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Noro olhava para o embrião que, por uma graça divina, ainda não havia nascido, com um único pensamento em sua cabeça:

‘Espero nunca encontrar o pai dessa coisa.’

Ele se sentia satisfeito com seu novo fragmento, que lhe dava a vantagem da informação. Além disso, agora sabia ainda mais sobre seus fragmentos anteriores.

‘Agora só me resta uma coisa… atravessar isso.’

Noro olhava para frente, observando a imensidão além da floresta cinza, não apenas para esse túmulo de ossos e morte, mas para um local vermelho, construído e arquitetado pelo próprio diabo, feito de carne e sangue – as colinas de carne.

Ele sabia que chegaria lá em algumas horas, então organizou seus pensamentos. 

Era simples: como a Serpente não apareceu até agora, isso só poderia significar três coisas:

1. Ela não seguiu para o sul, mas sim para outra direção.

2. Ela foi morta por outra criatura.

3. Ela voltou para o norte.

Essas últimas duas possibilidades aterrorizavam Noro. 

Enquanto caminhava, sua mente se ocupava em rezar para que não fossem verdadeiras.

Ele tinha certeza de uma coisa: no final das contas, só o destino poderia dizer.

O destino, de fato, tornara-se um dos piores inimigos de Noro. Ele nunca se sentiu tão amaldiçoado, seu corpo nunca esteve tão maltratado, e ele nunca se sentiu tão… tão só.

Nesse inferno, Noro se viu forçado a ultrapassar até mesmo aqueles que conheceu. No fim, tudo se resumia a sobreviver. 

O que o diferenciava de um animal? Nada… e ele estava ciente disso. 

Mas não importava, pois era essa a razão de sua luta, a força que o fazia levantar todos os dias e caminhar por esse inferno. 

E ele não pararia até sair daquele lugar.

Ao passar pelo túmulo ósseo e andar novamente pelas cinzas, Noro refletia:

‘Essa Serpente é realmente assustadora… ela fez tudo isso sozinha.’

Com seu novo “olho”, capaz de sentir qualquer presença num raio de 5 metros, Noro caminhava com mais confiança.

‘Pelo menos disso eu não posso reclamar.’

Decidido a não repetir o erro do dia do inseto, Noro jamais caminharia no inferno sem guarda-chuva. 

Agora, pelo menos, sentia-se um pouco mais seguro.

Perdido em pensamentos enquanto atravessava a floresta da morte, Noro questionava: os buracos de minhoca são portais para outra dimensão? Outro mundo? 

A teoria mais aceita fala de uma dimensão diferente, com locais do mundo real espelhados, enquanto outros acreditam ser um mundo completamente distinto, com sua própria história e civilizações.

Noro, no entanto, não acreditava em nenhuma dessas teorias. Para ele, era apenas o inferno.

‘Talvez as criaturas sejam pessoas mortas… Nah, viajei.’

Refletindo sobre sua força, com um nível considerado divino e um dom único e versátil, Noro se perguntava se seria famoso um dia. 

Conhecendo histórias de caçadores lendários como o “Rompedor de Céus”, ele imaginava qual seria seu próprio apelido.

“Quem sabe… Deus dos Fragmentos?” Noro sentia-se envergonhado ao pensar num nome tão tolo.

Deixando esses pensamentos de lado, ele chegava ao fim da floresta morta, diante das colinas de carne. 

Pisando com o pé esquerdo, ele pensava: “Que se dane.”

Noro, o garoto de 15 anos da periferia, que ninguém desejava por perto, sobrevivia sozinho nesse inferno, avançando dia após dia. 

Agora, encontrava-se no limiar entre a morte e um renascimento, consciente e ansioso para descobrir o que o aguardava.

Ele tentava distrair-se da dor, mas os recentes sofrimentos – o fragmento do embrião gigante, a poção do cervídeo, e as agressões de outras criaturas – deixavam claro que Noro não estava bem mentalmente. 

Apesar de sua capacidade de regeneração física, sua mente permanecia desgastada. 

Ele precisava descansar, mas não podia. Tinha que seguir em frente, atravessar as colinas de carne.

‘Falta pouco… Depois daqui, estarei próximo ao buraco de minhoca.’

Caminhando pela carne e pisando em vísceras, Noro fazia uma careta e tapava o nariz. O cheiro pútrido poluía o ar e invadia suas narinas.

‘Que cheiro horrível… E se essas colinas forem vivas como a floresta?’

Com esse pensamento perturbador, Noro balançava a cabeça, preferindo não pensar nisso. Afinal, se fossem vivas, certamente seria mais uma experiência traumática.

Ao pisar na carne imaculada, ele começava sua primeira subida, em um morro não muito íngreme.

‘Isso vai ser bastante cansativo,’ pensou Noro enquanto começava a subir. Ele planejou atravessar a colina menor para alcançar seu objetivo. 

No entanto, a colina tinha talvez mais de 300 metros de altura e já estava escurecendo. 

Com isso em mente, Noro ativou seu fragmento de velocidade e partiu o mais rápido possível.

Após longos e demorados minutos, ele chegou a uma parte onde a escalada se tornava obrigatória.

‘Merda… Eu não sou tão bom em escalar,’ lamentou, olhando para cima. Parecia que ele teria que escalar mais de 200 metros.

‘Mas eu tenho que continuar… é, eu vou conseguir.’ Fortalecido por suas autoafirmações, Noro ativou simultaneamente o fragmento de força e o de velocidade e iniciou a árdua escalada.


Algumas horas depois, exausto e ofegante, ele havia escalado cerca de 50 metros. 

Sua resistência não era das melhores; os músculos doíam intensamente, a cabeça latejava e os olhos mal se mantinham abertos.

‘Eu… não posso… parar,’ ele persistiu, cada movimento mais doloroso e desgastante que o anterior. 

Noro suava profusamente enquanto a lua surgia no céu noturno.

‘Maldição…’ Se ele caísse de tal altura…

‘Eu não vou cair.’ Acima dele, havia o que parecia ser uma entrada de caverna na colina. 

Sem perder tempo, encontrou uma saliência na carne, ativou o fragmento de salto, e saltou com força total. 

Agarrou-se à entrada da caverna e se impulsionou para cima, caindo exausto lá dentro.

‘Ah… estou vivo…’ Sua respiração era irregular e pesada.

Olhando ao redor, percebeu que a “caverna” era apenas um buraco profundo na colina de carne, vazio por dentro.

Mas havia outro problema: a fome. Noro não trouxera comida, pois escalar com peso extra seria suicida.

‘O que eu vou comer…’ Ele olhou para a carne do chão com nojo e desgosto.

‘Só se eu fosse louco.’ Decidiu então deitar-se, usando as mãos como travesseiro, enquanto encarava uma parede de carne.

‘Pelo menos posso descansar esta noite toda… Amanhã de manhã, continuo…’

Ele foi despertado por um sonho estranho e um grito fino e estridente vindo do céu, parecido com o de uma ave. 

Noro espiou para fora do buraco e viu no alto um borrão preto com dois pares de asas enormes, quase se misturando à escuridão do céu noturno. 

Sua nova visão permitiu que distinguisse claramente a silhueta do pássaro.

‘Maldição… tenho certeza de que é ela,’ pensou, lembrando-se da visão que tivera no corpo do filhote de pássaro. Era a mãe ou o pai daquela criatura.

‘É melhor me esconder.’ Ele recuou para o fundo do buraco, esperando que a ave se fosse pela manhã.

‘Parece que não tenho um mísero momento de descanso.’ Suspirou enquanto a ave se afastava. Observou-a indo na direção onde a enorme pantera havia morrido.

‘O que ela quer lá?’ Depois de um tempo, viu a silhueta negra de quatro asas carregando a pantera em suas garras. Comparada ao tamanho da pantera, a ave devia ter quase 10 metros de comprimento.

‘Cada um pior que o outro… Estou realmente no inferno.’

Noro tremia, assustado e com uma expressão sombria. Agora, tinha dois problemas principais: a Serpente de Chamas e aquele pássaro monstruoso. Encontrar qualquer um deles era como encarar a morte, e ele sabia disso.

Olhando para o céu, sorriu de canto de boca, um sorriso sombrio e estranho.

‘Qual dos dois será o primeiro a morrer pelas minhas mãos?’

Com esse pensamento insano, Noro adormeceu. Talvez os traumas o tivessem afetado profundamente, ou talvez a conquista de matar um Barão o tivesse deixado arrogante demais. 

Ou, por mais improvável que parecesse, talvez Noro nunca tivesse estado tão lúcido.

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