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Passaram-se alguns dias desde a última visita de Mana. Devido aos testes realizados na última semana, o contato com outras pessoas foi limitado. No entanto, isso pouco importava, pois eu não tinha permissão para sair do quarto, mesmo que o desejasse ardentemente.

Enquanto observava a bela mulher cuidando de meus ferimentos, notei uma aura sombria se aproximando lentamente. Meus olhos se fixaram em sua presença assim que ela adentrou o quarto.

“Pode ir, tenho assuntos a tratar”, disse o homem de cabelos negros, enquanto observava a mulher sair da sala lentamente. Após sua partida, pude perceber a expressão de repulsa em seu rosto, acompanhada de um suspiro desanimado.

“Você parece melhor do que eu esperava”, falou o homem, dirigindo seu olhar a mim. “Devo admitir que meu último trabalho foi gentil.”

Esse homem, Azrot, era meu pai. Embora estivesse à frente das pesquisas, parecia não se importar com meu estado, já que eu continuava a me torturar incansavelmente, enquanto ele parecia se divertir de certa forma.

“Não me olhe assim, você vai se curar, de qualquer forma”, acrescentou ele, em tom sarcástico, sem esconder o sorriso em seu rosto.

Mesmo possuindo a maior capacidade de regeneração entre os demônios, a dor em meu corpo era real e quase insuportável.

“Mana não veio lhe visitar?”, disse o homem, sua voz carregada de sarcasmo, enquanto o sorriso em seu rosto se intensificava. “Fico curioso para saber o motivo.”

Ele então abriu uma pequena bolsa que trouxera consigo, retirando alguns objetos cortantes. Segurando meu braço, a lâmina passou lentamente, causando-me uma dor excruciante, uma vez que a lâmina estava cega. O sangue que escorria foi cuidadosamente coletado em um pequeno frasco, para ser utilizado posteriormente em suas pesquisas.

“Quanto mais tempo isso vai durar?”, questionei, embora não me importasse com a dor, sabia que meu corpo não resistiria por muito mais tempo.

“Tempo suficiente, não se preocupe”, respondeu ele, com uma ponta de malícia em sua voz.

Logo estarei morto se isso continuar, pensei…

“Eu queria retirar seus olhos, mas me disseram que seu corpo ainda não se recuperou, então vou esperar um pouco mais”, ele disse. 

“Por favor, deixe-me pelo menos com um olho.”

“Vou pensar sobre isso”, foi a resposta que recebi.

Com a coleta finalizada, o homem se preparou para sair da sala. “Voltarei amanhã. Hoje você ficará sem tratamento.”

Antes de sair, senti sua mana envolver meu corpo por um momento, causando cortes superficiais em minha carne. “Não devo sair sem antes ativar sua regeneração ao limite. Não precisa me agradecer”, ele disse.

Com o som da porta se fechando, deitei em minha cama enquanto observava o teto frio e sem vida. Os pensamentos que passavam pela minha cabeça me mantinham sã, mas por um momento senti minha mente vacilar enquanto pensava por quanto tempo teria que suportar mais desse sofrimento.

Enquanto esperava o tempo passar, notei a presença familiar que parecia se aproximar. A porta demorou um pouco para abrir, como se a pessoa estivesse esperando por algo.

Enquanto observava atentamente, a porta abriu silenciosamente, revelando uma figura jovem e bela. Seus olhos e cabelos negros pareciam brilhar, enquanto sua presença era reconfortante ao ponto de me fazer suspirar ao vê-la em minha frente.

Com um leve sorriso, ela se aproximou, observando toda a sala. No entanto, seu sorriso desapareceu ao ver meu estado deplorável.

“Az? O que o papai está fazendo, permitindo que te machuquem assim?”, ela perguntou.

Bom, o papai é o responsável por esses ferimentos, pensei.

“Olá, Mana. Já faz um tempo desde sua última visita.”

Mana se aproximou lentamente, olhando para mim com uma mistura de pena e medo.

“Me desculpe, Az. Eu queria te visitar mais cedo, mas não tive essa oportunidade”, ela disse, batendo levemente em suas bochechas enquanto parecia se lembrar de algo. “Não é hora para isso. Az, temos que sair daqui. Vamos fugir. Ouvi um dos homens dizer que se continuar assim, você vai morrer em breve. O papai parece não saber disso, mas temo que ele não possa ajudar.”

“Do que você está falando? Ou melhor, não precisa se preocupar. O papai vai me manter seguro”, respondi, tentando transmitir tranquilidade.

Enquanto eu for útil, ele não vai me matar.

“Az, não quero continuar te vendo sofrer”, ela murmurou, com um misto de tristeza e determinação em sua voz.

Os olhos tristes de Mana deixaram claro que ela estava falando seriamente, e se eu não a detivesse, ela poderia fazer algo que colocaria sua vida em perigo.

Mana havia vivido no local durante toda a sua vida, assim como eu, mas, ao contrário de mim, ela não havia sido submetida a testes perversos que levaram seu corpo ao extremo, já que sua habilidade não exigia danos físicos para ser ativada.

Além do meu sangue, minha capacidade de regeneração atraiu o interesse dos pesquisadores, e era por isso que meu corpo era cortado e meu sangue extraído, para criar algo semelhante em outros demônios.

“Como exatamente você espera sair daqui? E para onde iremos?”, questionei, preocupado. Mesmo que conseguíssemos escapar temporariamente da segurança do centro de pesquisa, não conseguia imaginar como poderíamos permanecer livres por muito tempo. Se conseguíssemos fugir e eles nos encontrassem mais tarde, Mana sofreria por ter ajudado a maior cobaia a escapar. E não apenas isso, nem mesmo o “papai” a ajudaria, e, no pior dos casos, ele mesmo seria responsável por sua morte.

“Simples. Esperaremos até a noite, quando todos estiverem dormindo. Vamos fugir sem que ninguém perceba e, em seguida, iremos para as ruínas. Ouvi histórias sobre uma passagem que leva à capital”, disse ela, com determinação.

As ruínas antigas eram um local de difícil acesso, onde uma criatura poderosa residia, capaz de fazer até mesmo os demônios exilados sentirem medo. Não havia chances de sobrevivermos indo para lá.

“Por favor, Az. Deixe-me te salvar, apenas desta vez”, implorou ela. Sua mana estava prestes a ficar descontrolada, a ponto de revelar sua localização se continuasse assim. Se as pessoas descobrissem que Mana estava em meu quarto, mesmo com a ordem de não me visitar, ela teria problemas.

“Tudo bem. À noite, irei até o seu quarto, quando ninguém mais estiver acordado”, concordei, compreendendo a gravidade da situação.

“Você promete?”, perguntou ela, ansiosa.

“Sim”, respondi imediatamente.

Com minhas palavras, Mana mostrou um sorriso confiante, o que me fez suspirar aliviado. Estávamos prestes a embarcar em uma jornada perigosa, mas juntos, tínhamos uma chance de escapar desse lugar de tormento.

Mesmo que Mana tentasse, seria praticamente impossível fugir dali com a segurança presente.

“Primeiro, você não deve vir até mim. Eu irei até o seu quarto à noite e, em seguida, vamos escapar. Portanto, lembre-se de dormir bem. Eu vou te acordar quando chegar a hora”, expliquei a Mana.

Por um momento, formei um plano em minha mente, considerando todas as possibilidades. No entanto, era essencial que Mana estivesse segura para que tudo ocorresse como planejado.

“Então, só tenho que esperar?”, perguntou ela.

“Sim, se você não puder fazer isso, não vamos conseguir sair”, respondi.


A noite chegou rapidamente, e todos estavam se preparando para dormir. Esperei pelo momento perfeito, e as horas passaram rapidamente. Enquanto os pesquisadores continuavam trabalhando, os guardas permaneciam atentos.

Dirigi-me à porta do meu quarto e a abri rapidamente. Conforme seguia em direção ao local onde as pesquisas estavam sendo realizadas, repassava mentalmente o plano que iria executar para garantir nossa fuga.

Não demorou muito até encontrar o primeiro guarda. Sua expressão de surpresa ao me ver foi engraçada, mas não tinha tempo a perder.

“Azrael? O que está fazendo fora do seu quarto?”, questionou o guarda, como era de se esperar, considerando que geralmente não tinha permissão para sair.

“Silêncio”, disse, usando minha mana para intensificar minha voz. “Ajoelhe-se e não se mova.”

O guarda obedeceu minhas palavras, parecendo mais surpreso com a situação. Segui em frente sem olhar diretamente para o seu rosto, ouvindo apenas o som de sua rendição. Utilizei minha mana para envolver o corpo dele e o desarmei para garantir que não houvesse falhas.

Em seguida o matei usando minha mana como uma lâmina afiada. 

Continuei fazendo o mesmo com os outros guardas que encontrei pelo caminho. Meu objetivo era simples: neutralizar todos no centro de pesquisa, para que ninguém pudesse vir atrás de mim no futuro.

“Finalmente”, murmurei, parando em frente a uma porta. Suspirei enquanto a empurrava, surpreso com o som da madeira se movendo, pois a pessoa dentro da sala poderia perceber minha presença.

Ali, de pé em frente à porta, o homem de cabelos negros me observou sem qualquer reação em seu rosto, como se já estivesse esperando por minha visita.

“Você parece melhor do que eu esperava, Azrot”, comentei, observando atentamente cada um dos meus movimentos.

Enquanto me aproximava, senti sua mana envolvendo todo o quarto, indicando que ele estava em alerta.

“O que está fazendo fora do seu quarto?”, perguntou ele.

“Sabe, eu esperava por isso. Mais do que você poderia imaginar”, respondi. Já tinha planos de fugir daquele lugar, mas a intervenção de Mana me fez acelerar esse plano.

“Não seja tão arrogante…”, disse Azrot, parecendo perceber algo. “Essa quantidade de mana. Impossível.”

Minha mana atual ultrapassava em muito a dos pesquisadores e de todos no centro de pesquisas, exceto Mana.

“Sabe, aprendi a ocultar minha mana, mantendo-a no nível mais baixo possível”, respondi calmamente.

“Isso não é possível”, disse Azrot, mantendo a calma.

“Sabe, pai? Farei o que estiver ao meu alcance para fazer você sofrer até que peça para morrer.”

Sua mana envolveu meu corpo, tentando me restringir, mas não pude deixar de sorrir ao perceber que suas tentativas eram inúteis.

“Não me olhe dessa forma. Você vai se curar, de qualquer maneira.”, falei enquanto demostrava um sorriso amigável.

Sem qualquer movimento, o olho direito de Azrot saltou para fora de seu corpo enquanto sangue escorria pelo seu nariz.

“Silêncio”, ordenei. Finalmente, chegou o dia que tanto esperei. Farei de tudo para que seja o mais doloroso possível.

O único som que quero ouvir de sua boca era o som da dor que sentirá até seu último momento. 


“Mana, acorde”, sussurrei suavemente, tentando despertá-la enquanto ela babava na cama, murmurando algo e sorrindo para si mesma.

“Mana”, chamei novamente. Seus olhos se abriram lentamente e, ao perceber minha presença, ela pulou da cama, limpando o restante de saliva do rosto.

“Az! Haha, já está na hora. Não se preocupe, eu estava acordada”, ela disse animadamente. Já haviam se passado mais de cinco minutos desde que eu a chamava, mas preferi não comentar.

“Vamos, está na hora.”

Quando sairmos deste local, vamos incendiá-lo. Ordenei a uma das pesquisadoras que queimasse tudo e se sacrificasse no fogo, para não deixar rastros e garantir que não sejamos seguidos.

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Olá, eu sou Monarca!

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