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Carregando duas chaves de quarto, ele observou por um momento a cena tumultuada na hospedaria e então dirigiu a palavra ao jovem:

— Parece que encontramos uma animação inesperada para a noite. Isso acontece com frequência por aqui, especialmente quando há visitantes de diversas origens.

Norman olhou para Heitor, curioso, e perguntou:

— Isso é comum nessas vilas?

Heitor sorriu de maneira compreensiva e respondeu:

— Em lugares como Bergen, onde a vida é árdua e as tensões sociais são palpáveis, as pessoas buscam maneiras diferentes de lidar com o estresse. Às vezes, isso se manifesta em confrontos físicos, como você está vendo agora. Mas não se engane, essa não é a única forma de expressão que encontramos por aqui.

Enquanto Heitor falava, a luta na hospedaria chegava a um desfecho.

O homem avança com uma fúria incontrolável, seus passos como pisadura de ferro batendo no chão feito de madeira. Seus braços estendidos à frente, gesto que denunciava suas intenções agressivas.

O bêbado, com a instabilidade natural da embriaguez, percebeu a iminente ameaça e, com a serenidade de quem já enfrentou muitas situações mais perigosas, se preparou para o confronto.

À medida que o cara musculoso se aproximava correndo, mirando nas pernas do sujeito embriagado para derrubá-lo.

Este responde com um desvio lateral.

Um movimento cambaleante para o lado, o equilíbrio do agressor foi quebrado. Simultaneamente, o bêbado posiciona estrategicamente sua perna externa, preparando-se para o contra-ataque.

No auge do avanço do homem, o ex-capitão executa uma varredura externa, aproveitando a violência do ataque do oponente. Sua perna externa se move, varrendo a perna do homem pálido; com eficiência, ele utilizou essa força para aplicar uma técnica de projeção, derrubando-o com brutalidade.

Até quem estava no balcão, nas banquetas de bar, pularam das cadeiras, levantando suas canecas para cima, comemorando o bom resultado da aposta.

Surpreendido pela agilidade cruel do bêbado, o homem perdeu o controle da situação e é lançado ao chão. Agora no solo, o bêbado assumiu uma postura dominante, aproveitando a oportunidade para encerrar a luta de maneira definitiva.

Como um lobo circundando a sua presa ferida, ele transita para uma posição mais vantajosa, enquanto o homem tentava recuperar o fôlego após a queda.

O bêbado dá uma joelhada no abdômen dele e mantém seu joelho sobre a barriga do adversário, empurrando com força a cabeça do homem no chão, onde pôde aplicar uma chave de braço.

Cada movimento era cruel, cada técnica causando o máximo de dor, refletindo uma vida de treinamento dedicado aos aspectos mais obscuros das artes marciais.

A expressão no rosto, inicialmente cheia de ira, se transformava em desespero, sua cara deformada em uma careta de dor. Seu braço agora estava torcido em ângulo não natural. A plateia observava com uma mistura de fascínio e horror, enquanto o ex-soldado mantinha as técnicas com frieza, as sombras da brutalidade pairando sobre o ringue.

O cara musculoso e pálido chorava indiscriminadamente, tanto pela dor do braço quebrado quanto pela humilhação. Ele se mexia de um lado para o outro, tentando se livrar do aperto cruel.

Quando nada que ele tentou deu certo, implorou para que o bêbado o deixasse ir.

Vendo aquela cena, todos os clientes desabrocharam a rir dele; até mesmo os amigos que há pouco discutiam não conseguiram segurar o riso.

— Pera, você realmente está implorando? — um entre a multidão disse em alto som.

Uns cuspiram no chão, como se ao cuspir pudessem jogar fora o desgosto que estavam sentindo.

— Nunca pensei que você fosse tão covarde. Eu preferiria morrer a implorar desse jeito! — um amigo dele falou, colocando a mão na barriga de tanto sorrir.

— Você quer que eu chame a sua mamãe? Talvez ela possa te ajudar a sair dessa situação — disse a pessoa que deveria ser o melhor amigo do homem pálido. Não conseguindo limpar as lágrimas que escorriam do seu rosto, ele estava como um pimentão de tanto rir.

— Por favor, me mate. — A respiração dele estava irregular, seu rosto coberto de suor.

— Como você desejar — o ex-militar disse, movendo-se de uma chave de braço para um estrangulamento.

As pessoas não mais interessadas, voltaram para os seus assentos; outros foram retirar os ganhos da aposta. Muitos ainda com raiva, pois haviam perdido muito dinheiro apostando na escolha que parecia óbvia.

— Parece que temos um vencedor — Heitor observou calmamente.

Norman estava ao lado dele com o rosto compenetrado. Seus olhos sequer piscavam diante de tamanha brutalidade.

Ele somente voltou a si quando a garçonete lhe perguntou qual prato do cardápio ele iria querer.

Escolhendo os pratos, pediram que fossem enviados para os quartos; subiram as escadas que rangiam sob seus passos; o ambiente na hospedaria gradualmente se desvanecia enquanto se afastavam da agitação.

À medida que chegavam aos quartos, Heitor se adiantou e abriu a porta de um deles.

— Este será seu quarto por esta noite. Descanse, pois amanhã teremos mais estrada pela frente.

Ao entrar, Norman notou a simplicidade do quarto. Duas camas, uma pequena mesa e uma janela que revelava a paisagem nevada lá fora. Era humilde, mas o suficiente por uma noite.

Passadas algumas horas, já em plena madrugada.

Dentro do quarto, Yasmin estava tendo dificuldades para dormir, virando de um lado para o outro. Norman estava com o cobertor sobre a cabeça.

Dentro, se escondia uma lanterna criando uma bolha dourada de luz, revelando um rosto mergulhado em um livro. O quarto estava em silêncio, exceto pelo sussurro suave das páginas viradas.

Ele percebe a inquietação ao seu lado, quando finalmente desliga a lanterna os tremores da cama param. Vagarosamente ele vai à porta, pega o seu cachecol e sai do quarto.

— Acho que eu preciso de um pouco de ar fresco. Talvez caminhar um pouco me ajude a colocar a cabeça em ordem.

Do lado de fora, uma brisa gelada acariciou seu rosto, mas ele a acolheu com naturalidade enquanto percorria a rua principal, sem luzes e sem sinal de vida.

Finalmente, adentrou um bosque. Navegando entre as árvores com sua lanterna, ele ocasionalmente se detinha para colher ervas medicinais, revelando um conhecimento profundo que só podia ser creditado ao seu minucioso estudo do guia de campo.

Quando, apontando a lanterna para uma árvore, se depara com uma pessoa encostada nela, junto a ela várias garrafas do que parecia ser garrafas de cerveja. Um homem de meia idade, com barba por fazer, estava inconsciente.

“Uma pessoa inconsciente nesse frio, logo, logo vai morrer. Bom, isso não é problema meu. Acho que só vou dar meia volta e retornar à hospedaria.”

Suas pernas pareciam pensar diferente de sua mente; ele se aproximou, tocando no pulso do homem.

“Que diabos, o que eu estou fazendo? Esse cara já está quase morrendo”, Norman pensou, colocando também seus dedos perto da narina do homem para sentir sua respiração, apenas para ter certeza.

“Isso mesmo, ele fez sua escolha quando decidiu vir para o bosque nessas condições”,  pensou ele, quando constatou que a respiração do homem já estava fraca.

“Além disso, se eu for avaliar os benefícios, eu não vou ganhar nada com isso… não, isso não é uma questão de ganho e perda, é uma situação humanitária, é ético fazer o bem… errado, eu não sou nenhum herói… SOMOS apenas um egoísta.”

O homem tossiu um bocado, fazendo o garoto olhar novamente fixamente para ele.

“Eu tomei minha decisão.” Norman, agitou a neve de seus ombros, pegou a lanterna e deixou o bêbado para morrer em sua miséria.

Uma névoa espessa estava se formando, deixando o ambiente mais escuro ainda. Parecia que a natureza ao redor estava disposta a entrar em sincronia com o que se passava dentro de Norman. Mais um pedaço dele parecia ter se perdido.

— Eu pareço um maldito quebra-cabeça, que nunca poderá ser concluído.

Seus passos seguiam firmes para fora do bosque e, então, novamente cristais de gelo caíam do céu. O caminho de volta para a hospedaria foi silencioso e vazio.

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