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O dia começou em um ritmo bem frenético para Mayck. As aulas seriam retomadas no dia seguinte e nada tinha sido resolvido ainda — algo bem desesperador, na realidade. 

Logo após contatar o time de ataque n°8 da Strike Down e repassar as informações adquiridas na noite anterior, ele e as equipes Alfa e Delta decidiram se organizar para começarem a possível última operação envolvendo os institutos. 

Esta, provavelmente, seria a última por conta da ajuda da Strike Down que iria cobrir a maior parte dos institutos, o que queria dizer que não havia mais tanto trabalho assim para a Black Room — o que poderia ser um alívio, pelo menos para Mayck. 

O ataque seria realizado simultaneamente à noite, então os preparativos começaram naquela manhã e todos os envolvidos se dirigiram para os locais naquela tarde para uma pesquisa de campo, afinal, não dava para ver tudo detalhadamente pela internet.

Nisso, os times Alfa e Delta decidiram trabalhar como times separados, dada a magnitude da missão, que poderia falhar de várias formas. No entanto, Mayck disse que poderia fazer sua parte sozinho. 

Eles contestaram, mas foram persuadidos pelo garoto; ele era apenas um aliado, não um membro da organização, portanto, estava ali apenas para ajudar e não para seguir ordens — Zero também concordou com isso. 

Apesar de todas as dúvidas, os demais membros acabaram cedendo, então Mayck partiu com o seu objetivo e com a confiança de que não iria falhar. 

A experiência que ele adquiriu nos últimos quatro meses lhe proporcionaram uma certeza de qualquer coisa que fizesse, mas ele ainda mantinha em mente a sua natureza pessimista e orgulhosa que ajudava a equilibrar suas decisões.

Ele olhou para os dois lados da estrada vazia: não havia uma alma humana sequer nem na frente nem atrás. Poderia ser um bom, ou mau sinal; mas continuou a pedalar, independentemente da situação. 

Ele ficou encarregado de um dos institutos ainda em Tóquio, um pedido pessoal dele, para que não se afastasse demais. 

Pelas coordenadas do mapa, parece que eu vou andar bastante até lá. 

No entanto, a localização que ele acabou recebendo o levava até outra floresta, perto do Mt. Odake. O que dava uma bela caminhada de onde ele estava. Mas, para sua sorte, ele conseguiu uma bicicleta emprestada da Black Room e seguiu viagem. Não sabia se poderia continuar com ela até o final do trajeto, no entanto. 

Pedalou por aquela estrada estreita e cercada por vegetação, onde havia uma estrutura de metal em um lado da estrada — já que tinha um morro naquela parte — e um tipo de muro de pedras do outro, onde o ar gélido que passava entre as árvores dava uma sensação refrescante, mas também tinha aquela pitada macabra de mistério e horror. 

Desde que saiu do grande centro urbano, passou por algumas residências, mas a maior parte do caminho estava sendo silencioso — apenas ele e a natureza — e estava bem exausto de tanto pedalar.

Sua garrafa de água também já estava na metade e ainda tinha muito para percorrer, mas estava sendo econômico na hora de repor os líquidos de seu corpo. 

Acho que eu vou morrer antes de chegar lá…

Ele fez uma pequena parada e verificou sua localização com o DA. Havia um mapa composto por várias linhas, que representavam as ruas e as coordenadas no canto superior direito. 

Parece que mais um pouco e eu chego até outra vila… Pelo menos vou poder comprar água e alguma coisa para comer. 

O sol rachando e o suor escorrendo por seu rosto enquanto ele se esforçava para pedalar. 

Após dez minutos de descanso, ele retomou sua jornada. Passou pela vila e fez as compras que queria. Descansou mais um pouco e partiu. 

Se as coisas fossem daquele jeito até o final seria perfeito. Mas a realidade se mostrou cruel mais uma vez e Mayck se deparou com seu maior receio naquela viagem. 

Ele fitou a ponte e a entrada do túnel no final dela. Um arrepio percorreu seu corpo. 

O que é essa sensação estranha…? Mas não posso negar que estou um pouco ansioso para isso. 

Ele se perguntava o que poderia acontecer em um túnel tão longo.

Uma brisa soprou e agitou as folhas das árvores. Respirando fundo, o garoto se pôs a pedalar a bicicleta preta, enquanto seu moletom também preto, balançava com o vento. E seu coração empolgado por algo extraordinário. 

Atravessada a enorme ponte, a luz do sol foi substituída por luz elétrica que iluminava aquele extenso túnel. Vendo do lado de fora, Mayck foi sendo sugado pela escuridão da construção humana, que parecia a boca de uma criatura imensa e desconhecida vinda de um lugar distante. 

Os primeiros minutos seguiram sem nada de anormal, apenas a sensação de que alguém o seguia — uma sensação que todo ser humano sentia ao se ver sozinho em um lugar daqueles. 

Só de pensar que vou demorar tanto apenas para passar por aqui… ainda bem que eu comprei água e lanche suficiente. 

Ele pedalava em uma velocidade constante para não gastar sua energia facilmente e quando atingia uma certa velocidade, deixava a bicicleta ir sozinha, até que precisasse refazer o ciclo. 

Será que não vai acontecer nada mesmo? Bom, se acontecer legal, se não, tudo bem também… mas eu queria que acontecesse. Não é todo dia que se tem a chance de passar por um lugar desses. 

Concentrado no seu caminho, ele almejava por algum evento sobrenatural, mesmo já tendo presenciado vários no decorrer de sua vida. E por estar tão fixado nisso, ele acabou freando a bicicleta repentinamente. 

Por causa da velocidade, ela levou alguns segundos para frear e acabou fazendo um drift no processo. 

Mayck encarou a escuridão no horizonte e estreitou os olhos. De lá, um par de luzes amarelas surgiu e foi-se aproximando, juntamente com um som de motor, que ia aumentando seu volume gradualmente. 

Um carro? Já faz algum tempo desde o último que vi. 

Mayck desceu da bicicleta e começou a empurrá-la, enquanto um sentimento de suspeita ganhava força em sua mente. Ele fixou seu olhar no veículo que se aproximava cada vez mais, até que passou por ele sem nada de especial. 

Era uma van preta e o garoto nem conseguiu ver o motorista, por conta do insulfilm que cobria todas as janelas. 

Entretanto, o som do freio sendo ativado repentinamente ecoou pelo túnel e se propagou para todos os lados, criando um eco doloroso aos ouvidos. 

O que foi isso?

Quando Mayck se virou para trás, viu a van sendo manobrada e logo ela avançou com velocidade para ele. 

Ei, ei, ei… isso não me parece bom. 

Ativando seus instintos de perigo, o garoto subiu na bicicleta e começou a pedalar com tudo, mas com seu coração saltando por algo emocionante ter começado. 

Ele tá mesmo vindo atrás de mim? Sério mesmo?

Aquela era uma situação que ele havia considerado, mas que descartou por ser um possível devaneio criado por sua solidão e cansaço. Mas ele estava ali, pedalando o mais rápido que podia para escapar da van que estava perto de alcançá-lo. 

Caramba que saco. 

Mayck desviou com a bicicleta para um lado do túnel, e a van insistiu em continuar na sua cola. Quem quer que estivesse dirigindo aquilo não estava querendo esconder suas intenções de pegá-lo.

Eles percorreram por alguns minutos, até que Mayck sentiu a fadiga lhe possuir. 

Por conta disso, a van começou a ultrapassar o garoto, que deu uma freada repentina, fazendo com que ela avançasse sozinha. 

Tá legal. Eu já cansei. Vamos ver o que você quer. 

O veículo voltou de ré, após ter se afastado bastante do garoto. 

Quando ela parou, há poucos metros dele, um homem com o rosto coberto por uma touca, de modo que só dava para ver seus olhos, e uma jaqueta de couro, desceu. E ele não estava sozinho: estava acompanhado por um fuzil de assalto. 

“Desce da bicicleta!” 

De forma agressiva ele apertou o passo e foi até o garoto, que o encarava sem medo no rosto, e apontou a arma para ele, querendo intimidá-lo. 

O homem o puxou pelo colarinho, apressado para arrastá-lo para a van. 

“O quê? O que é isso?” Mayck perguntou, fingindo estar com medo. 

A bicicleta caiu.

“Cala a boca, filho da puta. Anda logo, senão eu meto uma bala na sua cabeça.”

Que cara emocionado. Eu até gostaria de zuar um pouco com ele, mas não tenho tempo pra perder aqui. 

Da última vez que Mayck havia checado o mapa já tinha passado das 15h e ainda tinha muito pra andar. 

O homem o pegou pelo braço e o arrastou até a porta da van, mas no momento em que ia jogá-lo dentro dela, as luzes do túnel se apagaram, restando apenas os faróis do veículo para iluminar aquelas trevas horripilantes. 

“Que merda… o que caralhos aconteceu?”

“Dane-se porra! Só entra logo.” O motorista gritou, agitado, aparentemente ele não conseguia se manter calmo quando estava cometendo um crime. 

“Vai caralho.” O homem empurrou Mayck, mas o garoto estava focado em outra coisa, por isso, parecia uma rocha presa ao chão. “Tá de putaria, moleque?! Entra logo!” Ele desferiu um soco no abdômen do garoto, porém, não foi muito útil. 

O que é isso? Essa sensação é diferente de antes… tem alguma coisa aqui. 

O homem insistiu em bater em Mayck, mas acabou o irritando por causa dos gritos que ordenava ele a entrar no veículo. 

“Dá pra calar a boca um minuto?” Mayck deixou que sua energia transbordasse um pouco, apenas para dar uma acordada naqueles dois criminosos, que quase sentiram a pressão sufocante exercida sobre eles. 

“Merda. Você é a porra de um portador?”

“Se vocês sabem sobre isso, mantenham-se em silêncio.”

As luzes do túnel começaram a piscar, dando indícios de que voltariam, mas não voltavam. De repente, ficou mais frio que antes e um odor de cachorro, quando molhado, se instaurou no ambiente. 

“Ele… já tá aqui?” 

Os dois sequestradores começaram a tremer. Eles sabiam sobre os portadores, então também sabiam sobre os horrores da noite que vagavam pelo mundo devorando pessoas e animais sem exceção. 

“Entra logo e vamos embora. Não quero encontrar aquilo de novo.”

De novo?

“Mas e ele?! A gente não ia negociar usando o moleque?”

“Ah, foda-se isso. Deixa que o moleque sirva de isca. Vamos aproveitar pra vazar daqui.”

Do que eles estão falando?

Após estalar a língua, frustrado, o homem com o fuzil saltou para dentro da van e eles foram embora. No entanto, após se afastarem alguns metros de Mayck, uma força invisível ergueu a van e a prensou, a transformando em uma pequena esfera de metal, borracha, plástico, carne e ossos. 

Não teve como Mayck esconder seu espanto. Ele fitou a pequena esfera cair e rolar até seus pés. Não havia nenhum resquício de que um veículo em uso estava ali há poucos segundos. 

O que foi isso…?

Antes que ele percebesse, o odor ficou mais forte, o forçando a pôr a mão no nariz. 

O que quer que estivesse ali, com certeza, não tinha intenção de deixar uma vida passar e Mayck não era exceção, era só questão de tempo até ele sofrer o mesmo destino que os dois sequestradores. 

Mas de onde aquela coisa viria? Mayck perguntou a si mesmo enquanto olhava para todas as direções, onde as luzes piscavam sem parar. Ele estava sentindo a mesma presença de todos os lados, seria mais de uma? Só havia um jeito dele saber. 

Essa coisa apareceu porque eu deixei minha energia vazar? Não. Aqueles caras falaram sobre ela, talvez eles estivessem fugindo dela… mas porque me sequestrar em primeiro lugar?

Essas perguntas nunca teriam resposta. Até porque os únicos que poderiam respondê-la já não existiam mais. 

Um som como o da água sendo derramada ecoou pelo túnel atrás de Mayck. Ao se virar, viu uma enorme gota preta e pastosa descendo lentamente e quando tocou o chão, tomou a forma de uma mão gigante. Grande o suficiente para ter Mayck, literalmente, na sua palma. 

A respiração de Mayck ficou lenta, mas não por medo, mas para manter o máximo de atenção àquela coisa imprevisível. 

Foi isso que esmagou a van? Mas que desgraça é isso afinal? Um Ninkai? Se for pode ser um de classe Pesadelo, já que é muito poderoso pelo visto. 

A mão gigante se aproximou de Mayck e o rodeou, certamente estava o analisando. Ela não parecia ser hostil, mas não dava para apagar aquela visão que o garoto presenciou há pouco. 

Eu vou testar uma coisa. 

Lentamente, Mayck deu um passo… dois e logo começou a caminhar. A mão ficou parada como se o observasse, mas se deslocou em direção a ele em seguida. 

No pequeno caminho andado, Mayck verificou os arredores. Desde as paredes até o teto, estavam todos cobertos por uma lama negra que parecia escorrer infinitamente. 

Parece que isso tudo é o monstro. Mesmo que eu o ataque aqui, não consigo dizer como posso derrotá-lo. 

Ele levantou a bicicleta e começou a empurrá-la na sua direção original, a mão gigante ainda o seguia. 

Depois de mais alguns passos, a criatura decidiu agir e avançou contra o garoto para agarrá-lo e talvez destroçá-lo assim como fez com a van. Mayck, porém, foi mais rápido e se esquivou dela, saltando para o lado. 

Então ele me viu como uma presa, hein… que pé no saco…

Quando se deu conta, Mayck viu que toda a lama na parede estava tomando formas diferentes e uma delas se apresentou com uma forma humanóide, que ficou em pé de frente ao garoto. Um par de olhos surgiu em sua face, mas o mais estranho foi vê-la tentando replicar a aparência dele. 

Tá tentando se parecer comigo é? Isso me irrita um pouco. 

O garoto decidiu esperar para ver qual seria o próximo passo da criatura. A presença dela era tão forte que pareciam ser dezenas dela, mas, na verdade, era apenas uma. O seu tamanho colossal que passava essa impressão. 

No entanto, enquanto esperava, a criatura apenas se mexia de um lado para o outro, como se não possuísse uma base fixa e ficava tentando se equilibrar. 

Se ela não for fazer nada, é melhor eu dar o primeiro passo. Não quero passar o dia todo aqui. 

Além do mais, não havia dúvidas de que era um inimigo. Portanto, qualquer ação seria considerada defesa pessoal, não que alguém fosse condená-lo por acabar com a vida de um monstro que já havia devorado, sem dúvidas, centenas de vidas. 

Já que é assim, eu preciso de um ataque de grande escala que acabe com ele de uma vez… ou eu faço ele se juntar em um só lugar…

Saindo de seus pensamentos, Mayck notou que a criatura parecia estar estendendo a mão para ele. Parecia um gesto amistoso à primeira vista. 

O que tá fazendo?

De repente, uma cabeça humana foi arremessada na direção dele. Em uma reação instantânea, ele saltou para trás e desviou. 

Uma cabeça… e parece que foi arrancada há muito tempo. Está totalmente pálida… ele sentiu um enjôo apenas por olhar para aquilo. Ah, que seja, é melhor acabar com ele logo, antes que mais alguém apareça. 

Mayck estendeu a mão e faíscas elétricas fluíram dela, ficando cada vez mais poderosas, de modo que o túnel foi iluminado por um brilho azul e o ruído da eletricidade se propagou por toda a estrutura. 

Infelizmente eu não posso testar algo aqui, então vou fazer do modo clássico mesmo. 

As faíscas começaram a girar em sua mão e logo se transformaram em uma esfera elétrica de alta tensão.

Eu vou concentrar o poder de um canhão aqui nessa esfera. Pode ser que eu consiga fazê-la percorrer todo o corpo desse monstro. 

Em fração de segundos, Mayck avançou sobre o corpo humanóide da criatura e saltou, chocando a <Esfera de Eletricidade> em todo o seu poder sobre ela. 

Os raios que se formaram dela se dispersaram para os dois lados do túnel, correndo por toda a lama negra, que perdeu todas as formas que havia tomado e começou a cair no chão. 

“Parece que deu certo, mas… ugh… essa coisa é nojenta.” Mayck balançou suas mãos para tirar a lama que caiu nelas. “Isso era mesmo um Ninkai? Nunca tinha visto um desse jeito.”

Conforme ia caindo, a lama negra ia desaparecendo como se evaporasse quando em contato com o chão. 

“Bom, é melhor eu continuar. Já perdi muito tempo aqui.” 

Ele foi até a bicicleta e a levantou. Após uma última olhada na esfera de metal deixada pela van, Mayck começou a pedalar e saiu do túnel cerca de uma hora e meia depois. 

<—Da·Si—>

Chegando ao fim da estrada da última vila que passou, Mayck se viu adentrando à trilha na floresta, cada vez mais próximo de seu objetivo. 

Checou o DA mais uma vez e comparou as coordenadas em que estava com as que recebeu. Os números estavam bem longes, mas nem tanto — sinal de que estava próximo do local. 

Com o fim da trilha, era hora de ir pela vegetação, o que queria dizer que ele teria de abandonar a bicicleta ali mesmo. 

Você fez seu trabalho com maestria. Até depois, soldado. 

Após essa brincadeira que ele fez como forma de aliviar a tensão em sua mente, ele deixou a bicicleta no meio de várias plantas, para que ela não fosse encontrada por ninguém em hipótese alguma. 

“Beleza… Vamos nessa. Tô quase lá.”

Após uma pequena alongada nas pernas e nos braços, Mayck saltou no meio da mata alta, e todas as folhas caídas e galhos finos, seguindo em direção ao oeste, como mostrado no GPS do DA. 

Sair procurando por coordenadas é um pé no saco. E eu tive apenas duas horas pra aprender o básico do básico. 

Mayck lamentava tal situação. Mas, apesar disso, ele só precisava caminhar em direção a uma seta, enquanto o sistema do GPS cuidava de passar as coordenadas. 

No fim, eu só preciso encontrar o local que tenha os mesmos números. 

Ele sentia uma certa inutilidade em seu trabalho. 

Enfim, ele seguiu nas direções indicadas pela seta no mapa do DA enquanto entrava mais fundo naquela floresta solitária. 

O farfalhar das folhas trazia uma sensação vazia e ao mesmo tempo confortável. A luz do sol que passava por elas era aconchegante e o canto dos pássaros amenizava a solidão daquela floresta. 

Depois chegou a uma clareira e descansou um pouco por lá. 

Notou também que tinha algumas embalagens de lanches espalhados, o que indicava que alguém havia passado por lá há pouco tempo. 

Será que estavam escalando para aproveitar o final das férias?

Era bem provável. Mas o garoto optou por não pensar muito sobre aquilo, então pegou as embalagens e colocou na sacola que recebeu no último mercado em que passou. 

Vou deixar isso aqui. Se der tempo e eu lembrar, passo aqui na volta. 

Após deixar a sacola pendurada em um galho para que o vento não levasse, ele seguiu viagem. E depois de meia hora, conseguiu chegar onde queria, parando bem em cima do ponto marcado no mapa. 

Até que enfim. Ele suspirou, cansado. Mas, e agora? Onde será que está…?

Ele olhou em volta. Não havia muita coisa por ali além do que se vê em uma floresta normal: árvores, folhas caídas, mata alta… com exceção de um pequeno local onde as árvores estavam mais afastadas umas das outras. 

Suspeitando dali ele foi verificar mais de perto. 

Esse aqui é um bom lugar pra dormir, hein. Se eu estivesse aqui a passeio, com certeza pararia aqui. 

Enquanto distraído, alguém veio correndo de entre as árvores e saltou, brandindo uma espada japonesa claramente afiada. Ele desferiu o golpe com a intenção de matar o seu alvo, mas o garoto se esquivou rapidamente. 

Uou. Uma recepção bem calorosa. 

Sem mostrar qualquer vontade de conversar, a figura com uma máscara laranja de raposa avançou novamente contra Mayck manejando sua espada habilmente e o pequeno espaço em que estavam tornava isso mais surpreendente. 

O enviado da Black Room, no entanto, não deixava a desejar, ele se esquivou com tranquilidade de cada um dos golpes, mas não pretendia continuar daquele jeito. 

A figura saltou novamente e desceu o fio de sua espada na vertical, como se fosse cortar Mayck ao meio. O garoto, por sua vez, levantou as duas mãos em direção ao golpe e imediatamente sua katana apareceu sobre elas. Ele usou uma pequena parte da lâmina que deu tempo de desembainhar para bloquear o corte. 

Vendo seu ataque sendo impedido, a figura recuou, abrindo distância entre eles. Suas ações mostraram que ela foi surpreendida. 

Eles se encararam, Mayck também pôs sua máscara, mesmo que seu rosto já tivesse sido visto — talvez para lhe dar mais confiança. 

Essa pessoa… eu não acho que vou perder pra ela, mas eu também não sei se posso vencer. Ela, claramente, tem um domínio maior que o meu sobre técnicas de espada. Um único erro pode trazer o meu fim. 

Mayck fez sua análise do seu oponente enquanto observava sua postura sem falhas. Naquela luta, ele dependeria muito de suas habilidades sobre humanas. 

Uma corrente de ar soprou entre eles. 

Em um flash rápido suas espadas se chocaram e uma onda de choque potencializou a corrente de ar. 

Eles disputaram sua força tentando fazer o outro ceder, mas, vendo que seria inútil, se afastaram mais uma vez, apenas para retornarem com mais força e começarem uma veloz troca de golpes. 

O som das lâminas se chocando tomaram conta de uma boa parte da floresta e aquele pequeno espaço aumentava consideravelmente a dificuldade da luta para ambos os lados. 

Droga. Ele é muito habilidoso… eu posso acabar perdendo aqui. 

Quando viu a oportunidade, Mayck desferiu um corte vertical de cima, mas ele foi bloqueado pela lâmina do seu oponente que veio horizontalmente de baixo. 

Eles seguraram assim. 

“Você é bem forte… hein… por que está protegendo os institutos?”

Após ser atacado sem mais nem menos, não havia dúvidas de que a pessoa a sua frente fazia parte do instituto localizado ali. Se não fosse isso, ele não atacaria alguém desarmado à toa — a não ser que fosse algum psicopata, mas não parecia ser o caso. 

“Não tenho intenção de te responder”, ela falou com firmeza e sua voz feminina mostrou que se tratava de uma garota. 

“É mesmo?”

Mayck tinha a vantagem da gravidade ao seu favor, então forçou seus braços para empurrar a lâmina da garota e obteve sucesso, mas a garota saltou para trás novamente e correu pelas árvores. 

Mayck foi atrás dela imediatamente. 

Eles correram pela floresta e trocaram golpes quando se aproximaram um do outro. 

Mayck pensou que pudesse ser uma armadilha, então, a cada golpe que ele acertava, tentava levá-la de volta para onde estavam. Ela resistia muito, no entanto. 

Em uma arrancada veloz contra Mayck, ela manejou sua espada horizontalmente, como se esperasse cortar a cabeça dele. O garoto se abaixou para evitar o ataque e uma árvore foi cortada em seu lugar. 

Ela é absurdamente forte. Merda. 

Ele reconheceu a força da sua oponente mais uma vez e viu que ela não tinha intenção de apenas derrotá-lo. Ela o mataria na primeira oportunidade. 

Já que é assim, eu também não vou me segurar. Se você morrer é culpa sua. 

Mayck avançou contra ela e balançou sua espada várias vezes e rapidamente, ganhando vantagem na ofensiva e obrigando a garota a bloquear. 

A luta se estendeu muito e por causa da velocidade e força absurda que eles estavam usando, logo ficaram ofegantes, mas nenhum lado iria ceder. 

Eles se distanciaram e se encararam por um tempo. 

Já chega. É melhor acabar com isso. Não quero aumentar mais as chances de eu perder. Espero que ela pense igual. 

Mayck segurou sua katana com ambas as mãos e a posicionou na altura da cintura à sua direita. Respirou fundo e começou a transferir sua energia para os receptores na espada que começaram a brilhar em um azul translúcido e faíscas elétricas saiam dela. 

“Foi mal, mas eu preciso acabar com isso agora”, ele afirmou. 

“Entendo. Então não vou me segurar também.”

Seguindo na mesma linha, a garota mascarada ergueu sua espada de lâmina branca como a neve com as duas mãos e também respirou fundo. Uma forte e congelante ventania soprou, e uma aura branca rodeou a garota. 

“Tōshi shimasu!” 

Ela esbravejou e cortou o ar com sua lâmina e no mesmo segundo Mayck também sacou a sua e mandou um poderoso corte elétrico na direção da garota. 

No momento em que as duas habilidades se chocaram, elas se anularam, o que resultou em uma intensa e poderosa explosão, enviando uma onda de choque que derrubou várias árvores ao redor e arremessou tanto Mayck quanto sua oponente para lados opostos. 

As costas de Mayck atingiram uma árvore e o impacto pareceu expulsar o resto de seu fôlego, quase o deixando inconsciente. 

Droga… o que aconteceu com ela? Ele levantou os olhos, ainda meio zonzo. 

Após se recompor, ele se levantou e correu seus olhos pelos arredores, procurando sua inimiga. Isso, porém, parecia impossível naquele momento por causa da nuvem de poeira que se ergueu após a explosão.

Será que eu consegui?

Seu coração estava acelerado e ele sentia uma ansiedade em descobrir o que havia acontecido. 

A poeira começou a se dispersar e a silhueta da garota em pé ficou visível perante os olhos de Mayck. 

Ah, não… como…

A garota também parecia ter visto Mayck de pé no meio da poeira, pois ela se atirou contra ele com sua espada empunhada para mais uma troca violenta de golpes diretos, como se fosse uma metralhadora. 

Que droga! Ela não parece ter recebido dano algum. 

Mesmo com vários cortes na roupa, parecia que a garota não havia se machucado nenhum pouco. 

Mayck pegou sua espada no chão e tentou bloquear os golpes o mais rápido que pôde, mas acabou recebendo três deles, que cortaram seu moletom e o fizeram perceber que não havia equipado seu sobretudo — então fez isso enquanto se distanciava da garota. 

“Você é insistente, hein… parece que uma explosão daquelas não é nada pra você.”

“Eu ainda não alcancei o controle perfeito, mas o que eu sei é suficiente para proteger o que preciso.”

“Proteger, é? Proteger um lugar que trata crianças como ratos de laboratório e brinca com suas vidas como bem entendem. Não existe honra no que você faz.”

A hipocrisia demonstrada pela garota o irritou, então arrancou velozmente para cima dela e a encheu de golpes poderosos e impulsionados por eletricidade. Foi o suficiente para a garota recuar enquanto sentia dificuldade em se proteger. 

“Você não entende… então não se meta!” Ela contra-atacou com um corte horizontal e fez Mayck se afastar. 

“Eu não quero saber. Vou destruir esse instituto na sua frente.”

“Vê se cuida da sua vida!”, a garota esbravejou. 

Ela avançou e as lâminas se chocaram outra vez. Mais uma troca de golpes se iniciou. Golpes que ecoavam por toda a floresta em um ritmo acelerado e alucinante para o espião que os observava por detrás das árvores a uma boa distância. 

Aquela máscara… Sem dúvidas ele é da Black Room. É um só, mas está lutando de igual para igual com a Kasumi. E não podemos nem ao menos chamar por reforços de fora, já que todas as outras instalações estão em alerta. 

Ele estalou a língua em frustração e pegou um walkie talkie. 

“Senhor, está me ouvindo?”

“O que foi?”

“Estamos com problemas. A Black Room chegou e  está lutando contra Kasumi nesse momento.”

“Então deixe que ela cuide dele.”

“Mas, senhor, eles já estão lutando há quase vinte minutos, e nem sinal de quem vai vencer. Eles estão em total igualdade… não, se me permite dizer, eu acredito que Kasumi vai perder.”

“An? E porque acha isso? Ela é nossa guarda mais forte. Ela é até mesmo mais forte que os adultos que temos.”

“É justamente por isso, senhor. Kasumi tem poder para derrotar seus inimigos em poucos golpes, mas ela já usou a sua habilidade mais poderosa e o membro da Black Room, não só resistiu, como mandou um ataque igualmente poderoso.”

“Você tem certeza do que está dizendo, Uranaishi?”

“Sim, senhor. Eu ainda não verifiquei, mas eu consigo dizer só de olhar. O oponente de Kasumi sofreu danos da explosão de agora pouco, mas ainda está lutando firmemente.”

“Já entendi. Eu vou mandar todas as unidades restantes. Precisamos eliminar esse verme antes que ele chegue até nós.”

“Certo.”

Uranaishi encerrou a comunicação e voltou sua atenção para a batalha, que já havia se estendido muito e até a floresta estava sentindo o peso daquela batalha. O número de árvores caídas já não dava mais pra contar — eles estavam tornando aquela parte da floresta em uma clareira. 

Enquanto tentava guardar o máximo de fôlego, Mayck bloqueou três golpes que vieram de cima. 

Kasumi se distanciou e logo avançou de novo. Ela deu um salto e desferiu um corte horizontal, visando o pescoço de Mayck. O garoto, no entanto, inclinou seu corpo para trás e evitou o corte, mas foi forçado a recuar. 

Quando a lâmina de Kasumi passava perto de seu rosto, ele via pequenas partículas de gelo sendo deixadas para trás, o que o fez lembrar dos golpes de Haruki, os quais congelavam o alvo atingido. 

Se eles forem parecidos, então isso fica mais complicado. Nesse caso, é melhor eu apelar…

Kasumi girou e manejou sua espada como se estivesse fazendo ginástica rítmica com uma fita. Cada corte era como uma obra de arte sendo produzida, o que era um pequeno vislumbre das técnicas de espada que ela dominava. 

Por outro lado, Mayck apenas jogava sua espada de um lado para o outro, evitando ser atingido. Dessa forma ele acabaria perdendo, então sua única escolha era tirar vantagem de sua visão melhorada. 

Eu preciso achar uma forma de contra atacar. Não posso ficar na defensiva pra sempre. 

Com sua decisão tomada, Mayck se distanciou, mas notou vários projéteis vindo em sua direção. Com uma velocidade extrema, ele rebateu os projéteis e caiu no chão, analisando os arredores. 

Chegou mais gente, é?

Os inimigos se revelaram e se posicionaram ao redor dele. Um deles se aproximou de Kasumi e ela logo o questionou. 

“O que estão fazendo aqui?”

“Relaxa aí, criança. Foi o chefe que nos mandou vir.” Ele sorriu maliciosamente e analisou as roupas sujas da garota e com alguns cortes. “Mas você não pode negar que está com dificuldades… Hehehe… parece que até você tem seus momentos ruins, hein.”

Kasumi não reagiu, mas dava pra perceber que aquilo a ofendeu. 

“Não fique provocando ela, Kuro, ou então ela vai ficar brava com você.” Uma outra figura interviu, também provocando a garota. 

Mayck ouviu isso, mas não se importou com a relação tóxica deles. 

No fim, são todos uns desgraçados que precisam pagar pelo que fizeram. 

“Vocês são bem ousados para me interromperem e me ignorarem. Devo aplaudí-los?” Mayck interrompeu a chuva de sarcasmos sobre Kasumi, mesmo sem intenção. 

“Você parece bem problemático, né? Poderia me dizer o seu nome?”

“Não.” 

A resposta foi uma alfinetada no peito de Kuro. 

“Parece que ele não gosta de você, Kuro.” riu. 

“Cala a boca, Shiro.”

“Enfim, se vocês são aliados dela, então são meus inimigos. Não tenho intenção de deixá-los fugir.”

“Ah, é? Você estava com dificuldade em enfrentar o nosso “guarda mais forte””, ele falou e fez sinal de aspas. “Não consigo acreditar que você pode derrotar a soma de mais dezenas de pessoas quase igualmente fortes.”

“O jeito que você mesmo se rebaixa é engraçado.”

“Uh…!”

“Mas não se preocupe. Eu confio no meu poder e não vim até aqui para perder.”

A luz ambiente ficou alaranjada. Antes que Mayck percebesse, o dia já estava chegando ao fim e parecia que sua batalha havia começado mais cedo que o previsto. 

Tudo bem. Eu só preciso ser rápido aqui. Tenho que acabar com eles antes que façam algo com as crianças. 

Ele suspirou e analisou os adversários ao redor. Havia cerca de vinte deles, e não pareciam ser apenas lacaios fracos. No entanto, ele não sentia que perderia se lutasse com todo o seu poder e talvez nem fosse necessário chegar até tal ponto. 

“Me surpreende a sua confiança. Mas o que garante a sua vitória?”

“Tenho meus motivos. Vou mostrá-los ao invés de dizer.”

Mayck podia ser inferior à Kasumi quando se tratava de espadas, mas ele tinha plena confiança em suas habilidades com ID. 

Eu não enfrentei aqueles monstros sozinho à toa. Não vou perder aqui.

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