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Capítulo 116 – Obrigada, meu salvador. X


 

❖ ❖ ❖

O estudante que ainda estava envergonhado por saber que o sistema podia ouvir todos os seus pensamentos, dirigiu seu olhar para o chão e ficou assim por um momento. 

Sua mente parecia querer retrucar esse fato, mas tudo o que podia fazer nessa hora era formar uma frase mentalmente inacabada diante daquela situação, frase essa que parecia perguntar algo como “É sério?”.

Por outro lado, estava Tyrant, ainda se admirando no espelho da sala, paralisada com a sua própria figura. Embora tenha xingado e sua expressão tenha mudado para perplexidade anteriormente, agora ela não parecia tão surpresa com o seu novo corpo. 

Ela sentiu uma sensação de despersonalização à princípio. 

Um sentimento de distanciamento de si própria, como se não pudesse ter controle de suas próprias ações. As suas pernas eram menores, as suas mãos sequer alcançavam o armário que ficava na parede, e sua aparência era totalmente estranha. 

Em consequência, houve um distanciamento afetivo. 

Porém, a parte interior dela estava emocionada ao saber que rejuvenesceu, mas, ainda sem conseguir se reconhecer totalmente no novo corpo. 

Sua expressão no rosto enquanto observava-se no rosto parecia querer dizer: “A pessoa na minha frente, refletida no espelho, não sou eu, mas ao mesmo tempo sou eu”. 

Ela parou de se encarar e virou-se para o lado, dirigindo sua atenção para o estudante que estava parado imóvel à sua frente. Ele não conseguia falar nada, estava somente pensando no sistema. 

— O que você… fez comigo, jovem? — Tyrant perguntou, com a mão no cabelo. 

— … 

— …  

— Eu te rejuvenesci — declarou ele momentos depois, após o silêncio subsequente. 

— Como assim me rejuvenescer? Você chama isso de ‘rejuvenescer’? — indagou a menina, abrindo a palma de suas mãos e apontando para o seu próprio corpo. 

Devido aos movimentos espalhafatosos de Tyrant, Rei e Kazuki acabaram por rir de suas expressões e gestos. 

— … 

Por conta disto, a vidente, que agora não parecia nada mais do que uma menina, ficou vermelha de vergonha, seu rosto corou e ficou cada vez mais vermelho. 

Ela encheu as bochechas de ar, então confrontou eles novamente, chegava a ser desconfortável vê-los rindo daquela forma de forma tão branda. 

— Vocês…! 

— Por que estão rindo de mim?! Pelos céus. Olha o que vocês me transformaram… Não sentem culpa por isso? — questionou a vidente, olhando enfurecida diretamente para as suas faces. 

Sua maneira de agir permanecia a mesma, mas a forma que falava era mais infantil: sua postura sempre retraída e ereta, se tornou como a de uma criança. E até o tom de sua voz sofreu uma alteração… Era uma pessoa completamente diferente agora. 

Rei, após perceber que Tyrant estava irritada com as suas risadas e de Kazuki, interrompeu os incessantes risos e gargalhadas, dando uma pequena cotovelada em Kazuki, para que o mesmo parasse também. 

— Peço desculpas por isso Tyrant. Aconteceu justamente um erro na hora que eu fui te rejuvenescer, foi mal por isso. Não foi a minha intenção te transformar em uma criança, era para você ficar apenas alguns anos mais jovem, me desculpe — respondeu Rei da melhor maneira que conseguiu encontrar, olhando diretamente para a menina. 

Após escutá-lo, a menina percebeu pelo timbre de voz que ele possuía boas intenções, mas o processo acabou de alguma forma sendo alterado. 

Pensando melhor, ela não entendeu como seu corpo ser revitalizado daquela maneira absurda. Era como se tivesse voltado no tempo. 

Apesar de seu coração estar extremamente acelerado, a vidente, imersa em pensamentos, fechou os seus olhos por alguns segundos. 

Deliberadamente tomou fôlego o suficiente e baixou o tom de sua voz, respondendo um momento depois do silêncio. 

— Está tudo bem. Eu que me exaltei, peço solenemente desculpas também. 

— Preciso dizer que foi um susto repentino, isso é inegável. Mas, pelo que percebi, vocês tinham boas intenções. — declarou calmamente, deixando soltar um pequeno suspiro. 

Ela sentou-se na cadeira que estava ao lado e então continuou com a declaração. 

— Mas isso não explica o porquê de você conseguir praticamente me reviver. Isso não é um ‘rejuvenescer’, vocês literalmente me reviveram. 

— O que foi isso? — perguntou sem conter a curiosidade, observando com interesse a resposta que o garoto diria no momento seguinte. 

Hesitantemente, Rei pensou sobre isso por um tempo, mas decidiu que seria melhor responder honestamente: Afinal, já tinha mostrado a sua habilidade para ela. 

O garoto relatou que na noite anterior conseguiu fundir duas de suas habilidades, para que assim, pudesse formar uma nova e ajudá-la. 

Ele naquela hora deduziu que talvez a junção da habilidade de super cura e hemomancia, formaria outra habilidade relacionada a uma habilidade de retrocesso ou rejuvenescer.

No final, sua teoria se comprovou correta. E com essa nova habilidade, denominada Tato Divino, ele decidiu ajudá-la sem nenhum motivo.

Seu pensamento era de que talvez Tyrant pudesse ter uma 2° chance de viver. Conseguir viver de uma maneira mais ampla, sem ser reconhecida e perseguida constantemente, viver de forma autônoma, não precisando guardar memórias fatídicas de seu passado. Conseguir sentir a vividez. 

Assim que Rei terminou o seu relato, Tyrant percebeu que algumas lágrimas de seu rosto escorriam involuntariamente. Ela não entendeu o porquê disso acontecer, mas finalmente se permitiu aceitar a sua nova realidade.  

Foram raras as vezes que alguém disse “se sinta viva”, “liberte-se”. Essa era uma realidade impossível, visto que seu passado foi infeliz. Por tanto tempo, ela guardou esse peso em suas costas, e teve dificuldades para conseguir se permitir “viver”. 

E mesmo que tivesse contado o seu relato passado para os dois rapazes adiante, aquilo só reduzia parcela do peso de sua culpa.

Pois, na realidade, ela nunca pensou que aquela simples confissão momentânea pudesse realmente afetar a sua vida de uma forma drástica. 

A verdade era que… Ela apenas queria ser amada e se sentir “realmente viva”, foram incontáveis vezes que desejou isso. Mas não houve uma interferência divina, assim como ela acreditava em sua religião. 

Tyrant queria sentir novamente aquela sensação de vividez, permitir-se estar no meio da euforia. Sentir a alegria, a música, cores e pessoas se esbarrando, sorrindo e se olhando como se todos os corpos fossem livres e sem preconceitos. 

❖ ❖ ❖

No momento em que as lágrimas escorriam do rosto de Tyrant, Rei e Kazuki não conseguiram dizer algo ou reagir diante daquela situação. Eles apenas sentem um nó na garganta, como se pensassem que fizeram algo insensível. 

Seus rostos, que pareciam transpirar um pouco, diziam um para o outro: “Rejuvesnecer ela talvez tenha sido… demai, não é? Fizemos isso sem o seu consentimento…” 

Centenas de pensamentos depreciativos tomavam forma, e eles olharam um para o outro com um semblante depressivo e irreverente.

Contudo, todos esses sentimentos e pensamentos logo são interrompidos pela fala da garota. 

— Muito obrigada — agradeceu a menina momentos depois, transparecendo em seu tom de voz um ar reconfortante e majestoso.

— Apesar de me transformar nessa coisa, eu só tenho a agradecer a todos vocês pela chance! 

Em seguida, ele fechou as mãos e tapou o rosto, enquanto pensava consigo mesmo: “Bem, é só eu esperar alguns anos e terei uma aparência jovem novamente”.

Dava até mesmo para ver um pequeno sorriso em seu rosto, mesmo que estivesse tampando com a mão. 

— Você… não está com raiva? — questionou Kazuki. 

— Raiva… Jovem…? 

— … Bem, a princípio, eu fiquei assustada, e isso acabou se tornando irritação. Mas logo após a explicação, a única coisa que senti foi conforto e alegria. 

— Eu gostaria de agradecer pelo que fizeram — terminou ela, limpando os vestígios de lágrimas que estavam em seus olhos. 

No momento em que termina, o som de algo batendo na porta foi ouvido por todos presentes na sala.

Toc. 

Toc.

— Tyrant, abre logo!

Continua… 

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