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Capítulo 9 — O brasão dos corvos

Os gritos angustiados de Mikhail rasgaram a quietude da noite, capturando imediatamente a atenção dos familiares que se encontravam na segurança da mansão. Alarmados, eles precipitaram-se para fora, suas vozes elevadas em um coro de preocupação, indagando sobre o caos que se desenrolava diante deles.

— Ela… ela me atacou! — Mikhail conseguiu articular, ofegante e com a voz trêmula de choque, enquanto apontava para a silhueta imóvel da garota ao seu lado.

Os familiares, paralisados pelo espanto, contemplaram a cena com olhos arregalados. A mãe de Mikhail, movida por um impulso maternal, correu até ele, segurando-o firmemente pelos ombros e inspecionando o corte profundo em seu peito com mãos trêmulas.

— Meu filho, conte-me, o que houve aqui? — sua voz estava carregada de uma confusão aflita, enquanto seus olhos buscavam desesperadamente por respostas no rosto de Mikhail.

Mikhail, cercado pelos rostos ansiosos de sua família, sentiu-se inundado por uma maré de emoções conflitantes. Ele sabia que precisava explicar o inexplicável, mas as palavras pareciam se perder em algum lugar entre o choque que o consumia e a dor que o afligia.

— Eu… eu realmente não sei — murmurou ele, a voz falhando, os olhos fixos na figura caída da garota.

A garota, cujo corpo estava marcado por feridas e contusões, começou a se erguer lentamente, cada movimento refletindo a dor e a fúria que a consumiam.

— Mantenham-se afastados! — ela gritou, sua voz trêmula vibrando com uma ameaça letal. — Ou eu juro que acabarei com todos vocês!

A mãe de Mikhail, deu um passo à frente, estendendo as mãos em um gesto de paz e reconciliação.

— Minha querida, ninguém aqui deseja te ferir — disse ela, sua voz suave tentando ser um bálsamo para a agitação da garota.

No entanto, as palavras de conforto pareciam apenas intensificar o pânico que se apoderava da garota. Ela balançou a cabeça freneticamente, rejeitando a promessa de segurança como se fosse uma mentira venenosa.

— Prefiro morrer a voltar àquela cela imunda! — exclamou, antes de se virar abruptamente e correr em direção ao muro da mansão.

Com uma agilidade que desafiava sua condição ferida, ela escalou o muro com destreza e desapareceu na escuridão opressiva da floresta, deixando para trás um rastro de perguntas sem respostas. Mikhail e sua família permaneceram ali, olhando fixamente para o vazio onde ela havia desaparecido.


Na clareira sombria, envolta pela névoa da madrugada, o cheiro pungente de sangue e o odor acre da fumaça se entrelaçavam no ar úmido. O solo, coberto de folhas caídas e terra úmida, estava agora manchado com o vermelho vivo do sangue que escorria dos corpos inanimados, espalhados caoticamente como bonecos de pano descartados após uma brincadeira macabra.

— Arranquem a cabeça! — ordenou um homem robusto, vestindo um colete de couro surrado e empunhando um machado reluzente com resquícios de sangue em sua lâmina. — Esses filhos da puta estão se regenerando mais rápido do que podemos contê-los!

Do outro lado do campo de batalha, entre árvores retorcidas e arbustos espinhosos, um jovem caçador gritou um aviso, sua voz carregada de pânico e urgência.

— Chefe! Tem mais dessas sanguessugas vindo em nossa direção! — Ele corria desesperadamente em direção ao seu líder, tropeçando sobre raízes expostas. — Eles têm brasões de corvos! São os Cro…

Antes que pudesse terminar, o chefe interrompeu com um grito desesperado, tentando alertar o jovem sobre o perigo iminente.

— Richard, espera! — Mas suas palavras foram tragadas pelo som do vento entre as árvores.

Em um momento fatídico, o jovem caçador parou abruptamente, seus olhos arregalados refletindo o terror de seus últimos instantes de vida. Com um golpe rápido e silencioso, sua cabeça foi separada do corpo, caindo com um baque surdo no chão enlameado e ensanguentado.

— Richard! — O chefe gritou, a voz embargada pela dor da perda, enquanto testemunhava a cena horripilante.

Um homem de estatura imponente, com longos cabelos negros que fluíam como a noite sem lua, emergiu das sombras. Vestia trajes antigos e tinha entalhado nas costas um desenho de um escudo com dois corvos escuros, que pareciam absorver a fraca luz da lua. Em sua mão direita, erguida como um troféu macabro, gotejavam gotas de sangue fresco de suas unhas, agora transformadas em garras letais.

— Elijah Crowd, sua presença aqui é uma surpresa indesejada — disse o homem de colete, lutando para manter a compostura diante da ameaça sobrenatural.

Elijah, a criatura noturna cuja fama de brutalidade precedia sua sombra, era um adversário que nenhum caçador ousaria enfrentar, mesmo nos pesadelos mais sombrios.

— Vocês têm coragem, isso eu devo reconhecer — Elijah falou, um sorriso cruel desenhando-se em seus lábios pálidos enquanto saboreava o sangue que ainda escorria de suas garras.

— Foi um mal-entendido terrível. Esses vampiros são de sangue sujo; estavam vagando pela cidade, causando tumulto. Decidimos caçá-los antes que se tornassem carniceiros — explicou o homem de colete, sua voz tremendo como uma folha ao vento diante do olhar penetrante de Elijah.

— E vocês acharam que tinham o direito de invadir meu território por causa disso? — Elijah questionou, aproximando-se com passos lentos e deliberados.

— Por favor, espere! Eles vieram por vontade própria! Não tínhamos intenção de cruzar suas fronteiras, mas eles feriram um dos nossos. Queríamos apenas vingança — o homem de colete recuou, suas palavras atropelando-se em um fluxo frenético de desculpas e súplicas.

A tensão na clareira aumentou quando um novo vampiro emergiu das sombras, sua presença silenciosa como a própria morte. Com um movimento fluido e preciso, ele lançou um objeto que rolou até parar aos pés do homem de colete. Era uma cabeça decepada, os olhos vidrados ainda refletindo o terror do último momento.

— Parece que só falta este humano — disse o vampiro recém-chegado, sua voz fria como o vento que sussurrava através das árvores desfolhadas.

O homem de colete, agora pálido como a lua acima, olhou ao redor e viu o que restava de seus companheiros caçadores. Corpos desmembrados e vidas extintas jaziam espalhados pela terra úmida.

E então, a terrível verdade se revelou a ele. Estava cercado por vampiros que emergiam das sombras, seus olhos brilhando com um apetite voraz. Eles se moviam lentamente, saboreando o medo que emanava de sua presa solitária. O homem de colete sabia que estava no centro de um círculo predatório, cada vampiro uma sentença de morte esperando para ser executada.

Com as costas contra uma árvore antiga, ele procurou em vão por alguma arma, algum meio de defesa, mas sabia que suas chances eram nulas. O ar estava carregado com o cheiro de sangue e morte. O homem fechou os olhos por um momento, respirando fundo, tentando encontrar a coragem para enfrentar o fim que se aproximava inexoravelmente.

De repente, um silêncio sufocante se abateu sobre a clareira, interrompido apenas pelo farfalhar das folhas acima. O homem de colete mal teve tempo de erguer o olhar quando uma figura esguia desceu da árvore, suas garras brilhando à luz da lua. Com um movimento rápido e letal, o vampiro cravou as garras no crânio do homem, arrastando-o para as alturas.

Os sons que se seguiram foram os de um pesadelo vivo: o rasgar da carne e o estalar dos ossos ressoavam pela floresta, uma sinfonia grotesca que anunciava o fim trágico do caçador. O corpo do homem foi ocultado pela escuridão entre os galhos, deixando para trás apenas os ecos de sua destruição.

No meio dos corpos espalhados pela clareira, uma família de três pessoas se abraçava em desespero. O pai, com os braços protetores envolvendo sua esposa e filho, tentava oferecer um refúgio seguro em meio ao caos. Eles estavam cercados pelos restos mortais daqueles que, até poucas horas atrás, eram seus entes queridos, agora reduzidos a meras sombras da morte.

O vampiro que acompanhava Elijah, um ser de estatura imponente e olhos que brilhavam com uma fome antiga, ajoelhou-se respeitosamente. Sua voz, um sussurro que carregava o peso de séculos, quebrou o silêncio sepulcral:

— Meu lorde, qual será o destino destes impuros?

Elijah, cujo olhar era capaz de sondar as profundezas mais escuras da alma, contemplou a família com uma curiosidade distante. A criança, um menino de não mais que dez anos, encarava-o de volta, seus olhos castanhos transbordando medo e incompreensão. O sorriso que se formou nos lábios de Elijah era desprovido de calor, uma expressão que não prometia misericórdia.

— Tragam-me a criança — ordenou ele, sua voz tão fria quanto o vento que sibilava através das árvores. — Quanto aos outros, são apenas peso morto. Dispensem-nos.

Os vampiros, obedientes, avançaram como sombras vivas, prontos para cumprir a vontade de seu mestre. A mãe, percebendo o que estava prestes a acontecer, apertou seu filho contra si, um último gesto de amor maternal. O pai, com a determinação de um homem que nada mais tem a perder, ergueu-se para enfrentar o destino, mesmo sabendo que seria em vão.

A noite, agora testemunha de mais um ato de crueldade, continuava seu curso, indiferente ao sofrimento humano e aos jogos de poder dos imortais. No centro desse jogo de poder estava a família Crowd, uma linhagem de vampiros de sangue puro, cuja influência e força eram temidas e respeitadas por todos aqueles que conheciam a escuridão da noite.

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