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Capítulo 26 – Pedido Egoísta

Como um ser movido por instintos, era minha obrigação reconhecer alguém mais forte do que eu como superior, e foi isso que fiz.

Me sentei de volta na cadeira, entendendo meu lugar naquela sala. Minha vida permanecia existindo por causa do capricho de um homem com um fogo infinito no olhar.

No entanto, uma curiosidade surgiu no fundo de minha mente. ‘Quão forte essa pessoa realmente é?’ Pensei, imaginando alguma cena em que o homem em minha frente tivesse que lutar com tudo.

Infelizmente, minha imaginação não era tão fértil ao ponto de me permitir imaginar algo de possível magnitude.

“Cadê meu cristal?” Questionei fracamente, não colocando confiança o suficiente na voz.

“Mudou de atitude bem rápido, hein. Não precisa se preocupar em ser educado, apenas tente não me matar. E aqui está.”

Após essas declarações, uma lasca vermelha e brilhante surgiu ao lado do homem, vinda debaixo da mesa.

Ela flutuou até minha frente, e caiu em minha mão aberta.

“Como você fez isso?”’ Questionei, interessado com a visão que presenciei.

“Magia de ar, é bem útil.” Revelou Hark, lendo alguns papéis em sua mão.

Um silêncio se seguiu por alguns segundos, até que eu o quebrei. “Por que me chamou aqui?” Perguntei, chamando atenção do homem.

Hark suspirou e começou a me encarar, soltando as folhas na superfície da mesa.

“… Eu queria te pedir um favor.” Revelou com um tom honesto.

Não entendi suas intenções, e provavelmente deixei isso claro em meu rosto, afinal o homem se explicou depois.

“O nome é Exército Prismático, mas nós temos menos magos em nossas fileiras do que a fração de um exército de verdade tem de soldados e postulados.” Hark revelou com uma voz melancólica. 

“A cidade está vazia no momento, pois a maioria de nossos magos estão tentando obter informações sobre a nobreza e a realeza, principalmente sobre os Templos Dogmáticos e os Campeões.”

“Não estou te entendendo.” Comentei, procurando algo entre suas palavras que fizesse aquilo ser problema meu.

“O ponto é, você é meio descontrolado e não parece nem um pouco confiável, mas a certeza de que o mago mais talentoso da história despertou está na mente de quase todos os cidadãos do Reino Salazar, por isso quero te pedir para que entre em nossas fileiras no futuro, quando provar que pode realizar algumas tarefas para nós.”

“Lhe darei qualquer apoio possível para influenciar seu talento, apenas peço que retribua esse favor no futuro.”

Com essas declarações, fiquei sem reação. Entendi que eu ia receber apoio e ajuda para ficar mais forte, e isso com certeza era bom, mas não compreendi o significado de entrar em suas fileiras.

“Não posso realizar essas tarefas agora? Sou capaz de fazer isso.” Perguntei, não entendendo o motivo de ter que esperar anos para isso.

“É claro que não, você parece um cão raivoso, não é difícil te imaginar atacando algum postulado e nos expondo sem querer. A confiança que digo não é sobre força, você já provou possuir isso, e sim autocontrole. Até você provar que é perfeitamente capaz de se controlar em uma situação de risco, não tem permissão para sair da cidade.”

“Autocontrole? Isso é para fracos incapazes de identificar uma ameaça até estarem mortos! Prefiro matar um inocente do que permitir um inimigo chegar perto!” Gritei ao me levantar, recebendo um olhar frio como resposta.

“Não é com esse pensamento que você ganhará minha confiança.” Hark repreendeu calmamente, cruzando as duas mãos na frente do rosto.

Fiquei em silêncio ao escutar sua fala. “Acalme-se, eu não virei Comandante-Chefe sendo um pacifista de merda, já matei muitos inocentes para me manter seguro. E sinceramente, mataria novamente. Apenas quero que se controle quando a situação colocar todos da cidade em risco, ok? Caso você encontre algum postulado ou nobre na região. Se estiver longe daqui, pode fazer a merda que quiser, não me importo.”

Eu não ligava se podia matar inocentes ou não, afinal não sentia prazer em matar, pelo menos na maioria das vezes. Apenas fazia isso para sobreviver. Só não queria me forçar a me suprimir e ignorar meus instintos frente a um inimigo, mas com suas últimas declarações, entendi o que Hark queria dizer.

“Acho que consigo fazer isso.” Falei, me sentando de volta na cadeira.

“Ótimo, até eu achar que está pronto para sair da cidade, você pode continuar seu treino. Se Roger for incapaz de te responder algumas dúvidas, pode vir até mim, sou um dos melhores magos especializados em fogo do reino.” Declarou Hark, com um sorriso orgulhoso.

“… Está bem.” Eu disse, me levantando antes de me virar para ir embora.

“Espere.” O homem impediu, chamando minha atenção.

Olhei para ele com uma expressão confusa. “Posso te pedir algo egoísta?”

“O quê?” Perguntei, não entendendo a situação.

“Por favor, se torne amigo de Stella. Ela não é uma criança tão forte e independente como você, mas vocês dois são os únicos magos crianças na cidade. Ela pode parecer meio distante, porém, tenho certeza que ela gostaria de ter um amigo. Aquela garota não faz nada além de ficar agarrada nas pernas de Lívia e treinar magia de luz.”

“Além disso, seu passado é muito infeliz. Ela não se sente confortável perto de adultos, com exceção de Lívia. Iria ser uma preocupação a menos na minha mente saber que ela está se divertindo com alguém da idade dela.”

Com essas revelações, fiquei em silêncio. Como eu, alguém selvagem e sem qualquer tipo de senso comum, um louco que ficou preso em um lugar por quinhentos anos, poderia criar e manter uma amizade com uma criança?

“Vou tentar, mas não sei se ela gosta muito de mim.” Declarei, me virando para ir embora de uma vez por todas.

“Muito obrigado, pequena pantera.” Hark agradeceu, novamente me chamando por aquele apelido.

Pensei em perguntar o motivo, mas apenas saí da sala, colocando o cristal no mesmo bolso das pétalas secas azuis que ganhei das crianças.

Parti do quartel, depois de pegar outra espada na sala de armas. Caminhei lentamente até a casa de Roger enquanto treinava meu controle mágico.

Entretanto, a janela de uma das muitas casas abandonadas de repente se quebrou, revelando um pequeno morcego voando freneticamente e sem qualquer direção.

Meus instintos se aguçaram, e observei a criatura rodear o ar à minha volta.

Para prevenir, criei um fragmento de gelo e matei o morcego, que caiu no chão com quase todo o peito completamente atravessado pelo meu feitiço.

Alguns segundos se passaram, até que decidi chegar perto do animal.

No entanto, uma energia que infelizmente reconheci saiu de dentro do morcego e o envolveu em uma camada perfeitamente escura.

A energia do abismo novamente se mostrou na minha frente, e isso fez minha guarda se levantar o máximo possível.

Recuei alguns passos, empunhando minha espada e recarregando meu núcleo.

A cada segundo a energia se intensificava e aumentava de tamanho, até que virou uma esfera inúmeras vezes maior que a criatura original. Sua altura chegou ao meu peito.

Então, a camada se desfez para revelar um ser parecido com o morcego, mas muito maior e grotesco. 

Além disso, a energia do abismo que vazava de dentro dele me incomodava, e os olhos verticais e vermelhos que se abriram para me encarar não eram uma exceção.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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