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Em uma manhã nublada e fria, onde os ventos gelados sopravam pelo Vilarejo de Galego, Levi, transformado em humano, dirigiu-se até a forja de Paulo conforme combinado para ajudá-lo a fazer o carregamento de seus pertences para a mudança. 

— Bom dia, garoto. Obrigado por vir. — Paulo guardou seus pertences em caixas e sacos para facilitar o transporte.

— Tranquilo. O que será da forja?  

— Não sei, deixei essa decisão nas mãos do Padre Ernesto, já que foi ele que me cedeu esse lugar. Acho que seria bacana se você assumisse.

— Entendo. Qual é a da espada?— Levi a trouxe embrulhada em um pano.

— É um presente. Não gostou?

— Não é isso. É que para mim não tem utilidade, eu não sei técnicas de esgrima. — Levi propôs a devolução, estendendo-a de volta para Paulo.

— Eu não aceito devoluções, garoto. Agora é seu. Faça o que quiser com ela. Vende, use-a, sei lá. É sua! — Paulo não pegou a espada da mão de Levi, que desistiu de devolver — Agora chega de conversa, me ajude a carregar a carruagem.

— Certo.

Enquanto trabalhavam lado a lado, um silêncio confortável se instalou entre eles. Levi não podia deixar de se perguntar sobre o futuro da forja e o peso simbólico daquela espada. Graças ao bom porte físico e agilidade dos dois, em menos de uma hora eles conseguiram alocar os pertences de Paulo na carruagem.

— Bom, parece que terminamos. Tem certeza que não quer vir comigo? Essa pode ser sua última chance.

— Obrigado pela consideração, mestre. Mas ir com o senhor para Saint Elmo seria ir na contramão do meu objetivo.

— Certo, desejo boa sorte em sua caminhada. Antes que eu me esqueça… —  Paulo vasculhou uma caixa com seus pertences, até encontrar o que procurava. — Aqui está. Uma bainha para guardar a espada. É melhor do que embrulhar em um pano.

— Obrigado, eu acho. —  Levi pegou a bainha e guardou a espada.

— Até logo, espero que nossos caminhos se cruzem novamente. —  Paulo entrou na carruagem, seu semblante sério refletia a importância desse novo capítulo em sua vida. Com o estalo do chicote, o chofer incentivou o cavalo a dar os primeiros passos, dando início a longa viagem que os aguardava.

Quando a carruagem sumiu no horizonte, Levi decidiu voltar para a casa e repensar a sua vida, afinal ainda precisava juntar um pouquinho de dinheiro para ir para Constantino. Ao se aproximar da igreja, como de costume, viu uma multidão de pessoas ocupando a entrada, logo pensou, “Mas ué? Ainda faltam algumas horas para o sermão, será que aconteceu alguma coisa?”

— Oi, pessoal! Aconteceu alguma coisa? —  Todos se viraram para Levi, em silêncio, com olhares de apreensão estampados em seus rostos. Ele ficou confuso.

Os moradores se alinharam em um corredor humano, criando uma passagem entre Levi e Mathias. À frente deles, Mathias segurava o padre Ernesto, cujos braços e pernas estavam amarrados e sua boca estava amordaçada abafando seus gritos.

— Mathias, o que você está fazendo? —  A raiva e a ansiedade começaram a atingir Levi.

— Eu que pergunto. O que você está fazendo aqui? Demônio. —  Levi fica surpreso, ele não esperava que sua identidade fosse descoberta.

— N-não sei do que você está falando…

— Ah, não? Pois além de mim, Marcos e Kevin viram você e o padre rindo. Mostre a sua verdadeira forma, mostre o demônio que você é —  ordenou Mathias.

— Não adianta mais se esconder, seu demônio asqueroso! Perdemos familiares e amigos para vocês, vivemos na miséria por causa de vocês, sua raça não é bem-vinda aqui! E muito menos seus simpatizantes!  — disse o Kevin, ainda se segurando para não partir para cima de Levi.

Os moradores não sabiam em que lado ficar, afinal as únicas provas eram as palavras de Mathias.

— Pessoal, acho que vocês devem ter visto coisas. Todos sabem o quanto vocês gostam de beber álcool, soltem o padre Ernesto e pare com essa loucura! —  disse um dos moradores, tentando apaziguar a situação.

— Revele sua forma ou… — Mathias retirou um facão que estava guardado em seu cinto e posicionou a lâmina no pescoço de Ernesto — Irei matá-lo.

— Isso não faz sentido, seu idiota! Se ele fosse um demônio, ele não se importaria com a vida de Ernesto! 

— Sério? Então irei simplesmente matar esse traidor — Mathias começou a forçar a lâmina no pescoço de Ernesto.

— PARE! —  Mathias parou seu movimento abruptamente, todos os olhares se voltaram ao Levi.

—  Ele tem razão… — Uma fumaça saiu do corpo de Levi, sua forma demoníaca começou a ganhar forma, na mesma medida, o sentimento de surpresa e traição começou a tomar conta dos moradores.

Mesmo com a boca amordaçada, o padre Ernesto soltou uns grunhidos desesperados, ele sabe o que Levi está prestes a fazer. Quando a verdadeira identidade dele foi revelada para o povo de Galego, o padre não pôde fazer mais nada além de cair em prantos.

— AÍ ESTÁ! — Mathias sente-se convencido e satisfeito. Os moradores olham para a figura de Levi horrorizados.

— Agora, solte o padre. Ele não tem nada a ver com isso.

—  Como não?! Foi ele que te escondeu aqui, eu não sei quais eram as suas intenções, mas com certeza não eram boas. É esse o tratamento que um traidor merece. —  Mathias passou a lâmina no pescoço de Ernesto, o fazendo agonizar e sufocar no próprio sangue.

INÍCIO DO FLASHBACK.

Reino de Tristam, 10 anos atrás.

Em uma noite amena, Levi deitou-se na cama, com seu olhar perdido para o teto na luta para encontrar o sono. Sua mãe estava ausente devido ao trabalho, portanto, ele estava sob cuidados do seu tio Barden. Vozes ecoavam pelas paredes finas da casa, seu tio estava envolvido em uma conversa com um amigo.

Ao escutar seu nome sendo citado na conversa, ele se levantou e esgueirou nas paredes para poder ouvir melhor.

— Demônios por natureza não possuem sentimentos como empatia, compaixão e  amor. Por esse motivo são considerados o mal encarnado. E está me dizendo que você e sua irmã estão mantendo um como familiar?

— Levi pode ter a aparência de um demônio, mas ele herdou as emoções humanas de Sophia. Devemos olhar para ele como um dos nossos, e não como um monstro.

— Mas ele é um monstro, Barden! Você diz isso agora, mas eu tenho certeza que o lado sombrio dele deve estar escondido em algum lugar em sua mente, apenas esperando uma oportunidade para florescer e desabrochar.

— Não enquanto eu e Sophia estivermos vivos. Faremos tudo que estiver ao nosso alcance para que ele possa levar uma vida mais humana.

— Espero que vocês consigam. Porque o pai dele é o mais perigoso dos demônios. Se ele for igual…

— Não será. Porque não iremos permitir!

FIM DO FLASHBACK.

— Não pense que irá escapar, demônio! Você é o próximo! — Segurando o facão firmemente, Mathias arrancou na direção de Levi.

Uma voz rouca e grave soou na mente de Levi: Hora de acordar…!

A mente de Levi esvaziou-se como uma folha em branco. Desprovido de qualquer traço humano, seu lado demoníaco comandava seu corpo e mente. 

Quando Mathias se aproximou do raio de ação de Levi, seu mundo pareceu girar em um instante. Ele viu seu próprio corpo desabar de forma inexplicável. Depois de colidir no chão, sua visão se apagou gradualmente até escurecer por completo.

AAAAAAAHHH!

O pânico se instalou em Galego.

— L-Levi… Por que? — perguntou o morador que acreditava na inocência de Levi.

— Levi? Quem é esse? — Levi, ou o que restava dele, virou-se para o morador. Seus olhos, agora completamente roxos, refletiam um vazio medonho. Uma carapaça negra começou a crescer pelos seus membros e pescoço, formando uma espécie de armadura, sua voz engrossou em um tom assustador.

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Olá, eu sou Dr. Reverse!

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