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Capítulo 32 – O lobo do orfanato

Edward:

Não sei por quanto tempo eu andei ou para onde, quando me dei conta eu estava em uma pequena colina que dava vista a boa parte da cidade.

Eu me sentei encostado em uma pequena árvore e olhei para as três grandes estátuas no centro da cidade, a estátua do “pai” estava de frente para mim, me encarando.

— Não finja que não está me observando, você é horrível nisso.

— Essa estátua não se parece nem um pouco com você.

— Por que você ainda não me parou? Eu não me importo de morrer aqui, mas se você não me parar, Igor vai morrer… a elfa também.

O selo apareceu na minha frente e eu não conseguia fazer nada além de tremer, ele não parecia mais forte do que o sexto, mas a aura mágica dele… só de lembrar da sensação um calafrio subiu a minha espinha.

Eu preciso matar aquela coisa? Eu consigo matar aquela coisa? E se sim, eles vão sobreviver?

— Já percebi que você não vai me responder, então… Dante me deixa livrá-los.

Se você os dispensá-los, a chance de vencer é zero e esse reino vai cair.

— Se eu libertar o Igor do juramento, o Pai vai encontrá-lo e provavelmente vai salvar esse reino se ele pedir.

Não antes de você morrer.

— Isso não seria um pro-

— Edward?

?!

Izabella apareceu subindo a colina, ela estava com o vestido que estava usando quando eu a conheci.

— Está falando com quem? – Ela olhou em volta.

— Ninguém.

— Entendo… – Ela se sentou ao meu lado perto da árvore.

O vestido é bem bonito quando não está rasgado.

— Eu também achei que tinha perdido, mas o senhor Guhdir me entregou de volta quando voltamos para Honya. – Ela me percebeu encarando o vestido?

— Uhum… – O que ela está fazendo aqui?

Izabella ficou alguns segundos em silêncio e então suspirou:

— É… uma boa vista, né? – Ele quebrou o silêncio.

Eu olhei para frente, era possível ver toda a cidade e o sol por trás do monumento dos três grandes, as ruas estavam quase que desertas e o silêncio quase fazia com que eu esquecesse que o reino estava sendo atormentado por um demônio.

Mas as ruas, o sangue nelas e as pessoas apressadas eram um lembrete difícil de ignorar.

— Eu não acho. – Eu respondi.

Ela deu uma curta risada e colocou a mão na boca para parar de rir.

— Me desculpa. – Ela riu de novo.

— Hum?

— Você não é muito bom em manter conversas né? – Ela me perguntou com um leve sorriso no rosto.

Você é horrível em manter uma conversa!

— O que foi? Eu disse algo errado? – Ela me perguntou.

— Não, eu só me lembrei de alguém…

Ela chegou mais perto de mim com uma expressão de confusa e então deu outro sorriso:

— Isso na sua cara, é um sorriso?

Eu sorri?

— Impressão sua.

— Ah é? – Ela se apoiou nos braços e olhou para cima.

Ela estava brava comigo, então por que ela está aqui?

— Achei que você estava irritada.

— … – Ela demorou um pouco para responder. – Você definitivamente não é bom em manter conversas. – Ela disse com um suspiro.

— … – Eu fiquei quieto.

— Me desculpa… – Ela disse enquanto olhava para as estátuas. – Não me entenda mal, eu ainda discordo de ter escondido do senhor sobre a mulher dele, eu ainda acho que poderia ter uma maneira de salvar a Dilah…

— …

— Mas também sei que você fez o que fez pensando no melhor… não só para você, mas para Igor e eu… – Ela se levantou e continuou olhando para o horizonte – Eu estava com medo, com raiva, frustrada e cansada… eu não consegui dormir direito essa noite, eu só tive pesadelos, então… eu acabei descontando em você, me desculpa.

Eu fiquei surpreso com o pedido de desculpas dela, eu não esperava que ela pediria desculpas para mim.

— Não precisa me pedir desculpa, eu não a culpo por ter falado aquilo, afinal de contas, quem é que decide matar uma criança tão rápido daquele jeito? Sem hesitar, mesmo sendo a melhor escolha…

Ela olhou para mim, o olhar dela era difícil de ler, ela estava me julgando? Estava surpresa pela minha atitude?

Normalmente eu conseguiria ler as expressões de alguém mais facilmente, matar aquela garota me afetou…

— Foi há dois anos… eu tinha dezessete – Eu falei quase que involuntariamente. – Eu e o Dante estávamos atrás de um grupo que havia feito um acordo com demônios e estavam os usando para dominar uma província. Nós derrotamos com facilidade os demônios e os humanos, faltava apenas um humano, ele havia recebido sentença de morte por conspiração, nós o encurralamos e ao invés dele se render ele se escondeu em meio a filha e a esposa.

— … – Izabella continuava me escutando sem falar nada e a cada palavra que eu dizia eu me arrependia de começado.

— Dante disse: “vamos capturá-lo e então aplicamos a sentença depois”. Mas eu, o exorcista, coletor e executor, não precisava esperar, um humano covarde não me faria esperar… e então, eu matei o humano… na frente da família dele.

Eu nunca me importei com o que os humanos pensassem sobre mim e com certeza não me importei com o que a esposa e a filha iriam pensar sobre mim.

— Três dias depois, teve uma festa para comemorar o fim daquele grupo de demônios com humanos e o orfanato estava passando pelas ruas, eu e todos os meus irmãos. Todos os humanos estavam ajoelhados nos reverenciando. E uma pedra, do tamanho de uma mão, veio em minha direção, ela não vinha rápido o suficiente nem forte o suficiente para me ferir, mas eu a peguei e joguei ela com força na mesma direção em que ela foi arremessada.

A garota morreu na hora do impacto, a pior parte é que até o dia de hoje eu não me sentia culpado ou pelo menos não me importava de me lembrar o que eu fiz, afinal de contas ela era apenas mais um humano.

— Quem jogou a pedra, era a filha daquele cara? – Izabella perguntou.

— Sim. Então, não precisa se desculpar, porque tudo o que você disse… foi verdade. – Eu levantei a minha mão e mostrei para a Izabella.

— ?

Ela ainda estava tremendo.

— Eu sou um ser divino, mas não consigo me controlar na frente de um demônio. Eu não consegui salvar uma pessoa sequer.

Izabella não falou nada, ela não fez nada, apenas ficou sentada olhando para a cidade, mas de alguma forma aquela conversa quase que unilateral me ajudou a me acalmar.

Por que você não me deixa livrá-los? É apenas minha culpa.

Você precisa vencer e eu sei que sem os dois você não tem chance.

Se Igor morrer…

Será sua culpa.

Depois de passar alguns tempos, o sol já estava se pondo.

— Nós vamos matar aquele demônio amanhã.

— Hum?

— Amanhã é o último dia do contrato do Igor e do seu também, eu tenho que aproveitar não é? – Eu me levantei.

— Como nós vamos matar aquilo? – Ela se levantou junto.

Ela realmente está determinada a matar ele, mesmo depois de ver aquilo, eu não posso ficar para trás de uma humana.

— Não, mas temos um dia para achar um jeito de matá-lo, vamos achar um jeito de matá-lo.

— … – Essa cara…

— E vamos salvar as pessoas dessa cidade.

— Sim!

No caminho de volta não falamos muito, as ruas já estavam desertas e o silêncio preenchia toda a cidade.

— Eu preciso estar descansado, não dá para lutar contra aquilo se eu não estiver. – Eu disse para ela.

— Mas não dá para dormir direito, não com os pesadelos.

— Eu consigo… mas preciso da sua ajuda.

Ter pesadelos não é algo novo para mim, desde antes de eu entrar nessa cidade, eu sempre tive pesadelos, muitas vezes eu preferia passar dias sem dormir do que dormir e ter o mesmo pesadelo, mas existe um jeito para eu dormir sem ter pesadelos.

— Minha ajuda?

— Quando lutamos contra o último selo, você viu, não viu?

— …

— Eu não posso morrer, mas se eu tomar algum golpe fatal, perco a consciência, isso vai ser tempo o suficiente para que eu possa descansar.

— Você quer que eu te mate?

— Não, eu quero que você não deixe o Igor ver.

— Por quê?

— A magia que evita que eu morra.

— É demoníaca… – Ela completou antes que eu terminasse.

— Eu não sou um demônio… eu acho.

Antes da batalha contra o selo de Semni, eu tinha apenas suspeitas, desde o incidente com o Dante, eu sinto uma magia desagradável no meu corpo e quando eu tentei me matar depois que eu matei Dante, eu simplesmente acordava no mesmo lugar com uma cicatriz no ponto onde eu tentei.

Mas após Semini, eu tenho certeza de que essa magia é demoníaca.

— Tá bom, eu vou te ajudar. – Ela olhou para mim com o olhar sério. – Mas depois que tudo isso acabar, eu vou contar para ele.

— …

Quando tudo isso acabar, se eu tiver sorte, eu vou estar morto. 

Chegamos na casa da garotinha e Igor estava lá dentro nos esperando de braços cruzados.

— Vamos matá-lo essa noite! – Igor disse.

— Descobriu alguma coisa? – Eu perguntei enquanto me sentava em uma cadeira da mesa da sala.

— Ele controla as sombras!

— Sombras? – Izabella disse.

— Sim, tinha algo me incomodando quando ele nos encontrou, ele não tinha sombra, eu não havia percebido na hora, mas pensando agora faz sentido.

— Não entendi. – Eu disse.

— Eu pensei que ele tinha três magias, mas isso não faz sentido, ele não é como o último selo que era um semi humano, dito isso, as duas magias que eu disse são praticamente iguais, mostrar pesadelos e matar a mente do oponente.

— …

— Por que ele mata quem sai à noite? Por que ele simplesmente não entra nas casas e mata as pessoas? Porque ele precisa de medo! E qual é a melhor forma de fazer as pessoas terem medo senão, dar pesadelos às pessoas? De noite é quando as pessoas estão com mais medo por causa dos pesadelos e então quem sai na rua ele mata, afinal de contas se você sai para a rua quando tem um demônio no reino significa que você não tem medo.

— Ou está muito desesperado. – Eu retruquei.

-Agora imagina, você saiu de noite mesmo com a ameaça de um demônio, sobreviveu, por que você teria medo? – Igor manteve a teoria dele.

O que ele diz faz sentido, mas ainda é uma teoria, ele está empolgado demais…

— Tá, mas por que você acha que ele controla as sombras? – Eu perguntei.

— O corpo que eu achei essa manhã, ele tinha um buraco no peito, mas não foi feito por nenhum tipo de lâmina e o buraco estava muito simétrico pra ter sido feito por um soco que atravessou o coração. Ou seja, foi feito por algum tipo de magia e qual é a melhor magia que combina com o medo?

— Sombras? – Izabella respondeu

— Sombras! Ou seja, a magia dele é usar as sombras para matar as pessoas e ele usa as mesmas sombras para causar pesadelos nas pessoas e para completar, as sombras ficam mais fortes quanto mais se alimentam de medo.

— Uma só magia… Isso não facilita muito, mas pelo menos sabemos como ele pode nos atacar. Usaremos isso contra ele amanhã.

— Amanhã? Não! Vamos matá-lo hoje! – Igor chegou mais perto de mim. – Eu descobri qual é a magia dele! Agora só precisamos exterminá-lo!

— Você descobriu qual é a magia dele? Então tá, como ele vai nos atacar? Vai solidificar as sombras? Vai tirar a nossa visão? O que você descobriu não muda nada. – Eu respondi.

— Muda! Muda tudo! Nós temos uma chance! Se nós esperarmos mais um dia, mais pessoas vão morrer! – Ele tentou me segurar, mas graças ao juramento ele não pode.

— Onde estava esse heroísmo há seis meses? Você nem ligava para isso.

— Eu não sabia!

— Você não se importava em saber, e só se importa agora, porque você viu e levou para o pessoal, não está pensando direito e sabe disso. – Eu me levantei da cadeira.

— Nós vamos matar ele hoje! – Ele foi em direção à porta – Queira você ou não!

— Igor, eu te proíbo de sair dessa casa hoje!

Ele parou subitamente.

— Ahhhh! – Rangendo os dentes, ele deu um soco na parede e ela se quebrou completamente.

— I-Igor, vamos esperar para amanhã, você está cansado é melhor-

— Não venha com essa elfa! – Igor se virou para a Izabella. – Você viu o que ele fez com aquela garota, com aquele homem, com todo mundo aqui! E ainda assim, quer ficar parada apenas olhando!

— ! – Izabella se assustou com a reação de Igor e recuou.

— !? – Igor percebeu e parou de ir na direção dela.

— O sangue dessas pessoas vai estar nas suas mãos! – Ele gritou olhando para mim.

— Não, o sangue das pessoas, vão estar nas mãos do selo. – Me provocar não vai funcionar.

Ele se virou e subiu para o segundo andar da casa.

— …

Igor está estressado, o dia com certeza foi ruim para ele, não deve ter conseguido dormir de noite direito, ele normalmente concordaria comigo, lutar contra um inimigo sem ter certeza de seu poder é pedir para morrer.

O selo de Semini por exemplo, nós sabíamos parcialmente sua magia e mesmo assim, quase perdemos a luta, mas isso foi porque ele nos pegou de surpresa se tivéssemos tempo para nos preparar, teríamos ganhado aquela luta com maior facilidade e não podemos repetir o mesmo erro novamente.

— Iza, eu vou dormir no quarto da garota, não deixe o Igor entrar lá até amanhã.

— Entendi, vou tentar! – Ela subiu e entrou no quarto que Igor entrou quando subiu.

Eu fui até o quarto do outro lado da casa, provavelmente era o quarto da garota, a cama era pequena e tinha alguns brinquedos espalhados pelo quarto.

— Muito bem. – Eu chamei a espada – Uma pessoa normal morreria se cortasse as veias do pulso… espero que eu me recupere a tempo suficiente…

Eu encostei a espada na parede e me sentei na cama.

— Os donos não irão se incomodar com a sujeira mesmo…

Eu passei o meu pulso com força na lâmina da espada.

— Arf, arf…

Isso dói…

Com um pouco de dificuldade por causa da dor, eu passei o meu outro pulso na lâmina da espada.

O sangue começou a jorrar e se espalhar pelo chão do quarto, eu me deitei na cama e conforme eu sentia o sangue quente saindo do meu pulso,  o meu corpo fraco cada vez mais fraco e o sangue outrora quente começava a esfriar…

É engraçado… como é… difícil se acostumar… para morrer.

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Olá, eu sou Evaze!

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