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A temperatura do ambiente esfriou quando envolvi partes de seus corpos em uma gélida camada de magia.

Seus lábios ressecaram e escureceram quando os cobri com gelo. Por mais que meu objetivo fosse conseguir respostas, faria isso depois de quebrá-los pedaço por pedaço.

Minha raiva era profunda. Meus sentimentos se conectaram com aquele que fui séculos atrás, isso me influenciou de maneiras que não entendia.

Apenas fui capaz de entender o ódio que exalava de minha figura. Ele foi o suficiente para sustentar uma eternidade de pura tortura, mas infelizmente o tempo não estava ao meu lado.

“Acorde.” Ordenei em um tom que representava minhas intenções. Minha voz chegou em seus ouvidos, mas o responsável por acordá-los foi a dor causada pelos quatro fragmentos de gelo que perfuraram seus joelhos.

Percebi que gritos lutaram para percorrerem o ar, mas a fina camada de gelo que os envolvia impedia-os de abrir a boca.

Me sentei em frente ao dono da loja antes de encará-lo. Um silêncio se seguiu enquanto meu olhar penetrava no dele.

Encontrei o reflexo de meus olhos amarelos no puro terror que seus olhos mostravam, despertando um pouco da minha razão.

“Irei ser breve,” declarei com uma voz indiferente, “vocês estão condenados. Irei matá-los, mas apenas depois de conseguir o que quero.”

“Quanto mais rápido eu conseguir o que quero, menos irão sofrer.”

A camada de gelo não cobriu suas gargantas, então conseguiram mover o pescoço e assentir com a cabeça.

“Qual é o seu nome, do seu parceiro e do seu chefe?” Perguntei para o dono da loja enquanto derretia o gelo que cobria sua boca.

“… Lino, Dann e Horj.” Ele respondeu hesitando.

Encarei-o por alguns segundos, analisando suas feições.

“Esqueci de dizer, mas cada mentira é um membro a menos.”

Após falar isso me sentei em sua perna e serrei seu joelho utilizando minha adaga. Rachaduras apareceram na camada de gelo conforme minha lâmina descia em seus músculos e alcançava o osso.

Entretanto, apenas reforcei a camada com mais gelo, até que enfim atravessei completamente sua perna. Gritos excruciantes provavelmente teriam saído de sua boca, mas a congelei novamente antes disso.

“Depois será sua outra perna, depois os braços, depois os olhos, e então… Você sabe.” Declarei enquanto sorria e apontava para sua virilha.

“Eu sei das crianças abaixo de nós, sei que seu chefe é um mago, e sei que seu parceiro é o responsável por criar aquele líquido estranho.”

“Também sei de outras coisas, então tome cuidado na hora de responder. Não vou ser tão rápido no próximo membro que tiver que cortar.” Declarei enquanto me sentava em sua outra perna.

Um rastro fino de fogo cobriu seus lábios para os libertarem do gelo, mas fui longe de mais de propósito.

O fogo continuou quando alcançou a carne e avançou mais. O homem tentou desesperadamente balançar a cabeça, mas as chamas o seguiram e rasgaram cada fibra da sua boca.

Só pararam quando alcançaram a pele que a rodeava.

“Você é insano, mas que merda! Tá fodido, magozinho de bosta!” O homem xingou antes de cuspir em meu rosto.

Permaneci indiferente enquanto a saliva descia pela minha bochecha. “É essa sua resposta oficial?” Indaguei em tom inocente.

Medo substituiu a raiva em sua face.

“… Meu nome é Korl, meu parceiro inútil é o Kevin.” Korl, o dono da loja, respondeu abaixando a cabeça.

Meus instintos não perceberam nenhuma mentira em sua resposta, então dei tapinhas fracos em seu ombro.

No entanto, me aproximei de seu ouvido para sussurrar algumas palavras.

“Você não falou o nome do seu chefe, então a resposta está errada.”

Suas sobrancelhas franziram e sua expressão facial mostrou o mais puro terror, mas congelei sua boca antes que qualquer súplica pudesse aparecer.

Me virei, mas continuei sentado em sua perna. Gotas de sangue caíram da minha adaga no gelo que cobria a outra perna de Korl, mas esguichos carmesins roubaram os holofotes.

Rachaduras se espalharam por conta da força exercida pelo homem ao tentar fugir, mas todas elas foram inúteis.

Logo um segundo pedaço de carne ensanguentada surgiu em minhas mãos. “Lindo, não é? São elas que o permitem andar, correr, viver… Mas você nunca mais as terá de volta.”

“Assim será com cada parte de seu corpo imundo, cada fragmento da sua alma infeliz será estilhaçado pela dor que te causarei se não dizer o que quero saber.”

Minhas palavras afiadas carregavam o ódio que obtive com a visão deplorável das crianças exatamente abaixo de nós.

O rosto do homem relaxou, ele parecia prestes a desmaiar. Infelizmente para ele, a magia me permitia controlar aquela situação.

Fogo cobriu o resto de suas pernas para cicatrizar as feridas e impedir que muito sangue vazasse. Então, uma fina camada branca como o sol cobriu seus ferimentos e curou tudo.

“Posso sustentar esse ciclo a noite toda.” Revelei enquanto estapeava a lateral do rosto do homem. O deixei descansando por um tempo depois de me levantar e ir até Kevin.

“Você parece ser mais inteligente que seu amigo… Tenho certeza que vai responder tudo que eu quiser, né?”

O homem desesperadamente assentiu com a cabeça, então derreti o gelo que o impedia de falar.

“Meu nome é Kevin, nasci nessa cidade trinta e seis invernos atrás, meu pai era caçador e minha mãe prostituta, meu primo é-”

“Eu não perguntei isso.” Interrompi enquanto puxava uma cadeira de madeira com magia de ar e me sentava nela, em frente ao homem.

“Mas te perdoarei. Vamos, me fale tudo que sabe sobre seu chefe.” Ordenei ao ficar de pernas cruzadas.

“A gente não sabe muito sobre ele, o cara é meio discreto. Sei que ele é rico, porque sempre nos paga com ouro. Não sei se esse é o nome real dele, mas ele nos mandou o chamar de Ortho.”

Seria ele um nobre? Quais as chances de um mago estar infiltrado na alta hierarquia? 

“Me diga sua aparência.” Continuei ordenando enquanto absorvia as informações.

“Não sei te responder isso. A gente recebe as ordens dele por um outro cara, ele se chama Carlos. Geralmente Korl que se encontra com ele num bar na periferia da cidade, só ele que vai poder te dizer algo sobre esse maluco.”

Por sorte, Kevin não hesitava na hora de trair seus companheiros, isso me ajudou muito. “Hmm…” Um gemido dolorido surgiu de repente.

Korl parecia estar acordando do choque que sofreu antes. Agora era o momento perfeito para tirar informações sobre Carlos.

“Ahh, aah, aaaah.” Gritos saíram de sua boca quando o mesmo percebeu a falta das pernas. “Minhas pernas… Onde… Onde e-elas estão?”

“Aqui.” Declarei enquanto arremessava os dois pedaços ensanguentados em seu colo. Mais resmungos e lástimas percorreram o ambiente. “Eu avisei.”

A esperança e raiva deixaram de existir no olhar de Korl. Apenas um vazio desesperado refletiu a dor que o mesmo sentia.

“Vou falar tudo que você quiser… Mas você pode me dizer uma coisa? Só uma?” Implorou enquanto olhava para mim como um cão olha para o dono suplicando por comida.

“Fale.” Declarei enquanto me ajoelhava com uma perna e o encarava na mesma altura.

“Por que você está fazendo isso? Não tem pena de causar tanta dor em alguém?” Ele indagou em um tom melancólico.

Usei toda minha determinação para não decapitá-lo ali mesmo. Sua hipocrisia me angustiava.

“Eu vi o que você fez, eu vi a miséria que várias crianças vivem por culpa de vocês… Eu vi como você trata aqueles pequenos lá embaixo como se fossem nada.”

“Você vale menos que lixo. Sua vida é indigna de estar em minha frente.” Um silêncio lúgubre preencheu o ambiente por alguns segundos. “Convivi com demônios por tempo o suficiente para agir como um, e farei você entender isso.”

“Diga tudo sobre o homem chamado Carlos. Sem mentiras, sem detalhes desnecessários, sem hesitar. Responda da maneira correta e sua morte será pacífica.”

Korl parecia ter aceitado seu destino. Todas minhas ações anteriores tinham um motivo por trás, fazê-lo perder o medo da morte.

Isso serviu para ele escolher entre ter uma morte tranquila, ou uma morte capaz de enlouquecer o mais insano dos monstros.

As respostas que se seguiram mostraram que Korl escolheu a primeira opção.

“Não sei muita coisa sobre ele. Geralmente me encontro com ele em um bar chamado Erva da Manhã. Fica no canto noroeste da cidade, uma das áreas mais pobres. Nossas conversas sempre são curtas. Bebemos umas brejas e ele me entrega uma carta com instruções e ouro.”

“E como você conheceu ele?” Questionei friamente.

“… Faz muitos anos. Quer a história toda?” Meu olhar cortou suas dúvidas, então ele continuou a falar.

“Eu fazia parte de uma gangue na adolescência, Carlos era um membro da gangue também. Não fazíamos nada de mais… Roubávamos algumas caravanas, lojas, casas vazias.”

“Até que deu merda e a gangue se desfez. Perdi contato com ele por décadas, até que me encontrei com ele novamente no bar Erva da Manhã. Ele falou que confiava em mim e que tinha um negócio lucrativo.”

“Ele sequestra as crianças, eu as mantenho em um lugar seguro, e Kevin cria um veneno que as bota pra dormir. Às vezes os papéis se invertem.”

“E o chefe?” Indaguei enquanto absorvia todas as informações.

“Nunca o vi. Não sei onde ele mora, nem de onde veio. Só sei que ele é rico pra caralho.”

“E como você sabe que ele é um mago?” Questionei enquanto cruzava os braços.

“Carlos me disse, e o medo que tava na cara dele na hora me fez acreditar nisso. E o cara era foda de briga! E olhando pra você agora, dá pra ver que magos são cruéis. Não duvido que o chefe congelou a bunda dele antes.”

Apoiei minha mão no queixo enquanto analisava suas palavras. A situação era confusa, o único que poderia me contar algo valioso sobre o chefe era Carlos.

“Quando seria a próxima vez que você encontraria ele?” Indaguei.

“Me encontrei com ele ontem, só daqui alguns dias que o encontraria de novo.”

‘Merda.’ Pensei comigo mesmo. Não tinha chances de me encontrar com ele até a festa. Entretanto, uma ideia surgiu em minha mente.

Estava prestes a matá-los, mas uma última pergunta surgiu em minha mente. “Ei, Kevin. Como você faz aquele veneno?”

“Ah, aquilo é simples. Só preciso de duas ervas específicas, mas elas são meio difíceis de achar, não tem na região. O chefe que encomenda pra gente, daí chega na nossa porta. Só misturar grama de tundra e caveira-floral.”

“Entendi, muito obrigado pela cooperação.” Declarei enquanto me sentava na mesa e os observava.

“A gente vai morrer em paz agora, né?! Respondemos tudo que você quis!”

Um silêncio dominou o ambiente.

“Realmente acreditaram nas minhas palavras? O quão burros podem ser?” Indaguei enquanto suprimia uma risada.

“Vermes como vocês não são dignos de misericórdia.”

O terror refletiu em seus olhares, mas a camada de gelo engrossou até cobri-los totalmente. Junto com ela, fragmentos minúsculos de gelo começaram a se criar no lado interno, em cada canto de seus corpos.

Eles lentamente perfuraram suas peles conforme cresciam. Criei buracos na camada para o sangue vazar, e suas figuras lembraram uma dama de ferro gélida.

O sangue desceu no chão e os espinhos continuaram a se infiltrar em seus músculos. 

Horas se passaram e eles continuaram vivos enquanto agoniavam, sem poder gritar por socorro. 

Permaneci em um ciclo de absorver energia prismática e usá-la para manter o gelo, mas isso não foi um problema. Pelo contrário, a tortura serviu como um método de treinamento.

Eventualmente morreram quando o sol surgiu no horizonte, mas faltou um toque final. Sem ninguém ver, arremessei seus cadáveres na frente da loja, junto com um rastro de sangue que levava até o alçapão do porão.

As crianças provavelmente seriam encontradas pelos guardas e voltariam para suas casas ou orfanatos, mas isso não era minha responsabilidade. 

Agora me restava voltar para Vivian antes que ela acordasse e então esperar.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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