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“Por queeeeeee?”

“Por que isso tinha que acontecer?!”

“Eu não acredito nisso!!!”

Dei um suspiro e pressionei a mão contra o peito enquanto via os créditos da série que eu considerava favorita. Ou talvez considere, não fosse esse final ridículo, deprimente, raivoso e vários outros nomes que possam descrevê-lo.

Já era a segunda vez que surtava por causa desse final, embora eu soubesse de antemão que os meus olhos sangrariam ao ver isso, decidi ainda assim ver. Essa série era uma adaptação do meu livro favorito, então pensei que o autor pudesse se dar ao trabalho de mudar o final, mas não… Não! Não aconteceu!

Ele tinha que fazer aquele final!

“Mas tudo bem. Vou só fingir que não teve final e pronto. Sim, essa é a melhor solução!”

Mas o problema era que eu não conseguia fingir algo que não saia da minha mente.

Por que… Por que o herói tinha que casar com a vilã? Tudo bem que ele queria quebrar o clichê de sempre, mas e o desenvolvimento? Ele pegou todo o desenvolvimento com a heroína principal e jogou fora, é isso?

Ah, suspirei.

— Jarves!!! Esqueceu que tem escola hoje?!! — A voz da minha mãe ressoou pelos meus ouvidos.

“Ah, para, mãe. Eu não quero ir para escola, estou de greve.”

— Não estou passando bem hoje!!

— Essa desculpa novamente?!

— Não é, mãe!

Uma pequena luz invadiu o meu quarto escuro, provinda da sala de estar. Direcionei os meus olhos a uma mulher de cabelos negros que estava rente a porta. Trajava um vestido castanho e um avental branco com bordas florais por cima. Uma de suas mãos estava fixada em seu quadril, enquanto me encarava com uma expressão de reprovação.

— Arrume as suas coisas e vá para a escola logo!

— Mas mãe, eu estou doente.

Ela se aproximou de mim, suas pantufas azuis ressoando por aquele tapete castanho. Agachou-se próxima a mim e colocou sua mão direita sobre a minha testa, logo franzindo as suas sobrancelhas.

— Você está brincando comigo por acaso?

— O problema é aqui. — Pressionei a mão contra o peito e ela levantou-se, colocando suas duas mãos contra a cintura.

— Eu não avisei que essas garotas de hoje em dia não prestavam? Agora toma, é bom mesmo para ficar esperto!

Ah, ela não entende.”

— Vamos… — Ela começou a chutar as minhas costas — levante-se! —, enquanto eu me levantava. — Vamos! Fora! — Quando levantei, ela me empurrou com as suas duas mãos para fora do meu quarto. Dirigiu-se ao meu cesto de roupas, pegou o meu uniforme e a minha pasta, e atirou tudo contra mim. Ainda bem que tinha bons reflexos, segurei tudo.

— Vá se arrumar no banheiro!

— Mas mãe… — murmurei, começando a andar enquanto ela fechava a porta do meu quarto. — Eu só queria um final diferente.

— Final diferente? Acho melhor você estudar para não reprovar. Isso sim vai ser um final diferente!

Não precisava esfregar na minha cara que essa era a terceira vez que eu não conseguia mudar esse final infeliz da minha vida, em que acabava sempre por reprovar no mesmo ano.

“Frustrante, não é?”

Era isso que eu ganhava quando ficava viciado em livros ou séries e esquecia de estudar para as provas. Mas pelo menos não doeria tanto se os autores me dessem um final satisfatório, pelo menos umzinho.

“Quer saber, vou escutar o conselho da minha mãe e focar no meu futuro e quem sabe lá eu consiga criar a história dos meus sonhos com um final que eu tanto almejo.”

“Quem sabe está muito longe” , suspirei. Eu sequer prestava atenção nas aulas de gramática ou afins. Na verdade, achava mais prático e eficaz ler e assistir.

“Pois é, a minha vida é muito difícil. Mas ok, fé que tudo vai dar certo!”

Após me arrumar no banheiro, minha mãe me deu uma marmita para o almoço, já que não tinha muito tempo sobrando. Estava dez minutos atrasado, embora a escola fosse perto.

— Mãe, isso vai apodrecer — murmurei. — Não vê que está fazendo muito calor hoje?

Era como se o sol quisesse fazer um churrasco da gente.

— Você sai muito tarde. Vai ficar o dia todo com fome?

— Ué, tem a hora do intervalo. Eu dou um pulo e venho aqui em casa.

— Eu vou visitar a sua tia, então só voltarei à noite.

Estiquei a mão esquerda

— Chaves? Vai sonhando! — ela exclamou, batendo a minha mão esquerda em seguida. — E não é essa mão que se usa para pedir as coisas. Quantas vezes eu vou ter que repetir ” use sempre a mão direita, Jarves!”

Estiquei a mão direita.

— Eu não vou te dar! E você sabe o porquê!

É claro que ela não me daria mesmo, já que uma vez eu saí do intervalo quando ela não estava e vim a casa com os meus dois amigos. Esse dia foi louco, fizemos uma grande festa. Me lembrei como se fosse ontem, foi bastante divertido. Comemos, bebemos, dançamos e assistimos, até a minha mãe ter estragado tudo com a sua súbita aparição.

Parecia uma leoa enfurecida, rosnando de um lado para o outro:

“Jarves, seu rebelde!”

“Jarves, não foi assim que te criei!”

E aquele blá-blá-blá que nunca mais acabava. Enfim, fiquei de castigo. E ainda tive que ouvir o sermão do meu pai. Ele gastava duas horas só para me dizer uma coisa:

“Filho, não quero mais ouvir isso. Estamos entendidos?”

“Me poupem! Eu sou um adolescente!” E convenhamos, quando vocês tinham a minha idade, haviam feito coisas bem mais terríveis. Coisas assombrosas que o meu avô me contou, mas que eu não poderia usar como minha carta na manga, porque se não levaria uma bela chinelada.

— Só não fiquem fofocando da minha vida, mãe. — Acenei, começando a caminhar em direção à porta e ela retribuiu de volta, balançando a sua mão.

— Que você é um preguiçoso, não é segredo.

“Preguiçoso não, ótimo usuário do tempo. Ou talvez, não… Já que ultimamente tenho me decepcionado com os finais das minhas obras favoritas.”

Balancei a cabeça negativamente, não voltaria a chorar. Continuei a caminhar, saindo pela porta, pelo quintal bem limpo do jeito que a minha mãe gostava. E, por fim, podia respirar o vento impetuoso que soprava na rua, enquanto caminhava, me entretendo com os meus pensamentos fantasiosos.

Por exemplo, agora, estava me imaginando a voar em plena rua enquanto anunciava aos pobres humanos, a minha ascensão ao reinado como chefe desse mísero bairro caído.

Era tão bom. Minha imaginação era tão fértil que parecia ser tudo muito realístico. Agora mesmo… via o maior vilão dos animes vindo em minha direção, o famoso caminhão.

“Só que dessa vez, você não vai me pegar, Sr. Vilão.”

Essa já era a terceira vez que um caminhão passava correndo na minha rua, mas só que dessa vez esse caminhão estava sendo perseguido por um carro policial cujas sirenes cintilavam em carmesim e azul, acompanhado do seu som.

Provavelmente devem estar perseguindo bandidos. Me encostei na parede como das últimas vezes, vendo o carro passar. Pelo menos era o que eu pensava, até que…

Subitamente, o caminhão perdeu o controle, vindo até mim. Mas como os meus reflexos eram rápidos, consegui correr o suficiente para que o caminhão não me esmagasse. Saltei e rolei para outra parte da parede.

Suspirei de alívio, vendo a parte de frente do caminhão que estava ao meu lado, deformada. O motorista parecia ter desmaiado, seu rosto estava contra o volante.

Mas ao que parece, comemorei muito cedo. Direcionei os meus olhos para cima, contemplando um pedaço enorme da parede cobrindo toda minha visão com sua escuridão.

— Só pode ser brincadeira.

Essas foram as minhas últimas palavras.

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Olá, eu sou Andy Lucas!

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