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Capítulo 56 – Três elementos

Conforme a batalha se estendia, mais cansado Mayck ficava. Ele não podia lidar com um inimigo de cada vez, e não parecia que eles estavam dispostos a lutarem desse jeito, então suas reações e movimentos tinham que estar no máximo. 

Quando se esquivava de um ataque, ele tinha que desviar de mais dez em seguida. No entanto, ele não estava tão no seu limite dessa vez, pelo contrário, era até confortável quando comparado aos monstros que ele enfrentou nas suas férias. 

Quem estava dando mais trabalho para ele era Kasumi, que parecia estar dando tudo de si em prol do seu orgulho. Apenas desviar dos golpes de espada dela era um trabalho e tanto. 

A única forma de acabar com isso aqui é derrotar todo mundo de uma vez, mas eu preciso que eles fiquem juntos, aí eu vou poder usar aquele raio…

Uma faca foi arremessada em sua direção e ele se esquivou. Logo em seguida, veio um soco ardendo em chamas contra ele, mas também foi evitado. 

Eu não posso ficar só na defensiva. 

“Nós também estamos aqui!” A dupla composta por Kuro e Shiro saltaram sobre ele, desferindo dois cortes com suas lâminas preta e prateada. No trajeto percorrido pelas lâminas, elas deixavam fumaças pretas e brancas. 

Mayck sacou sua espada e bloqueou o ataque, mas ele não esperava que Kasumi fosse deslizar até suas costas e tentaria parti-lo ao meio enquanto saíam partículas de gelo de sua lâmina. 

Droga!

Mayck girou e empurrou as lâminas da dupla da fumaça e desviou por pouco de Kasumi, se distanciando em seguida. 

Entretanto, naquele lugar não tinha para onde ele fugir e logo foi surpreendido por pedras que eram disparadas como balas de uma arma de fogo. Ele balançou sua lâmina para desviá-las e cada uma delas parecia ter uma força e tanto, já que o ricochete delas impulsionaram a espada de Mayck para trás. 

Não dá pra descansar um minuto.

Uma pessoa se aproximou dele rapidamente por trás com uma estaca de madeira verde e tentou perfurá-lo. O garoto, percebendo o ataque, girou seu corpo e se inclinou para trás. Depois puxou o braço dominante daquela pessoa e aplicou uma joelhada em seu abdômen. 

Por que uma estaca…?

Não era hora de pensar naquilo. Quando levantou seus olhos para cima, inúmeros projéteis brilhantes de diversas cores choveram sobre ele. 

Mayck se pôs a correr e pular para desviar de todos os ataques e se esquivou deles com sucesso, mas aquilo estava começando a ficar complicado. 

Se eu usasse o canhão elétrico eu poderia acabar com isso logo, mas… 

Mayck hesitou só de pensar na possibilidade de matar todo mundo ali. 

Mas, não importando o resultado, ele teria que partir para ofensiva, ou então chegaria ao seu limite e seria esmagado. 

Não tenho escolha. Vou gastar bastante energia, mas vai valer a pena. 

Decidido, o garoto usou sua velocidade extrema e, fora da visão de todos, correu por eles com socos e chutes, poderosos, o suficiente para imobilizá-los por um tempo. 

Atacou primeiro os que julgou serem os mais fracos daquele grupo e os tirou da batalha, restando apenas Kuro, Shiro e Kasumi. 

“Caramba, parece que você não é um cão que ladra e não morde. Conseguiu derrubar todos eles em segundos”, Shiro concluiu enquanto girava sua espada na mão. 

“Eu não ligo que você queira lutar sozinho com nós três, mas é melhor não ser tão arrogante.”

“Obrigado pelo aviso.”

Mayck se posicionou e esperou que algum deles se movessem. 

Kuro e Shiro, então, arrancaram velozmente contra ele, com suas espadas empunhadas e desferiram cortes em sequência. 

Mayck se esquivou de alguns e bloqueou os outros com sua lâmina, e como um se tivesse voltado no tempo, viu Kasumi correr até ele, tentando partí-lo ao meio de novo. 

Não vou deixar dessa vez. 

Mayck liberou uma grande descarga elétrica de seu corpo, fazendo Kasumi recuar e reconsiderar seu plano de ação. Kuro e Shiro também recuaram, cautelosos. 

“Então você é tão rápido por conta da eletricidade, hein? Que problema. Parece que nós vamos ter que fazer alguma coisa contra isso, não é, Kuro?”

“Com certeza. Então porque também não mostramos a ele o nosso poder?”

“Hehe… eu tava esperando por isso.” Os dois sorriram maliciosamente e deixaram o garoto em guarda com o que fariam. 

Shiro levantou sua espada na frente de seu peito e começou a girar como uma bailarina, o que deixou Mayck confuso, mas logo ele entendeu. 

Um nevoeiro denso começou a emanar da espada de Shiro, tomando conta de boa parte da floresta e bloqueando a luz do sol. 

Droga! O que é isso?! Que droga…

Mayck sentiu o ar ficando extremamente úmido, o que lhe causou problemas para respirar e inconscientemente tirou sua máscara para tentar recuperar o fôlego. 

Merda… eu não acredito que fui pego nisso.

O garoto olhou ao redor, procurando pelos inimigos, mas não os via em lugar nenhum. Seus olhos começaram a lacrimejar por algum motivo desconhecido e ele estava começando a ficar atordoado, como se tivesse pimenta no ar… não, na verdade…

Fumaça?!

Quando ele se deu conta era tarde demais. Kuro saltou e levantou sua espada na frente do rosto dele e gritou com bastante força, como se tentasse derrubar as muralhas de Jericó. Em seguida, uma fumaça negra foi disparada pela lâmina e caiu em cheio sobre Mayck, como uma onda poderosa. 

Ele ficou ainda mais atordoado. Seus olhos arderam como nunca; seu pulmão doía como se o oxigênio dele tivesse sido sugado num estalar de dedos. A tosse começou e parecia até que ele estava tentando por seus órgãos internos para fora. 

Droga… droga… Eu não consigo respirar… preciso sair daqui. 

O desespero começou a tomar conta de sua mente e ele já não sabia mais o que fazer. Tentou sair da fumaça, mas foi atingido por um chute muito poderoso que o fez cair no chão. 

Maldito…

A dor em sua costela piorou a situação. Quando ele tentou levantar, foi chutado de novo e de novo. Toda vez que tentava levantar era jogado de volta ao chão, e não poder ver de onde os golpes estavam vindo era sua maior agonia. 

Merda… eu não sei se eles sabem, mas acabaram de me atacar no pior lugar possível. Sem poder vê-los, eu não posso fazer praticamente nada. 

Estava sufocante demais. Como o jogo poderia ter virado tão rápido? Ele sabia que havia subestimado aqueles três. 

Eles pretendem matar os aliados deles também? Não, eles devem estar numa situação melhor que a minha… 

“Argh…!” Ele foi chutado novamente. 

Desgraçados… vocês vão pagar por isso. 

Ele finalmente conseguiu se levantar sem ser levado ao chão imediatamente, mas apenas para ouvir um grito familiar. 

“Tōshi Shimasu!”

Como se um caminhão em alta velocidade o atingisse, Mayck foi arremessado para fora da névoa e chocou seu abdômen contra uma árvore há centenas de metros dali. Ele não conseguiu se safar de receber danos e acabou cuspindo sangue quando caiu de costas no chão. 

Arfando e encolhido, Mayck lutava contra a dor que corria por seu corpo inteiro o torturando. Por conta da fumaça, sua garganta havia inflamado quase imediatamente já que ele inalou uma imensa quantidade em poucos segundos. 

Aquela era a pior dor que ele já havia sentido em toda a vida. Parecia até que estava a dois passos da morte. 

Depois de se recompor mentalmente e lutar para resistir, ele abriu os olhos. Estava tudo escuro, mas não só porque estava de noite, mas porque ele não conseguia enxergar por conta da exaustão e dos ferimentos internos, que ele nem sabia se eram tão profundos. Porém, aos poucos ele foi se recuperando.

Droga… como acabou assim…? Quão patético eu sou. Confiei demais nos meus poderes e deixei de analisar os meus adversários… a vida não é um game, idiota. 

O garoto se lamentou por sua arrogância e sentiu o peso de se pôr em um pódio onde não estava. 

O que eu faço agora? Não acho que vou conseguir me recuperar tão rápido. Eles vão me matar antes que isso aconteça… Ah, que seja… eu tô pagando pelos meus pecados, não é? O pecado de ter tirado tantas vidas no passado…

Usando a pouca força que lhe restava, Mayck se arrastou até o pé de uma árvore e se sentou, parando para olhar o céu limpo e cheio de estrelas, apesar de que sua visão estava toda borrada. 

Nem percebi que tinha anoitecido. Acho que os outros já começaram suas missões. Como será que as coisas estão indo? 

Um suspiro tentou escapar de sua boca, mas ele sentiu dor por isso — sua respiração estava lenta e curta, quase insuficiente para ele se manter consciente. 

Bom, acredito que eles estão bem. Não são um bando de idiotas. E Hana também… bom, ela também vai ficar bem, é uma garota corajosa afinal. 

Seus olhos se fecharam de cansaço. Era como se ele já tivesse aceitado a morte, porém, não poderia dizer que iria morrer sem arrependimentos. Havia muitas coisas a serem resolvidas… muitas coisas. 

Mas aquela derrota havia servido de gatilho para ele tomar uma decisão importante: continuar seguindo aquele caminho ou se afastar para que ninguém importante para ele se machucasse. As duas questões pesavam na balança e se mostravam fardos iguais. 

Caso abandonasse tudo, nunca poderia garantir a segurança de ninguém, mas se fosse em frente, os perigos e as perdas eram uma realidade. 

A vida é bem cruel, hein…

Mayck tossiu mais sangue e seu corpo reagiu dolorosamente. Uma dor infernal, como se seus ossos estivessem quebrando a cada movimento e a sua garganta sendo rasgada por garras.  

Merda…acho que eu quebrei algumas costelas…

Ele não teve escolha a não ser reprimir aquela tortura. Se lutasse, só iria piorar. 

Oh, porra… que palhaçada… esses fumaceiros desgraçados… eu não posso deixar assim. Ainda tenho coisas pra resolver. Preciso completar a missão que eu decidi realizar. 

Mayck nunca foi do tipo de pessoa que ficava preso ao orgulho, mas, neste momento, ele entendeu o peso que era proteger a própria dignidade, e pensar em perdê-la ali estava sendo mais doloroso do que seu pulmão ou costelas. 

Eu tenho que dar um jeito. Ainda tenho cartas na manga. Mesmo que eu morra, vou levar eles junto comigo. 

Ele apertou os olhos, tentando deixar sua visão mais nítida. Se conseguisse enxergar pelo menos um pouco, poderia utilizar <Manipulação de alma> ou até <Premoção> para dar um fim àquela bagunça. 

Nossa, que farrapo você está, hein, Mayck?

Uma voz familiar soou em sua mente e trouxe consigo um conforto enorme, ao ponto de parecer que ele havia visto um rosto conhecido depois de se perder por décadas. 

Chave? Há quanto tempo. Você já está bem?

Que pergunta desagradável. Não está feliz em me ver? Logo eu, que estou com você há tanto tempo?

Mayck conseguia imaginar ela inflando as bochechas, mesmo que não a estivesse vendo.

Não foi o que eu quis dizer… 

Bom, tanto faz. A sua situação agora é horrível. Você está a um passo da morte. Quer minha ajuda?

… E o que você pode fazer?

Eu posso controlar seu corpo…

Não, obrigado. 

Ehh… Mesquinho, ela retrucou. 

Quem em sã consciência entregaria seu corpo tão fácil a uma entidade tão peculiar? E desde quando você tem poderes de possessão?

Isso é segredo, e me machuca quando você diz que não confia em mim. Mas, tudo bem, se você prefere morrer assim…

Eu não vou morrer… Pelo menos não agora. 

Huh… e por que diz isso? Não tem como atrasar o curso natural de algumas coisas. Você é bem realista, então com certeza me entende. 

Isso era um fato. Mayck não poderia atrasar sua morte quando ela era certa. E isso ele entendia muito bem. Mas, uma pulsação em seu peito clamava para ele não desistir, criando uma esperança de vitória. 

Eu sei. Mas acho que vou me deixar levar pelas emoções dessa vez. 

Da última vez que você fez isso, causou um massacre, ela falou, como se quisesse convencer o garoto cutucando onde mais doía.

Você estava junto, não? Dessa vez vai ser diferente. Eu estou ciente do que vou fazer. Aqueles não são inimigos que eu possa pensar em derrotar, tenho que ir até eles com a intenção de matar. 

E como vai fazer isso se não tem forças nem pra andar?

Eu vou esperar eles virem até mim. Minha visão já está melhor, então eu devo conseguir fazer alguma coisa. 

… Você simplesmente não quer morrer sozinho. Quando foi que se tornou alguém tão orgulhoso?

Eu não sei, mas não é medo de morrer sozinho. Eu tenho coisas que precisam ser feitas. Se eu puder ao menos facilitar o trabalho da Black Room antes de morrer já tá bom. 

Então está fazendo isso pelos outros? Quer tanto assim salvar aquelas crianças?

Você sabe até isso…?

Hum… Eu tenho acesso às suas memórias, afinal.

Ah, é?

Aff… Fala sério. Vocês dois, irmãos, são iguaizinhos, mesmo com personalidades tão diferentes. 

Hm? Do que você…

Tá legal. Eu vou pegar sua energia emprestada por um momento. 

Eh? Minha energia? Como assim…

Sem nenhum aviso de que começaria, Chave sugou parte da energia do garoto, que a sentiu sair como se sua alma estivesse sendo puxada para fora de seu corpo. Ele gemeu de dor. 

Desculpa. Mas se você quiser ajuda, tem que aguentar. 

Mayck se manteve em silêncio, resistindo a todo aquele sufoco que parecia lhe esvaziar por dentro. 

De repente, seu corpo estava leve como uma pena. A dor que sentia havia sumido magicamente, apesar de todos os ferimentos ainda estarem lá. 

O que…? O que você fez?

Ele perguntou à Chave, mas não obteve resposta. 

Ela dormiu de novo? O que será que ela fez? Bom, seja o que for, obrigado. Vai ser suficiente pra derrotar aquele trio. 

Ele se levantou e limpou o sangue que escorria por seus lábios e cuspiu o que estava na sua boca. Por sorte ele não havia quebrado nenhum dente.

Meu corpo está leve… é como se eu tivesse acabado de acordar após uma boa noite de sono. Isso é algum poder da Chave?

Ele alongou os braços e suspirou. Sua visão estava muito melhor do que há poucos minutos. Sem demora, ele se pôs a caminhar na direção da névoa, que já estava quase completamente dispersa. 

Eu vou acabar com isso rápido. Não sei o que aconteceu, mas tenho certeza que não foi de graça, tem que ter algum efeito colateral depois. Além disso, ainda tenho energia suficiente para um <Celeritas>, não que eu vá usá-lo. 

 <—Da·Si—>

“Oh, parece que nossa guarda mais forte acabou matando o invasor”, Shiro afirmou batendo palmas. 

“Como esperado da nossa guarda mais forte. Ninguém a supera. Ela vai proteger o que é importante para ela, não importa quem seja o inimigo”, Kuro complementou, acompanhando seu irmão. 

Depois que Mayck foi arremessado para longe, eles continuaram a provocar Kasumi, que se mantinha em silêncio, sem dar importância para os ataques — era o que parecia, pelo menos. 

Aquela era apenas a provocação de sempre. 

“E agora, Kasumi-sama, o que faremos? Vamos verificar o corpo morto?”

“Ei, Kuro, não seja tão insensível. Ela pode matar, mas não gosta de ver os mortos. Ela sente dor no coração.”

“Puxa vida, me perdoe por isso, Kasumi-sama. Eu não sabia que a senhorita fosse tão sensível.”

Eles continuaram com isso e Kasumi acabou cedendo à irritação e correu para cima deles, mantendo o fio de sua espada perto do pescoço de Kuro. Kasumi o encarou firmemente, apertando os olhos, com ódio estampado em sua face escondida sob a máscara. 

 Kuro, no entanto, sorriu maliciosamente. 

“O que foi? Ficou irritada? Você sabe que é totalmente hipócrita, não é? Quer matar os outros mas se finge de coitadinha para não sentir a culpa de tirar uma vida. Estou errado?”

Kasumi rangeu os dentes. Suas mãos seguraram o cabo da espada firmemente, como se fossem cortar o pescoço de Kuro a qualquer momento. 

“Por que não corta de uma vez? Por acaso… está com medo?”

A lâmina se encontrava no pescoço dele, mas Kasumi cedeu e se afastou. Ela não conseguiria fazer aquilo por mais que estivesse à beira de deixar de resistir. Portanto, embainhou sua espada e se afastou. 

“Hum. Como eu pensei. Parece que a sua hipocrisia está em dia. Vamos logo…”

“Kuro.”

Uma voz saiu do walkie talkie que ele carregava no bolso. 

“Ah, chefe, o que foi?”

“Me diga como está a situação?”

“Bom, nossa honorável e majestosa, a guarda mais forte da instalação, Kasumi, conseguiu acabar com o soldado da Black Room. Mas, claro, ela precisou da nossa ajuda e, ainda assim, o desgraçado acabou com todos os outros.”

“Todos os outros? Se não me engano, eu mandei cerca de vinte e cinco guardas.”

“Sim. E desses vinte cinco guardas vinte e dois foram derrubados. Mas eles não estão mortos, alguns apenas não conseguem se mover muito bem.”

Kuro olhou os demais guardas a sua volta. Alguns deles já estavam de pé, enquanto outros estavam recebendo auxílio dos já recuperados. 

“Hm. Entendi. Enfim, Uranaishi está indo até vocês. Siga as instruções dele.”

“Entendido.” Batendo continência e com um ar de piada, Kuro desligou o walkie talkie e logo Uranaishi chegou. 

Como era de se esperar, ele ficou espantado com o cenário que viu. Árvores arrancadas, solo destruído. Era difícil acreditar que foi uma luta contra apenas uma pessoa. 

“Vocês passaram por maus bocados”, ele concluiu, enquanto se aproximava deles. 

“Que? Não, não. Aquele moleque só tinha velocidade. Olha, nós não sofremos um único arranhão.” Shiro balançou a mão em frente ao rosto, negando que tiveram dificuldade. 

“Pode até dizer que somos melhores que a Kasumi.”

“Não é?”

Em concordância, os dois riram histericamente. 

“Ah, tanto faz. Só vamos embora. Nós temos que ir até a B3. Ei, vocês!” Uranaishi gritou para os demais guardas. “Ajudem aqueles que sofreram mais danos. Nós estamos nos retirando agora.”

Os guardas assentiram e ele começou a andar. 

“Ei, ei, Uranaishi, você pode ver o futuro pra nós?” Os irmãos foram após ele e o perguntaram. 

“E pra quê?”

“Nós queremos saber o que o chefe vai dizer quando nos encontrar.”

“É. Já que só derrotamos o moleque por que estávamos aqui, ele pode acabar até subindo a nossa patente.”

Eles afirmaram com os olhos brilhando e sorrisos presunçosos no rosto.

“Que idiotas vocês são. É claro que…”

“Vai logo, faça isso.”

“Por favor, Uranaishi-san.”

Ambos imploraram se agarrando as roupas do espião, que mesmo que recusasse, sabia que aqueles irmãos não desistiram tão fácil. 

Além do mais, é só uma previsão idiota. Eles não vão receber nada de qualquer forma. 

“Tá legal, tá legal. Eu faço, então se afastem.” Ele cedeu e os afastou de si com certo nojo no rosto. 

“Ótimo. Obedeça como um bom subordinado.”

“Fala isso de novo e eu vou prever a sua morte.” Uranaishi suspirou. “Então vamos em frente.”

Ele fechou os olhos e abriu os braços. Um círculo amarelo reluzente surgiu no chão, clareando aquela parte da floresta. Kuro e Shiro ficaram empolgados; Kasumi surpresa e os demais guardas iguais a ela. 

“Preview.” Após essas palavras, ele recebeu tudo o que aconteceria nos próximos 60 minutos em um piscar de olhos. 

O círculo sumiu misteriosamente, mas era algo normal para Uranaishi. Shiro e Kuro quase grudaram seus rostos nele, ansiosos pelo resultado. 

No entanto, na expressão do vidente só existia medo e pavor. Ele não tinha reação, e as palavras todas se prenderam em sua garganta. 

“E então, o que aconteceu?”

“Diga logo, vamos.”

“…Va…”

“”Va”?”

Uranaishi segurou o ombro de Shiro totalmente apavorado e com suas mãos tremendo tanto que pareciam uma máquina de lavar sem apoio para os quatro lados. 

“O quê…”

“Vamos fugir daqui!”, ele gritou com todas as suas forças e até cuspiu na cara dos dois irmãos. 

Porém, era tarde demais. Uma voz fraca, quase sussurrando, chegou aos seus ouvidos, o que lhe causou um enorme arrepio; seu corpo parecia congelar por dentro

“…Moonlight Nightmare.”

O ambiente perdeu suas cores, o vento que soprava parou e um ar frio passou por seus corpos. 

“O que foi isso?”

“Tem um Ninkai aqui?”

Os irmãos se questionaram, olhando para todos os lados, mas não receberam resposta do paralisado Uranaishi, que não conseguiu formular uma única palavra. Kasumi sentiu o perigo e manteve-se atenta aos arredores, esperando qualquer ataque que pudesse vir — ela tirou sua espada da bainha e se posicionou. 

Os demais guardas também não puderam deixar olhar em volta, receosos. O farfalhar das folhas não eram mais ouvidos. Seus corpos também estavam sem cores — apenas preto e branco —, era como se eles tivessem sido enviados para uma outra dimensão. 

Um som de folhas secas sendo pisadas os alertou, e buscaram a origem dele, avistando, dentre as árvores, Mayck, que se aproximava vagarosamente.  

“An?! Como assim? Ele não morreu?!”, Kuro exclamou ao vê-lo se aproximar. 

“Parece que você é mais resistente do que nós pensamos”, avaliou Shiro. “Bom, então nós só precisamos acabar com você de uma vez.” Ele sorriu, fazendo parecer fácil. 

Uranaishi, ainda em choque, criou forças para olhar o garoto, mas isso acabou piorando sua situação. 

Aqueles olhos… não pode ser. 

Uma lembrança invadiu sua mente como se fosse um alerta máximo de segurança ou um último instinto de quando se estava prestes a morrer. 

Olhos azuis… eu ouvi uns boatos entre os caçadores, sobre uma figura de máscara branca e sobretudo preto que destruía Ninkais facilmente…

Mayck se abaixou e pegou a máscara que havia derrubado, que, por sorte, estava perto dele. Quando ele colocou, deu fim a todas as dúvidas do vidente. 

Shiro desembainhou sua espada, assim como Kuro, e se preparou para o segundo round da batalha, mas Uranaishi gritou com ele. 

“Espera… Idiota. Não faça isso!”

“Hein? Qual é o seu problema? Nós precisamos terminar o trabalho…”

“É impossível. Não vamos conseguir parar ele… vocês não vão…” Ele tropeçou em suas palavras, e não conseguiu persuadir os irmãos que deram de ombros e avançaram. “Espera…”

Eles não deram ouvidos. Correram até Mayck e saltaram, pensando em realizar o mesmo combo que fizeram antes. No entanto, dessa vez, em pleno ar, eles ficaram totalmente imóveis, como se fossem congelados no tempo; seus olhos, porém, ainda se mexiam e eles podiam falar. 

“…an? O que está acontecendo?”

“O que foi que você fez, imbecil?”

Mayck o encarou. Sua mão estava estendida na direção deles, enquanto segurava suas “almas”. Ele ficou em silêncio simplesmente porque quis, mas respondeu a cada pergunta mentalmente. Não importava se seus inimigos ouvissem ou não. 

Eu vim pra resolver isso. Vou fazer rápido para não causar mais danos invisíveis em mim mesmo. 

Ele moveu sua mão para baixo rapidamente, e os irmãos foram jogados na mesma direção. O impacto foi tão grande que eles destruíram ainda mais o solo, levantando um pouco de poeira, que cobriu os pés de Mayck. 

Kasumi estava perplexa, mas voltou a si e se lançou contra ele com sua espada empunhadas para uma estocada. Elevou sua voz para transmitir sua determinação 

Mayck se esquivou. A garota começou uma série de golpes fatais que rasgavam o ar, e parecia que a lâminas conseguia dividir as moléculas de oxigênio, já que um brilho alvo acompanhava os cortes. 

Ela insistiu e continuou atacando com tudo o que tinha. Seu oponente era muito mais perigoso do que ela tinha pensado, afinal de contas. 

Cada manejo de espada em direção aos pontos vitais do garoto era como se sua vida estivesse sendo dada para cada um dos golpes. 

Mayck, porém, desviou dos cortes com uma excelente maestria, já que ele podia prever e ver cada um deles como se estivessem em câmera lenta. 

Por que eu não fiz isso desde o início? Acho que nunca mais vou pegar leve com um inimigo. Ele decidiu. Então, agora é hora de acabar com isso. 

Ele desviou de mais um corte em direção ao seu pescoço se abaixando e depois saltou para longe de Kasumi, ficando a uma distância razoável. 

Quando ele olhou para a direção dela, viu que os dois irmãos haviam se levantado, embora sangue escorresse por seus rostos com uma incrível expressão de ódio. 

“Seu puto maldito… Eu vou matar você agora!”

“Arrombado miserável.” 

Em uma arrancada veloz, eles se deslocaram com suas espadas, que estavam brilhando em tons de roxo e branco, respectivamente — sinal de que suas IDs estavam sendo usadas. 

“Kiri fukai!” Shiro, com sua lâmina branca, saltou a uma boa distância de Mayck e balançou sua espada horizontalmente, mandando um imenso corte brilhante que umedecia totalmente o ar no seu caminho. Por outro lado, Kuro ergueu sua lâmina e lançou um corte parecido, mas acinzentado e com um nome diferente, <Kemuri>, que deixava para trás, um rastro de fumaça. 

Os dois golpes se juntaram no trajeto, criando um corte muito mais poderoso e destrutivo no formato do sinal de adição, que rasgou todo o terreno, enquanto iluminava toda a floresta sem cor. 

Mayck observou aquela habilidade colossal vindo em sua direção, mas, calmamente, atraiu sua espada para si, usando a eletricidade, que chegou até os receptores e agiu com um ímã — ele usou o mesmo princípio de quando tentou descer a parede no dia anterior. 

Segurou o cabo da espada com sua mão direita, a ergueu e depois a deslizou para baixo na diagonal. Em poucos milésimos de segundos após isso, um raio com alguns metros de comprimento caiu em cima dos cortes e causou uma enorme explosão de três cores, que quase cegou os presentes no local, acompanhada por uma poderosa onda de choque. 

Uma nuvem de poeira se ergueu ali, e após ela se dissipar, os três se encararam. Shiro e Kuro ficaram totalmente perplexos. Eles se perguntavam como não tinha funcionado e acabaram recuando alguns passos inconscientemente.

Kasumi mordeu os lábios com força. Aquele poder era esmagador demais. Como ela poderia vencer aquilo? Essas dúvidas brotaram em sua cabeça, conforme Mayck avançava em sua performance. 

O que é esse cara afinal? Ele está totalmente diferente de antes… Não. Será que ele estava pegando leve com a gente e agora está mostrando seu poder total? Droga. Eu não posso morrer aqui. 

Ela apertou suas mãos e se preparou para mais um movimento, embora não quisesse morrer, mas parou quando viu Mayck levantar a espada na direção deles. 

“O que ele vai fazer agora?”

“Não sei. Mas a gente precisa revidar.”

“Caralho… como ele ficou tão forte de repente?”

Os irmãos analisaram o garoto e Uranaishi chegou até eles, sem fôlego, como se tivesse corrido vários quilômetros sem parar e ainda tinha que percorrer mais. 

“Você dois… vamos embora, agora…”

“De novo com esse papo, idiota? Nós não vamos fugir com o rabo entre as pernas.”

“Isso mesmo. Vamos matar esse cara nem que seja no inferno.”

Uranaishi ficou atordoado, vendo que não conseguiria persuadir aqueles dois, então correu para Kasumi e implorou, quase se pondo de joelhos, para que ela convencesse os dois. 

“Impossível. Se eles não pretendem sair daqui, eu também não vou. Odeio admitir, mas temos uma chance maior de vitória com esses dois.”

“Sua vadia estúpida! Não vê que vamos morrer se não sairmos agora?! Para com essa putaria e vamos logo.” 

O vidente agarrou a gola de Kasumi e a encarou com seus olhos esbugalhados. Porém, a garota não mudou seu olhar e o encarou, determinada a permanecer ali. 

“Foda-se, então. Se vocês querem morrer,  então morram. Eu não quero nem saber.” Ele a largou e correu para dentro da floresta, abandonando todo aquele grupo. 

Os outros guardas também pareciam pensar como aqueles três, pois se posicionaram dos dois lados e atrás deles. Todos sacaram suas armas e estenderam suas mãos, prontos para ativarem suas IDs e lançarem suas habilidades mais poderosas. 

“Bem, vocês tiveram a chance de fugir. Mas, parece que estão muito determinados a fazerem crianças inocentes sofrerem com seu egoísmo de merda. Já que é assim, eu não vou deixar nenhum de vocês sair impune, a não ser que sobrevivam ao que vem aí.”

Mayck falou apenas isso, mesmo que pudesse estar ferrando ainda mais a sua garganta. 

“Há! Cala a boca, seu lixo imundo. O que estamos protegendo é o futuro da humanidade. Nós queremos que a próxima geração seja poderosa, para que a sociedade seja moldada mais uma vez.”

“Uma sociedade em que apenas os mais fortes sobrevivam. Esse é o nosso ideal.”

“É mesmo? Que seja.”

Na frente de sua espada, um círculo azul surgiu. Era parecido com o círculo do <Canhão Elétrico>, no entanto, esse era muito maior e tinha três aros de cores diferentes.

Eu não sei se ele vai funcionar, mas não custa tentar. Eu já tinha essa ideia na cabeça há um tempo, mas nunca cogitei testá-la. Parabéns, vocês serão os primeiros a testarem esse canhão triplo. 

Na frente do aro brilhante, uma esfera de água começou a girar, ao mesmo tempo que borbulhava com um vórtice de eletricidade e que era impulsionada por uma enorme corrente de ar. 

Após alguns segundos, a esfera com os três elementos base de Mayck ficou gigante, com cerca de três metros de raio. Ela estava pronta. 

Cientes disso, todos os guardas também prepararam suas habilidades mais poderosas, o que criou uma fileira de cores variadas. Eles acreditaram que poderiam resistir. Afinal de contas, era só um inimigo. 

Mayck viu aquilo e suspirou. Essa foi a última chance para eles se renderem, mas as coisas não aconteceram assim. 

Eu tentei… mas vocês não aceitaram. Que sejam apagados. 

….

<Tempestade de três cores>

O canhão foi disparado em direção a grande barreira formada pelos guardas do instituto. Seus olhos determinados a receberem aquilo de frente. Dentes rangidos. Alguns se arrependeram — antes do ataque, pois não tiveram tempo para desistir quando o canhão disparou. 

O laser, com três elementos misturados, pulverizou os guardas e varreu grande parte da floresta, em um disparo que chegou a um nível absurdo e talvez até fora da realidade. 

Seu poder esmagador durou vários segundos até ele se dissipar, revelando uma limpeza completa no solo daquela área, que se estendia por vários quilômetros de distância. 

Assim que acabou, Mayck desativou sua ID. O ambiente voltou ao normal. Exausto, ele se entregou e caiu no chão, quase inconsciente. 

Ah, droga… usei energia demais…

Sua vista se escureceu e ele acabou adormecendo. 

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