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Capítulo 77 – Mau presságio

Mayck respirava repetidamente. O silêncio lhe deixava inquieto. 

Tudo tinha dado certo, mas ele sentia que algo estava errado — não com seu plano em si, mas com os cálculos e informações sobre o oponente. 

A condição que ele precisava cumprir era que o monstro estivesse focado em Saki por pelo menos alguns milésimos e isso só aconteceria se ele suprimisse toda a sua energia e  rapidamente a liberasse em um ataque elétrico poderoso quando Saki desse o comando, usando o fato de que só ele poderia “matar” aquele monstro no momento. 

Seria a única forma de atingir um golpe fatal na criatura.

Até esse ponto estava tudo certo. 

Mesmo que Mayck tivesse uma ótima visão no escuro, ele não podia enxergar através da cortina de poeira criada após a queda da descarga elétrica, que jogou pedras para todos os lados. 

Aiai… a Strike Down vai ficar bolada comigo…

Mas não era hora de pensar sobre isso. Em um rápido movimento após ter uma sensação estranha, Mayck disparou na direção em que Saki estava. 

Ele atravessou a cortina e o que viu chocou-o por completo. 

Não havia pensado nas consequências de fazer cair um raio tão forte perto de Saki e isso lhe doía no peito. No entanto, não foi só isso que o deixou horrorizado. 

A criatura de pé ao lado dele, emanando fúria, e Saki perto do portão, caída e cuspindo sangue; a pilastra atrás dela estava caindo aos pedaços. 

“Saki!” Ele ignorou o monstro e foi até a garota. “Droga… me desculpa”, foi a única coisa que ele pensou em dizer. Ele a pegou nos braços e checou seus batimentos, respiração… ela estava viva. 

Havia alguns arranhões e pequenas queimaduras nas partes visíveis de seu corpo. 

Ele sabia que isso fora sua culpa. Estava totalmente focado em ter sua alma de volta que não pensou no bem estar de Saki totalmente; ele falhou com ela. 

“Mayck…?” A garota se esforçou para falar, sua voz falha, como se não tivesse ar o suficiente. 

“Não fale nada por ora. Me desculpe te fazer passar por isso.” Mayck recuperou sua compostura e tentou se manter calmo. Não podia se dar ao luxo de perder a garota ali, ainda mais…

“… Eu… estou sentindo um pouco de frio…”

“Está bem frio aqui mesmo. Mas não se preocupe, nós já estamos terminando aqui…”

“… Você conseguiu dar um fim nele…? Eu servi de algo…?

“Você fez o seu melhor. Pode deixar o resto comigo e descansar.”

Ele colocou uma mecha de cabelo que estava no rosto dela para o lado e desceu os dedos por sua bochecha. 

Saki sorriu.

“… Sua mão… ela é tão quentinha… eu quase me esqueci dessa sensação. Minha mãe também tinha um calor assim.”

“Assim eu fico tímido…” Ele sorriu levemente. “Eu vou terminar o que viemos fazer e logo vamos pra casa. Temos aula daqui a algumas horas.”

“É verdade… eu ainda tenho que preparar o café e o almoço da minha mãe… ela deve estar bêbada de novo… ela não tem jeito.”

“Sua mãe?” Ele estreitou os olhos. O que ela queria dizer?

Com um sorriso, Saki lhe deu uma resposta, quase como um sussurro. 

“Eu não te contei antes… né? Meus pais se separaram há um tempo e minha mãe acabou desistindo de tudo. Eu tenho que trabalhar para não morrermos de fome… mas eu não culpo ela… sei que ela está sofrendo mais que eu.” 

“…” Mayck não soube responder. Nunca havia imaginado que Saki Ito se encontrava em uma situação como essa. 

Depois de uma tosse que só a fez cuspir mais sangue, ela continuou:

“Eu não gosto de ver minha mãe assim. Ela perdeu a pessoa que amava e foi abandonada por todo mundo… Ela não deve ligar muito pra mim, mas eu quero que ela seja feliz… eu queria… poder dar uma chance para ela se levantar de novo… mas talvez não seja possível…”

Saki sabia. Ela sabia que tinha sido atacada pelo monstro que sobreviveu mesmo após aquele ataque poderoso. 

Seu corpo estava esfriando rapidamente. Seu moletom manchado pelo sangue que escorria de sua barriga sem parar. Era um corte profundo, que tinha rasgado seu abdômen.

E mesmo assim, ela não culpou ninguém.

Essa garota… 

Mayck percebeu que, para algo assim, Saki devia ter tantos problemas quanto ele podia imaginar. 

“Não diga uma coisa dessas. Você vai poder fazer isso por ela.”

“Você acha…? Eu não tenho tanta certeza…”

“Eu tenho. Não se preocupe com nada agora. Você vai sobreviver e vai ajudar sua mãe.”

“…Haha… Talvez… sim…” Suas palavras cessaram. A mão de Saki caiu no chão e Mayck a deixou ali com cuidado e se levantou. 

“Vai ficar tudo bem. Eu me recuso a deixar você morrer aqui. Quando acordar, vai ver que tudo não passou de um pesadelo.”

Ele se virou e deu um passo na direção do monstro. 

Foi um erro trazê-la aqui. Disso eu tenho certeza. Fui um idiota. Eu não sabia com o que estava lidando e agi como um moleque. Mas isso não vai acontecer de novo. 

Ele levantou sua mão direita, revelando o objeto reluzente, enquanto se aproximava do monstro a passos lentos e intensos que ecoavam pelo templo. 

Eu vou garantir… que nada saia do meu controle a partir de agora. Vou pagar todas as minhas dívidas e terminar a minha vida em paz… nem que eu tenha que estar sozinho. 

O objeto brilhou intensamente… e mais e mais. Ele sumiu como se nunca tivesse existido antes. 

“Moonlight Nightmare.”

E todo o templo se escureceu e a temperatura caiu ainda mais. 

Aquele que jogava almas no sofrimento temeu o que vinha a seguir, se preparou e abriu os braços que acabaram de se regenerar totalmente. Um círculo escuro se estendeu no chão ao seu redor e várias sombras queimando em chamas negras saltaram de dentro dele.

E a elas foi ordenado a dilacerar, rasgar e destroçar Mayck com suas presas brilhantes que se destacavam naquele breu imenso. 

No entanto, elas foram repelidas facilmente pelos cortes rápidos e quase invisíveis da espada do garoto, que impediram seu avanço. 

“Então? Qual vai ser seu próximo passo? Eu admito. Você é uma das criaturas mais fortes que eu já enfrentei, mas não vai sair desse espaço”, Mayck afirmou, seu tom de voz sério como nunca. 

Ele não sabia e nem se importava, mas a criatura a sua frente o entendeu perfeitamente e logo iniciou outro ataque, levantando ambas as mãos. 

Chamas negras circundaram Mayck e arderam fortemente. 

Das chamas altas e devoradoras, garras se estenderam, rasgando o ar. Vários cortes surgiram pelo corpo de Mayck e sangraram, mas ele não se importou com elas, mesmo que elas ardessem em chamas.

Numa velocidade explosiva, Mayck atravessou a parede ardente e encurtou a distância entre ele e o monstro num piscar de olhos, e com um salto e um giro, chutou a cabeça dele no chão. E parte do pátio do templo rachou profundamente.

Com sua alma completa, ele podia desfrutar de todo o seu poder sem medo. 

Sua velocidade não perderia para mais ninguém. 

Mayck se afastou e esperou o monstro se levantar. 

“Hum?”

O silêncio fora preenchido por sussurros indecifráveis de diversas vozes, os quais pareciam estar invocando uma maldição. 

Na penumbra daquele espaço onde o tempo parecia ser mais lento, o olho vermelho do monstro brilhou como uma lua de sangue. No mesmo momento, várias sombras semelhantes a ele rodearam o garoto, como fantasmas.

O que são?

Mayck as observou com cautela. As sombras lhe causavam pequenos arrepios, pois pareciam cópias mal feitas do original. Eram tão mal projetadas que o verdadeiro nem poderia se esconder entre elas, mas não era aí que residia o problema.

Isso é…

Ele fechou os olhos. As sombras não sumiram. 

É uma ilusão. 

Aquelas coisas entraram em sua mente antes que ele percebesse e ele não podia mais enxergar a posição da criatura real.

Olhos fechados ou abertos; não fazia diferença. Ele tinha que recorrer aos seus outros sentidos ou dar um jeito de se livrar daquela ilusão. 

O pior era que ele não sabia se aquelas coisas poderiam lhe causar danos físicos ou mentais.

Em todo o caso, de uma coisa ele tinha certeza: não podia ficar parado esperando algo acontecer. 

<Manipulação de Alma> ativa. Facilmente encontrou seu alvo e o alvejou com <Canhões Elétricos>.

Um show de luzes se iniciou, trazendo junto a eles estrondos de trovões e destruição, que duraram poucos segundos. 

Entretanto, nenhum atingiu seu alvo e foi o que deixou Mayck atônito. 

“O que é aquilo…? Aquela alma tem cor?”

Sempre vira as almas com seu poder como pequenas esferas brancas, mas, dessa vez, ela estava… amarela?

O que isso significa?

Uma habilidade nova? Não. Na realidade…

As sombras sumiram de repente. O que Mayck viu em sua frente depois disso foi um corpo espectral que tentava manter sua existência. Ele tinha uma forma humana, olhos mortos e cores pálidas. 

“Não me diga que….?!”

Não foi necessário pensar muito sobre o que estava havendo quando ele viu um objeto brilhante na mão do monstro, o qual tinha aquela mesma representação de sorriso em sua cara. 

Fazia sentido no fim das contas. Quem disse que Mayck era o primeiro a enfrentar aquela coisa? Além do mais, ele não o viu por um bom tempo. Não seria surpresa se ele tivesse coletado outras metades de alma por aí. 

O mais intrigante era…

Uma poderosa rajada de fogo foi disparada contra Mayck, derretendo tudo em seu caminho, e o garoto respondeu com um <Canhão de Eletricidade> para bloquear.

Uma enorme explosão se estendeu por um raio gigantesco de metros e a onda de choque foi extremamente poderosa.

… Então ele pode usar os poderes das almas? Haha… isso é terrível. Pelo menos eu sei que as vítimas dele estão vivas. Vou acabar com você rapidinho então. 

Mayck deu um passo para o lado e se esquivou de mais uma rajada de fogo que ardeu perto de seu rosto e diminuiu a distância entre ele e o monstro outra vez, arremessando sua espada nele. 

O monstro, por sua vez, transformou seu corpo em fumaça para não receber o golpe e deu certo. Contudo, foi nesse momento de confiança que ele acabou caindo na armadilha preparada. 

“<Manipulação de Alma>.” 

E um toque foi tudo o que Mayck precisou para lançá-lo para trás como uma bala sendo disparada por uma arma, não dando tempo para o monstro reagir. 

O impacto contra a parede do templo causou um estrondo ensurdecedor. 

Apenas poeira e tensão pairavam no ar segundos depois. 

Será que acabou agora? Mayck pensou, olhando fixamente para o local encoberto pela cortina. Sua ID desativou-se quando sua energia estava quase esgotada. 

A esperança de ter vencido queimava em seu peito. Mas a presença daquele monstro ainda continuava intacta, esmagando completamente seu desejo. 

“Tsk…” O garoto estreitou os olhos e se preparou para um novo round. 

O monstro se ergueu da poeira e deu alguns passos para fora dela. A névoa ao redor de seu corpo parecia mais fraca. Seu olhar transmitia um ódio que ele não podia pôr em palavras. 

Entretanto, ele acabara de enfrentar um oponente humano que o deixou em uma situação lamentável. 

Seu orgulho parecia esmagado.

“Você… nos veremos… no dia” Como palavras ditas pelo vento de um lugar sombrio, sua voz ecoou até os ouvidos do garoto e logo ele começou a se dissipar como uma névoa escura a se perder no ar. 

Mayck ficou intrigado. 

“Ele podia falar?”

Ele chacoalhou a cabeça e suspirou, mudando seu foco para Saki desacordada atrás dele. 

“Parece que agora acabou mesmo.” Ele se sentia tão aliviado que poderia dormir ali no chão, mas não era uma boa ideia. 

Junto com a dupla composta por Saki e o monstro, eles danificaram demais aquele pátio do templo. Até mesmo o próprio templo. Crateras, rachaduras e pedras por toda a parte. 

É melhor irmos nessa… talvez eles cheguem logo pra reparar isso. 

Com cuidado, ele tomou Saki em seus braços e saiu de lá. 

O que fosse feito ao templo e o que aconteceria depois ele não queria nem saber. 

****

Saki abriu os olhos. 

Um teto escuro acima dela e o cheiro de poeira e mofo impregnou-se em suas narinas. 

Que fedor…

A imagem de sua casa parecia até melhor naquele momento. 

“Acordou?” A voz de Mayck soou em seus ouvidos e ela se sentou na maca num instante. 

“Mayck?! O que…?”

As memórias foram ficando frescas em sua mente.

Sua mão… ela é tão quentinha…

Ela se lembrou dessa linha e cobriu o rosto corado, escondendo sua vergonha como uma garotinha.

“Você tá bem?” O garoto levantou uma sobrancelha ao ver essa ação estranha.

“Sim…”

“Hmm…”

“Afinal… onde estamos?” Voltando a si, ela olhou ao redor. Aquele lugar lhe era familiar. 

“Bom, sobre isso…”

“Eu vou avisar só dessa vez. Não fiquem vindo até minha base como se ela fosse nossa. Ouviram?” Otohiko, de braços cruzados, tinha uma impaciência estampada no rosto. 

“Relaxa…”

“Como? Na primeira vez eu tive que te carregar porque você estava dormindo. Agora você me aparece com a mesma garota e me pede para curá-la. Isso é muito abuso.”

Mayck apenas falou de novo para ele relaxar quando na verdade queria esfregar em sua cara que ele o levou na primeira vez porque quis. Mas ele se absteve disso. 

“Eu vou ficar te devendo essa. Não se preocupe. Agora que ela está acordada, não vamos te incomodar mais.” Ele olhou para Saki. “E então, consegue se levantar?”

“Acho que sim…” 

Ela tentou, mas suas pernas fraquejaram e Mayck a segurou antes que ela caísse. 

“Opa.”

Foi praticamente um abraço, mas um simples abraço, porém, o suficiente para deixar o rosto da garota tão vermelho quanto os olhos do monstro que eles enfrentaram a pouco tempo. 

Rapidamente Saki recuperou suas forças e se afastou. 

“Hein… parece que você já está melhor.” Mayck ficou levemente confuso.

“Sendo assim, vão embora logo. Não quero mais visitas hoje.”

Otohiko acenou para a porta. 

“Hmm… aconteceu algo bom hoje? Você parece bem estressado.”

“O que te faz pensar isso?”

“Sei lá… instinto.”

“Que idiotice. Andem, vão.”

“Okay, okay. Vamos. Saki.”

Ele encontrou-a com o rosto enterrado na parede, embora não soubesse o porquê.

“Saki…?”

Ela tinha percebido que estava usando o moletom dele. 

Ah não…

Expulsos da base do Costureiro da Morte, Mayck e Saki tomaram o caminho de casa. Eles caminhavam silenciosamente. 

A brisa da madrugada soprando em seus rostos. O céu ainda continuava nublado e não havia sinais de que teria sol nas próximas horas. 

“O que você achou?” Mayck se pronunciou de repente. 

“Hein?! So-sobre o que?” Ela se armou desnecessariamente.

“A luta de antes. Aquilo foi mais perigoso do que da primeira vez, certo?”

As lembranças de ter aquela criatura perfurando seu abdômen ainda pairavam frescas em sua mente. Ela conseguia sentir a dor, embora fosse apenas na imaginação. 

Ela tocou sua barriga. 

“Eu… fiquei com medo. Pensei que fosse morrer de verdade.”

“Imagino. É assim para, pelo menos, a maioria dos portadores. Se continuar, vai enfrentar coisas cada vez piores. Nesse mundo, sua vida não está garantida, a não ser que você seja extremamente forte.”

E nem assim você estava seguro. 

Saki refletiu de cabeça baixa. 

“Eu sei… Não posso dizer que não estou assustada. Eu não quero morrer, mas eu não sei fazer outra coisa. Se eu puder lutar para proteger a minha mãe e todas as outras pessoas… então eu faço isso de coração aberto.”

Ela já havia se decidido. Não havia necessidade de questioná-la mais. 

Você é forte, né, Saki? Eu me pergunto o que te motiva a ser assim…

“Sendo assim, dê o seu melhor. Aproveita e me paga um almoço hoje na escola.”

“Eh?”

“Até mais.” O garoto acenou para ela e seguiu seu caminho. Sem que eles percebessem, já estavam na frente da casa de Saki. 

“Tchau… Não. Espera. Como assim pagar seu almoço? Mayck?”

Ou ele ignorou ou só não dava para ouvir da distância que ele já tinha tomado dela. Sendo um ou outro, ela desistiu. 

<—Da·Si—>

Eventos estranhos em templo de Tóquio.

Era essa a manchete no noticiário já pela manhã. Um vídeo amador de um templo era exibido na televisão enquanto a repórter dizia detalhes sobre o caso. 

“Moradores das redondezas afirmam ter escutado sons assustadores durante a madrugada. Outros chegaram a dizer que viram vultos rodeando o interior do local.”

Um close da câmera mostrou pequenos vultos se movendo lentamente. 

“Uaah… Essas coisas tem acontecido com muita frequência ultimamente… o que será que é?” Suzune olhava o noticiário com preocupação. 

“Provavelmente é só invenção. Não dá pra acreditar nessas coisas”, Haruna lhe respondeu, negando firmemente a informação. 

Por outro lado, Mayck assistia em silêncio. Não porque estava pensando no que poderia ser, mas, sim, porque tomou um susto quando ouviu a manchete da cozinha. Ele voou para a sala em seguida. 

Se fosse sobre o que aconteceu comigo ontem eu estaria ferrado. 

Era essa sua preocupação. Para sua sorte, era um incidente não relacionado a ele. 

Mas eu ainda tenho que ficar atento. Pode ser um Ninkai, um portador ou algo ainda mais perigoso. 

Ele se levantou do sofá e subiu as escadas para o quarto. Faltava alguns minutos para ele sair, mas ele já se adiantou — pegou sua mochila e desceu novamente, após trancar a porta. 

Ah… lembrei que minha blusa está com Saki. Tenho que lembrar de pedir devolta depois. 

Checar seu material escolar o fez se lembrar disso. 

Brr! Brr!

Seu celular vibrou. 

Mayck o pegou e viu uma mensagem, mas não uma mensagem comum. Era uma que lhe causava arrepios, como se ele estivesse, desesperadamente, tentando esconder algo de alguém e esse alguém estivesse perguntando sobre. 

[Venha até aqui.]

Nikkie…

Ele suspirou, respondeu com um simples “mais tarde” e desligou o celular. 

“Vai se atrasar, Mayck”, Haruna alertou. 

“Ah, sim, sim. Já estou indo.” Depois de pôr sua mochila em seu ombro, ele seguiu a garota pela porta. 

Na escola, nada parecia tão diferente do habitual. Se bem que o ‘habitual’ para Mayck já havia mudado diversas vezes. Naquele momento, o mais comum era a interação teatral entre Hana e Chika. 

Parecia que as coisas não iam se acertar nunca. 

Durante o intervalo, Mayck recebeu a visita de Saki, que lhe devolveu sua blusa quando ambos estavam a sós. 

“Eu… eu pago seu almoço amanhã… Tá bom?”

“Eh…? Bem…”

“Até mais.” Ela fugiu com o rosto corado sem esperar uma resposta. 

“…não precisa se preocupar…”

Era só uma piada, ele quis dizer, mas a garota não o deixou falar.

Por estar participando de diferentes eventos dia após dia, o que deveria ser normal para Mayck estava cada vez mais entediante. 

Ele chegou a se perguntar se devia estar mesmo ali.

Enfrentar Ninkais, resolver problemas com portadores e organizações. Isso parecia ter se tornado sua realidade e estava cada vez mais difícil lidar com tudo aquilo. 

E ainda tinha Yang. Aquele homem era uma grande incógnita. Para saber o que ele queria, precisava aprender sobre o The Fake Human e para aprender sobre o tal, tinha que encontrar as outras fitas. 

Nesse quesito, a Black Room já estava pesquisando uma padrão para tentar supor onde poderiam encontrá-las, já que a Operação Primavera tinha sido um fracasso e Mayck encontrou a segunda fita por mera coincidência. 

Tem muita coisa pra fazer. Eu também não consegui novas informações sobre Masato, então ainda não sei se ele é realmente a fonte dos vazamentos. 

Ele tinha que fazer as coisas andarem. 

Após o término das aulas, ele seguiu direto para a base da Black Room com sua ansiedade à espreita, perguntando-se sobre o que seria conversado. 

Máscara no rosto e traje de batalha equipados, ele entrou na sala de Zero, que o esperava junto a Nikkie. 

“Você chegou mais rápido do que eu esperava”, Zero comentou ao vê-lo. 

“Bom… eu não gostaria de saber o que poderia acontecer caso eu me atrasasse…” Ele olhou de relance para a garota. Podia sentir a frieza dela mesmo de longe. 

Zero riu. 

“Bem, bem, vamos ao que interessa. Mayck, você lutou contra um Ninkai problemático ontem, certo?”

Mayck engoliu a seco.

“…sim…”

“Como eu imaginei. Bom, saiba que a Strike Down está atrás de você por isso.”

“Sério?”

“Uhum. Pelo outro dia também. Parece que alguém testemunhou sua luta contra outro monstro pouco tempo depois de você ser avistado com aquele portador também procurado.”

“Parece que eu virei um criminoso…” o garoto suspirou. 

Com exceção da luta mais recente, todas as outras tinham sido meras coincidências, mas ninguém sabia disso, então ele não podia julgar. 

“É só um aviso, mas queremos que você tome mais cuidado a partir de agora. Desde que você não cause problemas sérios, não vamos interferir em suas ações. Mas, por favor, não suje o nosso nome, okay? Para todos, você é um dos nossos membros.”

Nikkie lhe advertiu com um tom sério, deixando claro que não era brincadeira. Obviamente, isso pesou em Mayck. 

“Sim… desculpem por isso.” Seus ombros caíram. 

Nikkie fez um som, mostrando que estava satisfeita. Nisso, Zero abriu a boca. 

“Agora que estamos entendidos, vamos ao assunto principal. Nós descobrimos padrões no achado das fitas e temos um palpite sobre onde encontrar, pelo menos, as próximas duas.”

“Ah é?”

“Sim. Veja.”

Zero mexeu em seu computador e uma tela acendeu atrás dele. As luzes da sala se apagaram de repente. 

Na tela, um globo 3D foi exibido, o qual girava lentamente. Ao redor dele, vários parâmetros e caixas de informações. 

“Aqui, foi onde encontramos a primeira fita.” Um marcador foi posto em Hokkaido. “E aqui…” O globo girou. “…foi onde você encontrou o segundo.” Marcador na cidade de São Paulo. 

“Hm… sim, sim…”

“É um palpite simples, mas acreditamos que as fitas estejam nos pontos onde podemos traçar uma linha que interliga todos esses pontos.” 

Ao toque de um botão, uma linha correu por quatro pontos do globo, tomando a forma de uma ampulheta deitada. 

Simples, hein. 

“Então vocês acreditam que o terceiro ponto e o quarto sejam onde estão as outras fitas?”

“Isso mesmo”, Nikkie tomou a frente. “Se estivermos certos, então restam apenas duas e então vamos descobrir o que é o tal The Fake Human. E, de quebra, também vamos saber o que Yang procura.”

Zero assentiu, mas ainda tinha algo a dizer. 

“Por outro lado, foi apenas uma brincadeira de Luna, mas ela desenhou isso aqui.”

Outro toque e uma estrela de seis pontas surgiu na frente do globo. 

Mayck torceu o nariz. 

“Seis fitas?”

“Uhum. Mas como dissemos, é apenas especulação.”

Eles não tinham total certeza acerca dos padrões. Parecia tão óbvio que chegava a ser ridículo, mas não havia muitas outras opções para limitar a área de busca. 

Se fossem procurar de outras formas, teriam que revirar cada canto do planeta e sabia-se lá quanto tempo levaria. 

“Além do mais”, Zero apontou. “Na primeira opção, a parte maior da ampulheta liga São Paulo e o Arquipélago Ártico Canadiano, enquanto a parte menor cobre o Japão e a Austrália. Com base nisso, as outras duas pontas adicionam a Antártida e Novaya Zemlya ao norte da Rússia.”

“Em outras palavras… é praticamente o mesmo caminho.”

A teoria em forma de piada de Luna só foi considerada por usar o mesmo tracejado inicial. E apesar de ser uma estrela de seis pontas mal feita, ainda fazia sentido, no fim de tudo. 

Contudo, Mayck ainda tinha dúvidas a apresentar, como a possibilidade de haver inúmeras formas de traçar um caminho entre vários outros pontos. 

Mas se fosse pensar assim, então nunca haveria uma conclusão. 

E se as fitas tivessem sido movidas para outros lugares, qual seria o sentido em especular sobre a localização das outras?

Eles dependiam da sorte. Era claro que Zero e Nikkie consideraram essa e mais outras possibilidades, mas eles se mantiveram firmes nessa; tinha uma boa chance de acerto. 

“Tá, tá… Supondo que as duas estejam certas, como vocês vão saber se todas estão reunidas?” Mayck balançou a cabeça levemente. Ele se cansou de pensar nas possibilidades. 

“Isso é simples também.”

Zero explicou que, caso eles pegassem as outras duas fitas que restavam e tivesse um final na última, não seria necessário buscar pelas outras. Da mesma forma, se eles coletassem alguma que estivesse fora de contexto ou não apresentasse um final, então buscariam as outras. 

Era tudo muito simples. Simples até demais, Mayck pensou. 

“Bem, se vocês estão tão confiantes nisso, então eu não tenho nada a dizer.”

“Sim. Eu tenho certeza que isso vai funcionar. No entanto…”

“Hm?”

Mayck inclinou a cabeça para a pausa que Zero fez. 

“Nós não podemos sair ainda em busca das fitas. Precisamos resolver os nossos problemas primeiro.”

“Algo aconteceu?” O garoto perguntou com curiosidade. 

“Você deve ter notado que o número de Ninkais aumentou muito. É como se matá-los não fizesse diferença. Agora, não são só Ninkais novos os que apareceram, eles parecem ter algo mais ou talvez sejam algo completamente diferente.” 

“Vocês também perceberam? Os últimos problemas que eu tive, foram com monstros fora do que estamos habituados a ver. É difícil pensar que eram algo criado por humanos.”

Monstros com poderes absurdamente inesperados e que eram mais perigosos que Ninkais de classe Pesadelo. 

“Lutar com eles é como enfrentar um ser humano.”

A sensação de estar na frente de um ser superior a ele passou pelo corpo de Mayck, causando-lhe arrepios.  

“A Ascension tem começado a se mover novamente. Possivelmente, eles tem algo a ver com toda essa evolução, mas ainda é um mistério.” Nikkie cruzou os braços e encarava o chão, pensando em algo. 

“Eu vou me apressar em descobrir quem está por trás dos vazamentos. Tenho certeza que vamos ter alguma pista com isso.”

“Sim. Estou contando com você, Mayck.”

O garoto assentiu e pediu licença para se retirar, saindo em seguida. 

Estando a sós na sala, Zero falou, como se para si mesmo. 

“Eu me pergunto se ele vai conseguir…”

Ouvindo isso, Nikkie respondeu, enquanto ia em direção a saída:

“Eu acredito que vai. Ele já nos ajudou muitas vezes, não é?”

“É… Verdade”, ele murmurou e Nikkie saiu. 

Zero fechou os olhos por um breve momento e um suspiro saiu de sua boca. Um suspiro pesado. 

Até onde você planeja ir, Yang? Se eu estiver certo e mais coisas como você começarem a aparecer, então nós estamos em apuros. 

“Preciso fazer algo.”

E ele se levantou e saiu da sala.

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