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Capítulo 31 – Quem é você?

Sentado recostado em uma árvore, na penumbra da noite na floresta, encontra-se Noro. Seus olhos estão cerrados, sua respiração segue um ritmo constante, todo seu foco concentrado nisso.

Após alguns minutos, ele abre os olhos, passando as mãos pela cabeça e apoiando-se na árvore.

“Merda… não consigo ver meu coração de nirvana. De que adianta? Como vou saber em que nível estou?”

Ele esfrega o rosto com as mãos, frustrado. Antes que possa murmurar ou reclamar mais, Helen se levanta.

“Teu treinamento começa hoje”, declara Helen, enquanto Noro a encara, exibindo uma expressão hesitante.

“Você não vai me bater, vai?” questiona Noro, receoso.

Helen não responde, apenas o chama com um gesto da mão.

Noro suspira enquanto se levanta, dirigindo-se até Helen com resignação.

“Então, tua principal arma é aquela espada? Conte-me mais sobre teu estilo de luta”, questiona Helen.

Noro coloca a mão no queixo, ponderando a pergunta. Na verdade, ele nunca teve um estilo de luta definido.

“Isso vai ser difícil…” murmura para si mesmo, retirando a mão do queixo.

“Na verdade, não tenho exatamente um estilo de luta. Uso aquela espada, mas também estou habituado a utilizar várias outras armas”, responde ele, sinceramente.

“Imagino que nunca tenhas aprendido a lutar com nenhuma delas, certo?” Helen pergunta, e Noro simplesmente acena com a cabeça em resposta.

“Sim, você está certa. Nunca tive nenhum treinamento. Mas também não precisa esfregar na cara que não sei lutar…” responde Noro, um tanto resignado.

Noro observa a expressão de Helen. É estranha, ela parece fria e inexpressiva, sua voz é como uma lâmina cortando o ar, sem emoção e cheia de autoridade. No entanto, Noro está começando a entender lentamente.

‘Talvez você seja mais do que parece, Helen’

Ele sorri de leve. No final das contas, é impossível prever Helen, e isso é intrigante. Na verdade, isso atrai muito Noro. Ele está curioso para descobrir mais sobre ela.

‘Afinal, quem você é de verdade?’

Ele é despertado de seus devaneios pela voz de Helen.

“Quando você derrotou aquela besta, observei você pegando uma espécie de joia vermelha que se formou dela. Seriam esses os tais fragmentos, correto?”

“Sim, toda vez que eu mato uma criatura, um fragmento se forma e eu ganho algo tipo um item de jogo. Mas, ainda estou tentando entender completamente o meu presente.”

Noro estende a mão no ar e invoca o fragmento do caçador bestial; a joia vermelha se forma em sua palma, mas rapidamente se deforma e se reconstrói. Na mão dele, surge uma faca com a lâmina curvada como uma garra, vermelha e afiada, seu cabo curvado possui depressões para encaixar os dedos, e na sua coronha, um anel.

Instantaneamente, o olho de Noro ativa, e as informações fluem para ele.

Garra Carmesim

Nível: (Ativo)

Dádiva: (Um perseguidor nato que corre pela floresta como um borrão vermelho e não desiste de sua presa por nada, sua residência é admirável)

‘Hm… sinto que já vi esse tipo de faca em algum lugar… ah! É igual aquelas karambit, né?’

Noro balança a faca no ar algumas vezes.

‘Não posso negar que isso é daora.’

Ele pára ao notar Helen observando a faca.

“Então, esse é o teu presente…”

Noro sorri triunfantemente enquanto dispersa a faca.

“Eu sei! Incrível, não é?”

Helen olha nos olhos de Noro por alguns segundos, criando um clima tenso. Noro tosse forçadamente e tenta forçar uma risada.

“Quer dizer… eu acho bem útil…”

“Sim, é útil”, responde Helen.

“Qual arma você pretende ser apto a usar?” Helen pergunta, e Noro pondera por alguns instantes.

“Escolher uma arma?” Noro sorri de canto de boca e olha nos olhos de Helen.

“Acho que sou um pouco ganancioso demais para escolher só uma. Eu quero saber usar todas.”

Helen não diz nada, apenas se vira e pega sua lança.

“O caminho que você escolheu é o mais difícil. Ser bom em apenas uma coisa já é algo trabalhoso. Mas… você me surpreendeu.”

Noro se sente animado; na verdade, surpreender Helen é algo que ele almejava.

“Eu imagino, mas bom, seria mentira dizer que eu já não tenho meus truques”, diz ele.

“Truques. Até que ponto truques são importantes? Tenho certeza de que você já encontrou alguém tão forte que seus truques não serviam de nada. Sendo assim, irei lhe ensinar o caminho; o resto você deve fazer sozinho”, afirma Helen.

Noro engole em seco. É verdade; contra Sloan, suas artimanhas não adiantaram.

“Eu escolhi a lança. Pois a lança é mais do que uma simples arma; é um símbolo de controle. Com alcance superior à espada, embora exija maior destreza para manejá-la, a lança transcende os limites do combate. Pode ser usada tanto na defesa quanto no ataque, capaz de estocar e cortar, ou ser lançada com precisão contra um inimigo distante. A lança personifica o poder, e neste mundo, o poder é tudo o que importa.”

Ela aponta a lança para Noro, e ele sente um calafrio percorrer sua espinha, mas não pode conter o sorriso que se forma em seus lábios.

‘Poder, não é mesmo?’

Helen gira sua lança e a crava no chão.

“Invoque sua espada e a empunhe no ar mil vezes. Em seguida, faça o mesmo com todas as suas armas, sem exceção”, ordena ela.

O sorriso de Noro desaparece.

“Espera… mil vezes? Você está brincando, certo?”

“Não, você fará isso todas as noites”, responde Helen, com seriedade.


Após horas de esforço exaustivo, Noro está deitado, observando o céu escuro. Seu corpo está dolorido, seus músculos à beira do limite, ele se sente tonto e sua visão turva, à beira do desmaio.

‘Eu nem consegui terminar tudo… sinto que vou morrer… e ela só ficou observando tudo…’

Durante todo o “treinamento”, ou como Noro o chama, “tortura”, Helen permaneceu ali, assistindo-o. Mesmo no escuro, Noro podia sentir que ela percebia cada movimento que ele fazia.

‘Essa maluca assustadora…’

Ele vira a cabeça para o lado e avista Helen, que está sentada, observando a floresta como se estivesse de guarda.

Noro hesita, lutando contra sua própria língua, mas encontra coragem e diz em voz baixa e rouca:

“Ai. Posso te fazer uma pergunta?”

Helen, ciente da capacidade de Noro de ver no escuro, se vira para ele e balança a cabeça em concordância.

Noro hesita.

“Você me contou muito pouco do porquê está aqui, mas desde que você chegou, só tenho uma pergunta em mente. Quem é você exatamente?”

Depois dessa pergunta, um silêncio corre por toda a floresta.

‘Merda… perguntei cedo demais’, pensa Noro, lamentando sua impulsividade.

“Não é necessário você saber disso agora”, responde Helen, inclinando a cabeça para baixo.

Noro franze as sobrancelhas, forçando seu corpo dolorido a ficar sentado.

“Bom… pelo menos me fala só uma coisa: por que você está escondendo quem você é?”

Helen vira a cabeça para ele inesperadamente.

“Porque eu não quero que você mude sua visão sobre mim”, diz ela.

Noro abre a boca para falar algo, mas a fecha em seguida.

‘Ela definitivamente é alguém importante… isso só aumentou ainda mais minha curiosidade’

De repente, Helen olha nos olhos dele e pergunta:

“Já que você me fez uma pergunta, posso te perguntar algo também?”

Noro engole em seco endireitando sua postura.

“Sim, pode”

Helen olha para a floresta novamente.

“Há quanto tempo você está aqui?”

Noro se prepara para responder, mas então para… isso é algo que nem mesmo ele se perguntou. Já se passaram muitos dias, talvez até mesmo meses, e ele não faz ideia de quanto tempo está ali. Só agora percebe o quão preocupante isso é.

É claro que ele não perdeu completamente a noção do tempo, mas agora percebe o quanto precisa sair desse maldito lugar.

“Pra ser sincero, eu não sei”, responde Noro, coçando a cabeça.

Helen inclina a cabeça, os cabelos ruivos caem delicadamente sobre os ombros enquanto ela pondera.

“Imaginei”, murmura ela, seu olhar perdido no horizonte.

Noro permanece em silêncio por alguns momentos, sua expressão séria denotando preocupação.

“Você realmente pretende enfrentar a serpente de chamas?” 

Helen dá de ombros.

“Sim, eu vou matá-la”, diz ela com firmeza.

“Mas…” Ele hesita, fechando os olhos por um momento, tentando encontrar as palavras certas. Para ele, as palavras parecem esquivas, escapando-lhe como sombras, enquanto a ação dela permanece sem sentido.

“Você vai morrer se enfrentá-la”, adverte Noro, sua voz pesada e tensa.

Helen se vira abruptamente, encarando-o nos olhos. Noro vê uma determinação inabalável que nunca testemunhou antes nos olhos dela.

“Se eu morrer, é porque fui fraca”, responde ela com convicção, suas palavras carregadas de uma força silenciosa que ecoa no ar.

Após as palavras de Helen, um silêncio denso paira entre eles, como se as próprias palavras estivessem pesando no ar, deixando ambos sem fala. 

Noro sinceramente não compreende como ela está disposta a se sacrificar dessa forma. Para ele, a solução parece tão simples: ela poderia simplesmente partir, evitando o confronto com a serpente. Desde o motivo de sua presença até o desejo de enfrentar o perigo, nada parece fazer sentido para ele.

‘Nada faz sentido…’ 

Noro encosta a cabeça na árvore, seus olhos vagando pela paisagem da floresta. Ele suspira profundamente, deixando-se relaxar diante da natureza serena ao seu redor. Seus olhos encontram Helen, sentada à distância.

“Posso fazer uma última pergunta?” Noro finalmente quebra o silêncio.

Helen dá de ombros, uma expressão indescritível no rosto.

“Contanto que eu possa fazer uma também”, ela responde.

Noro simplesmente concorda com a cabeça, embora saiba que Helen não pode ver esse gesto e nem está olhando para ele.

“Eu te contei sobre meu presente, sei que era por causa do acordo, mas já que vamos sobreviver juntos por um tempo, eu queria saber sobre o seu…” Noro pausa por um momento, reunindo coragem para continuar. “Poderia me contar sobre o seu presente?”

Noro se vê consumido pelo desejo de descobrir o presente de Helen. Até agora, essa garota fria e poderosa sequer utilizou seu dom, mesmo sendo capaz de derrotar criaturas temíveis com facilidade. Noro pondera sobre os motivos dessa aparente relutância.

Ele já considerou diversas possibilidades: talvez seja arrogância, a crença de que ela não precisa do seu presente e que sua força é suficiente; ou talvez ela seja verdadeiramente poderosa o bastante sem precisar recorrer a ele. 

Outra hipótese é que ela não o utilize porque seu dom não se aplica a essa situação específica. Ou, ainda, pode estar relacionado à maldição que paira sobre ela. Noro não tem certeza, mas para ele, o mais importante é descobrir qual é o presente dela.

Helen fica em silêncio por um breve momento antes de responder:

“Meu presente… ele é destrutivo, mas também tem outras aplicações.”

Noro percebe que Helen não está disposta a revelar muitos detalhes sobre seu presente, assim como ele próprio ocultou informações sobre o seu. No entanto, mesmo com poucas palavras, as conjecturas começam a se formar na mente de Noro. Talvez ela evite usá-lo porque é excessivamente destrutivo e pode representar um perigo tanto para ela quanto para ele. Além disso, o fato de ela mencionar que seu poder pode ser utilizado de outras formas sugere que sua habilidade é verdadeiramente única e versátil.

Noro tem certeza de que o dom de Helen não se encaixa no tipo de “acréscimo” ou “vitalidade”. Sua intuição o leva a considerar que pode ser “divergência”, “criação” ou uma habilidade verdadeiramente única.

Embora Noro incline-se a acreditar que seja “único”, uma pequena voz em sua mente o alerta para a possibilidade de estar errado. 

“Não… impossível ser isso”, pensa ele, consciente de que se for isso, Helen é muito mais do que um simples monstro.

A ideia o perturba, mas Noro decide deixar essa linha de raciocínio de lado por enquanto, focando em lidar com as circunstâncias imediatas.

“Minha vez”, declara Helen.

Noro observa Helen atentamente, compreendendo que agora é a vez dela de fazer uma pergunta. Ele acredita que seja isso.

Sem esperar por uma confirmação, Helen se inclina e diz:

“Tu pretendes se tornar um caçador?” Helen pergunta, inclinando-se ligeiramente em direção a Noro.

Ele abaixa a cabeça, refletindo sobre a pergunta. Na verdade, Noro nunca considerou essa possibilidade. Seu foco sempre foi simplesmente sobreviver e eliminar ameaças, sem pensar muito além disso. Contudo, a ideia de se tornar um caçador não lhe agrada muito. Isso significaria retornar a este lugar mais vezes, enfrentar criaturas no mundo real.

Até que ponto isso seria benéfico? Noro se questiona. Ele não deseja reviver esse inferno novamente, ou será que deseja? Nem mesmo ele tem certeza. A verdade é que sua vida após a morte de Aurora tem sido monótona, sem brilho. De forma irônica, talvez essa seja sua única oportunidade de encontrar um propósito significativo na vida.

É verdade, se Noro se tornar um caçador de sucesso, ele poderia ganhar uma quantia significativa de dinheiro e até mesmo alcançar a fama como uma lenda. No entanto, essa decisão vem com um peso enorme, uma responsabilidade que ele talvez não esteja preparado para carregar.

Por um lado, a perspectiva de alcançar sucesso e reconhecimento é tentadora, oferecendo a oportunidade de escapar da monotonia de sua vida atual e encontrar um propósito real. Mas ao mesmo tempo, Noro pondera sobre os perigos, os sacrifícios e o fardo emocional que acompanham esse caminho.

É uma encruzilhada complexa, onde os riscos e as recompensas se entrelaçam em uma teia de incertezas. Noro sabe que essa escolha moldará seu destino de maneiras profundas e irreversíveis. Ele se vê diante de uma decisão que exigirá coragem, determinação e um entendimento claro de suas próprias motivações e limitações.

“Sim, eu vou me tornar um caçador”, declara Noro com uma determinação feroz, seu olhar fixo em Helen.

Noro sente um novo senso de propósito se enraizando dentro de si, impulsionando-o para um futuro repleto de desafios e oportunidades. Ele está decidido a enfrentar os perigos que aguardam e a buscar a grandeza que há muito tempo lhe escapava.

Seu coração arde com a chama da determinação, enquanto ele se prepara para trilhar o caminho do caçador, pronto para enfrentar todos os obstáculos que surgirem em seu caminho.

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