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A operação foi rápida, mas extremamente dolorosa. Ana trabalhou fez um corte limpo acima da infecção, cauterizando a ferida com a lâmina aquecida logo em seguida. Felipe se contorceu de dor, mas Júlia e Alex seguraram-no firmemente.

Após o procedimento, a caverna voltou a um silêncio tenso. Os lagartos ainda observavam, mas pareciam mais desinteressados. Alguns deles, mais ousados, se aproximavam do grupo para recolher um dos corpos de seus antigos companheiros, arrastando-os para mais uma sessão de degustação.

— Ele vai sobreviver? — perguntou Júlia, sua voz fraca enquanto olhava para o garoto que caiu inconsciente, mas respirando de forma irregular.

— Se conseguirmos mantê-lo estável, sim — respondeu Ana, limpando o suor da testa. — Mas teremos que ficar por um tempo, não tem como levar os dois para fora de forma segura. Pelo menos parece que não fomos perseguidos até aqui — a mercenária olhava para o caminho que vieram, pensando no motivo dos seguidores não terem aparecido.

O grupo ia recuperando as forças, lenta, mas constantemente. A carne dos lagartos, apesar de não ser a refeição mais apetitosa, deu-lhes a energia necessária para aguentar.

Entediada, a jovem caçadora ruiva deitou-se ao lado de Alex, contando as gotas que caíam do teto de forma. Ana encarava os lagartos fixamente, mas sua mente se perdia em questões mal resolvidas sobre o que ela realmente era. 


— Ouvi algo… uma vibração estranha vindo do rio… — sussurrou Felipe, agora acordado, apontando na direção da correnteza. Ele estava deitado no chão, descansando, mas ainda pálido. Seu ouvido estava colado no solo.

Ana franziu a testa e caminhou até a beira do fluxo de água. Por um momento, se distraiu com a beleza das luzes refletidas; eram como estrelas submersas, dando a impressão de um universo à parte existir além das águas calmas. Então, concentrando-se, pôde ouvir o som mencionado, um murmúrio baixo, quase como se algo estivesse se movendo sob a superfície da água. Ela observou atentamente, seus olhos treinados buscando qualquer sinal de perigo.

De repente, uma sombra passou rapidamente por debaixo da água, movendo-se contra a correnteza. Ana se afastou rapidamente, puxando Júlia, que havia acabado de levantar-se, para trás.

— Algo está vindo. Preparem-se! 

Os répteis gigantes, também alertas ao movimento na água, começaram a se mover inquietamente, como se estivessem sentindo a presença de um predador.

O rio começou a borbulhar, e uma figura emergiu lentamente. Era uma criatura com mais de cinco metros, gigantesca se comparada ao limitado espaço da caverna. Era um ser composto de ossos e carne putrefata, coberto por uma pele translúcida que pulsava com uma luz fraca e azulada, quase como a própria bioluminescência das plantas grudadas nas paredes, revelando órgãos internos que pareciam estar em constante movimento. Sua cabeça tinha uma formação disforme com múltiplos olhos distribuídos caoticamente e uma boca circular repleta de dentes afiados. Seus movimentos eram fluídos, mas havia algo perturbadoramente antinatural em cada um deles.

— O que diabos é isso? — exclamou Júlia, com o martelo em punho, pronta para o combate.

A criatura emitiu um som gutural que reverberou pelas paredes da caverna, fazendo com que todos recuassem ainda mais. Suas pernas, semelhantes a tentáculos com estranhas garras nas pontas, começaram a se mover em direção ao grupo, deixando um rastro viscoso por onde passava.

De forma inesperada, os lagartos, percebendo a ameaça comum, começaram a correr para o lado deles, deixando claro que o inimigo de antes era agora um aliado. Alex se forçou a levantar, indo de forma desengonçada para o lado de seu irmão, para o caso de algum deles se aproximar demais. Os irmãos, nas piores condições, encostaram-se um no outro, determinados a sobreviver.

A batalha foi feroz. O monstro não era tão rápido, mas seus múltiplos membros atacavam de diferentes direções, cobrindo uma ampla área. Ana desviou de um dos tentáculos e atacou com sua negra espada curta, mas a lâmina escorregou pela pele gelatinosa, sem causar dano significativo.

— Isso não vai funcionar! — gritou ela, frustrada.

Os ataques de Júlia foram ainda menos eficazes, ao balançar seu martelo com toda sua força, a carne da criatura apenas recuava momentaneamente, trazendo uma força de rebote que quase lançou a arma de suas mãos para longe.

Os lagartos, agora aliados temporários, atacavam com força bruta, suas mandíbulas poderosas rasgando a pele translúcida da criatura. Apesar dos esforços combinados, o monstro parecia imparável.

A batalha foi intensa e desesperadora. Cada golpe parecia apenas irritar mais a criatura, que contra-atacava com uma fúria descomunal. Pequenas feridas se fechavam rapidamente e seus tentáculos rasgavam o ar e a carne dos lagartos e dos combatentes.

Um dos répteis, enrolado acidentalmente por uma das muitas pernas do estranho ser, foi simplesmente jogado para dentro do corpo translúcido. A pobre criatura esverdeada se debatia enquanto todos viam sua carne começar a se decompor em tempo real.

“Não temos chance contra essa coisa”, pensou Ana, recuando ao ser atingida na lateral de seu corpo por um pesado golpe, mas evitando demonstrar seus pensamentos para não baixar ainda mais a moral dos outros. De canto de olho, a garota notou alguns dos lagartos que, percebendo a futilidade da batalha, começaram a recuar. Seus silvos de medo ecoavam pela caverna enquanto se afastavam, claramente aterrorizados.

— Se segurem neles! — ordenou a rainha mercenária, vendo a única chance de escapar. — Vamos sair daqui!

Sem pestanejar, cada um se agarrou ao lagarto mais próximo, firmando-se com o máximo de suas forças aos corpos musculosos dos répteis. Incomodados, tentaram balançar seus corpos para se livrarem do peso extra, mas sem sucesso, permitiram que os membros da Ironia Divina cavalgassem neles em uma fuga desesperada.

Para a sorte de todos, eles correram pela ponte de pedra, atravessando o rio e adentrando ainda mais nas profundezas da caverna. Após um tempo que pareceu uma eternidade, chegaram a um lugar mais seguro, onde os lagartos finalmente pararam.

— Rápido, peguem as armas — gritou Ana, girando algumas vezes no chão pela parada brusca ao soltar o lagarto, mas logo arrumando sua postura. Seus olhos encaravam os supostos aliados de forma tão afiada quanto a espada em suas mãos.

Os répteis hesitaram, mas logo retribuíram o olhar intenso e, com fortes sibilos na direção do grupo, se viraram e desapareceram nas sombras, deixando-os sozinhos mais uma vez.

— Estamos vivos… bom, pelo menos é uma história divertida — murmurou Ana, tentando recuperar o fôlego enquanto guardava sua espada. Seu sorriso dolorido no rosto tentava melhorar o clima, mas sem muito sucesso. — Vamos sair daqui antes que algo mais apareça.

O grupo acenou em concordância, mesmo exaustos e machucados, podiam sentir que esse momento para respirar seria bem curto.


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