Selecione o tipo de erro abaixo

Capítulo 52 — Xamã do vento (4)

Theo revidou o olhar do feiticeiro.

— Quem é você? — Ele agarrou o cabo da espada com mais força.

Notando a hostilidade do rapaz, o homem soltou a lâmina. Com um balançar da mão, ele dissipou a nuvem de fumaça.

— Ancião Hron, por que você o atacou? — questionou ao homem com o cajado.

— Porque ele ousou manchar o santuário do lorde Boreas enquanto seguia à outros senhores! — Se explicou, num tom notoriamente agressivo.

O homem estendeu o dedo, ordenando que Hron se calasse.

— Inicialmente, você era um servo de Zetian. Mas, decidiu servir ao lorde Boreas. Você deixou de seguir o céu? Óbvio que não. Lorde Norlan não se importa com isso, mas sim com quem realmente quer segui-lo.

Hron mordeu a língua.

— Quanto a você… Perdoe-me pela recepção tardia.

Selina e Agnes pousaram no chão, caindo em frente à estátua do vento norte. Sem se importar com a falta de fôlego, Agnes correu para Theo, mas Selina a parou. 

— Não o ameace — ordenou Selina. — Deixe-os.

A seguidora de Alunne franziu o cenho quando olhou para Theo. Ele estava diferente. Uma mancha de sangue estava entrelaçando com a pintura dourada que formava a aura de Theo.

— Eu sou o xamã do vento, Borthrit de Minerva.

— O xamã… — Agnes murmurou, dando um passo para trás. Uma gota de suor escorria pelo rosto.

Theo recuou a espada, pondo a lâmina no chão e se apoiando no guarda-mão.

— Você deve ser o pequeno Ambrosius? — perguntou o xamã.

— Ambrosius? — Theo ficou franzido. 

Quem caralhos seria Ambrosius? Ele teve vontade de perguntar, mas segurou suas palavras na frente do xamã.

— Sim. O grandioso Merlin Ambrosius, protetor da vida… — Borthrit se calou ao perceber que Theo realmente não fazia ideia. — Oh céus. Está falando sério? 

Borthrit olhou para o ancião Hron, que estava tão surpreso quanto o xamã.

— Então, criança. Quem seria você?

— Theo Augustus De Lawrence — apresentou-se num tom prepotente, tentando se impor a alguém que não conseguiria vencer.

Theo estava apoiado no cabo da zweihänder, fitando olhares com Borthrit. Olho a olho, suas auras foram materializadas. O xamã era envolto por uma névoa verdejante, tal que afetava o mundo físico. A pintura dourada de Theo não fora subjugada, visto que não enfraqueceu mesmo com alguém superior lhe oprimindo.

— Você possui uma ressonância? — questionou Borthrit.

— Não mais… — Theo induziu os olhos do xamã ao topo da estátua, onde sua ressonância foi vista pela última vez.

“Entendo… Ele entrou em processo de vinculação.” pensou Borthrit.

Ele estendeu o braço esquerdo para cima, em direção ao orbe nas mãos da estátua. Os olhos brilharam em verde, algo além do que já costumava ser. O orbe se dissolveu, se transformando num gás verde.

O gás se propagou pela atmosfera assim como fumaça. Ele desceu os quase trinta metros da estátua e entrelaçou os dedos de Agnes, passando apenas para tocá-la, lhe presenteando com uma sensação única de pureza, rastejou pelo chão liso igual à uma serpente, até finalmente abraçar Theo pelas costas.

Foi como uma tempestade de areia agarrá-lo. 

— Isso te pertence — disse Borthrit, tocando o peito de Theo.

A ressonância do vento, em sua forma gasosa, entrou pelas narinas, boca e olhos de Theo. Gradualmente, no organismo do rapaz, o gás se tornou em energia e se misturou com o éter em seus chakras.

Todas as veias de energia no corpo dele ressaltaram, brilhando em verde pela sua pele branca, reagrupando partículas nas palma de sua mão esquerda formando novamente a ressonância; uma flecha verde que apontava para o norte.

Um suspiro refrescante espancou da boca dele.

— Podemos ir? Tenho algumas dúvidas. E você poderá responder. — chamou Borthrit.

O xamã balançou os braços e dissipou a nuvem de fumaça. Batendo no ombro de Hron, Borthrit o guiou com o rosto para trás.

— Theo! — exclamou Agnes, se livrando de Selina e correndo em direção à seu irmão.

Correndo pelo pátio, ela escorregou pelo chão liso molhado graças ao feitiço d’água de Hron. Quando ela iria cair de cara no chão, Theo criou um ponto de vento que suspendeu sua irmã no ar.

Agnes arregalou os olhos de admiração. Por outro lado, Theo se assustou. Aquele ponto de vento havia sido formado involuntariamente, ele sequer precisou pensar em ajudar sua irmã. O vento apenas agiu por ele.

Poderia ter sido Borthrit, mas não foi. O xamã e o ancião já estavam longe o suficiente para não se importarem mais com que estava acontecendo.

— Como… — murmurou, olhando para sua mão esquerda.

A conclusão chegou cedo.

“Essa estátua… É capaz de abençoar os atributos?”

Theo caminhou até Agnes olhando para a estátua de Boreas, o vento norte. Ele a segurou pelos ombros e ajudou a se erguer. Ela caiu em seus braços; envolvendo seu irmão com um abraço forte.

— Você está frio… — comentou Agnes, tocando a mão de Theo.

— Quê? — retrucou em um murmúrio. Ele levou sua mão até o pescoço, apenas para ter certeza das palavras de sua irmã. Ela estava certa.

A temperatura corporal de Theo estava muito menor do que realmente deveria estar. Mesmo assim, nada representava riscos de saúde. Ele logo raciocinou que deveria ser devido ao atributo do vento em seu corpo, pois após passar pela estátua de Boreas, seu elemento também atribuiu uma característica mais gélida.

— Venham! — ordenou Selina, sua voz tomava um rumo distante.

Os dois irmãos correram com os olhos, buscando a seguidora de Alunne. Encontraram-na segundos depois, na mesma direção que o xamã havia ido.

Theo deu um leve empurrão em Agnes para ela tomar a frente. Estendendo a mão para o pé da estátua, ele puxou sua mochila com um vendaval forte.

Agnes caminhou em passos rápidos, quase uma corrida. Ela foi na direção de um arco, tal que escondia outra escadaria imensa. Um altar dividia a escada exatamente no centro do arco de entrada. A garota subiu no altar, visando olhar a vista o mais alto possível.

Uma brisa fria tocou a pele dela, jogando seus cabelos ruivos para o vento. Agnes suspirou aquele ar refrescante, que parecia purificar sua alma de dentro para fora. Ela se sentiu leve por um momento.

Theo agarrou a cintura de sua irmã, a abraçando por trás e aproveitando a mesma brisa. Não havia preocupações ou impurezas naquele momento.

— Liberdade — disse Theo. Sua franja casualmente cobria seus olhos.

— Quê?

— Esta é a sensação da liberdade, o motivo pelo qual escondi Dullahan de você.

— Como assim? — Agnes virou o rosto, para poder encarar Theo olho a olho.

Ele suspirou.

— Quando nascemos, abrimos uma porta. Atrás dela, há um enorme corredor que representa o nosso destino; o nosso legado. Durante nossa pequena existência, seremos obrigados a realizar escolhas, abrindo outras portas no meio do corredor. Escolheremos, abriremos novas portas ou iremos ignorar, criaremos assim, ramificações da nossa existência.

Agnes estava pasma, prestando atenção em cada palavra do irmão.

— Eu fui jogado contra uma porta, uma escolha: abandonar tudo que fui, esquecer isso, ou continuar com o tormento? O motivo da minha ansiedade, insônia e solidão… Descobri sobre Dullahan graças a uma criança inocente, e olhando daqui, eu também era uma criança inocente há somente dez dias…

Theo olhou para uma escadaria a cinco metros do altar, levando para baixo.

— Minha escolha foi abandonar tudo. Esqueci Dullahan, afinal, ele não causou aquelas mortes. É apenas um fantoche da morte, assim como eu sou do poder. A sensação que tive foi liberdade. Eu estava livre dos meus pensamentos fúteis, pude me reconstruir. Durante os 8 anos que vivemos como irmãos, eu ignorei totalmente aquele ser que me causava temor apenas com sua mera existência. Ignorei meus sonhos para buscar força…

— Mas por quê? — questionou Agnes, em forma de lamentação. — Para que tanta força? Quem você quer superar? Por quê?

— Eu. O papai, Dullahan, Banshee, Lumen, Nalleth Zala… Quero ser maior que todos eles. Maior que a morte.

— Você quer se tornar imortal? — Franziu a sobrancelha.

— Não. Quero apenas ter as melhores experiências que o universo possa me entregar até que o momento final chegue.

Agnes o encarou fazendo biquinho.

— Você é o moleque derrotado que chamei de irmão? Certeza que não possuíram do seu corpo?

— Sou eu — retrucou sorrindo. — Somente eu. E você deveria mudar sua angústia. Transformar ela no seu objetivo de viver. Respire e aproveite o mundo. Esqueça as mortes no passado, ignore o futuro, aproveite apenas o momento. Apenas o presente. A liberdade é como o vento, por isso aprendi a manipular ele.

Theo a soltou e desceu do altar, depois ofereceu ajuda para Agnes descer também. Olhando para a escadaria que os aguardava, se arrependeram antes de descer o primeiro degrau.

Picture of Olá, eu sou Mirius!

Olá, eu sou Mirius!

Comentem e avaliem o capítulo! Se quiser me apoiar de alguma forma, entre em nosso Discord para conversarmos!

Clique aqui para entrar em nosso Discord ➥