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Capítulo 36: O emblema amaldiçoado.

Tudo estava repleto de escuridão.

Seus olhos desfocados estavam lentamente se abrindo, permitindo que a luz penetrasse em seus globos oculares. Seu olhar estava direcionado para o chão, o solo era estéril, seco e sem vida, como as cinzas do crematório.

Ele levantou a cabeça e olhou para a esquerda, seu braço estava todo esticado, seu pulso amarrado por uma longa corrente preso em um poste de ferro. Todo o horizonte era sombrio e coberto de cinzas.

Ele olhou para a direita, seu braço direito também esticado e seu pulso amarrado por correntes presos em um poste de ferro, na palma de sua mão direita estava presente uma marca de cor preta, com 12 casas formando um círculo, com o centro vazio. Era a marca do emblema amaldiçoado.

Ele então olhou para frente, um brilho carmesim preenchendo sua visão.

Era como se houvesse um corte no próprio espaço criando um buraco, uma nuvem vermelha como sangue preenchendo ao redor, e o centro de seu interior parecia distorcido.

Um portal do submundo.

A pessoa estava de joelho de frente ao portal do submundo, com os dois braços amarrados por correntes, impossibilitando sua escapatória.

Depois de um tempo uma mulher apareceu bem ao seu lado, ela vestia uma túnica religiosa um pouco reveladora, seu longo cabelo loiro chegava até as costas, mas não era possível ver seu rosto porque parecia embaçado.

“!#Selar %&%$portal%$&&%.”

A mulher parecia dizer algumas palavras que pareciam estar sendo ocultadas. A pessoa ficou olhando para aquela mulher com fúria nos olhos. Mas depois de um tempo ele olhou para o portal como se estivesse possuído e começou a falar, seu emblema começando a brilhar.

“#$%#Selar.”

Depois de suas palavras, um círculo mágico surgiu em frente da fenda. O círculo mágico começou a girar, e o portal parecia estar sendo absorvido pelo círculo mágico.

Os olhos da pessoa estavam gradualmente se fechando até apagar por completo.

Seus olhos voltaram a abrir, desta vez encontrando-se em cima de um altar, seus dois braços ainda amarrados por correntes enquanto estava sendo mantido de joelhos.

A aparência da pessoa era diferente da anterior, ele tinha a pele mais bronzeada, mas na palma de sua mão direita ainda tinha a marca do emblema-amaldiçoado.

Ele olhou para baixo.

Por baixo dele, do altar, várias pessoas vestidas de robe vermelho estavam de joelhos com a cabeça no chão, direcionados a ele. Enquanto na frente deles e de costas para o homem bronzeado estava um homem que parecia ser um bispo, também vestido com um robe ainda mais ornamentado, gritando aos prantos.

“#*##*Hoje*##*#**# Portal #* Submundo!”

Era como se ele estivesse sendo reverenciado.

Toda a atmosfera parecia sombria e fora do comum. Os símbolos espalhados por todo o salão eram enigmáticos e sinistros, parecendo reverenciar alguma doutrina diabólica.

Mas o mais surpreendente foi o enorme círculo mágico desenhado debaixo de seus pés, ou, de seus joelhos. Um círculo que abrange quase todo o altar. Era um vermelho tão forte que parecia sangue.

Haviam inúmeros corpos espalhados pelo salão, homens e mulheres de diferentes idades e tamanhos. Os corpos deles pareciam secos, porque seus sangues foram drenados e usados para desenhar os círculos.

“Abram o portal para o submundo!”

Depois das palavras do bispo, o emblema da pessoa começou a brilhar, e o círculo por baixo também começou a emitir brilhos.

“AHHHHHHH!”

O que se seguiu foi um alto grito vindo da pessoa antes de apagar.

Seus olhos mais uma vez voltaram a se abrir, encontrando-se de novo em frente a um portal. Desta vez em um local diferente e com a aparência da pessoa diferente, ainda com o emblema-amaldiçoado e com seus braços amarrados com correntes e de joelhos.

Mas depois de ativar o círculo mágico de frente ao portal, apagou mais uma vez.

Mas voltou a acordar novamente rodeado de pessoas de robe, acorrentado em um altar ao ar livre, diferente do salão de antes.

Os cultistas realizavam suas orações até seu emblema brilhar e apagar novamente.

E isto foi se repetindo e repetindo, era como um ciclo infernal e sem fim. Como se sua alma estivesse acorrentada pelo destino de solidão e sofrimento.

Tudo voltou a ficar escuro.

– Larguem-me, miseráveis!

– Me soltem!

– Deixem-me ir!

– Me ajudem!

– Socorro!

– Parem!…

– Isso dói!…

– Estou cansado!…

– Por favor, parem…

Gritos de lamento acompanhavam, seguindo-se com um gritos de fúria.

– Vou matar vocês!

– Eu vou matar vocês!

– Um dia eu vou matar todos vocês!

– Mesmo que dure dias, meses, anos ou milênios! Chegará o dia em que eu vou matar todos vocês!

– Cultistas demoníacos e grupos religiosos! Eu vou caçar e matar todos vocês!

– Vou matar vocês!

–Vou matar vocês!

– Vou matar vocês!

– Vou matar vocês!

– Vou matar vocês!

– EU VOU MATAR TODOS VOCÊS!

§§§§

Seus olhos se abriram bruscamente, revelando uma paisagem branca com partículas cintilantes brilhando por toda parte, como se fosse um lindo mundo dos sonhos.

“Onde estou?…”

Ken levantou lentamente a parte superior do corpo, enquanto começava a olhar ao redor.

Seu cabelo estava grisalho como um velho, seu corpo coberto de rugas e rasgões.

“Este…é o céu? Então estou morto?”

Era a única solução que lhe pareceu óbvia naquele momento. Depois de ter caído na enorme fenda onde já havia visto inúmeras pessoas caindo enquanto passavam pela corrida de obstáculos.

Era certo de que havia morrido, e mesmo se aquela queda não matasse, todo seu corpo estava repleto de ferimentos profundos e sua barriga havia sido perfurado por uma espada, muito sangue havia sido perdido, todo seu corpo se rasgou e seus ossos se partiram por conta do raio branco, e seu cérebro fritou literalmente.

Mesmo se não tivesse caído na enorme fenda, ainda assim morreria. Nem mesmo um super-humano conseguiria sobreviver depois de passar por tudo aquilo.

“…O quê? Porquê minha mão?…”

De repente, seus braços que apoiavam no chão branco e nítido começaram a tremer.

Ken estendeu os dois braços na sua frente, notando que elas estavam tremendo freneticamente.

“Porquê?…”

Foi então que aquelas visões de pessoas sendo amarradas por correntes em frente a um portal começaram a inundar sua cabeça.

“Ugh…o que eram aqueles sonhos?”

Ken começou a sentir náuseas depois de se lembrar daqueles sonhos. Puxando seu cabelo grisalho para trás, um sentimento conflituoso surgiu de repente.

Ken franziu a testa, apertando fortemente seu cabelo.

‘O que é este ódio desconhecido que estou sentindo de repente?…’

Depois de passar por tanta coisa depois de ser invocado, o que não faltava em Ken era ódio. Mas o ódio que estava sentindo agora era ainda mais profundo que qualquer outra coisa, sentindo como se fosse ser afogado em um mar de escuridão caso se entregasse completamente nela..

Enquanto estava preso nas suas próprias emoções.

*Cleng.*

“Hm?”

Sons de metais surgiram de repente, chamando sua atenção.

Ken olhou para a direção do som.

“…O quê?”

Seus olhos se arregalaram de surpresa depois de ver o que causou aquele som. Ele se levantou e continuou a olhar para aquela direção como se estivesse possuído. 

Não muito longe dele.

Inúmeras pessoas que formavam várias filas estavam andando em linha reta, eles não usavam roupas, mas o mais peculiar era que eles não tinham rostos e seus corpos pareciam ser feitos de luz.

Seus pulsos estavam amarrados por correntes de luz umas às outras, como se estivessem interligadas.

“O que é isso?”

Era uma cena indescritível. Eles pareciam almas que vagavam interminavelmente.

Para onde andavam não parecia ter fim, e de onde vinham parecia interminável. Eles andavam lentamente como se estivessem flutuando, como se seus pés nem sequer tocassem no chão.

Ke ficou hipnotizado por aqueles movimentos, até notar algo na palma da mão de um deles.

“Isto é!?…”

Seus olhos se arregalaram.

A única coisa que era de cor diferente do branco, um preto com uma marca conhecida, a marca do emblema amaldiçoado.

“…Porque eles têm o emblema amaldiçoado?”

Dúvidas e mais dúvidas não paravam de surgir na mente de Ken. O seu emblema-amaldiçoado, um corpo que rejeita propriedades sobrenaturais, ferimentos que se curam depois de um longo descanso, energia vital, aqueles sonhos estranhos e agora este espaço familiar, para além deste aglomerado de pessoas possuírem o emblema-amaldiçoado.

Eram tantas questões que chegavam a dar dores de cabeça. Era um mistério atrás do outro.

*Clang.*

Enquanto estava distraído em seus pensamentos, uma nova corrente se criou das correntes presas nos pulsos das pessoas de luz e voou em sua direção.

“O quê?”

Ken tentou se esquivar rapidamente desviando para o lado. Mas a corrente era ainda mais ágil, seguindo seu corpo até tocar seu pulso e prender-se nele. Mas não parou por aí.

Assim que a corrente prendeu-se nele, seu braço começou a ficar coberto de luz, assim como aquelas pessoas de luz que não paravam de andar.

Ken sentiu um tremendo arrepio na espinha.

‘Que sentimento é este? Não sinto meu braço.’

Era como se seu braço não fizesse mais parte de seu corpo, não, como se não fizesse parte dos vivos. Ela se tornou inexistente, assim como a vida deixava de existir.

‘Isto é perigoso, se esta luz chegar em todo meu corpo, definitivamente me tornarei como aqueles caras!’

Confiando em sua intuição, Ken rapidamente agarrou a corrente com a outra mão e tentou arrancar ela. Mas as coisas não aconteceram como esperava porque sua mão esquerda que agarrava a corrente também começou a ganhar luz.

“O quê!?”

Ele soltou rapidamente impedindo a luz de se espalhar, mas a luz a partir do pulso direito ainda continuava a contaminar todo seu corpo, chegando no pescoço até começar a cobrir metade de seu rosto.

“Não, espera!…”

Mas antes que todo seu rosto fosse dominado pela luz.

*Plack.*

 Alguma coisa surgiu de repente e quebrou as corrente que o prendiam.

“!?…”

A luz que consumia seu corpo deixou de se espalhar, deixando apenas metade de seu corpo coberto de luz. Era por muito pouco, Ken não sabia exatamente o que teria acontecido se todo seu corpo fosse consumido por aquela luz. 

Embora se sentindo aliviado, agora não conseguia sentir a metade de seu corpo. Era uma sensação estranha, como se metade de seu corpo fosse feito de prótese.

Ken então olhou para seu salvador.

Era um homem de meia idade quase velho, vestido com um quimono japonês de cor cinzenta e branco.

‘…O quê!?’

Mas assim que olhou para o rosto do homem, seus olhos se arregalaram de surpresa e uma raiva surgiu dentro dele, porque era um rosto extremamente familiar.

‘Pai!?’

Era um rosto que lembrava do seu próprio pai. Embora este parece uma década mais velho.

Seu cabelo curto grisalho era bem penteado, não tinha barba ou bigode.

O olhar do velho caiu sobre o Ken.

“…”

As pupilas de seus olhos eram de cor branca como um homem cego. Mas pela forma que olhava para Ken, mostrava que não lhe faltava visão.

Ken não sabia o que falar, porque embora estivesse furioso por ver um homem parecido com seu pai, não poderia tirar conclusões precipitadas.

“…”

Depois de ser encarado por algum tempo, o homem olhou para outro lado e começou a andar.

“Siga-me.”

Disse ele, enquanto caminhava lentamente.

“…”

Ken hesitou por um momento, mas logo começou a seguir o homem.

Não muito longe se encontrava uma mesa retangular de altura baixa sobre um tatami.

‘Um chabudai?’

Pensou Ken.

[Nota: chabudai é uma mesa de altura baixa de cultura japonesa, utilizada para acompanhamento de chá.]

Era estranho que uma mesa de chá estivesse presente no meio do nada. O velho andou até seu assento e sentou-se de joelhos, pegou o bule sobre a mesa e serviu chá em seu copo.

Os copos de cerâmica sobre a mesa tinham a forma ligeiramente cônica e não possuíam alças, eles tinham poucos detalhes e eram minimalistas, valorizando a beleza natural do copo.

O líquido verde do chá escorreu do bule para o copo, o aroma natural de folhas espalhando-se ao redor, fazendo cócegas no nariz de Ken. 

Depois de servir, ele também serviu em um outro copo.

“Sente-se.”

Desse ele depois de servir o chá, apontando para o assento à sua frente.

“…”

Ken não pensou muito e simplesmente também se sentou sobre o tatami, de pernas cruzadas.

O velho então pegou na lateral do copo com a palma da mão e a outra mão apoiando a parte de baixo, e começou a beber o chá.

“…”

Ken ainda não parava de tirar seu olhar de seu rosto.

‘Ele é realmente parecido com meu pai, mas…claramente não é ele, existem diferenças. Se fosse dizer com quem ele se parece mais, seria…Não, impossível.’

Ken balançou a cabeça para negar a ideia que estava achando ridícula, e o olhou novamente.

‘Seja quem for, ele salvou minha vida. Vamos primeiro saber sobre a situação que me encontro, então saberei sobre ele eventualmente.’

Ken pensou com cuidado, não deixando a fúria tomar conta de seu raciocínio.

“…Quem são eles?”

Ken perguntou.

Seu olhar enquanto fazia a pergunta estava direcionado nas pessoas de luz que não paravam de andar.

“São almas perdidas.”

“Almas perdidas?”

“Sim.”

O homem tomou um gole de seu chá, e continuou.

“São almas que infelizmente não têm para onde ir. Por isso estão destinados a um ciclo infinito à procura de um lugar que possam finalmente descansar. Ou que alguém possa encontrar para eles.”

“…”

Por alguma razão, Ken sentiu suas últimas palavras um tanto enigmáticas, como se quisesse esclarecer alguma coisa enquanto olhava para ele.

“Mais alguma pergunta?”

“…”

O homem permanecia indiferente desde o início, o que tornava fácil a comunicação.

“Que lugar é este?”

“O mundo das almas.”

“Mundo das almas?”

“É um lugar onde todas as almas passam antes de irem para o pós-vida. Ou quando querem ter uma reunião privada assim como nós, por assim dizer.”

“Então eu estou morto?”

“Se você tivesse morto não estaríamos tendo esta conversa. Então podemos dizer que estas meio-morto, claro, por enquanto.”

Disse o homem, enquanto tomava tranquilamente seu chá.

“…”

‘Por enquanto…’ 

O que quer dizer que, embora não estivesse morto, a morte ainda batia na sua porta. O homem na sua frente era como um guia de um tutorial, que tem o objetivo de fornecer informações do jogo para o jogador.

Sentindo-se mais à vontade, Ken olhou diretamente para os olhos do homem e perguntou.

“Quem é você?”

Embora as respostas de suas perguntas anteriores fossem fascinantes por si só, esta era a pergunta que Ken mais queria fazer.

O homem levou o copo à boca e deu alguns gols do chá. A ansiedade estava tomando conta de Ken, mas se segurou para não interrompê-lo.

Depois de alguns gols, ele finalmente abaixou o copo, e sem olhar para o Ken, respondeu.

“Sou um dos criadores do raio branco, e, o penúltimo portador do emblema-amaldiçoado.”

“…O quê?”

A mente de Ken havia parado por um momento, a informação que acabara de receber foi tão inimaginável que seu cérebro não conseguiu processar direito. Embora ele tenha finalmente respondido, foi algo que Ken estava longe de imaginar.

“Você o quê?…”

Para tirar suas dúvidas, o homem estendeu sua mão direita, na palma de sua mão estava presente a marca do emblema-amaldiçoado, mas sem a meia lua no centro, ao contrário do emblema de Ken.

“Você acredita agora?”

O homem então retirou sua mão e voltou a pegar seu copo de chá. 

Mas Ken ainda se encontrava incrédulo.

‘Ele é o criador do raio branco? E também o antigo portador do emblema amaldiçoado? Como assim? E o que um tem haver com o outro?’

Pensou Ken, dúvidas surgindo na sua mente.

“Você deve estar bem confuso, e também deve estar pensando qual a relação entre os dois, não é mesmo?”

“!?”

Ken se surpreendeu pela astúcia do velho, que parecia estar lendo sua mente.

“Não fique surpreso, é normal você querer saber a relação entre os dois, e claro, pretendo te contar tudo.”

O homem tomou mais um gole de seu chá e depois olhou para o Ken.

“Mas para isto, primeiro você deve saber da história por trás do emblema amaldiçoado. Uma história que foi escondida do mundo.”

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