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Depois da confusão envolvendo Haruna, a barreira entre Mayck e Takashi apenas aumentou. O clima na residência ficava pesado sempre que estavam juntos, tornando difícil de suportar. 

O garoto, então, optou por jantar sozinho, sem a presença de ninguém. 

Era silencioso. Um pouco confortável. Porém, tinha aquela sensação de vazio que apertava em seu peito. 

Logo tudo isso vai acabar. Não estou muito longe, ele pensava consigo. 

Assim que terminou sua refeição, ele se levantou. 

“Obrigado pela comida.”

Após lavar os utensílios que usou, ele voltou para o seu quarto e ligou seu computador. Havia algumas mensagens privadas no seu bate-papo no site dos caçadores. 

“E então? Vamos prosseguir com isso?”

Era o texto da conversa nomeada como “G-Hy”.

Mayck respondeu em seguida.

“Sim. Vamos em frente com isso. Vou sair logo. Espero que tudo corra como o planejado.”

“Se foi você quem planejou, então eu tenho certeza que vai ficar tudo bem. Você não sabe o quanto é incrível.”

Até pela internet, ele fazia questão de agir da mesma forma. Não que Mayck se importasse com isso. Eles dois eram o que podiam ser chamados de melhores amigos, ou pelo menos eles tinham um relacionamento bem próximo disso. 

“Eu não sou tão incrível como você diz”, Mayck disse em voz alta e apenas respondeu com um “pare com isso” e desligou o computador. 

Sentado em sua cadeira e olhando para o teto branco, ele não podia negar que estava um pouco agitado com aquilo tudo. No entanto, a decisão e as ações já tinham sido feitas. Não tinha como voltar atrás. 

Dia após dia, ele foi caçado como um Ninkai por vários portadores. Eram todos poderosos o suficiente para lhe cansar de forma extraordinária. 

No fim, Mayck conseguiu dar um jeito de sair vivo, mas isso porque parecia que nenhum dos agressores o queriam morto; caso contrário teriam feito um ataque coordenado ou algo assim. 

Aquilo tudo já havia acabado com a paciência do garoto. Então, aproveitando a situação em que o mundo dos portadores estava, ele decidiu que devia pôr um fim nisso. 

Se não dava para nadar contra, então iria com a corrente. 

Ele fechou os olhos brevemente e respirou fundo, expulsando os receios que tentavam tomar conta da sua mente. O relógio digital ia contando as horas para o início de tudo. 

Era 22h40. 

“Acho que é melhor eu ir…”

Antes de se levantar, ele ouviu a campainha tocar. 

“Deve ser ela.”

Mayck pegou um moletom em cima da cama e saiu de seu quarto rapidamente. 

Ao atender a porta, encontrou uma Hana com uma expressão nada feliz em seu rosto. Ela logo bufou. 

“Mayck. Dessa vez você não escapa.”

“Tá legal. Vamos indo.”

“Hã?”

Ele passou por ela e puxou sua mão, levando-a consigo. 

Hana ficou confusa, ao mesmo tempo que surpresa por estar sendo conduzida daquela forma. Seu rosto ficou vermelho, mas ela se recompôs. 

“Ei, o que você está fazendo?”

“Você queria uma explicação, não é? Então vou fazer isso.”

“Como? E porque estamos saindo…” Ela se interrompeu e encarou o garoto por trás. “O que está havendo?” 

A garota pôde sentir uma aura estranha em seu amigo. Era como se ele tivesse voltado a agir igual àquela época, quando Kin estava por perto. 

Após alguns segundos de silêncio, Mayck respondeu friamente. 

“Você vai entender.”

O ar sério misturado com a atmosfera fria do outono trazia sentimentos amargos. 

Algo grande estava perto de acontecer, e isso poderia abalar grandemente todas as relações do garoto. Mas essa era uma das poucas opções que ele tinha para cumprir seu simples objetivo de ter sua família e seus amigos protegidos. 

Talvez… não. Eu com certeza estou sendo egoísta. Não considerei nem investigar como ela se sentia em relação a tudo. Mas isso é necessário. Eu não quero que Hana mude, porém, ela precisa crescer. 

Ela olhou a garota silenciosa por cima do ombro. 

Espero que me perdoe. 

Depois de caminharem por um tempo pela rua, em direção ao centro comercial próximo à estação, eles pararam. 

Hana olhou ao redor com uma interrogação.

“O que vai ter aqui?”

“Aqui? Nada. Nós vamos até aquele local. Estão nos esperando lá.”

“Quem…?”

“Você vai ver.”

Ainda segurando a mão de Hana,  ele começou a andar, mas a garota não se moveu. 

“O que houve?” Ele perguntou. 

“… Disso”, ela sussurrou. 

“O quê?”

“Já chega disso!”

Hana levantou sua voz e encarou o garoto com raiva visível em seus olhos vermelhos. Mayck se surpreendeu com a mudança repentina de atitude. 

“Por que não para com isso de uma vez? Nós prometemos não esconder mais segredos, não foi? O que você está tentando fazer? Por que está agindo desse jeito? Me responda.”

A garota estava exausta de enfrentar tanto mistério. Por que ele tinha que agir assim? Ela não entendia. Pior. Ele não precisava dela?

“Eu falei que você já vai saber…”

“Eu não quero isso. Eu quero ouvir da sua boca. Por que você fez uma publicação daquelas? Está tentando se matar?”

“Eu não…”

“Diga, Mayck! Eu não sou o suficiente para te ajudar? Você está sempre escondendo as coisas, quebrando a promessa que fez comigo. Por que fazer tudo do jeito mais difícil? Por acaso você… não confia em mim?”

Mayck não respondeu, apenas desviou o olhar, dando uma resposta errada para a garota à sua frente. Hana ficou decepcionada. O choque de não ouvir uma resposta fez suas palavras ficarem presas em sua garganta. 

Seu chão desabou naquele momento, Hana abaixou sua cabeça e sua voz. 

“Eu pensei… que fosse mais importante para você do que isso…”

“Isso não é…”

“Não é o quê? Você sempre esteve distante. Deixava tudo de lado por não se importar. E eu… eu tentei de tudo para ficar ao seu lado. Não tinha muita esperança, mas quando você me deu um sinal positivo pela primeira vez… eu fiquei feliz.”

“…”

“Claro. Ainda tinha muitas coisas a serem vencidas, mas eu realmente achei que tínhamos um laço mais forte. Mayck… por que você tem tanto medo de confiar nos outros? Me diga.”

Mayck virou-se para a rua deserta, enquanto o semáforo mudava de cor para ninguém. 

“Eu não tenho medo de confiar nos outros”, ele disse. 

“Então o que é que te deixa tão aflito a ponto de você quebrar suas promessas? Talvez eu não seja realmente interessante na sua vida?!”

“Não é isso, Hana!” Ele elevou sua voz para que ela entendesse bem. “Não é disso que se trata. Você é alguém que eu prezo muito. É minha preciosa amiga de infância, e justamente por isso eu não quero que você se machuque mais do que eu já fiz você se machucar.”

“Do que está falando…? Tudo o que eu fiz até hoje foi por conta própria. Eu que decidi te proteger do jeito que eu podia. Ei…” Ela agarrou o pulso do garoto. “… Não diga que isso foi por nada.”

Ela estava se contendo, mas as lágrimas insistentes estavam começando a fazê-la ceder. 

“Obrigado, Hana. Eu acho que quem falhou, na realidade, fui eu. Me envolvi com tudo isso sem pensar e… olha só o resultado. Te magoei não uma, mas duas vezes. Talvez até mais. Mas eu quero que saiba que não quero te ver mal.” Ele se virou novamente e puxou Hana para si, abraçando-a com força. “Eu quero que você fique bem. Assim como a minha família e a sua família. Nossos amigos também.”

No abraço repentino que a deixou sem palavras, Hana lembrou-se das palavras de Zero.

Mayck… você realmente carrega um fardo enorme. Eu só queria te ajudar com isso tudo. Mas, no fim, eu que sempre sou ajudada. Isso é patético…

“Eu não vou prometer de novo”, Mayck falou. “Mas eu vou te contar tudo quando acabar, está bem?”

“Hum.” Ela balançou a cabeça. Suas lágrimas caindo no moletom do garoto certamente seriam vistas por ele, mas ela não se importava com isso. Naquele momento, ela só queria permanecer no calor de seus braços, sabendo que ele estava preparando-a para algo. 

“Não encontramos nenhum Ninkai, né?”

“Isso é algo bom… eu acho. Agora vamos. Nosso convidado não deve demorar muito.”

“Eu gostaria que você me dissesse quem é…”

“Haha… Fica tranquila.” Ele riu, mas seus pensamentos não o deixavam mentir. 

Ou não. 

Como última declaração, ele olhou para o seu objetivo firmemente e falou:

“Não importa o que aconteça, Hana, saiba que tudo vai dar certo.”

“Hum? Tá legal…” 

Ela ainda estava receosa e bastante confusa, mas decidiu seguir em frente. 

****

Eles atravessaram a estação de Ueno. A quantidade de pessoas ali podia ser contada nos dedos, se deixasse de lado os funcionários. Após isso, seguiram para o Tokyo Bunka Kaikan, a sala de concertos do Ueno Park.

Estava vazio nos arredores. Por sorte, não haveria apresentações naquela noite, então o local estava livre para uso — não que deveria ser usado da forma como Mayck planejava. 

Por conta disso, Hana ficou desacreditada com o local que estavam visitando. Ela tinha um mal presságio sobre o que poderia acontecer ali, mas porque tinha que ser justamente em um local daqueles?

Ela tentou contestar, mas nada podia ser ajudado.

Hesitante, ela acompanhou o garoto para o interior do local, cujas portas estavam abertas. Não antes de verificar se era seguro, obviamente. 

Assim que entraram pelas portas de vidro, se depararam com uma arquitetura moderna e um ar acolhedor do saguão. Olhando ao redor, eles podiam ver a aura cultural da sala. 

“Acho que… a última vez que vim aqui foi com o meu pai. Eu acho que tinha cinco anos na época”, Hana comentou com um ar de nostalgia.

“É? Essa é minha primeira vez. Nunca tinha ido a uma sala de concertos antes.” 

Mayck declarou que era uma nova experiência, enquanto observava as exposições de arte nas paredes. 

“Sério? Humm… Sendo assim, vamos vir aqui juntos algum dia.” A princípio surpresa, Hana o convidou com certo constrangimento. 

“Claro. Pode ser.”

Os dois continuaram caminhando lentamente em direção ao salão principal, com seus passos ecoando pelos corredores. Ao chegarem, se depararam com uma enorme quantidade de assentos em fileiras ascendentes em direção ao palco. 

Ao redor, a arquitetura moderna refletia a estética japonesa contemporânea, mas mantendo o layout tradicional de uma sala de concertos. Estava escuro, mas ambos conseguiam enxergar muito bem nessa condição. 

Mayck ficou sem palavras. Tinha visto fotos na internet e até em filmes, mas nada se comparava à sensação calorosa de ver pessoalmente. Ele se sentia estranhamente acolhido por aquele local. 

“… Esse lugar é incrível”, ele disse. 

“Você gostou? É bem sua cara um lugar desses”, Hana respondeu. 

“Não sei se é um elogio ou uma provocação.”

“Um pouco dos dois talvez?” Ela deu de ombros. “Então, quem nós viemos ver?”

“Hmm… seja paciente. Eles devem estar… ali.” Mayck os encontrou ao olhar para as galerias acima deles e notar a presença de algumas pessoas. 

“Yukimura-kun?!” Hana exclamou depois de olhar para a mesma direção. 

Nesse momento, Mayck pensou no quão ruim seu amigo era em se disfarçar.

Talvez ele nem tenha tentado… Bom, que seja. 

Devido à nova surpresa do dia, Hana lançou um olhar feroz para o garoto ao seu lado, que se encolheu ao perceber a situação. 

“Eu pensei em explicar algum dia”, ele disse, desviando os olhos para o palco. Depois, voltou-se para Haruki na galeria. “Mais importante, está tudo pronto?”

“Sim. Ele deve aparecer em breve.” A voz de uma garota ecoou pela sala de um lugar que eles não podiam ver. Isso levantou uma bandeira em Hana, que, a cada segundo, ficava mais e mais irritada com o garoto. 

“Isso é bom. Então vou me posicionar também. Vamos, Hana, suba até lá.”

“Hã? Por que isso? O que vai acontecer aqui?”

“… Apenas vá. Você vai entender na hora. Haruki, diga a ela. Pode deixar os detalhes comigo.”

“Hum? Você tem certeza? Pensei que não gostaria de lidar com tudo sozinho”, Haruki levantou uma sobrancelha com dúvidas. 

Certamente, Mayck era do tipo que dividia os pesos conforme o papel de cada um, mas estava sendo diferente daquela vez. Talvez ele já estivesse esperando um certo resultado. 

“Eu já estou fazendo, de qualquer forma”, ele disse com um suspiro. 

“Já que é assim… Venha até aqui, Tsubaki-san.”

A garota ainda tinha muitas dúvidas. Ela desconfiava de tudo o que estava havendo ali, mas não dava para perguntar naquele momento. A situação parecia emergencial demais para ela não cooperar. 

Depois de subir para a galeria, dizendo algumas ameaças à Mayck, ela se juntou a Haruki e mais quatro pessoas que estavam juntas à ele, enquanto via Mayck se posicionar na primeira fileira perto do palco. 

Ela se sentou em um dos bancos disponíveis e observou a sala toda, mas logo voltou ao que importava. 

“Então, o que está acontecendo aqui, Yukimura-kun?”

“Hmm… por onde eu começo…?” Ele pôs a mão no queixo, mostrando estar com dúvida. 

“Apenas fale de uma vez? Ouvi dizer que essa garota é da Strike Down, então porque ficar de mistério?” Um garoto, de braços cruzados, cuspiu essas palavras, como se achasse tudo aquilo uma perda de tempo. 

“Não seja irritante, Rikki. Nós concordamos em vir, temos que ajudar.” Kaito, ajeitando seus óculos com uma postura séria, repreendeu seu amigo. 

“Hã?! Quem você pensa que é?!”

“Não comecem vocês dois…” Yuno tentou apaziguar os ânimos, mas sem sucesso. Ambos, Rikki e Kaito, estavam prestes a iniciar uma luta. Seus olhos soltavam faíscas quando se encaravam. 

“Vocês todos devem fazer silêncio. Não vamos conseguir perceber quando o alvo se aproximar”, a única garota do grupo falou com uma voz indiferente. Ela estava usando um capuz, e não parecia interessada em revelar seu rosto levemente iluminado pela luz de um notebook.

“Já sei.” Hana suspirou, vendo que nada daria certo daquele jeito. “Vamos do começo. Quem são vocês?”

“Bom ponto, Tsubaki-san.” Haruki sorriu e disse. “Nós somos agentes da GSN…”

Ele mal terminou e foi fuzilado pelos olhos vermelhos de Hana. Rapidamente, ele balançou a mão no ar com um sorriso nervoso. 

“Calma, calma aí. Não estamos aqui hoje pela organização.”

“Então o que é?”

“Mayck me pediu ajuda com algo e eu pedi ajuda a eles. Deixe-me apresentá-los.”

Um a um, Haruki os nomeou, os quais se apresentaram com certa educação — com exceção de Rikki, que resmungou de forma irritada. 

Após isso, Haruki explicou a situação com o máximo de detalhes que o cenário o permitia. 

“Você sabe que informações da polícia estão sendo vazadas, né?”

“É claro. Não se fala de outra coisa no momento.”

“Pois bem. Parece que Mayck encontrou o responsável.”

“O que?! Sério?!”

Hana quase pulou de seu assento. Mas era justificável. Nem mesmo a Strike Down, com todos os seus recursos, conseguiu encontrar uma única pessoa. 

Mayck ter feito tal coisa era algo incrível. 

“Sério, mas não faça barulho.” Haruki fez sinal para ela ficar quieta. Hana resmungou, levemente envergonhada por sua postura. 

“Então, ele precisava de uma forma de atraí-lo até aqui…”

O som de uma porta se abrindo o interrompeu. 

Instantaneamente, todos se calaram e se atentaram ao recém chegado. 

Hana espreitou com a curiosidade quase explodindo em seu peito, seus batimentos estava velozes. 

Quem é?

Um homem começou a caminhar lentamente, e descendo as escadas, foi até o palco. 

Enquanto isso, Mayck esperava pacientemente, a máscara em seu rosto escondia sua identidade. Ele respirou fundo algumas vezes. Não podia negar que estava sentindo um certo nervosismo em conduzir aquilo tudo. 

Além do mais, ele mal conseguia imaginar a reação de Hana. Seria um choque? Com certeza. Mas o que viria depois? Quem ela odiaria e quem apoiaria no final? Essas questões o torturavam como se ele fosse um escravo — um escravo de suas próprias decisões. 

Mantenha ela no lugar, Haruki. Caso contrário, as coisas vão ficar muito mais turbulentas. 

Os passos ecoaram pela sala, como se anunciassem a chegada do visitante especial. 

Não é querendo me gabar, mas eu tenho certeza que Hana se importa muito comigo. Talvez não tanto quanto se importa com seu pai, mas o suficiente para ela me considerar mais. 

As luzes do palco se acenderam de repente, iluminando parte do ambiente. 

Os passos já bem próximos pararam a uma distância segura. 

A partir de agora, ela vai ser forçada a fazer a mesma escolha que todos nós, portadores, somos obrigados. 

“Quem é você?” Uma voz grave se dirigiu a ele. 

Mayck se levantou e encarou o homem, com o qual já estava familiarizado. No entanto, nos últimos dias, ele já não parecia mais o mesmo para ele. 

Nada havia mudado realmente. Aparência, personalidade; nada mesmo. Apenas uma máscara que se rachou e estava prestes a cair. 

Afinal, nem eu sei dizer quem é a pessoa que está na minha frente…

“Não precisa se forçar a atuar. Você sabe quem sou eu e também sabe o porquê de estar aqui”, disse Mayck, com uma voz fria. 

Masato riu levemente. 

“Hahaha… Meu computador foi hackeado três vezes. Então você é o responsável por isso?”

“Talvez. Por que não vamos ao que interessa? Creio que… seus colegas de trabalho fiquem preocupados com a sua ausência no meio do trabalho. Ou talvez algum assunto mais urgente que a segurança pública tenha surgido? Você é bom em esconder essas coisas, certo?”

O sorriso de Masato se foi e seus dedos encontraram o cabo da arma no seu coldre. 

“Maldito. O que você pensa que sabe sobre mim?”

“Muitas coisas.” Ele deu de ombros. “O que me intriga, é saber que você consegue ser capaz de agir desse jeito. Diga, Masato-san, sua família não significa nada pra você?”

“Do que caralhos você está falando?”

“Se seu computador fosse hackeado assim como os computadores dos outros policiais, tenho certeza que uma investigação conjunta seria iniciada. Principalmente quando várias pistas são deixadas para trás. Apesar disso, não sinto a presença de outras pessoas na área. Isso significa que você está sozinho.”

Masato cerrou os dentes. Uma lembrança invadiu sua cabeça e ele percebeu algo. 

“Está dizendo que me atraiu até aqui?”

“Esse é o ponto. Se você não tivesse vindo, eu ficaria em dúvida. Mas agora tenho certeza. Você é quem está vazando as informações da polícia.”

“Hã?! O que uma coisa tem a ver com a outra? Se você me hackeou e deixou rastros, eu obviamente viria até você.”

“Isso está correto”, Mayck disse e se levantou, caminhando até Masato. “Mas como eu disse, você está sozinho. Poderia ter vindo acompanhado. Nem está usando seu fardamento para não atrair suspeitas. Está com tanto medo do que posso ter pego no seu computador?”

O garoto passou por ele. 

“Não brinque comigo, seu infeliz! Quem é você afinal de contas?”

“Ah, verdade. Você não saberia.”

Mayck moveu sua mão até a máscara em seu rosto e a tirou lentamente, logo virou-se para o incrédulo Masato, que arregalou os olhos ao ver quem era. 

“Ma-Mayck…?! O que é isso?!”

Masato quase largou sua arma e deu um salto para trás. Mas logo ele cerrou os dentes com força. Havia caído numa armadilha simples que Mayck criou para ele. 

Ao contar para Akari sobre o assassinato, ele acabou influenciando-a a hackear a polícia, já que era a única forma de obter informações sobre o paradeiro do assassino de sua preciosa veterana. Por isso, foi tão conveniente que a garota recorreu a ele em um momento tão crucial. 

Ao mesmo tempo, Mayck contatou Haruki, que, por sua vez, contou com o apoio de uma amiga hacker para invadir o computador de Masato no mesmo instante, estando em locais diferentes. 

Isso acabou alterando os planos originais, mas tudo estava conforme planejado até aquele instante. 

Hana seria a chave que mudaria aquilo tudo. 

“Masato-san, me diga o que você está buscando. O que pode ser tão importante assim que te faz trair sua própria família?”

Masato abaixou sua cabeça. Ele estava em um dilema. 

Droga… Esse moleque… como ele conseguiu me descobrir tão facilmente? Eu achei que estava com tudo nas mãos…

O plano final que foi bolado por Yang iria ser posto em prática em pouco tempo, mas isso foi por água abaixo…

Não. Ainda não. Ainda tenho uma chance. O plano que construí até hoje não pode ser desperdiçado dessa maneira. 

Se recompondo, Masato levantou a cabeça e encarou o garoto, que, até pouco tempo atrás, não passava de um moleque. 

“Haha… Você é esperto, Mayck. Conseguiu me encurralar desse jeito… Mas eu não vou ceder aqui. Tenho motivos que você não pode entender… você é só um garoto.”

Mayck inclinou sua cabeça, como se não entendesse o que estava ouvindo. No instante seguinte, um som estrondoso viajou pelo salão e uma bala assoviou perto de seu ouvido. Com reflexos quase perfeitos, Mayck inclinou sua cabeça e sentiu o projétil cortar o ar perto de sua bochecha e atingindo o banco atrás dele. 

Masato tinha sua arma empunhada a apontada para ele. Nenhum medo ou receio estava estampado em seu rosto, senão um sorriso perverso e decidido. 

“Impressionante. Yang me disse que não seria fácil, mas eu pensei que teria uma chance.”

“Convenhamos que suas declarações e ações não deixam mais nenhuma dúvida. Você realmente é um inimigo. Isso é decepcionante.”

“Eu vou te poupar de me contar como suspeitou de mim. Você é perigoso para o meu plano, mas eu não posso matá-lo aqui. Você é fundamental para o que estamos preparando.”

“Eu imagino.” 

Por estar sendo mirado diretamente por Yang, Mayck não tinha dúvidas de que ele o queria vivo. Caso contrário, ele provavelmente não estaria mais ali. A questão era outra. O garoto queria as respostas, mas não iria obtê-la tão facilmente. 

Frente ao homem, cuja máscara acabara de cair, ele se perguntava sobre qual seria a verdadeira natureza humana.

Mayck suspirou pesadamente e balançou a cabeça em reprovação. 

“Isso é ridículo…”

“Não. Não é. Um moleque como você não poderia entender os meus motivos.”

“Motivos mais importantes que sua família? Você sabe que o que está fazendo vai te destruir completamente”, Mayck disse. 

“Eu não me importo com isso a essa altura. Toda a minha vida foi dedicada a isso. Não interessa se alguém se machuca. Eu só quero recuperar o que perdi.” Masato abaixou sua arma e estendeu uma das mãos, deixando sua voz compassiva. “Por que não fazemos um acordo, Mayck?”

“Acordo?” Ele levantou uma sobrancelha. 

“Isso. Se aceitar, vou te revelar tudo e te mostrar também a verdade sobre esse mundo. E então? Não parece bom?”

Mayck ficou em silêncio e fechou os olhos por um segundo, depois observou a mão estendida do homem. Era óbvio que Masato estava apenas tentando prendê-lo em um trato falso, que, no fim, não resultaria em nada, e mesmo que resultasse, não importava. 

“Foi mal. Eu vou passar”, ele disse com confiança. 

O semblante do policial endureceu. 

“É assim mesmo?”

Ele levou a mão ao bolso e puxou seu celular. Seu intuito era fazer uma ligação para seu parceiro de batalha, mas um raio estridente vibrou o ar e destruiu o aparelho antes que a ligação fosse realizada, arrepiando todos os pêlos de seu corpo e deixando-o em choque. 

A parede na direção oposta à de Mayck se rachou e uma pequena cortina de poeira se levantou sob seus pés.

“Mesmo que tente, não vai ser possível. Ryuu não poderia vir até aqui.”

Masato rangeu os dentes. O ódio era visível em seus olhos.  

“De que merda está falando?”

“Você não viu o noticiário? O clima hoje é de tempestade de neve.”

O homem estava incrédulo e até perguntou se o garoto havia enlouquecido. No entanto, ele não tinha como saber se Mayck estava falando a verdade sobre a nevasca que começou de repente, e em questão de minutos, escondeu Tóquio sob a neve. 

“Vamos, Masato, o que você está buscando? Dependendo da sua resposta…” Mayck o olhou com olhos ameaçadores. “… você pode não sair vivo.”

Fúria queimava no peito do policial. Tudo o que ele queria fazer era saltar sobre o garoto e enforcá-lo até quebrar seu pescoço, mas a pressão invisível que sentia vindo dele o deixava inquieto.

Subitamente sua expressão mudou. Masato caiu em gargalhada, como se nada mais importasse. 

“Está certo, então. Já que você insiste nisso, eu vou contar. Mas eu não poderei deixá-lo vivo depois de tudo. Você é um pé no saco, afinal.”

Masato estava agindo totalmente diferente do habitual. Suas palavras e expressões não pareciam falsas. Era como se aquilo fosse ele de verdade.

Mayck pode ver que tudo sobre ele era falso. Suas relações, a amizade que ele tinha com Takashi e o amor por sua família. 

“Diga o que quiser.”

“Você sabe, não é? Qual a sensação de perder alguém que ama? Sim. É uma sensação horrível. Principalmente quando se faz de tudo para evitar. Mas o maldito destino não deixa nada ser tão fácil. É por isso que eu decidi me jogar no caminho mais difícil. Não interessa quem vai se fuder no final, eu vou cumprir meu objetivo, com certeza.”

“Mesmo que seja sua família?” 

“Família? Meu irmão foi minha única família, e quando voltar, vai ser a única de novo. É tudo o que eu quero. Assim que tirarmos a chave de você, então nós poderemos adquirir aquele poder. Isso vai ser a melhor coisa da minha vida.”

Mayck refletiu sobre isso por um momento, mas uma punhalada em seu peito fazia sentimentos desnecessários brotarem. De fato, ele estava completamente decepcionado com o ser humano chamado Masato. 

Ele era como parte da família, o melhor amigo de seu pai. Era tão ridículo que Mayck até achou graça e um sorriso surgiu em seu rosto. 

“Isso me entristece demais, Masato. Você realmente não se importa?”

“Eu preciso dizer mais? Ninguém além de mim sabe o quanto eu sofri pra chegar até aqui. Eu queria ter terminado isso quando você ainda era uma merda criança, mas não posso lutar contra o tempo. Porém, em breve, eu vou poder lutar contra a vida.”

“Resumindo, vocês estão buscando um poder capaz de ressuscitar pessoas?”

“Hahaha! Bingo. Nós viemos pesquisando isso há anos. Meu irmão, ele finalmente vai voltar pra mim. Eu o terei depois de tanto tempo. Ahh… Isso vai ser tão glorioso.” 

Masato abriu os braços como se recebesse algo dos céus. Por outro lado, o garoto só pôde expressar seu mais profundo sentimento de desapontamento.

“Eu acreditava em você. Parece que realmente não podemos confiar em ninguém além de nós mesmos. Sabe, Masato-san, até o último minuto você foi um exemplo pra mim. No começo, alguém digno, no fim, o que eu não devo me tornar. Isso é o que acontece quando os seres humanos são controlados por suas emoções: eles ignoram qualquer razão e só se importam com um bem que nem mesmo pode ser real.”

Era realmente decepcionante. 

“Você acha que suas palavras me afetam agora? Não tem nada que você possa fazer pra mudar isso. Apenas aceite. Você também queria que Alana retornasse, não é? A preciosa irmãzinha que você amava com todas as suas forças.”

“É. Eu amava sim. Claro que gostaria de tê-la comigo, mas eu não trocaria o que eu tenho agora por nada. Deixa ela vir.”

Mayck disse essas palavras, e quase imediatamente, uma voz chorosa e alta ecoou por toda a sala. Uma voz amargurada e cheia de dor, a qual clamava com todas as forças.

“Pai! Por favor… diga que isso tudo não é verdade!”

<—Da·Si—>

A nevasca se alastrou em poucos minutos, deixando a paisagem completamente branca. A neve já tinha mais de um metro de altura e os ventos chacoalhavam os cabos de energia como se fossem folhas. A visibilidade também havia caído em quase cem por cento, de modo que nem as luzes dos postes eram visíveis de forma clara. 

“Mas que droga… de onde veio isso do nada?!” Lutando contra a força anormal da natureza, algumas pessoas seguiam o caminho para a Tokyo Skytree. 

“Será que isso é coisa dele?!”

“Não é possível! Eu nunca ouvi dizer que ele tem habilidade relacionadas a gelo!”

“Então o que está havendo?!”

Eles não obteriam uma resposta tão cedo. No site dos caçadores, o Olhos Azuis disse que estaria na torre naquela noite para revelar sua identidade para os curiosos. 

A notícia repercutiu rapidamente e nenhum portador perderia esse evento épico; era como desafiar os portadores, a Strike Down e a Black Room de uma só vez, já que um alerta havia sido mandado para todos os caçadores antes, dizendo que eles arcariam com as consequências caso botassem a população em risco ou qualquer coisa do tipo. 

Àquela altura, dezenas, talvez centenas de portadores estavam reunidos na área da torre. 

Não havia necessidade de se esconder, por mais que alguns tenham preferido assim, então dava para ver uma multidão se formando sob aquele imenso tapete branco no meio da noite. 

Em um lugar não muito longe dali, um brilho forte incandescente derretia a neve ao redor — e também o asfalto — conforme seu usuário se movia. Em seu rosto, um sorriso, o qual estava carregado de emoção que mal podia ser contida. A lava fumegante, derretendo tudo o que tocava e exalando um odor de enxofre era sua marca registrada. 

Em outro, uma garota lutava incansavelmente para não ter seu guarda-chuva levado pela ventania. Apesar disso, ela tinha um sorriso em seu rosto. 

“Então é assim que vai ser, M-sama?”

Ela olhou para a luz da torre que tentava viajar por aquele denso manto de neve. 

Enquanto alguns sentiam a empolgação explodir em seus peitos, outros se sentiam totalmente insatisfeitos, indignados e irritados, com a fúria queimando em seus corações. 

Em meio a toda aquela ventania congelante e sufocante, todos puderam sentir uma energia palpável vindo da torre. A presença dominante ecoava pelo ambiente, roubando a atenção até dos mais distantes, como se mandasse um recado. 

Alguém falou com um sorriso extremamente empolgado, enquanto seus olhos tentavam alcançar uma figura no topo da torre. 

“Ele está aqui.”

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