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“AHHHH!!” Um grito horrorizado soou em meio a noite escura.

Alguns momentos depois, Noah e alguns soldados chegaram. No local onde ouviram o grito, um homem estava morto, seu corpo tão seco quanto uma uva-passa.

Um dos soldados agachou-se ao lado do cadáver, então olhou para o Oficial de cabelos loiros.

“Esse é o terceiro, senhor, acho que devemos avisar ao Tenente. Não faço ideia de qual coisa está causando isso.” disse, com uma expressão complicada.

“Que infernos é essa coisa?” perguntou-se, olhando para o corpo morto.

Desde que assumiu seu turno junto a alguns outros na linha de frente, Noah havia encontrado dois soldados mortos, sendo este o terceiro.

Baixas eram normais, afinal haviam muitas bestas na floresta, mas a forma como os soldados ficaram era anormal. Sem falar que não havia sinais de luta, indicando que todos foram completamente subjugados. Além disso, os três casos aconteceram na área de descanso, muito antes da linha de defesa.

Noah estava sem palavras e suando frio devido aos acontecimentos. Apesar de ter ganhado muita experiência desde que saiu de Vento Amarelo, não sabia como lidar com algo assim.

Mas mesmo com as dúvidas e hesitações, balançou a cabeça. Fernando havia lutado todo o dia sem parar uma única vez, chamá-lo para resolver algo assim só demonstraria sua incompetência como Oficial.

“Chamem o Subtenente Ilgner e espalhem mais homens. Se precisar use as tropas do Quinto Pelotão, já que a Oficial Kelly não está presente. Ninguém deve andar sozinho!”

Sem poder usar qualquer tipo de iluminação para não revelar sua posição ao inimigo, toda a área onde o Batalhão Zero estava estacionado foi coberta pela escuridão da noite. Com isso, era extremamente difícil localizar a besta que havia atacado os três homens.

Na retaguarda do Batalhão, depois de dormir por volta de uma hora, Fernando levantou-se. Olhando para Karol que dormia ao seu lado, sua expressão vacilou vagamente.

Naquela manhã ele havia enviado quatro pessoas em quem confiava para uma missão praticamente suicida. Seu coração estava pesado e inquieto. Com sua posição como Tenente, ele tinha que fazer escolhas que iam contra sua vontade.

Enquanto olhava para sua esposa, em sono profundo, não conseguia deixar de divagar. E se um dia ele precisasse enviar Karol em uma situação semelhante, ele faria? Ou seu lado egoísta seria mais forte, protegendo-a até o fim?

Essa dúvida inquietante pairava em sua mente, fazendo-o perder qualquer vontade de voltar a dormir na pequena barraca.

Com um olhar calmo, Fernando levantou-se, saindo para caminhar. Ao redor, haviam várias tendas maiores, estas eram usadas pelos Soldados. Armar uma tenda pequena para cada um era inviável devido a demora para armar e desarmar e o espaço ocupado, então as baixas patentes sempre compartilhavam as tendas que comportavam no mínimo cinco pessoas e dividiam com alguns de seus companheiros de Esquadrão. Devido a falta de fogo, os ventos frios castigavam a todos. 

Com receio de fazer barulho, o jovem pálido começou a caminhar para longe, para não acordar ninguém por acidente, afinal, cada grupo teria poucas horas de sono daqui para frente. Muitos teriam que fazer uso de Tônicos e Poções de Resistência que foram distribuídos aos soldados para se manterem. Isso era algo comum em guerras.

Si! Si!

Enquanto andava em meio a mata pensando sobre a situação de Theodora e dos outros, Fernando ouviu algo estranho, então foi em direção ao ruído.

Afastando-se e caminhando para fora do local onde estavam estacionados, avistou algo ao longe, era uma fraca luz.

Fogo? pensou, sua expressão franzindo.

Ele havia ordenado que nenhuma fogueira poderia ser acesa. Com os Orcs tão próximos, era um risco muito grande. 

Mesmo que a disciplina militar fosse rigorosa, sempre haveriam algumas pessoas que desobedeceriam ordens. 

Fernando não era do tipo que se preocupava em aplicar punições, já que era algo que Theodora e os outros costumavam lidar, mas para alguém que estava colocando em risco a vida de todo o Batalhão apenas para assar um pouco de carne ou se aquecer, ele iria lidar pessoalmente com essa pessoa.

Ta! Ta!

Com cuidado, aproximou-se do local, já era possível ouvir o leve estalar da madeira queimando. No entanto, quando chegou perto, a expressão do jovem mudou.

Ao contrário do que pensava, não haviam soldados em torno da pequena fogueira, mas uma única garotinha, que aparentava ter menos de dez anos, sentada, olhando para o fogo.

Ele tentou analisar o entorno, aquela situação não era comum e não fazia sentido, mas não sentiu nada de estranho.

Crack!

Ao ouvir o som de galhos quebrando, a garota olhou para a mata, cheia de medo.

Fernando, que estava no escuro e foi a fonte do som, viu aquilo com uma expressão franzida. 

Como uma criança está neste lugar? pensou. A cidade mais próxima era Belai, que até pouco tempo atrás estava cercada. Além disso, esse lugar estava infestado de Orcs.

Com um rosto calmo, o jovem Tenente aproximou-se, saindo da escuridão, fazendo com que a garotinha, de cabelos castanhos e olhos verdes claros, o olhasse chocada.

“Q-quem é você?” disse, trêmula, levantando-se.

“Eu sou Fernando, um Tenente da Legião Leões Dourados. Não vou lhe fazer mal.”

Ouvindo isso, a pequena menina sentiu-se menos amedrontada, apesar de ainda estar com a guarda levantada.

“Qual o seu nome?” perguntou, aproximando-se e se agachando em frente da pequena fogueira.

A garota olhou de forma desconfiada para o jovem pálido, mas sentou-se.

“M-meu nome é Dana, moço.”

Ouvindo isso, Fernando assentiu.

“O que está fazendo aqui? Onde estão seus pais?”

Ouvindo as perguntas, a garota parecia hesitante.

“Meu papai, ele… Não voltou ainda. Uh…” Ao dizer isso, os olhos da garota se encheram de lágrimas, começando a chorar.

O jovem ficou perplexo, ele só fez algumas perguntas.

“Escute, não chore. Seu pai deve voltar logo.” falou. Então tirou um pedaço de carne seca de sua Pulseira de Armazenamento, oferecendo a pequena.

Os olhos lacrimejantes da garota diminuíram ao ver a comida, como se estivesse interessada. Então esticou os braços para pegá-la.

Fernando aproximou-se mais para dar em sua mão, porém ao fazê-lo, sentiu um estranho arrepio em seu corpo, notando os pêlos de seu braço levantando-se.

“Não faça isso!” Um grito estridente soou ao longe.

O jovem virou seu rosto para a direção da voz, mas ao sentir algo estranho, voltou a olhar para a menina e o rosto dela estava retorcido de uma forma bizarra. Uma boca oval, cheia de dentes, estava onde eram seu nariz e boca e seus olhos eram verdes brilhantes.

A expressão de Fernando mudou e ele não teve tempo de reagir quando a coisa avançou em sua direção.

Swish! Bam!

Uma lança escura veio voando, atingindo a coisa em sua barriga e a empalando numa árvore próxima.

“Ahhhh!” A criatura gritou de forma estridente, enquanto se retorcia, tentando arrancar a lança.

Que droga é essa? Fernando perguntou-se, com uma expressão confusa.

Nesse momento, a fonte da voz que o alertou no último instante, assim como da lança que foi jogada, surgiu. Um homem negro, com uma barba branca-acinzentada levemente desgrenhada, era o Anane.

“Meu senhor, você está bem?” O homem perguntou, aproximando-se e apoiando o jovem Tenente.

Fernando, ainda atordoado, levantou-se. Se não fosse a ajuda de Anane, aquela coisa teria o pego de guarda baixa. Ele logo percebeu que o cansaço que vinha se acumulando, desde antes de partir de Belai, estava afetando seus sentidos e julgamento.

Além do mais, existiam diversas criaturas perigosas que ele desconhecia, seja pelo nível de força ou por ser capaz de esconder suas reais intenções até mesmo dos sentidos mais apurados.

“Ahhhh! Me solta, me solta!” A criatura medonha continuou gritando sem parar, então sua aparência mudou, voltando a ser a garotinha de antes. “Ta doendo, ta doendo muito. Tio, por favor, me ajuda!” disse, esticando a mão em direção a Fernando, com lágrimas nos olhos.

Vendo aquela cena, o coração do jovem apertou-se e todo seu corpo tremeu.

Anane percebeu a reação do rapaz e balançou a cabeça.

“Essa é uma Mandazia, senhor, uma Criatura das Trevas. Não se deixe enganar, ela assume formas diversas para enganar e se alimentar de humanos e outras raças.” disse. “Deve ter sido atraída por causa da guerra.”

Fernando estava com uma expressão complexa. Se não fosse pelo que ele viu antes, teria acreditado que aquilo era uma criança.

“Não! Tá doendo muito, para com isso, eu quero ir embora!” A garotinha continuou gritando, enquanto chorava, fazendo o jovem Tenente hesitar.

“Não sinta pena disso, senhor, uma Mandazia só pode assumir a forma daquilo que devorou.”

Ao ouvir isso, enquanto via o rosto da menina, a expressão de Fernando ficou pálida, com o seu coração pesado, cheio de dor. Se o que Anane estava dizendo era verdade, então o que ele estava vendo agora era uma representação do que aconteceu com a garotinha real.

Depois de respirar fundo, lentamente se acalmou, enquanto sua expressão ficava fria. Então se aproximou da coisa presa à árvore.

“M-me ajuda, tio, eu vou me comportar.” disse, enquanto olhava para Anane que a feriu, cheia de medo.

Fernando tinha uma expressão complicada ao ver isso, então esticou o braço, tocando a mão da ‘garotinha’, que de forma desesperada, segurou sua palma com ambas as mãos.

Vendo isso, a expressão do velho homem mudou, preparando-se para tirar outra arma de sua pulseira.

“Tio, eu prometo, eu v-”

Swish! Ploft!

Tudo ficou em silêncio, enquanto o braço de Fernando estava esticado, empunhando sua espada Formek.

A expressão da garota era de incredulidade, enquanto observava, a partir do chão, o jovem humano, assim como seu corpo ainda preso à árvore.

Nesse momento o corpo da garota mudou, ficando pálido, cinzento e murcho, enquanto a cabeça voltou a tomar sua aparência monstruosa de antes, com uma boca cheia de dentes e olhos verdes brilhantes.

“Maldito, maldito, desprezível, eu vou te comer, eu vou, eu…” 

Mesmo com a cabeça decepada, a coisa continuou falando e amaldiçoando.

Bang!

Sem dizer nada, o jovem Tenente a chutou em direção a fogueira. 

“Não!!! Não!” A coisa continuou gritando e amaldiçoando enquanto as chamas cobriam sua cabeça decepada.

Fernando se manteve inexpressivo, enquanto via aquela cena, mas internamente um turbilhão de emoções chocavam-se ferozmente dentro de seu peito.

Ele sempre pensou que tinha passado por todo tipo de coisa desde que chegou em Avalon e que era capaz de suportar todo tipo de adversidade. Mas nesse dia, sentiu-se como se tivesse voltado ao passado, quando não tinha força e era incapaz de fazer qualquer coisa.

“Meu senhor, você está bem?” O velho perguntou, de forma preocupada.

A verdade, é que as Bestas e guerras com outras raças não eram as únicas das preocupações de alguém que vivia em Avalon. As Criaturas das Trevas, seres que permeiam entre a vida e a morte, eram uma ameaça tão implacável quanto.

Até o momento, a única criatura que Fernando havia se deparado era o Obscuro na missão da Vila Lunar. Mas em termos de horror, o que presenciou nesse momento parecia ser muito pior em questão de seu estado mental.

Enquanto pensava consigo mesmo, o Cubo Comunicador do jovem Tenente brilhou.

“Líder, a Equipe de Infiltração mandou notícias. Eles… Acharam o acampamento dos Orcs.”

Ouvindo isso, a expressão do jovem Tenente mudou para surpresa. 

Voltando sua atenção para o monstro e dando uma última olhada no corpo preso à árvore e na cabeça que estava virando cinzas, seu rosto voltou a ficar inexpressivo.

“Vamos, temos trabalho a fazer.”

No topo de uma grande árvore, Theodora estava escondida sob o manto da escuridão. Seu braço estava ferido, enquanto repousava sob os galhos.

Abaixo, dezenas de Orcs vasculhavam a área, como se estivessem procurando por algo, mas a mulher não parecia preocupada com isso, com seus olhos focados em algo longínquo.

Inúmeras fogueiras brilhavam ao longe, aquecendo milhares de Orcs na noite fria. Era o acampamento inimigo!

“Eu fiz tudo que pude, líder. Agora está em suas mãos.” disse, voltando sua atenção para baixo. Não havia para onde fugir.

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Olá, eu sou o Glauber1907!

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