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Capítulo 65 – Palavras Árduas

Meu sorriso se intensificou com sua resposta. Minha indiferença não podia ser vista naquele momento, eu estava completamente imerso em meus pensamentos sobre aquela situação.

Tossi um pouco e andei para trás, dando espaço para a garota e deixando-a respirar.

Não parei de segurar Caedes nem por um segundo. ‘Você consegue conversar com ela?’ Perguntei mentalmente para minha espada.

‘Negativo, mestre. Só posso formar uma conexão tão intensa como a nossa apenas com uma pessoa, você.’

‘Não precisa ser na mesma intensidade. Apenas uma troca de palavras.’ Falei ao notar a respiração instável de Stella.

‘Acho que sim, mas não recomendo, mestre. Essa conexão é extremamente pesada e cansativa para a mente humana, você só consegue mantê-la pois sua resiliência mental te protege. Além da nossa sinergia natural, é claro.’ Caedes se gabou. 

Suspirei a ergui minha lâmina em direção à Stella. “O que está fazendo?” Perguntou, cobrindo o queixo com um punho fechado.

“Se eu quisesse te matar agora, o que você faria?” Indaguei friamente. 

“Eu tentaria correr ou me defender.” Respondeu com hesitação. “Mas você não está sério, né? É só uma pergunta pra me testar.”

“Então vamos lá. Tente correr ou se defender, mas não se esqueça de tentar me matar.” Declarei ao andar lentamente em sua direção.

A garota sorriu um pouco, mas seu sorriso se desmantelou quando um raio partiu em sua direção, acertando a parede atrás dela, quase acertando sua cabeça.

Ela caiu no chão, assustada, olhando para a fumaça e marca chamuscada na parede rochosa. 

“Se você não me fazer sangrar em menos de trinta minutos, eu te matarei e fugirei das montanhas. Hark nunca me pegará e viverei sem sofrer as consequências.” Comentei enquanto criava dois fragmentos de gelo através do nada.

Os feitiços cortaram o ar, um deles errou Stella propositalmente, enquanto o outro acertou de raspão seu braço esquerdo, cortando o manto e derramando um pouco de sangue.

A garota gritou, mas fiquei parado. Exalei um pouco da intenção assassina que carreguei por quinhentos anos, mas me controlei. Não queria que ela soubesse que estava sozinha em uma caverna com um monstro secular que matou milhares ou milhões de demônios.

“Abandone sua hesitação em tirar uma vida, isso é o básico para viver. Ou você mata, ou morre. Até um animal recém-nascido sabe disso.” Continuei falando ao analisar as expressões da garota.

Não me importava com crueldade ou ser odiado por Stella, preferia carregar esse peso do que imaginar uma cena onde ela estivesse em meu lugar em algo como o que aconteceu em Furtel.

Claro, ela era uma maga, mas seu corpo ainda era humano. 

“Por favor, pare!” Tentou implorar, mas não cessei meus esforços. Mantive minha posição na saída da caverna.

“Ande logo! Tente me matar!” Ordenei ao criar mais fragmentos e raios, tendo que errar todos de propósito porque a garota não desviou.

A garota começou a chorar e rastejar para trás, por mais que já não houvesse saída.

“Exilada Casa Constellatio, hein?” Falei repentinamente quando lembrei de nossa primeira conversa. “Faz sentido ter sido exilada, a descendente deles é tão patética.”

O rosto de Stella congelou com meu comentário maldoso. Ela então se levantou e me encarou. Seu rosto inocente não podia ser visto, apenas um olhar vazio.

“Não fale da minha família. Não é culpa deles.” Declarou com uma voz irritada.

“Claro que não é. É sua.” Continuei zombando sem me controlar. 

Uma sensação estranha tomou conta de mim. Um dos meus instintos de perigo se acentuou quando percebi rastros de mana de luz coincidirem em um espaço específico acima da cabeça da garota.

“Vai fazer o quê? Me curar?” Falei ao arremessar Caedes no vórtex brilhante tomando forma. ‘Devore tudo!’ Gritei em minha mente.

Caedes obedeceu e devorou toda a mana reunida lá, antes que voltasse para mim com telecinesia.

Eu desconhecia os limites da energia prismática de luz, não poderia arriscar a garota criar algum ataque estranho.

“Você não vai falar nada sobre isso.” Ordenei ao caminhar em sua direção. “Vamos, tente novamente.”

Uma ideia veio à minha mente e atirei minha adaga no pé da garota. “Você nem sempre vai lutar com magia, isso pode te revelar, sabe disso. Quero que descubra como é a sensação de perfurar a carne nessa luta.”

A garota não hesitou em pegar minha adaga e apontar para mim. “Vai se arrepender disso.” Disse, seu rosto ainda confuso pelo evento com Caedes que acabou de presenciar.

Uma camada de gelo e raio envolveu a lâmina curta, antes que quatro esferas flamejantes com um ponto branco feito de luz no centro tomassem forma atrás dela e partissem em minha direção.

Cortei duas das esferas e desviei das restantes, mas mais ataques vieram. Nenhum teve a chance de me acertar, então continuei me aproximando.

Criei dois minúsculos feitiços de escuridão, do tamanho de gotas, e os arremessei nos olhos da garota. Isso a deixou cega por poucos segundos, antes que conseguisse desfazer os efeitos.

Mas foi muito tarde, afinal me aproximei e soquei seu rosto. Claro, usei uma fração do terço da minha força, mas isso foi o suficiente para a garota perder o equilíbrio.

No entanto, ela parecia esperar isso e levou a adaga até minha garganta enquanto caía. Desviei com facilidade e agarrei seu pulso.

“Essa foi boa, pequena.” Elogiei ao aproximar meu rosto. Segurei seu braço e comecei a girar, arremessando Stella contra a parede do outro lado da caverna.

A adaga caiu ao seu lado, mas ela não hesitou em curar os ferimentos com magia de luz. Seu estado pareceu voltar ao auge em poucos segundos.

‘Magia de luz é realmente impressionante.’ Pensei ao observar a garota se levantando e pegando a adaga de volta.

‘Acho que vou me soltar um pouco.’ Decidi ao formar um sorriso bestial com meus lábios.

Me posicionei como um animal. Encostei minha mão direita no chão, enquanto mantinha minhas pernas em uma posição baixa, então levando minha espada para trás e encostando sua ponta no chão.

Disparei e corri até a garota. Fragmentos de gelo partiram até mim, mas não me importei em desviar daqueles que não acertariam algum órgão vital.

Sangue caiu, mas minha mente apenas ficou vermelha quando os instintos começaram a gritar. Eu estava descontrolado.

Tentei me segurar, não queria machucar Stella de verdade, mas falhei.

Usei Caedes para cortar horizontalmente na altura do pescoço da garota, mas ela desviou e chutou meu abdômen, me arrastando alguns centímetros para trás.

Essa dor me despertou um pouco, então parei meus músculos imediatamente para não matar Stella, o que me deixou abalado e confuso. Não me decepcionando, a garota percebeu e tirou proveito disso, enfiando a adaga na lateral da minha garganta.

‘Mestre!’ Caedes gritou em minha mente.

Senti o sangue quente subir e preencher minha boca, mas não consegui parar de sorrir. Soltei Caedes e acariciei o rosto da garota, que estava extremamente assustado, derramando inúmeras lágrimas.

“Eu… Sirius!” Falou ao tocar em meu ferimento, arrancando a adaga e curando a perfuração em poucos segundos.

Essa garota nunca teria chances se não tivesse me controlado, mas eu não podia negar o fato de que ela me acertou. Isso mostrou que eu ainda era facilmente influenciável na batalha, precisava melhorar isso antes que me descontrolasse novamente e morresse de verdade.

Óbvio, me descontrolar não era tão ruim quando eu realmente queria matar meu oponente, mas era melhor manter o controle do meu corpo de qualquer jeito.

“Não que eu tenha morrido, mas como é a sensação de quase matar alguém?” Indaguei após minha garganta ser curada completamente por ela.

“Horrível. Eu não quero que você morra, mesmo que tenha feito e falado aquelas coisas ruins.” Comentou ao encarar o lugar onde meu ferimento estava. Parecia que ela ainda estava preocupada.

“Que pena, porque você vai ter que matar muitas vezes ao longo da vida. Se acostume.” Falei ao me sentar ao seu lado, apoiados na parede da caverna.

A garota desviou o olhar para o lado oposto, apertando as pernas. “Não quero matar pessoas, mesmo que seja pra me proteger.”

Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que soltei um suspiro derrotado.

“Ei.” Chamei Stella, que virou seu rosto para mim.

“O que houve?” Indagou, mas dessa vez quem desviou o olhar fui eu.

“Então eu te protegerei e matarei por você até que não seja tão difícil para ti.” Prometi indiferentemente, encontrando seu olhar prateado e brilhante que me admirava timidamente.

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Olá, eu sou Kalel K. Dessuy!

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