciso ter o maior número de informações da presa antes de sair a caça.” Ele se sentou no banco ao lado do garoto. 

“Você está certo. Mas, indo direto ao ponto, você já sabe o que eu quero, não é?” O garoto ajeitou sua postura depois de revelar suas intenções. 

“É claro que eu sei. Vou te dar uma outra chance de tentar conseguir isso.”

“Agradeço a consideração.” Mayck fechou os olhos e, quando os abriu novamente, foi surpreendido pela ponta de uma agulha que vinha em alta velocidade em direção ao seu olho. 

Apressado. 

“Você deveria ter um pouco mais de calma”, enquanto dizia isso, Mayck já estava do outro lado de Alexander, que atacou o ar. 

“Você está mais rápido que antes. O que aconteceu?”

“Eu estava apenas cansado. Não se preocupe.”

Mayck avançou como uma bola de futebol que foi chutada com força. Invocou sua lâmina e o som dela se chocando com as agulhas ecoou por todo o parque, como se um ferreiro estivesse trabalhando no meio da noite. 

“Então é assim que vai ser? Não vai nem ao menos conversar?”

“Foi mal aí. Eu não tenho tempo pra isso.”

Focalizando sua energia na espada, o garoto empurrou as agulhas que estavam formando um ‘X’ e fez com que Alexander fosse arrastado por alguns metros. Ele pôde sentir seus pés queimando. 

Sem dar tempo para respirar, Mayck moveu sua mão para cima e projetou um círculo que disparou um poderoso laser. 

Alexander pulou para o lado para desviar. 

Se aquilo o atingisse, ele teria virado farelo, assim como o chão atrás dele. 

Não iria se permitir ficar só na defensiva. Correu até o garoto e tentou perfurá-lo com suas agulhas, mas não foi muito eficaz, já que todas foram evitadas. 

“Droga.” Alexander esbravejou. Mostrando sua falta de paciência pela primeira vez. 

Mayck tentou alfinetá-lo com a ponta da espada, mas Alexander fugiu e se distanciou. 

Ele segurou as duas agulhas e as jogou simultaneamente contra Mayck, que evitou a primeira e a segunda. No entanto, elas começaram a parecer tiros de uma metralhadora. 

Quando uma passava, a outra vinha em seguida. Estava quase impossível para se esquivar. 

Mas que merda! Como ele faz isso? Eu posso descobrir depois. Agora eu preciso achar um jeito de não ser acertado. 

“Ugh!” Mayck soltou um pequeno gemido de dor ao ter seus braços cortados superficialmente pelas agulhas. 

Involuntariamente, ele pôs os braços na frente do rosto. O pior cenário seria se ele perdesse os olhos. 

Ele não conseguia achar brechas para fugir daquilo. 

Eu preciso de alguma ideia!

Com o passar dos segundos, mais cortes iam aparecendo como mágica em suas roupas e dava para ver o sangue escorrendo por seus braços. 

“Já chega dessa merda!”

Após um pequeno surto, o garoto abriu os braços e dispersou de seu corpo um vórtice de ar que fez as agulhas pararem e atingirem o chão em um estrondo, como se alguém tivesse dado um tapa em uma chapa de metal, deixando-as presas. 

Mayck se moveu outra vez e, como um raio, efetuou um corte diagonal do ombro à barriga de Alexander, que conseguiu se defender por muito pouco. 

Entretanto, os ataques não pararam aí. O garoto começou a mover suas mãos em várias direções, atacando Alexander sem parar. 

Cada vez que as lâminas se chocavam, sons estridentes ecoavam pelo parque e várias faíscas iluminavam os dois. 

Mayck começou a ficar cansado e tomou distância. 

Sua respiração começou a ficar pesada e tanto seus braços quanto suas pernas clamavam por descanso. Ele quase não sentia mais o próprio corpo. 

Alexander notou a condição dele e avançou rapidamente com as agulhas prontas para espetar uma carne. 

Mayck percebeu o perigo e com uma certa quantidade de esforço, usou a habilidade [Manipulação de alma] e moveu a mão para baixo, fazendo com que Alexander batesse no chão com uma força imensa a cerca de três metros do garoto. 

O chão abaixo dele rachou como se fosse uma fina camada de gesso. 

“E pensar que ainda consegue fazer tudo isso nesse estado. Agora eu entendo o motivo pelo qual eles te querem tanto assim.”

“Eles? De quem você está falando?” Mayck franziu a testa ao ouvir tal afirmação. 

“Você acha que eu vou te dizer? Bom, ao menos sabe que eu vim te capturar.” Ele se levantou e bateu a poeira de sua roupa. “Você está me fazendo suar.”

Alexander tirou o sobretudo e o jogou no chão, assim como fez com seu chapéu de côco. 

“Vai começar a lutar a sério?”

“Você não me dá escolha.”

Alexander balançou as mãos e tirou as agulhas do chão, que estavam sendo manipuladas por fios bem finos. 

Ele fez elas irem até o alto e as puxou em seguida, fazendo-as caírem como meteoros. 

Com mais esforço que antes, Mayck se jogou para o lado, se esquivando por muito pouco das agulhas que caíram e fizeram subir uma cortina espessa de poeira ao entrarem em contato com o chão. 

O garoto acabou espirrando. 

Aquela mistura de poeira e sangue não era o melhor dos odores. Nem chegava perto. 

Repetindo o processo, Alexander fez as agulhas perseguirem o garoto, que fazia o seu melhor para fugir delas. Saltando, correndo e desviando.

O maior problema era a velocidade em que elas vinham e voltavam. 

Se eu puder criar aquele vórtice de novo, então… 

Com essa ideia, ele se empenhou para refazer aquilo, mas acabou cuspindo um pouco de sangue e sentiu uma enorme dor no peito. 

Esse é o meu limite? Droga… é a primeira vez que eu experimento isso. Não é uma sensação boa. 

Ele tossiu e com isso saiu mais sangue. Quando levantou os olhos, Alexander estava parado olhando-o com um sorriso vitorioso. 

“Parece que foi concluído. Mas, tenho que dizer, você me deu trabalho.” Ele suspirou de alívio. “Agora que acabou, eu posso dizer a você qual era o meu objetivo.”

“Só agora… Isso não vai me ajudar em nada.”

“Hahaha. É claro que não. Meu objetivo aqui, era te enfraquecer. Apenas isso.”

Alexander levantou as mãos como se dissesse: ‘não era óbvio?’ e logo atrás dele, vários Ninkais começaram a surgir instantaneamente. Não só atrás, mas em toda a área ao redor deles. 

Então isso é o que ele queria? Que atitude covarde. Esse cara é bem hipócrita. 

De fato, Alexander julgava ser alguém justo, mas, por dinheiro, ele decidiu enfraquecer alguém e deixar monstros acabarem com o resto. 

Tal atitude contradisse suas palavras. 

“Eu estou de partida agora. Tenha uma boa noite.”

Mayck não se preocupou em levantar a voz. Não mudaria nada. 

O que doía em seu peito era o fim que ele teria em poucos minutos. 

Sua visão estava ficando escurecida e as dores estavam se intensificando, assim como o cheiro de seu próprio sangue impregnado em suas narinas. 

Que ridículo. Eu achei que estava preparado para qualquer coisa. Por que eu hesitei em acabar com ele no começo? Eu sei a resposta pra isso… medo. 

De forma inconsciente, Mayck acabou se deixando amedrontar pelos seus erros do passado. Enquanto lutava com Alexander, as feridas em seu corpo o fizeram lembrar do que o transformou em um monstro. 

Ele estava contendo seu poder o máximo que podia e isso lhe trouxe um efeito colateral horrível: a morte.  

Alexander pulou para fugir pelos ares, pulando de telhado em telhado, mas quando saltou, foi surpreendido por um Ninkai voador. Que o atingiu a uma velocidade extrema e o jogou no chão. 

Assim que se levantou, reclamou, intrigado e irritado com aquilo. 

“O que é isso?! Vocês me garantiram que eu não seria atacado! Então, que porcaria foi essa?!”

Ele gritava, aparentemente sem sentido. Não parecia que alguém iria respondê-lo. 

“Desgraçados. Eu posso considerar isso uma traição, não é? Vocês quebraram o contrato afinal.” Seu semblante, que era sorridente há poucos minutos, se tornou um semblante frio e amedrontador. “Não vão poder reclamar de nada.”

Completamente fora de si, Alexander saiu em disparada e começou a eliminar todos os Ninkais que estavam presentes. E não eram cinco ou seis, era mais de trinta deles. 

Mayck assistia a cena sem reação. Por algum motivo, aquela visão o trouxe lembranças desagradáveis, mas ele não estava totalmente atento àquilo.  

O sangue que ele derramou naquele dia… ele podia sentir como se tivesse voltado no tempo. 

Após alguns minutos, Alexander se aproximou de Mayck. O sangue em sua roupa fazia parecer que ele havia pulado em uma piscina de corante vermelho. 

O cheiro estava tão ruim que Mayck teve que cobrir seu nariz para não vomitar por causa do péssimo odor. 

“Ei. Vá embora”, Alexander ordenou.

A esta altura ele não ligava para mais nada. Dava para ver estampado em seu rosto o quanto seu orgulho foi quebrado. Uma traição deveria ser algo que ele estava acostumado e tinha medidas contra isso. No entanto, parece que essa foi a primeira vez que ele experimentou tal coisa. 

Mayck não perguntou nada. Apenas se levantou e começou a caminhar por aquele caminho cheio de corpos de monstros empilhados uns nos outros. 

Aqueles Ninkais não eram dos mais fortes, mas o garoto nem pensou nisso.  

Seu corpo ainda se movia, mesmo que lentamente, no entanto, ele acabou caindo sem forças para continuar. Sua visão apagou de vez. 

|×××|

Quando acordou, viu um teto que ele conhecia. A sensação macia em suas costas também não era estranha. 

Lentamente ele moveu a cabeça e correu os olhos pelo ambiente. Estava em seu quarto. 

Não possuindo forças para se levantar, ele apenas ficou encarando o teto com seus olhos quase sem vida. 

Então eu voltei… Alexander me trouxe até aqui?

Claro que não. Uma outra voz ressoou em sua cabeça. Eu que te trouxe aqui. 

Chave, é? Há quanto tempo. 

Isso é tudo o que você tem a me dizer? Sua voz exasperada dava a entender que algo ruim havia acontecido. 

Por que está tão brava?

Grr… O que você estava pensando? Prender tanto poder em um lugar só pode te matar, sabia?

Então foi por isso? Desculpa. Mayck respondia sem demonstrar nenhuma emoção. 

A Chave usou a influência dos sentimentos de Mayck e Alana, ganhando uma personalidade e consciência própria. Portanto, ela começou a se preocupar com o garoto. A forma que ele estava agindo lembrava o Mayck de cinco anos atrás, que desistiu de tudo por causa dos seus erros. 

Eu sabia que isso ia acontecer. Por causa da confusão em seu subconsciente, suas personalidades de antes e depois do incidente estão começando a ruir.

E isso é ruim?

Se é ruim? Se isso continuar você vai acabar deixando de ser alguém. 

Eu não vou deixar isso acontecer. Então não se preocupe. 

Tem razão? Não é o que estou vendo agora. 

Ela parecia mais chateada do que irritada. Talvez ela estivesse com medo de que o garoto afundasse por sua própria ignorância. 

Mayck acordou após mais algum tempo e notou que ninguém havia acordado ainda. 

Eram cerca de 5h. Olheiras grandes se formou nos olhos do garoto, delatando que ele não havia dormido bem. 

Mas o mais preocupante era como ele poderia esconder os cortes em seu rosto. Eles eram pequenos, mas o local onde estavam não podia enganar ninguém. 

Eu tenho que tomar cuidado para não descobrirem nada.

A manhã era refrescante até certo ponto, porém, se um garoto com a mente trabalhando como um funcionário de uma fábrica nos anos 80 não conseguia apreciar isto, era outra história. 

Um turbilhão de ideias girava em sua cabeça e ele não conseguia parar de pensar no mesmo assunto. Uma hora ou outra ele iria à loucura. 

No entanto, estaria tudo bem se ele estivesse preocupado apenas com os estudos, carreiras e afins, mas não era só isso. Na verdade, essa questão já havia sido desligada há um bom tempo.

Mas… Pelo que eu estou lutando mesmo?

Essa era a pergunta que o derrotaria. 

Por que teve que lutar com Alexander? Por que estava tão desesperado para encontrar uma solução? Além do mais, uma solução para o quê?

Ele acabou se desviando do caminho, não estava ligando para mais nada daquilo. 

Um aperto em seu peito queria que ele voltasse para casa, quase como uma criança em uma loja de brinquedos fazendo birra para ter o que queria. 

Sentia que estava com o pé preso em algum lugar e não conseguia se livrar. 

Aquele mesmo Mayck que havia anunciado que lutaria para evitar que os portadores fizessem bagunça no mundo normal, agora estava completamente sem rumo. 

Por que eu estou me envolvendo nisso mesmo? 

Lembrou que tirou a vida de alguém importante para seu precioso amigo. Além disso, meteu a mão na vida de várias outras pessoas e porquê?

Por egoísmo. Desde o começo foi uma batalha de egoísmo, onde o mais egoísta vencia. 

IDs, habilidades sobre humanas e poderes eram apenas ferramentas convenientes para tal ato. 

Parecia que alguém estava tentando segurá-lo e fez isso apertando seu coração. 

Sua mente não trabalhava como ele queria. 

O que deveria ser para encontrar uma resolução para o que estava ocorrendo ao seu redor, tornou-se uma fonte de desespero. E faltava pouco para ele aceitar esse fato. 

“Mayck, já acordou?” Tomoko chegou até a sala e perguntou com sua voz rouca, ao ver seu neto sentado, imóvel, no sofá. 

“Ah, bom dia.”

“Bom dia. Dormiu bem?”

“Claro. Obrigado por perguntar.” A resposta saiu automaticamente. Ele acabou programando seu cérebro para dizer que estava bem, independente da situação. 

Se estivesse chorando, estava bem. Se estivesse ferido, estava bem. Era assim que funcionava. 

“Por que não me ajuda a preparar o café? Acho que vai poder se animar um pouco.”

Como esperado de uma avó. Ela percebeu instantaneamente que havia algum problema com seu neto. Isso porque ela já tinha visto essa face deprimida ou indiferente antes. 

“Tudo bem.” Ele aceitou, também no automático. 

Depois das sete horas, o restante da casa começou a acordar, um por um. O último nessa fila foi Arthur, que havia dormido feito uma pedra por ter jogado até tarde na noite anterior. 

Após o café, eles organizaram a mesa e começaram a faxina rotineira na casa. Todos cooperaram e, pelo meio-dia, já estavam todos reunidos na sala colocando os assuntos em dia e planejando o que fariam logo depois. 

“Que tal irmos ao shopping no fim de semana? A gente também pode convidar Eugênio e os outros”, Célia abriu a boca e sugeriu. 

“É uma boa ideia. Assim você vai poder rever o resto da família, certo, Mayck?”

Mayck acenou com a cabeça para a pergunta de Jade. 

“Vamos na seção de jogos de VR?”

“E no cinema?”

Manuela e Arthur ficaram animados com a ideia. Parecia que tinham voltado a serem crianças, não que fossem tão velhos assim. 

“Se o tempo permitir… E você, Lorena, o que quer fazer?”

Com a pergunta repentina, Lorena olhou para a mãe e depois para o pai, que a olharam de volta. Só depois ela abriu a boca. 

“Eu… quero ir nos brinquedos.” Sua voz estava bem baixa. Era como se o chefe tivesse pedido que o funcionário lhe fizesse uma crítica. 

“Podemos fazer isso também. Tem alguma coisa que você gostaria, Mayck?”

Chegou a vez do garoto responder, mas sua cabeça estava na lua. Ele já tinha parado de prestar atenção desde o início da conversa.

“Mayck…?” Jade tentou despertar o garoto. 

“Desculpem, eu acho que vou ficar no meu quarto um tempo.”

A consciência que lhe restava fez ele se retirar de lá de forma educada, antes que se cansasse de ouvir e de ficar perto deles. 

“O que aconteceu? Ele está doente?” Célia o olhou subindo as escadas, assim como todos os presentes. 

“Talvez ele só queira ficar um tempo sozinho.”

“Será que fizemos ele se lembrar da irmã? Minha nossa, coitadinho.” A mulher demonstrou sua empatia. “Não é melhor alguém conversar com ele?”

Todos ficaram quietos e Jade resolveu arriscar, sabendo das consequências que viriam depois. 

“Vamos deixar ele quieto. Vai ser melhor para ele.”

Um clima estranho se instaurou na sala e Célia olhou fixamente para sua filha. 

“Você tem razão. Vamos deixá-lo em paz.” Ela sorriu. 

A conversa deu continuidade por, ao menos, uma hora. 

O dia se passou rapidamente e logo chegou a noite. 

Jade se fechou em seu quarto para estudar um pouco, já que não pôde fazer isso durante o dia. 

Enquanto realizava os exercícios, ela parecia impaciente, esperando por alguma coisa. 

Dentro de alguns minutos alguém bateu à porta. 

A garota estremeceu, porém, seguiu adiante e deu permissão para entrar. 

“Filha, com licença. Espero não estar atrapalhando.”

Prontamente a garota se levantou da cadeira e ficou em pé com o corpo ereto. 

“Não,não, não se preocupe. Eu só estava revisando minhas atividades…” Havia bastante hesitação em suas palavras. 

“Oh, e o que você está estudando agora? Matemática?” Célia deu seu palpite olhando para o livro na bancada. 

“Si-sim, eu estou revendo um pouco sobre geometria. Depois das férias vai ter uma atividade avaliativa sobre o assunto, então eu pensei que era melhor…”

“Cala a boca.”

Jade estremeceu ainda mais. Ela imediatamente abaixou a cabeça para não ter de encarar aqueles olhos que a viam com tamanha repugnância. 

“Você sabe que eu não quero que fale comigo assim.”

“Sim. Me desculpe, mãe…”

“Não me chame assim, sua falha. Fique em silêncio.”

Jade não respondeu. Apenas balançou a cabeça, esperando que a tempestade cessasse. 

“Parece que você não ficou tão próxima dele, não é?” A mulher começou a rodar pelo quarto enquanto soltava suas palavras envenenadas. 

“Se continuar desse jeito, nós vamos ter que recorrer pro plano b. E você não quer isso, certo? Então trate de fazer o seu trabalho. Você só nasceu para isso, coisa imunda.”

Célia repugnava tanto sua filha, que elas pareciam ter saído de um conto de fadas, no entanto, a situação era pior do que isso. 

“Não negligencie seu trabalho. Se uma punição para você não for suficiente, então sua preciosa irmãzinha arcará com as consequências.”

O corpo de Jade gelou quando ela ouviu tais palavras e involuntariamente levantou a voz. 

“Isso não…!”

Um estalo ecoou pelo quarto. Ele foi reproduzido a partir da colisão entre a mão de Célia e o rosto de Jade. 

“O que foi que eu acabei de te falar?!”

Aquela cena deixaria qualquer um aterrorizado. A mãe tratando a filha como uma criminosa. 

Jade abaixou a cabeça obedientemente e pediu desculpas outra vez. 

Célia resmungou e deixou o quarto. 

A garota continuou em pé, encarando o chão e lágrimas começaram a cair. 

“Me desculpe, Mayck.” Balbuciou essas palavras antes de apagar a luz e se deitar. 

Voltando a Célia, ao sair do quarto ela se encontrou com Manuela parada no corredor. 

“Você não acha que deveria pegar mais leve com ela?”

“Não se meta onde não é chamada.”

Essas foram as únicas palavras que elas trocaram antes de se distanciar uma da outra. 

Manuela desceu as escadas e foi até o quarto onde Arthur estava. 

Ela bateu na porta e depois de receber permissão para entrar, encontrou Arthur jogando em seu celular e Mayck dormindo. 

“O que você quer aqui?”

“Mamãe brigou com Jade de novo.”

“E o que eu tenho a ver com isso? Se ela não faz o seu dever, tem que sofrer as consequências.” Arthur desligou o celular e se sentou na cama. 

“Você é igualzinho a ela”, Manuela retrucou. 

“E você? Puxou o nosso pai. Não liga para nada.”

Eles conversavam quase sussurrando. Havia  a possibilidade de Mayck estar acordado e os ouvir, mas eles julgaram que estava tudo bem, já que podiam ouvir a respiração do garoto. 

“Se eu fosse me preocupar com alguém, seria com Lorena.”

“Huh…? Empatia de irmã mais velha?”

“Claro que não, idiota. Eu estou preocupada porque pode ser que ela não aguente mais todos os testes. Se ela morresse no processo não seria ruim? Os planos de toda a família seriam arruinados.”

“Você tem razão. Mas eu acho que o vovô tem alguma medida contra isso. Ou, pelo menos, ele pode contatar um certo alguém em caso de problemas.”

“Acho que você está certo. Bom, vamos deixar isso para os adultos. Nós temos que nos concentrar em nossas próprias tarefas, certo?”

Arthur deu um sorriso e uma leve olhada para o seu colega de quarto. 

“Mal posso esperar.”

Manuela saiu do quarto e Arthur voltou ao seu jogo. 

Por outro lado, Mayck estava com os olhos abertos, mas de costas para seu primo. 

Ele ouviu toda a conversa. E, se caso ele esquecesse, tinha a gravação em seu próprio celular. Antes de dormir, ele ativou o gravador e deixou o aparelho em um lugar que captasse bem o som do local. 

Então é isso, não é…? Talvez seja mais fácil do que eu pensei. 

|×××|

Agora que Mayck sabia que havia mais pessoas por trás de tudo, ele podia considerar que já era um passo dado, ou então tudo só tivesse se complicado mais ainda. 

Seja o que tiver que ser. Eu vou começar a arriscar mais nisso. Espero que não leve muito tempo. 

Se arriscar era algo que ele só fazia de vez em quando. Odiava se meter em problemas, mas seu próprio ego o fazia agir na maior parte das vezes. 

Depois que todos na casa dormiram, Mayck acordou no meio da madrugada e sentiu a necessidade de beber água. Então decidiu fazer isso. 

Enquanto descia as escadas, ele notou que havia uma luz avermelhada saindo da cozinha.  

Por ser algo que ele já tinha visto, presumiu que era a luz de dentro da geladeira e que alguém estava fuçando dentro dela. 

Queria ignorar, mas não ouvia nenhum som de coisas sendo reviradas levemente. 

Ele confiava em si mesmo, além de que já fez coisas como mexer na geladeira durante a madrugada e lutar para evitar fazer barulho muitas vezes. 

Se esgueirou até a porta da cozinha e espiou o cômodo. 

Uma silhueta pequena estava sentada em uma cadeira com o braço um pouco levantado. Haviam várias pequenas mangueiras transparentes nele. 

Mayck percebeu que era Lorena quem estava lá. 

Cogitou chamá-la, mas se conteve ao notar a presença de uma terceira pessoa. 

“Lembre-se: não deixe que ninguém te descubra. Se alguém fizer isso, você arcará com as consequências. Estamos entendidas?”

A garotinha assentiu em resposta à pergunta de Célia. 

Lorena estava completamente nua. E seu corpo era cheio de minúsculos furos de agulhas desde sua coxa até sua clavícula. 

Aquela visão era aterrorizante. O que poderia estar acontecendo?

A primeira coisa que ele pensou era que a garota tinha alguma doença. 

A segunda… ele não queria aceitar. 

Voltou para o quarto, mas passou a noite em claro, procurando uma teoria plausível para aquela cena. 

Na manhã seguinte, ou melhor, na tarde seguinte ele percebeu que havia dormido demais e desceu para a sala, depois de ver que o relógio marcava quase duas horas. 

“Ué? Onde estão todos?”

Ele perguntou à Jade, que estava sentada no sofá com um caderno em mãos. 

“Acordou? Eles foram dar uma volta. Iam te chamar, mas você estava dormindo tão tranquilamente que decidiram te deixar em paz.”

“Há quanto tempo eles saíram?”.

“Acho que faz meia hora…” Ela encostou a caneta na bochecha enquanto tentava calcular o tempo. 

“Entendi.” 

Mayck foi até a cozinha e Jade afirmou que havia café na garrafa térmica. 

Ele pegou o conteúdo e tomou um pouco para se manter acordado. Haviam olheiras em seu rosto. 

Ah…  cara… é tão estranho ser o último a acordar. Principalmente quando não se está em casa. Eu acabei demorando demais para dormir. Ainda tinha um pouco de adrenalina no meu corpo. 

Sentado à mesa, ele se lembrou do que tinha visto de madrugada e se deu conta de que ainda não tinha descoberto o que era. 

“Jade, a Lorena esteve doente recentemente ou algo assim?” 

Ele supôs que o motivo da garota sempre usar roupas compridas era para esconder aquelas marcas. 

“Hã? Por que isso?” 

“Nada de mais. Eu só estava me perguntando.”

Apesar de achar estranho, Jade deu de ombros. 

“Uh-uh. Ela não esteve doente recentemente.”

“Então… ela nasceu com alguma doença ou algo assim?”

“Sério… por que isso?”

“Não precisa responder a então quiser. Eu só achei estranho o fato de ela estar sempre com blusas de mangas longas e calças de moletom.”

Jade tremeu e parou de escrever. Essa reação suspeita não passou despercebida por ele. 

“Ah, foi mal. É algo que você não quer falar sobre? Esqueça. É só uma curiosidade minha.”

“Nã-não é nada disso. Tá tudo bem, de verdade. Ela não está doente nem nada do tipo.”

“Então por que…”

“Ah, está muito quente, né? Você gostaria de tomar um picolé? Tem alguns no freezer.”

“Bom… eu aceito. Mas…”

“Nossa, eu também estou ficando com calor. Pode trazer um pra mim também?”

“Tá bom…” 

Mesmo que ele insistisse nisso, ela só iria fugir do assunto. 

Claro, forçá-la a falar não seria difícil, mas ele queria evitar esse tipo de método a todo custo. 

Pegou os picolés no freezer e entregou a ela. 

Apenas por aquela forma de tentar fugir, Jade entregou de bandeja que havia algo acontecendo. Era só questão de tempo até que ele descobrisse o que. 

O garoto estava começando a ficar impaciente. Não é como se ele tivesse se perdoado de seus erros do passado ou simplesmente ignorado eles completamente. Apenas os tinha deixado em segundo plano e sabia que eles acabariam se acumulando e vindo à tona em algum momento. 

Portanto, pensou que deveria resolver tudo, um atrás do outro. 

Ele não confiava em Célia nem em Bruno. Afinal, foram eles quem induziram as outras crianças a ignorá-lo. 

Eu não quero desacreditar dos meus avós, mas eu ainda não acho que aquela foi a verdade. Minhas memórias foram trancadas, mas elas já estão de volta e eu lembro com clareza como é a natureza deles. 

Naquele ponto, para poder confirmar suas suspeitas, ele tinha que ficar sozinho com os dois, para que, então, pudesse formar um plano para finalizar aquilo. 

Mas, enquanto não aparecia uma oportunidade, ele decidiu fazer suas tarefas de verão e se trancou no quarto, deixando Jade na sala.

Pensou que estudar um pouco seria uma boa forma de fugir da realidade. 

As tarefas em si não eram tão difíceis. O maior problema era não ficar com preguiça de fazê-las, já que a quantidade era imensa para cada matéria. 

“Se eu estudasse no Brasil, português seria moleza, mas japonês… Acho que vou começar por matemática.”

Como não se acostumou completamente com a língua japonesa a ponto de tirar notas totalmente altas, a matemática se tornou seu ponto forte. 

Bom, vamos começar

Ele abriu o livro e começou a resolver os problemas depois de lê-los e entendê-los. 

Se concentrou o máximo que pôde e, quando se deu conta, já era noite. 

“Acho que me concentrei demais. Bom, tudo bem. Assim é menos um pra conta.”

Cansado de passar o dia todo sentado em uma cadeira na frente de uma bancada, ele se espreguiçou, levando os braços até a cabeça e bocejando. 

Desceu até a cozinha com vontade de tomar um copo de água e encontrou Jade adormecida no sofá. 

Ela dormiu aqui… Bom, ela deve estar cansada. Vou deixar assim mesmo. 

Subiu rapidamente até o quarto da garota e pegou um lençol para cobri-la. 

“Eles não chegaram ainda… Para onde será que foram?”

Olhou o relógio brevemente e viu que já estava perto das 19h. 

Pôs a mão nas costas e se alongou levemente. 

Eu já estou bem envelhecido. É melhor tomar cuidado quando for me mexer bruscamente. 

Era um pensamento um pouco sem sentido. 

O silêncio foi interrompido pelo som de algo sendo quebrado e o garoto parou instantaneamente, até mesmo sua respiração parou por um momento. 

Ele ouviu atentamente e um leve ruído como passos de um gato chegou aos seus ouvidos, ficando cada vez mais próximo, porém, desapareceu repentinamente. 

Mayck se moveu e foi lentamente até a cozinha, de onde ouviu os ruídos. 

Não havia nada lá. 

Andou por toda a casa e não encontrou absolutamente nada. 

“Eu acho que estou alucinando… Melhor ir dormir mais um pouco.” Ele apertou perto de seus olhos com as mãos. 

Voltou para o quarto e dormiu depois de um tempo.

Seu sono foi interrompido por uma enorme pressão, que o fez acordar como se tivesse tido um pesadelo. 

Ele apertou o próprio peito e olhou em volta. 

Tinha alguma coisa aqui…

Ao seu lado só estava Arthur dormindo tranquilamente. 

Eles já voltaram? Que horas são?

Pegou seu celular e ligou a tela. O relógio estava marcando 3:15. 

Mayck respirou fundo e levantou da cama, indo até a cozinha. 

Sua intenção era beber água para se acalmar um pouco. 

O que foi aquilo? Uma paralisia do sono? Se fosse isso eu estaria tranquilo, mas não foi. Eu tenho certeza que tinha mais alguém lá. 

A presença era diferente da de um humano. Mas também era muito mais pesada que a presença de um Ninkai. 

Virou o copo com água na boca, mas quase se engasgou e parou imediatamente. 

Aquela mesma coisa do quarto estava atrás dele, o observando. Não dava para saber o que seus olhos vermelhos transmitiam, mas não era coisa boa. 

O garoto ficou paralisado, sem saber o que fazer. 

Eu não posso ficar parado.

Aquela intenção assassina estava o sufocando, porém, também lhe dava forças para se mover. 

Deu meia volta e saltou para trás, tomando distância daquela coisa. No entanto, quando seus olhos se acostumaram com a escuridão, a fraca luz da geladeira revelou um rosto que ele não esperava ver naquele momento. 

“Lorena? Não me assusta desse jeito.” Ele suspirou aliviado. “O que tá fazendo aqui a essa hora?”

A garota ficou em silêncio e logo em seguida se afastou dele sem abrir a boca.

O que foi isso…? Peraí, não é hora pra isso. 

Voltando a realidade, Mayck apertou o passo e agarrou o braço da garota, evitando que ela fugisse, entretanto, ela não teve nenhuma reação. Nem de espanto, nem um impulso de tentar fugir. Ela parecia uma boneca. 

Só de tocar seu braço, o garoto sentia as inúmeras marcas. 

“Lorena, o que houve?”

Ela permaneceu calada. Parecia até que sua existência em si estava em um plano diferente daquele. Ela podia ser tocada, mas não ouvia, nem via o que ocorria ao seu redor. Ou talvez ela apenas não se importava. 

O garoto a puxou e virou-a para ele, para que pudesse ver melhor seu rosto. Ele se abaixou e ficou na altura dela. 

Não falou nada, apenas ficou encarando ela, como se tivesse esperança de que uma hora ou outra ela responderia. 

Como eu consegui entrar no meu subconsciente daquela vez? Será que eu posso fazer o mesmo com outras pessoas?

Ele acreditava que a manipulação de alma não fosse apenas para atacar seus inimigos fisicamente, mas que pudesse, de algum jeito, ver o mais profundo de suas almas. 

Será que funciona? Acho que vou tentar. 

Respirou profundamente, de uma forma que dava para ouvir o ar enchendo seus pulmões. 

“Moonlight Nightmare.”

Era um pouco chato ter que dizer o nome da ID para que ela fosse ativada, mas não havia outro jeito. 

As chamadas “chaves de comando” eram essenciais para o bom desempenho de todas as habilidades. Ela funcionava como um reforço, para manter o controle do portador sobre ela. Mas isso é assunto para outra hora. 

O espaço foi alterado, mas havia algo de diferente. 

Quando ele foi ativado das outras vezes, era apenas um plano completamente negro e frio. No entanto, dessa vez ele parecia apenas um mundo invertido. 

As casas eram tortas, as ruas torcidas acima de suas cabeças. Uma completa confusão. 

Mayck, mesmo sem entender nada, começou a caminhar por aquele mundo distorcido. 

Esse não é o meu plano… então quer dizer que eu consegui entrar em contato com a alma dela?

O céu parecia um espelho, mas seu reflexo também era distorcido. As cores refletidas nele eram monótonas e sombrias. Os rostos saiam de sua forma original e pareciam um tipo de fantasma aterrorizante de um filme de terror. 

Em um certo local, havia uma porta. Mayck a abriu e ela revelou uma enorme sala preta, onde não havia luz, mas também não era escuro. 

Mayck passou por ela sem hesitar e Lorena o seguiu sem nenhuma reação. 

A porta desapareceu atrás deles e eles viram uma silhueta no meio da sala. 

Ela estava sentada com a cabeça enterrada nos braços que estavam cruzados e tinha vários brinquedos ao seu redor, como bichinhos de pelúcia e bonecas, mas eles estavam destruídos, dando a entender que quem estava no meio da sala acabou com ele em um momento de surto. 

“Lorena?”

Mayck a chamou e ouviu um leve resmungo. 

“Desculpa. Eu não queria fazer isso.”

Ele ia se aproximar dela, mas teve seu braço agarrado por aquela que ele segurava. 

Ele ficou confuso e olhou para ela novamente e vários vultos surgiram atrás dela, como se fossem sombras, mesmo naquele vazio escuro. 

O que está acontecendo?

Mayck balançou a mão e projetou uma círculo azul, que disparou um laser e dispersou aquelas coisas. Tomou cuidado para não acertar as duas garotas. 

Enquanto uma permanecia imóvel e calada, a outra estava cabisbaixa e chorando. 

Aquela era uma situação confusa. 

Eu não estou entendendo nada. O que é isso tudo? 

Ele desativou a habilidade e eles retornaram para o plano normal. 

Lorena ainda estava agarrada em seu braço, mas alguns segundos depois seus olhos se fecharam e ela caiu inconsciente. 

O garoto a segurou com cuidado e a levou até o quarto de Jade, pensando no que tinha acabado de presenciar. 

O dia seguinte chegou e Mayck foi o primeiro a se levantar. 

Havia dormido pouco por causa de suas dúvidas, mas não foi tão pouco a ponto de afetar o seu desempenho ao acordar. Resumindo, não foi nada diferente do habitual. Quando batia a insônia, o garoto tinha que ir para a escola virado. 

E, estando na casa dos avós, ele tinha que, ao menos, dar uma boa impressão. Ou era o que ele pensava. 

Levando em conta que ele estava ocupando sua cabeça com problemas quando era para ele estar se divertindo… Seria três semanas bem cruéis. 

Depois de muito quebrar a cabeça, ele aceitou o fato de que tinha que pedir ajuda a Nikkie. Pelo menos um conselho ele tinha que pedir. 

Mas como entrar em contato com ela? Só poderia fazer isso por Chika. 

Dito e feito. Após algumas enrolações, o conselho que recebeu de sua colega de trabalho foi um: ‘pense com sua própria cabeça.’

Era um resultado esperado, então ele não se decepcionou. 

Então isso quer dizer que eu posso ser mais agressivo, não é? Tudo bem, eu não vou me segurar mais. 

Com essa declaração, começou a pensar em formas de fazer com que seus tios cuspissem tudo o que estavam fazendo. 

Durante a tarde, todos se reuniram na sala outra vez. Só que, dessa vez, para uma sessão de estudos. 

Jade havia prometido para seus irmãos mais novos que os ajudaria nas lições de casa e arrastou Mayck com ela para não ter que carregar o fardo sozinha. 

“Já que é assim, vamos começar com matemática”, Mayck decretou. 

“Eh…? Mas essa é a parte mais difícil.” Manuela possuía suas objeções. 

“Não se preocupe. Ele é muito bom nessa matéria.” 

“É sério?” 

Mayck assentiu com firmeza. 

“Então… acho que tudo bem.”

“Eu vou começar com geografia. Tudo bem, Jade?” Arthur, que estava sentado no sofá folheando um livro didático, anunciou.

“Tá legal.” A irmã mais velha se sentou ao lado do garoto e começou a responder as perguntas feitas por ele. 

Mayck e Manuela faziam o mesmo. 

De vez em quando, Mayck se via olhando para a pequena Lorena que estava desenhando em um caderno. 

As memórias da noite passada ainda estavam frescas em sua mente. 

Às vezes Manuela era obrigada a despertá-lo com um chacoalho, já que ele se perdia em seus próprios pensamentos. 

Após a sessão de estudos, que durou três horas e, no meio dela Mayck achou melhor fazer seus deveres também, todos se sentaram à mesa para um pequeno lanche preparado por Tomoko. 

Takafumi e Bruno conversavam amigavelmente sobre vários tipos de assuntos. Parecia até que nunca acabava, já que todos os dias eles estavam fazendo a mesma coisa. 

Quando não falavam de futebol, era sobre o passado. Quando não era nada um desses dois, era de planos futuros. 

E assim os dias foram se passando. 

Ao final de uma semana desde que Mayck voltou para o Brasil, Célia teve a brilhante ideia de levar o garoto para ver o resto da família. 

Além dos que já estavam presentes, ainda havia outras pessoas na família. 

A mãe de Mayck possuía cinco irmãos e irmãs, sendo, Célia, a mais nova. 

“Bom, eu não sou contra, mas… eles não vão se surpreender se eu chegar do nada?”

“Mas é essa a ideia. Vamos, já faz tanto tempo que vocês não se vêem.”

Mayck procurava formas de recusar tal oferta, mas eram sete contra um, não havia muito o que fazer. 

No fim, ele acabou cedendo. 

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