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“Você não estava fora da cidade?” Gritei, olhando em volta.

Por mais que eu tenha causado danos graves no homem, em nenhum momento deixei de reconhecer meu lugar ali.

Se ele quisesse, teria me matado em menos de um instante, disso tinha certeza.

Nessa época, eu ainda era como um animal selvagem, se aproximar como ele fez era implorar para meus instintos dominarem meu corpo e me fazer agir como um.

“Sim, eu estava, não estou mais.” Falou Hark, batendo em seus ombros e tirando a poeira.

“Amanhã teremos uma conversa, lá na minha sala. Quero te fazer algumas perguntas.” Revelou, me encarando, antes de se virar e caminhar até o quartel.

Novamente fiquei sozinho com meus pensamentos, e, no fundo, fiquei um pouco arrependido por agir como uma besta descontrolada de novo.

Tive sorte de Hark ser compreensível, ou teria acabado mal. Entretanto, me livrar dos costumes que adquiri por quinhentos anos não seria fácil, havia me tornado assim por necessidade, e esse novo mundo não parecia gentil o suficiente para que eu abandonasse esses costumes cruéis tão facilmente. 

A lua já estava no meio do céu, e fui embora dali, depois de pegar minha espada atirada no chão. Tomando cuidado com meus arredores, eventualmente cheguei até a casa de Roger.

Minha guarda ainda estava alta, o mar de chamas que vi no olhar do homem ficou fixo em minha mente. ‘Como ele parece ser tão poderoso?’

Pensei isso ao abrir a maçaneta da casa, me encontrando com Roger sentado no sofá e bebendo de uma garrafa.

“Você só faz isso?” Perguntei honestamente.

“Não, mas você sempre aparece quando estou fazendo isso.” Respondeu Roger, rindo depois.

Meu corpo e mente estavam cansados, um pelo treino e o outro pela luta inesperada, respectivamente. Apenas subi as escadas e me perdi em meio ao sono profundo.

Infelizmente, os pesadelos continuaram.

O mesmo ambiente, os mesmos demônios, os mesmos abismos.

Acordei durante um grito desesperado, olhando em volta freneticamente, procurando algum inimigo ou demônio.

Rapidamente empunhei a espada que deixei do lado da cama, mas pensei em pegar a adaga debaixo de meu travesseiro também.

Apenas me vi em um quarto escuro, completamente suado, e mergulhado em paranoias e traumas.

‘Que merda…’ Resmunguei mentalmente, me forçando a dormir após me acalmar.

Para meu azar, os pesadelos continuaram até o amanhecer.

Acordei encharcado de suor, percebendo que inconscientemente segurei minha adaga durante o sono. Por sorte, não me cortei sem querer.

Meu corpo estava fedendo, e isso me forçou a procurar algum rio para me limpar depois.

Embainhei minhas armas e desci as escadas, apoiando a mão em minha testa, incomodado com uma dor de cabeça que se alastrou em minha mente.

Roger não estava bebendo no sofá como de costume, então me preparei para sair de casa.

No entanto, novamente me encontrei com Stella.

Parecia que ela estava prestes a bater na porta quando abri, surpreendendo-a. Ela olhou para mim, antes de tampar o nariz com uma expressão de nojo.

“Você está fedendo.” Afirmou ela, dando alguns passos para trás.

“Eu sei. Existe algum rio por perto para eu me limpar?” Perguntei, indiferente à expressão da garota.

“Rio? Use magia para isso.” Falou, rapidamente criando emaranhados azuis e vermelhos, formando uma pedra de gelo em cima de mim e lentamente incendiando-a depois.

Isso fez o gelo evaporar em partes, antes de derreter em água e se despejar em mim, também se espalhando no chão de madeira da casa.

“Porra! Me avise antes para eu tirar minha roupa!” Exclamei, sendo surpreendido pela água encharcando meu corpo e roupas.

“E por acaso eu quero te ver pelado? Apenas queria te ensinar um truque. Comandante Levit me falou para te chamar, não me disse o motivo.” Revelou Stella, me encarando.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, com receio do que me esperava no quartel.

Entretanto, um grito chamou nossa atenção. Roger estava parado, no meio da casa, com o final da poça de água criada por Stella tocando em seus pés.

“Quem fez isso?!” Perguntou o homem, se ajoelhando. “Meu chão de madeira yestia, vai estufar tudo!” Reclamou Roger, e apenas corri antes que a culpa sobrasse para mim.

Pelo visto, Stella fez o mesmo, afinal quando me virei, ela não estava mais lá. Mas escutei seus passos fugindo.

Após alguns minutos, cheguei no quartel, ainda molhado. Me encontrei com Amanda procurando alguma coisa entre vários livros em uma prateleira do lado de uma mesa.

“Ei. Hark me chamou, onde é a sala dele?” Questionei, chamando atenção da mulher.

“Oh, Sirius. A sala do Comandante Levit é a última do quarto andar, e por favor não se refira a ele com o primeiro nome. Existe uma hierarquia aqui.” Revelou Amanda, com uma expressão conflitante.

“… Obrigado. E onde está meu cristal de mana? Você falou que eu tinha direito a tê-lo de volta.” Cobrei, aproveitando a chance.

“Está com o Comandante Levit, eu ia te devolver hoje, mas ele pegou e falou que ia te devolver pessoalmente.” Revelou, retornando a sua procura em meio aos livros.

Olhei para ela por alguns segundos, antes de subir as escadas e caminhar até a sala. Parecia igual as outras, mas no momento que abri a porta, vi uma mesa no centro, e vários artefatos em vitrines de vidro perto das paredes.

Observei curioso, percebendo que Hark estava lendo algo entre vários papéis em sua mesa.

Seu rosto estava enfaixado em partes, mas seus dois olhos pareciam perfeitamente funcionais. Pelo visto a magia de luz de Lívia era incrível.

Fiquei parado até o homem me encarar e então chamar meu nome.

“Entre, Sirius.” Falou, retornando seus olhos para o conteúdo do papel. Obedeci e sentei na cadeira frente ao homem, tendo apenas a mesa e seus montes de folhas entre nós.

Um silêncio se seguiu, até que decidi o quebrar. “Por que estou aqui?” Questionei, chamando atenção do homem.

Percebi sua sobrancelha se erguer por cima do papel em seu rosto, até que ele decidiu o soltar.

“Quem é você, realmente?” Perguntou em um tom sério.

“… Uma criança?” Respondi sem ter certeza, mas indiferente às dúvidas que se ergueriam perante a minha resposta vaga.

“Escuta aqui, pirralho. A única coisa infantil sobre você é sua cara e altura, você luta com a confiança de alguém com experiência imensa. Me responda, você veio de alguma casa nobre do exército?”

“Quê? Não, eu apenas tive que aprender a lutar.” Falei, percebendo que depois iria ter que criar algum passado falso para mim, pois essa situação provavelmente se repetiria.

“Se eu decidir te transformar em cinzas nos próximos cinco segundos, o que você faria para me impedir?” Questionou o homem, em um tom calmo, contrastando com a mensagem que saiu de sua boca.

“Eu iria te matar em três segundos, e te daria os dois restantes de brinde para agonizar no chão.” Revelei com um sorriso sádico, não percebendo que consegui fazer uma conta básica.

“Você realmente não é normal, mas está errado em agir como se conseguisse me matar em qualquer momento.” Disse, imitando meu sorriso.

“Mas eu consigo.” Respondi, percebendo que aquele homem estava influenciando um lado sádico meu.

“Como tem tanta certeza?” Hark perguntou, mas me levantei ao brandir minha espada e partir em direção à jugular dele.

Meu corpo era pequeno, e por conta do cristal, extremamente ágil. No entanto, o homem foi capaz de derreter minha espada em um instante.

Mas acabei prevendo isso, e sem que o homem percebesse, minha adaga estava em minha mão direita, a centímetros de distância dos músculos de seu pescoço.

Entretanto, o reflexo de um mar de chamas novamente apareceu em seus olhos, e percebi meu corpo inteiro envolto em emaranhados vermelhos.

Eu havia perdido aquela troca de ataques que durou segundos, e ele nem pareceu que tentou de verdade.

O sorriso em seu rosto aumentou ao desfazer os emaranhados, e se sentou de volta na cadeira, como se nada tivesse acontecido.

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