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Capítulo 92 – Tirano Incandescente

Mayck olhou de relance para Merlin. Ele parecia bastante alerta, mas também muito apavorado, então o garoto se sentiu na obrigação de checar suas condições físicas e mentais, uma vez que Merlin só estava ali para ajudá-lo. 

“Ei, você tá legal? Pode ir embora se quiser”, disse ele. 

“Quê? Tá brincando? Essa é uma ótima oportunidade para eu mostrar as habilidades que aprendi com Otohiko-sensei. Eu não perderia isso por nada.” Ele sorriu, tentando se mostrar confiante, embora estivesse ofegante.

Mayck pensou que talvez ele não estivesse levando tudo muito a sério. Ele poderia perder sua vida em segundos se ficasse distraído.

A prova disso era o corte na máscara do próprio Mayck. Ele não sabia explicar bem, mas por um momento, ao tentar bloquear um golpe de Phantom contra seu rosto, usando sua espada, ela de repente se tornou algo como um holograma. Quando ele se deu conta, teve a sorte de se safar com apenas aquilo.

Eu me pergunto o que foi que aconteceu. Eu também senti que meu corpo ficou muito mais lento naquela hora. Será que foi uma habilidade dele?

Era possível, mas Phantom não agiu como se tivesse calculado aquilo. 

Por motivos de segurança, ele decidiu que iria evitar sua lâmina até que sentisse que era seguro. 

Por outro lado… é impressão minha ou o Merlin parece mais confiante desde a última vez que o encontrei?

Havia certa diferença no comportamento do garoto. Ele agia mais como uma criança normalmente, mas, para comparação, ele parecia mais maduro, mas só um pouco. 

Saindo de seus pensamentos, ele percebeu que uma nova onda de ataques estava vindo de vários lados. Merlin também percebeu, então eles se esquivaram com agilidade dos portadores que começaram a alvejá-los outra vez. 

Ataques vinham da direita e da esquerda; de cima e até de baixo, então eles precisavam quadruplicar sua atenção para não serem pegos por ninguém. 

Merlin estava fazendo jus ao seu ego. Ele estava lidando bem enquanto lutava sozinho contra outros portadores. O problema era que Mayck tinha que proteger a si mesmo e as costas dele, já que o menino mago não conseguia lidar com tantos de uma só vez.

Ele nem ao menos percebia quando era atacado por mais de um inimigo. 

Enfim, todo esse exercício estava ficando exaustivo. O número de portadores caía drasticamente, devido aos contra ataques de Mayck, mas os que restavam não desistiam de forma alguma.

Eles estavam completamente determinados a retirarem a máscara do garoto e ter sua recompensa, a qual eles nem sabiam se veriam. 

Mesmo que muitos estivessem apavorados ao ver o estrondoso poder do Olhos azuis. 

Uma espécie de laser foi disparado na direção deles. Mayck foi rápido em pegar Merlin pelo colarinho e pular por cima dos portadores para se esquivar; vários deles foram arremessados para o ar quando o raio atingiu o chão e explodiu, lançando pedras e erguendo poeira. 

O que era uma avenida perto da Tokyo Skytree há algumas horas, tornou-se um campo de batalha feroz, totalmente em ruínas, praticamente irreconhecível. 

A Strike Down teria muitos problemas para resolver. E tudo por culpa dele. 

Nikkie e Zero também deviam estar incrivelmente zangados. 

Ruby também ficaria quando descobrisse que ele levou Akari a enfrentar Ryuu. 

Quando ele parou pra pensar, tinha feito muita besteira apenas para cumprir seus objetivos.  

Ugh… isso me faz parecer com ele…

A ideia de ser como Yang o enojou.

Mayck concentrou-se em lutar contra os inimigos que vieram disparados até ele. Cinco deles portavam lâminas afiadas que brilhavam com os mais simples movimentos, os outros três pareciam estar usando habilidades de aprimoramento físico elemental, já que seus punhos brilhavam com fogo, água e vento. 

Whoosh!

Em um instante, Mayck desarmou os cinco e esquivou dos socos, que atingiram o chão e o explodiram poderosamente, deixando poeira no ar. 

Eles não são tão ruins… é um desperdício ter que trancar tantos deles. 

Portadores com diversas habilidades e IDs únicas. Cada um deles poderia ser um achado e tanto. 

No entanto, não era assim que seria. Todos que entraram naquela luta estavam atrás da recompensa. Todos movidos pela ganância. Não tinha como tirar proveito de um bando de mercenários se não fosse com dinheiro ou pelo medo. 

Mas tudo isso me parece muito trabalhoso. 

Se um dia tivesse que recorrer a isso, faria com perfeição. Além do mais, pensar em ser obrigado a pagar os outros por sua colaboração era, de certa forma, irritante. 

Mayck seguiu em frente como um raio, atacando com socos e chutes todos os que entraram em seu campo de visão. Seus chutes tornados varriam os portadores para todos os lados.  

Ninguém conseguia pará-lo. Eles estavam entrando em profunda indignação e desespero. 

“No meio de tanta gente… é possível que não haja ninguém que possa acabar com ele?!” Se perguntavam, frustrados. 

Mas aquela era a triste realidade. Nem mesmo Millicent e Edgar, com a ajuda de Phantom, puderam contê-lo e eles foram os que tiveram a melhor chance.

No entanto, foram os que Mayck mais alvejou. Porque se eles o continuassem atrapalhando, poderiam realmente matá-lo. 

Naquela batalha, o que valia era experiência e habilidades. Se houvesse algum adulto ali, provavelmente as chances de Mayck ser capturado seriam altas, mas eles não passavam de jovens que recém descobriram seus poderes. 

Em questão de experiência, Mayck era superior à maioria deles. Não apenas em tempo de uso da ID, mas também a experiência que ele adquiriu em suas batalhas no decorrer de sua vida. 

Além do mais, suas habilidades causavam danos exorbitantes na área. Demais até para um portador de alto nível. 

Aqueles últimos meses fizeram de Mayck um dos portadores mais poderosos de sua geração, sem dúvidas. 

Antes que eles percebessem, a tempestade de neve cessou e mais da metade dos portadores estavam no chão. Ora chamuscados, ora com ferimentos graves. 

Aqueles que estavam juntos carregavam seus companheiros. A esperança que havia entre eles no começo se despedaçou. 

Mayck parou sobre uma pilha de escombros e olhou ao redor. Seus olhos frios, como se mostrasse que ele estava decepcionado com seus inimigos. 

Esse pessoal… eu me pergunto se eles teriam alguma chance contra a Ascension. É claro que não…

Era impossível. A Ascension era um grupo antigo, criado com objetivos específicos. Portanto, seus agentes eram treinados com rigor e utilizando os métodos mais eficazes possíveis. Métodos que também serviam para o despertar completo de IDs. 

IDs eram o fruto de tudo o que se poderia chamar de alguém. Sua existência. Parte do seu ser e da sua alma.

Elas eram despertadas quando tudo em uma pessoa estava alinhado — sentimentos, condições físicas, emocionais e principalmente seu espírito. E nem sempre funcionava assim. Seus princípios ainda eram um mistério.

Por isso que os portadores tinham algo mais que as pessoas comuns. 

Podia-se chamar as IDs de maldições, então?

Em suma, aqueles portadores que estavam ali reunidos não eram muito além de jovens que tiveram muitas perturbações em suas vidas. Eles despertaram seus poderes como mecanismo de defesa, mas poucos conseguiram tutoria para se desenvolverem de forma correta. 

Era correto afirmar que grande parte deles poderia derrubar Ninkais de classe Pesadelo, mas eles poderiam se garantir contra aquelas criaturas estranhas que Mayck enfrentou?

O garoto balançou a cabeça em reprovação. 

Não é possível. Apenas isso. 

Uma lâmina brilhou perto do abdômen dele, mas parou de repente, ficando travada no ar. 

“<Manipulação de Alma>”, disse ele. Phantom havia sido capturado com sucesso, ficando impossibilitado de se mover. Sua máscara estava rachada na metade e suas roupas rasgadas. Ele havia se esforçado muito para lutar contra o garoto. 

Mas não foi bem sucedido. A invisibilidade dele era o maior problema, mas Mayck pôde contra-atacar apenas usando seus olhos para encontrá-lo. 

Rapidamente, Mayck moveu sua mão e o atirou para longe, como quem lançava uma pedra em de um rio. 

Algo que ele tinha aprendido com aquela bagunça, foi que, ao usar <Manipulação de Alma>, ele ficava impossibilitado de perceber outras coisas ao seu redor. Então, se a usasse, tinha que parar rapidamente. 

Uma ótima habilidade, mas que só funciona em um alvo por vez…

Mais do que isso, ele precisaria esgotar sua energia por completo. 

Ele procurou Merlin e o achou lutando contra um garoto, que usava uma espécie de arma em formato de cruz com uma lâmina gigantesca. Ele parecia estar lidando bem, mas estava sendo forçado a ficar na defensiva. 

Daquela forma, ele poderia acabar caindo em uma armadilha. 

Mayck, então, resolveu ajudar com alguns jatos de água pressurizada, que foram disparados como balas de uma arma de fogo e atingiram os braços e pernas daquele portador. 

O portador perdeu seus movimentos e Merlin pôde derrotá-lo com uma espécie de palmada no abdômen, que reluziu e atirou aquele garoto como uma bala. 

Merlin olhou para ele com um sorriso radiante e as mãos na cintura, como quem dissesse “viu só?”.

“Que ingênuo…” Ele suspirou. “Eles já devem estar chegando. Espero que cheguem logo, senão eu vou ter que continuar servindo de entretenimento por um tempo.”

Ele esperava as forças que subjugariam aqueles portadores malcriados, enquanto os mantinha por perto.

Tinha sido fácil até aquele ponto, no entanto, parecia que as coisas não mudariam sob circunstâncias nenhuma. 

Ou foi o que Mayck imaginou.

Como se expelido de um vulcão, um líquido denso, quente e brilhante caiu dos céus como um meteoro em cima de Mayck, o qual desviou imediatamente, assim que notou a aproximação. 

Uma forte onda de choque percorreu a área, a pilha de escombros foi reduzida a rochas vulcânicas, e Mayck observou com os olhos semicerrados para aquela matéria que tomou forma humana lentamente. 

Uma voz veio daquilo.

“Hahahaha! Será que eu posso me juntar a essa festa?”, disse Kazan, com sua risada esnobe. 

“Eu me perguntei o porquê de você demorar tanto para aparecer.” suspirou. 

“Você parece bem ansioso pela minha presença. Que patético.”

“Nada. Só ficou tudo mais desagradável.”

Os dois se alfinetaram. Dava para ver uma atmosfera tensa entre os dois. 

Merlin olhou de um para o outro. 

“Mestre… vocês se conhecem?”

“Não exatamente, mas sei quem ele é. Infelizmente”, Mayck respondeu com indiferença. 

Merlin estava atônito. Ele ficou boquiaberto e sua admiração por Mayck subiu um pouco mais. 

Então ele realmente está no topo? Para conhecer Otohiko-sensei e Kazan também. Os três mais fortes do ranking!

Seus olhos brilhavam quando ele percebeu que veria um embate de alto nível como aquele, seu coração ficou em êxtase. 

Percebendo a mesma coisa, vários dos portadores cerraram seus punhos e dentes. Agora que Kazan estava ali, não havia muito que eles pudessem fazer. Afinal, o homem ali era conhecido por ser um psicopata perverso, um assassino desprezível. 

Em cada lugar que ele passava deixava sangue, na verdade, não deixava restar nada de suas vítimas, apenas as marcas de seus ataques cruéis e impiedosos que restavam no ambiente.

Mayck já tinha ouvido falar sobre ele várias vezes pela boca de portadores que encontrava de vez em quando. Nunca ouviu um adjetivo bom para descrevê-lo ou elogiá-lo — não ouviu nada mais que ofensas e palavras de ódio. 

“Deixando sua irrelevância de lado, você deve estar feliz por essa chance, não é? Afinal, não precisou procurar por mim.” Mayck o provocou. 

“Não fique falando merda. Mas eu estou feliz, sim. Porque finalmente vou poder derreter cada osso do seu corpo.”

Kazan assumiu uma postura ofensiva e Mayck se preparou para um ataque, pegando a espada na bainha. 

Eu só espero que ela não me abandone de repente outra vez. 

Ele só tinha esse desejo. 

Porque seria decepcionante se ela desaparecesse na hora que eu fosse cortar a cabeça desse cara. 

Seus olhos brilhavam com um extrema frieza. De tantos inimigos que ele conseguiu pelo caminho, Kazan era um dos que ele mais queria ver morto — depois de Yang, obviamente. 

Kazan fez coisas horríveis em sua vida desde que despertou seus poderes. Mesmo sendo apenas um garoto, ele tinha prazer nos gritos de dor e agonia de seres vivos. Especialmente quando eles eram queimados. 

Foi isso que deu origem a sua ID, chamada de <Incandescent Tyrant>. A mistura de sua personalidade distorcida e de sua obsessão com altas temperaturas. 

“Eu vou te bater e fazer você entender o porquê dos fracos terem de morrer. Você vai entender tão bem que vai desejar a morte por conta própria, otário.”

Ele riu alto. 

“Hmm… é mesmo? Eu duvido muito.”

“Hãn?” Kazan desfez seu sorriso e torceu o nariz. “Olha só o que você está fazendo. Pode não ter percebido, mas você pensa igual a mim. Apenas está se escondendo atrás de uma bondade falsa”, ele apontou. 

Bondade falsa… hein. Talvez ele tenha razão nisso. No entanto…

“Que ridículo. Eu não penso como você. Tenho certeza que, numa balança, eu pesaria mais que você. E não estou falando de peso, mas de importância. Não que você entenda.”

“Está tentando me irritar, desgraçado?”

“Você andou matando muita gente, Kazan. Pessoas que nem ao menos tinham problemas com você. Já que é assim, eu tenho problemas com você. Então não pense que vai mais longe que isso.”

O homem de cabelos alaranjados parou por completo. Seu rosto não demonstrava nenhuma emoção, mas apenas por um momento. Ele logo cerrou os dentes com força. 

Seus lábios se ergueram em um novo sorriso, porém, de desdém, os olhos ardendo com uma raiva que ameaçava transbordar a qualquer momento. 

“Que se foda… Eu só preciso matar você aqui. Então vou mostrar pra esses putos quem manda nessa merda. Só aí vocês vão se ajoelhar como as putas que são. Morra, Olhos azuis!”

Com um grito e um rápido movimento de mãos, Kazan fez erguer uma enorme quantidade de lava a partir do chão sob seus pés e a direcionou para Mayck, como uma poderosa enxurrada incandescente e de alta temperatura, que fazia tudo se tornar parte dela no caminho. 

Mayck desviou ao saltar e viu uma erupção diante de seus olhos. Foi apenas um instante que ele teve para desviar novamente, mas estar em pleno ar tornou isso um pouco difícil, mas ele escapou sem ferimentos ao usar habilidades de vento para mudar sua direção.

“Você até que é bom. Mas vai morrer de qualquer forma.” Kazan continuou a insultá-lo, enquanto prosseguia com uma série de disparos de magma que derretiam o chão até esfriarem. 

“Hahahaha! Aquela nevasca toda me preocupou, mas agora eu posso usar meus poderes à vontade.”

Apesar de dizer isso com confiança, ele não conseguia atingir Mayck uma única vez, já que o garoto corria velozmente diante de seus olhos. 

Não era uma velocidade que ele não pudesse enxergar, mas quando pensava que Mayck iria para um direção, ele fazia um pequeno movimento diferente e o fazia errar. 

Ele já estava com os nervos à flor da pele e começou a evocar suas habilidades mais poderosas. 

<Mar do Inferno> foi uma delas. Era como um tsunami incandescente que engoliu uma área gigantesca do local onde estavam. Muitos portadores não puderam escapar do mar de chamas fumegantes e tiveram seus destinos selados debaixo daquele tormento, sentindo sua carne e seus ossos derretendo, gritando em agonia.

Porcaria. Esse cara não perde uma oportunidade de matar alguém. 

Foi aí que Mayck percebeu que seu erro foi não ter matado Kazan antes. 

Por conta de sua atitude infantil, o massacre foi pior. Foi aí que ele começou a gastar mais energia para evitar que mais portadores fossem mortos pelos ataques inconsequentes e devastadores de Kazan. 

Em pouco tempo a área ao redor da Tokyo Skytree brilhava com a luz emitida pela substância com cheiro de enxofre. 

“O que há, seu merda?! Não falou que ia acabar comigo?!” Gritou. 

Mayck apenas o ouviu enquanto mantinha distância dos portadores que começaram a fugir. Pela primeira vez naquele dia, ele estava começando a ficar irritado. Mas respirou suavemente e recuperou sua compostura.

Ele flexionou suas pernas. 

Zzt!

Em instantes, ele rasgou o ar e golpeou Kazan com a lâmina de sua espada, desferindo um corte profundo em seu abdômen.

Mas como ele pensava, o golpe acabou sendo inútil por conta de duas coisas: a primeira, eram as roupas pesadas que Kazan usava. Elas eram feitas de algum tecido bastante resistente a cortes. O outra coisa era que debaixo das roupas, Kazan tinha uma pele dura, como se fossem rochas vulcânicas.

Mayck rapidamente tomou distância. Ele teria de ir com mais força na próxima investida. Porém, ele pensou que não queria matá-lo tão rápido. O que ele queria era fazer Kazan sofrer um pouco antes da morte. 

Talvez eu realmente não seja uma pessoa boa.

Suas decisões pendiam de um lado para o outro. Que ele mataria Kazan ali era um fato. O quão rápido ou devagar ele o faria era o cerne da questão. 

Se usasse toda a sua velocidade, poderia destruir o corpo de Kazan apenas com o choque entre os dois — mas ele também sairia ferido e ser ferido lutando contra Kazan não lhe parecia muito agradável. 

E onde estão eles? Estão demorando demais—

Antes de concluir seu pensamento, percebeu um silêncio bizarro nos arredores. O campo de batalha havia ficado em absolutamente silencioso naquele momento e o motivo estava claro como o dia. 

Nem mesmo Kazan conseguiu evitar estalar a língua de irritação ao ver o que estava acontecendo. 

“Que demora…” Mayck disse a si mesmo. 

Acima das ruínas dos edifícios ao redor, máscaras brancas foram clareadas pela luz da lua, que pairava no céu após a tempestade de neve ter cessado. 

Não era a quantidade que os portadores estavam acostumados a ver, então era justificável o seu espanto. 

Havia centenas, talvez beirasse milhares de agentes da Black Room. A quantidade estava maior devido à aliança recente entre as duas organizações. 

Além disso, Mayck percebeu o porquê da Black Room ser tão temida; a mera presença deles era tão silenciosa que ninguém podia prever o que aconteceria. 

Alguém morreria? Seria preso? Ou então vieram atrás de todos nós? Essas e mais outras questões rodopiavam as mentes dos portadores quase debilitados depois de enfrentarem Mayck. 

A verdade era que, quem pensou na última possibilidade, estava certo. Afinal de contas, todos os agentes sumiram em um piscar de olhos e quando eles se deram conta, dezenas de portadores já estavam contidos no chão.

Uma resistência desesperada se iniciou, assim que eles perceberam que teriam sua liberdade roubada apenas por estarem naquele lugar, presenciando e participando de um evento que se enquadrava como sendo ilegal, segundo as regras impostas pela Strike Down. 

Enquanto a operação prosseguia, alguns agentes saltaram sobre Mayck e Kazan. Suas armas prontas para o ataque. 

Com Mayck não houve nada, mas Kazan foi derrubado facilmente pelos agentes que nem pareciam ser portadores, eram soldados rigorosamente treinados para serem agentes de, pelo menos, nível 2. 

Vai ser isso? Kazan foi capturado tão facilmente?

Mayck inclinou sua cabeça. Por que ele levou tanto tempo? Se soubesse que acabaria assim, era melhor ter tirado a vida do homem da lava antes. 

Entretanto, o corpo de Kazan começou a derreter e se espalhar pelo chão. Os agentes mais próximos se afastaram imediatamente, mas aqueles dois que o seguravam não conseguiram escapar. De forma instantânea, seus uniformes começaram a queimar e pouco depois sua pele. 

Os uniformes eram resistentes ao calor. Isso era algo que Mayck e qualquer um poderia afirmar. Mas então por que não estavam aguentando o calor daquela substância incandescente?

“Aaargh!” Eles gritaram, tendo seus corpos consumidos pelas poderosas chamas que nasceram da alta temperatura e se espalharam num piscar de olhos. 

Gritando de dor e agonia, eles trocaram pelo chão, numa cena apavorante. Os mais empáticos sentiriam dor em suas almas vendo isso. O sofrimento deles era muito grande, poderia ser dito por eles que aquele era o verdadeiro inferno. 

Nada puderam fazer a não ser assistir os últimos segundos de vida daqueles dois agentes. 

Kazan, com seu corpo transformado em lava, correu pelo campo de batalha até Mayck, deixando, atrás de si, um rastro de chamas e pedras derretidas. 

Antes que ele alcançasse seu alvo, mais dois agentes entraram em seu caminho, suas lâminas afiadas cruzaram com o corpo de lava, mas foram derretidas instantaneamente. 

“O quê?-” Eles ficaram surpresos, mas antes que pudessem reagir corretamente, foram esmagados no chão e seus rostos foram cobertos com a lava, queimando-os até a morte, fazendo-os berrarem e se contorcerem em agonia até o último segundo de força e vida. 

“Não fiquem se metendo, bando de lixos!”

Ele mudou sua direção e seguiu em frente para atacar os demais agentes que estavam perto.

Seu corpo de substância vulcânica se movia incrivelmente rápido. Porém, antes que ele fizesse contato com o agente, houve uma explosão de vapor em seu rosto e ele recuou. 

Mayck estava de pé diante dele. 

“Filho da puta…” Kazan rosnou. 

O pé direito de Mayck estava envolvido por uma esfera de água, que girava tão rápido quanto um redemoinho. Ele usou isso para atingir o corpo indestrutível de Kazan. 

“Eu não vou deixar você matar mais ninguém”, disse Mayck. 

“Kukuku… é mesmo? Você me pegou de surpresa ao usar um elemento diferente, mas um truque desses não vai funcionar de novo.”

Confiante em suas palavras, o homem de lava se preparou para saltar sobre ele. 

Mayck respondeu. 

“Eu me pergunto. Nesse momento, você é como a própria lava de um vulcão. Tem uma temperatura extremamente elevada.” Ele levantou uma mão para o alto. “Mas o que aconteceria se uma quantidade superior de água caísse em você sem parar por alguns minutos?”

Acima de sua cabeça havia uma gigante esfera que girava como uma espiral. O som de água sendo agitada podia ser ouvido, juntamente ao seu brilho azulado. 

Seu plano era resfriar a lava e transformar o corpo de Kazan em rocha, embora ele não tivesse certeza de que funcionaria corretamente.

A enorme esfera foi lançada sobre o corpo de Kazan. Estava próximo demais para ele desviar, então sua única saída foi desativar sua habilidade quando teve a oportunidade. 

Smash!

Assim que a água caiu sobre sua cabeça quase o afogando, ele foi surpreendido por um soco poderoso em seu abdômen, que o fez ser atirado para longe dos demais. 

A água esfriou os resquícios de lava e apagou as chamas no campo de batalha, criando pequenos alagamentos nas áreas com crateras maiores. 

“Porra…! Seu desgraçado…”

Kazan tinha se chocado contra um prédio em ruínas, fazendo mais dele cair. Seus olhos se arregalaram de raiva depois que ele cuspiu um pouco de sangue. 

O verdadeiro objetivo de Mayck era fazê-lo desativar sua habilidade, realmente. 

Caso a água resfriasse o corpo de Kazan, ele simplesmente voltaria depois, já que apenas a parte de fora seria transformada em rocha. Sendo assim, era apenas gasto de energia, então o garoto optou por uma armadilha. 

Kazan se levantou enfurecido, rosnando alto e limpando o sangue de sua boca. 

Esse maldito…! eu vou matá-lo com certeza e vou arrancar essa máscara do seu rosto. Depois vou fazer toda a sua família sofrer também!

A raiva queimando mais que sua lava. Kazan disparou contra Mayck com seus punhos brilhando com uma luz avermelhada e tentou desferir alguns golpes. Mayck se esquivou deles e logo revidou com um chute tornado, revertendo a situação e atingindo alguns socos nele. 

Kazan não pôde se defender, então tentou revidar ao ter a chance. Mayck, porém, desviava agilmente, como se eles estivessem dançando uma coreografia, muito bem treinada. 

Mayck lhe deu outro chute de frente no abdômen e tomou distância. Kazan, com os nervos à flor da pele, pisou forte no chão, que tremeu em seguida, como um pequeno terremoto. 

As rachaduras começaram a emitir a mesma luz incandescente, a temperatura subiu e o cheiro de enxofre impregnou as narinas de quem estava próximo. 

Mayck se preparou para o pior. Segundos depois de um berro do seu oponente, os escombros foram erguidos e lava foi expelida para o ar a partir das fendas no chão. 

“Tsk.”

Mayck começou a saltar pelos escombros antes que eles derretessem, tomando o devido cuidado para não ser atingido pela lava expelida. Não era difícil, mas ele estava começando a ficar irritado por causa do calor, também. 

“Tente sair disso, seu merda! Eu não vou deixar você prosseguir ainda mais—” Kazan estava sorrindo, convencido de sua própria força, mas antes que ele terminasse de falar, o pé direito de Mayck atingiu seu rosto fortemente, movendo-o de onde ele estava para um lugar mais longe. 

“Por que não para de falar um pouco?”

Kazan definitivamente era forte. Seu problema era seu orgulho que não o deixava lutar com força total. Ele estava se recusando a admitir que Mayck era forte. Então, Mayck iria ferir esse orgulho, para que valesse a pena matá-lo. 

Kazan caiu sobre uma das fendas e foi atingido por sua própria lava, mas não era como se isso o afetasse negativamente; pelo contrário, só o fazia recuperar parte da energia perdida ao adentrar seu corpo através do calor. Era uma das suas habilidades passivas mais poderosas. 

Então porque ele não usava sua força total? O motivo era o mesmo. 

Antes dele se recompor, Mayck se aproximou rapidamente e começou a golpeá-lo sem piedade, fazendo-o cuspir sangue. 

Depois, agarrou o braço direito dele e girou, usando uma técnica de arremesso, deixando Kazan no chão. Ele com certeza sentiu as dores do impacto, já que sua expressão facial se contorceu. 

“Ugh—!”

“Você fala demais. Eu penso como você? Que piada. Você é apenas um moleque que quer aparecer e ser reconhecido”, Mayck o provocou com essas palavras e teve um efeito melhor do que o esperado. 

Os olhos de Kazan se arregalaram ainda mais, como se fosse saltar de seu rosto. 

“Cala essa porra de boca!”

Ele bateu no chão e houve um estrondo. Novamente, o chão se abriu e mais lava foi expelida, porém, num grau mais elevado. Quem estava na área acabou sendo pego pela lava. Parecia que aquele lugar havia se transformado num verdadeiro vulcão. 

Mayck recuou. Kazan tinha sido pego pela lava e desaparecido. 

O que ele vai fazer agora?

Independente do que fosse, o garoto já tinha deduzido que seria inútil. 

“Já que você quer tanto, eu vou mostrar a você, seu pedaço de lixo! Essa é uma das minhas habilidades mais poderosas e ela vai consumir você e todos esses malditos vermes que estão aqui! <Incandescent Tyrant>!”

A lava se ergueu como um trono abaixo dele, subindo alguns metros de altura. O calor extremo podia ser sentido há vários metros de distância e derretiam qualquer coisa possível ao redor. 

Era uma visão magnífica e assombrosa. Aquele pilar de lava parecia coisa de outro mundo. 

Com comandos simples, aquele pilar expeliu jatos de lava um atrás do outro que perseguiram Mayck com um poder explosivo e começou a bombardear por toda a parte. 

Mayck correu para desviar de cada um deles. Dessa vez, ele sentiu que a dificuldade tinha aumentado consideravelmente. 

“Agora sim.”

****

Após algum tempo, o campo de batalha tinha sido preenchido por chamas e lava vulcânica. Parecia um lago de fogo. 

Uma pequena parte dos portadores já tinha fugido de lá. Os outros haviam sido capturados pelos agentes. Mesmo os que estavam desacordados foram levados sem exceção. Outra parte já fazia parte daquele lago infernal. 

O pilar permanecia inabalável e continuava disparando seus jatos poderosos, que derretiam tudo instantaneamente. 

Agilmente, Mayck se esquivava deles e seguia em frente, na direção de Kazan.

Ele estava começando a sentir a fadiga se apossando dele, então tinha que acabar com aquele embate logo. Além disso, ele estava surpreso com o próprio desempenho, sem saber se era impressão ou não. 

Parece que eu resisti por mais tempo. Minha resistência aumentou? Ele perguntou. Isso não importa agora. Parece que a única forma de desativar isso é derrubando o usuário. 

Tudo no seu devido tempo. Ele abandonou o pensamento e correu até a base. 

Kazan recuperava energia com a lava, então ele poderia continuar infinitamente usando aquele poder devastador. 

Ao chegar na base do pilar, Mayck olhou para a lava subindo, mas não indo a lugar algum. Era realmente um fenômeno misterioso, mas se tratando de IDs, qualquer coisa que fugisse da compreensão humana era totalmente comum. 

“Certo. Agora…”

Mayck flexionou suas pernas para baixo e saltou, deixando uma eletricidade destrutiva para trás. Em segundos, ele alcançou o topo, e assim que viu Kazan, projetou um <Canhão de Eletricidade> à sua frente. 

Kazan não teve tempo de esboçar uma reação. O disparou ofuscou seus olhos e explodiu um ruído grave em seus ouvidos. Kazan foi arremessado de seu trono com seu corpo chamuscado e paralisado. Suas costas bateram fortemente contra as paredes e atravessou alguns prédios antes dele perder velocidade e cair no chão com o corpo rígido. 

Mayck seguiu após ele, caminhando calmamente. Sua espada em sua mão direita, reluzindo com faíscas elétricas que vibravam no ar em volta. 

Se isso pareceu assustador aos olhos de Kazan? Na realidade, não. Tudo o que ele via o deixava cada vez mais irado, e não poder se mexer corretamente incendiava seu furor.  

“Maldito…! Eu vou te fazer pagar por isso! Não pense que acabou!” Trêmulo, ele usou sua força de vontade para se levantar. Mayck o elogiou por isso. 

O canhão de antes tinha poder o suficiente para desligar o cérebro dele, mas Kazan foi capaz de resistir e se manter consciente. Era algo que só um portador de alto nível poderia fazer. 

“Como eu disse, você fala demais. De que adianta me ameaçar nesse estado? Você usou sua ID, mas eu consegui me sobressair. Ainda se considera forte?”

Mayck parou no meio do caminho. 

“Eu não estava lutando com toda a minha força! Se eu fizer isso, você com certeza vai morrer dolorosamente.”

“Mas você não usou por quê? Está com medo de algo?”

O corpo de Kazan estremeceu, ele rangeu os dentes. 

“Você— Não seja um imbecil. Quem poderia me deixar com medo, seu rato imundo?! Eu vou acabar com você! <Incandescent Tyrant>!”

Ele rugiu com todo o ar de seus pulmões. Sua pele endureceu como rochas e vários traços, como veias, brilhavam com uma luz avermelhada. Sua boca e olhos brilhavam com luz branca e quatro presas enormes habitavam sua boca, seu corpo emanando todo aquele brilho incandescente e aumentando a temperatura ao seu redor. 

A verdadeira forma de sua ID foi revelada. Eram quase, não, era totalmente um monstro. A aura em sua volta era ameaçadoramente gigante — ele finalmente estava usando todo o seu poder. Era realmente digno de um portador de nível 5.

Num instante, ele encurtou a distância entre ele e Mayck, sua mão direita fechou-se e caiu sobre Mayck como um pedaço gigante de metal. Mayck se esquivou saltando para trás, e o chão abaixo deles se abriu com o golpe e explodiu, jorrando lava para o ar. 

Assim que chegou ao chão, Mayck se apressou em avançar velozmente contra Kazan, com sua espada em punhos, pronta para cortar seu oponente. 

Ele arrancou fora o braço direito de Kazan, que foi regenerado quase no mesmo segundo.

Um calor escaldante passou perto de sua bochecha, depois que Kazan socou o ar em sua direção. 

Se não fosse a diferença de velocidade e reflexos, Mayck teria seu rosto e crânio derretidos na hora. 

“Agora vale a pena lutar contra você. Pensei que você fosse apenas hipérboles e falácias”, Mayck jogou outra provocação enquanto desviava de outro jato de lava. 

“Não fique se achando só por isso! Eu ainda não acabei.”

Como um martelo, ele juntou as mãos e bateu no chão, criando outra rachadura até Mayck, que ainda não havia chegado ao chão. Ele foi pego pela lava que foi expelida abaixo dele e subiu vários metros no ar, com um estrondo. 

“O que acha disso, filho da puta?!” Kazan gritou com um sorriso doentio. 

“Foi bem interessante, realmente. Mas não o suficiente para acabar comigo.”

Mayck girou seu corpo com o pé direito levantado e atingiu a lateral de Kazan, arremessando-o contra outro prédio ao lado. 

Uma cortina de poeira nasceu do impacto e só não escondeu Kazan por conta do seu corpo brilhante, que reluziu no meio daquela poeira.  

Mayck deu um passo até ele, dois passos, e caminhou até Kazan, que se levantou com dificuldades. 

“Porra… Eu vou te mandar pro inferno!”

Ele avançou rapidamente contra Mayck, mas o perdeu de vista. A lâmina brilhou perto dele e seus braços e pernas foram cortados sem que ele percebesse. 

O corpo desmembrado dele caiu, mas já estava pronto para se regenerar outra vez. 

Mayck, porém, não deu descanso a ele e já o atacou novamente, chutando ele por sua lateral, o jogou para cima, em seguida, girou e o chutou de volta para o chão com uma força extraordinária, destruindo mais ainda o chão no processo. 

“Sabe, Kazan, as coisas funcionam diferente do que você imagina. Os fortes sempre vão querer oprimir os fracos, eles apenas tendem a suprimir este desejo”, disse Mayck, vendo seu oponente se regenerar mais lentamente. “Você disse que quer um mundo onde apenas os mais poderosos sobrevivem, correto? Qual o objetivo? No final, todos deixariam de ser humanos e seriam consumidos por si mesmos.”

Não havia paz em um mundo assim. Qualquer pessoa podia entender isso, mas a cabeça de Kazan funcionava de uma forma diferente. 

“Cala a boca! Você é um imbecil por não entender. Qual a graça de ter poderes se não pode usá-lo até o limite?!” Ele gritou enquanto seu corpo se regenerava. 

“A graça não está em usá-los, mas em como usá-los. Está vendo? Nós não pensamos de forma igual.” Mayck balançou a cabeça em reprovação às palavras dele. 

“Ridículo… ridículo! Você é patético, Olhos azuis! Não consegue enxergar que nós somos uma versão evoluída dos humanos?! Somos melhores em tudo! Podemos fazer tudo sem eles! Então porquê protegê-los? Se são lixos, devem ser descartados.”

Kazan estava confiante em suas palavras. Seu desejo de destruir os mais fracos era uma das coisas mais genuínas que Mayck já tinha visto. E esse era um pensamento que ele não queria tolerar. 

Kazan era muito perigoso para ser deixado livre. 

“É esse seu ideal doentio que vai destruir tudo. Kazan, você superestima seus poderes. Em um mundo como esse, você, com certeza, morreria rapidamente. Porque alguém como eu iria até você.”

“Você não entende o que eu quero! Não passa de um verme que se importa com lixo!”

Com seu corpo já regenerado, ele avançou para cima de Mayck, direcionando um soco poderoso, mas ele teve seu punho agarrado pela mão esquerda de Mayck, que permaneceu inabalável perante ele, mesmo que o calor estivesse queimando sua mão totalmente. 

Kazan engoliu a seco. Ele estava atônito. 

“Kazan, você tem noção de que é mal?” Mayck fez pressão no punho dele. 

“E por que eu deveria me importar?! Eu sou forte! Tenho poder para acabar com qualquer imbecil que aparece no meu caminho. Eu quero que se foda se eu sou mal ou bom, apenas estou aqui para bater em todo mundo e mostrar quem é o foda de verdade. O que tem de errado em usar meus poderes para mim mesmo?!”

Kazan tinha um olhar determinado em seu rosto. Aquelas palavras estavam saindo do fundo de seu coração o que deixava tudo pior. 

Se aquela fosse sua filosofia de vida, então mudá-la não seria uma tarefa fácil. E Mayck não estava nem um pouco disposto a isso. 

“Não tem nada de errado. Mas, a partir do momento em que você afeta negativamente a vida de outras pessoas deliberadamente, você é alguém que deve ser parado. Sua história acaba aqui, Kazan.”

Ao dizer as palavras Moonlight Nightmare, Mayck jogou Kazan para cima com sua <Manipulação de Alma> e o parou em pleno ar. 

Kazan gritou de raiva, ordenando que o garoto o soltasse, porém, ao invés disso, ele projetou um círculo azul na frente de Kazan, pronto para disparar. 

Os dentes dele estavam tão apertados que poderiam quebrar uns aos outros. A raiva em sua alma era tanta que machucava sua pele. 

Como?! Ele perguntou a si mesmo. 

Seu poder deveria ser o suficiente. Ele estava consciente disso. Desde que se lembrava, ele tinha um ótimo domínio sobre seus poderes. Sua experiência e habilidades eram sem igual. Mas ali estava ele, sem forças para resistir. A energia que lhe restava acabou, sua transformação se desfez. 

Os ruídos elétricos daquele canhão brilhante o ameaçavam. 

Eu não posso morrer… eu cheguei tão longe nessa merda, pra perder desse jeito patético?! Não fode comigo, porra!

Ele estava amargo. Seus sentimentos explodiam em sua mente. Após tantos corpos que ele deixou em sua trilha, a realidade veio para cobrar o preço.

“Eu vou matar você! Eu vou voltar do inferno para acabar com você do pior jeito possível, Olhos azuis! Esteja preparado! Saiba que o mundo de merda que você está tentando proteger vai cair e isso porque vocês não conseguem entender algo tão simples!” 

Seus berros incontroláveis pareciam os de uma criança dramática. Kazan não temia a morte. Não porquê ele aceitaria ela tranquilamente, mas porque ele acreditava que não existia ninguém capaz de pará-lo — esse era o tamanho de sua arrogância e orgulho. 

Entretanto, chegou alguém e havia muitas outras que poderiam barrar seu caminho. Era ele quem não se preocupava em pensar sobre isso. 

Mayck o ignorou. Não havia necessidade de ouvir aquelas palavras patéticas. 

“Adeus”, ele disse e estalou os dedos. 

O laser azul ofuscou toda a área em que eles estavam, causando um estrondo enorme e super poderoso, que fazia seus efeitos serem sentidos mesmo no chão, a alguns metros de distância.

Sem remorso, sem arrependimentos. Mayck observou a luz do canhão diminuir até desaparecer por completo, deixando tudo silencioso comparado a alguns segundos. 

O corpo de Kazan desapareceu. Era um problema a menos para se preocupar. Seus objetivos? De acordo com o que Mayck ouvira, não tinha nada além de um cara que queria brincar de matar pessoas e se gabar com seus poderes extraordinários. 

Se havia um outro motivo por trás, era outra questão, mas o garoto não se mostrou interessado.

***

Com seu objetivo terminado, ele deu as costas e prosseguiu para o campo de batalha anterior. A lava e as chamas que estavam ali desapareceram magicamente, só restou a destruição causada pelos portadores e pelo próprio Kazan. 

“Zero vai ficar maluco.” Mayck coçou sua cabeça, imaginando o trabalho que seria para restaurar aquele local. 

No fim, ninguém foi capaz de tirar a máscara dele. Sua identidade ficaria segura por mais algum tempo. Isso se um certo alguém não abrisse a boca. 

“Que bela bagunça. Eu deveria te punir por isso.”

Mayck se virou para a voz atrás dele e encontrou Nikkie, carregando uma espécie de manto vermelho sobre seus ombros, cobrindo suas roupas militares. 

“Me dá um tempo… Eu peço desculpas depois.”

“Não quero saber de desculpas. Quando voltarmos, você vai ter um novo tipo de treinamento”, ela disse friamente. 

“Hmm… eu estou curioso, mas receio perguntar o que é…”

“O quê? Não se preocupe tanto. Só vou fazer você ter um pouco mais de bom senso e aprender a viver em sociedade.”

Mayck expressou um sorriso amargo para a resposta de Nikkie. Ela estava falando sério, no entanto. 

“O que você planejava com isso, hein?”

“Meus planos… é? Em boa parte foi porque eu estava sendo infantil. Por outro lado, eu queria abafar um pouco o caso dos desaparecimentos.”

“Fazendo algo tão chamativo? Isso não me parece nenhum pouco discreto.”

“Hahaha… você deve ver os resultados depois de arrumar isso tudo.”

Nikkie lançou-lhe um olhar ameaçador, mas suspirou em seguida. 

De fato, Mayck esperava que os resultados de suas ações se manifestassem nos próximos dias. Não sairia perfeitamente, claro, mas, pelo menos, os problemas principais seriam abafados. Estava longe de ser um plano perfeito. 

“Deixando isso de lado, eu encontrei aquela garota, Hana Tsubaki. Ela me pareceu bastante abalada, além de estar sozinha.”

Mayck levantou uma sobrancelha. 

Aquela garota não devia estar com ela?

“Hmm… eu me pergunto como foi o desenrolar das coisas para ela.” Mayck piscou brevemente, se virou e começou a caminhar na direção oposta. 

Depois de todo aquele exercício, tudo o que ele queria era descansar em casa, enquanto os agentes da Strike Down reparavam todos os danos perfeitamente. 

Porém, antes que ele se afastasse mais, Nikkie o chamou e disse:

“M-san, você tem que tomar cuidado com suas ações. Mesmo que ela beneficie várias pessoas, elas podem acabar destruindo você mesmo.”

Mayck acenou com a mão em resposta. E continuou em frente. Um sentimento vazio tomava conta dele. Por certo, sua energia estava chegando ao fim, mas também havia aquela misteriosa sensação de perda. 

Será que eu vou ficar bem?

A pergunta ecoava em sua mente de forma cruel. 

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