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Sentado como um cão, o Bakurak movia a cauda de um lado para o outro. Sendo um adulto, seu tamanho chagava a quase trinta metros. Se ficasse sob duas patas, alcançaria facilmente os quarenta metros.

Colin avançou, deixando faíscas escuras pelo caminho.

A dor de dar somente um passo era como se cada fibra de seu corpo fosse apunhalada, mas ele ignorou a dor, ele tinha que aguentar.

A criatura ergueu a pata que mais parecia uma mão humana peluda e golpeou o chão, atrapalhando o avanço de Colin.

Baam!

Pedras foram deslocadas com o impacto e grande extensão do desfiladeiro foi abalada.

Colin aumentou sua velocidade e saltou, correndo pela parede do desfiladeiro. Dobrando os joelhos, ele saltou novamente, ficando ainda mais alto que o Bakurak.

Era possível ver tudo lá de cima, o vale, o começo e o fim do desfiladeiro. Viu os peregrinos se afastarem e era possível ver até resquícios de Ultan.

A criatura encarou o Errante alguns metros acima dela.

Estampando um sorriso diabólico, Colin inclinou o corpo enquanto estava em queda livre. Usou a mana contida em Claymore e energizou todo seu corpo em uma junção de raios negros misturado com raios púrpuros. Abriu os braços e dobrou os cotovelos. Ele parecia uma serra girando no ar daquele jeito enquanto caía.

Cabrum!

Colin desceu após o ribombar de um trovão. Ouviu-se o som de algo rasgando o ar e, em seguida, ouviu-se outro som ensurdecedor, semelhante ao disparo de um poderoso canhão, misturado ao som do aço sendo trabalhado em uma bigorna.

Bam!

Aquele som reverberou por quilômetros.

No topo da cabeça do Bakurak, Colin havia cravado suas espadas, mas não foi o suficiente para atravessar aquele pelo resistente. Ele havia usado quase toda sua força bruta naquele ataque.

Suas mãos estavam trêmulas.

Por mais que sua mente ignorasse a dor, o seu corpo sentia.

“Merda! Ainda não! O pelo dele é mais duro que a carcaça de um Terrasque!”

Colin puxou Claymore e deixou cravada na cabeça da criatura a lâmina Gram. Dobrando os joelhos, ele saltou para longe. Apontou a palma da mão para baixo e de um círculo mágico uma manticora feita de raios ganhou forma em pleno ar.

De pé em cima da invocação, Colin era açoitado pelo vento gélido. Há metros do chão, ele observava o Bakurak exibindo sua aterrorizante arcada dentária.

— Você é bem irritante pra uma coisinha tão pequena — disse o Bakurak em um tom de voz gutural. — Por que não desiste logo e me deixa comê-lo?

“Não tenho tanta força sobrando pra atravessar esse pelo resistente. Tsc!”

Ziuu!

Uma flecha enorme feita de mana amarelada avançou na direção do Bakurak rasgando o ar. O impacto foi tão grande que aquele monstro tombou para trás, indo ao chão.

Bam!

A queda fez tudo ao redor sacudir. Montanhas já abaladas terminaram de ser destruídas, uma rachadura enorme abriu no chão e avalanches desceram as montanhas cobertas por neve há quilômetros de distância.

Olhando para baixo, Colin viu que foi sua tia que conjurou aquela flecha poderosa. A manticora deu um rasante, pousando no chão próximo a Cykna.

— O que aconteceu com o ritual de banimento?

— Esqueça! Se a gente trabalhar junto, dá pra matá-lo!

— Tsc! Eu disse que aguentava!

Franzindo o cenho, ela saltou até a manticora, tocando o tórax de Colin e o encarando como uma mãe prestes a dar uma bronca no filho.

— Você mal se aguenta de pé, e eu sei o que estou fazendo, dá pra vencer aquela criatura. — Os ferimentos mais graves de Colin se fechavam lentamente. — Você tem o meu sangue, o sangue da sua mãe, vi isso enquanto enfrentava aquele homem, e você prometeu que nos protegeria, não vai conseguir isso se acabar morto… e você é a única memória de Celae que sobrou, não vou deixá-lo morrer.

Colin ouviu tudo em silêncio.

Cykna abaixou as mãos e apontou com o queixo para a criatura que começava a erguer-se.

— A nossa sorte é que o corpo dele é grande. Minhas flechas podem enfraquecer o pelo dele, deixar algo tão resistente como ferro tão frágil quanto vidro. Continue atacando. Sua especialidade são golpes rápidos carregados de poder bruto, né? — Cykna o encarava com semblante sisudo. — Preciso de tempo para encantar as flechas e você precisa fazer sua parte, só não exagere, você está parcialmente curado, se passar do limite os seus ferimentos vão matá-lo.

Ele assentiu, dobrou os joelhos e saltou da manticora. 

— Fique com a manticora, eu vou segurá-lo de outra forma.

Cykna nada disse.

Apoiou uma das mãos na manticora e a forma etérea azulada foi consumida por uma cor amarela.

A invocação, que antes era de Colin, agora estava sobre controle da rainha dos Elfos.

A manticora alçou voo. Cykna fez um sinal com as mãos como se segurasse um arco.

Uma enorme flecha amarelada começou a ser conjurada acima de sua cabeça.

Seu sobrinho lá em baixo também estava se concentrando.

“Vai ser a primeira vez que uso todos eles, será isso e Claymore ficará zerada. Preciso atingi-lo e recuperar a minha mana parcialmente pra outro ataque direto”.

Juntando as mãos, um círculo mágico formou-se no chão bem na sua frente, um círculo enorme. O nariz de Colin começou a sangrar, mas ele não se importou.

Do círculo saíram mãos enormes, mãos de um monstro, em seguida viu-se a cabeça de um dinossauro deixando o círculo, em segundos, aquele monstro assustador estava de pé.

O Terrasque enorme feito de faíscas balançou o corpo como um cão tentando se secar e deu um rugido ensurdecedor.

O círculo continuou brilhando intensamente, e foi a vez do urso gigante que ele matou no território hostil deixar o círculo. Uma matilha de lobos foi a última coisa a ser invocada antes do círculo desaparecer.

— Até que enfim você chegou.

Leona estava apavorada ao ver seu mestre naquele estado. A primeira coisa que sentiu foi raiva, raiva de quem tinha o deixado assim. Seus olhos se espremeram, seus dentes cerraram e suas caudas começaram a serpentear.

— Fica calma, eu bem. — Colin apontou o indicador para o Bakurak que ainda estava erguendo-se. — Preciso que me ajude a enfrentar aquela coisa.

— Foi ele quem fez isso com o senhor? — indagou com a voz gutural, como se estivesse possuída por algo demoníaco.

— Sim. Não consigo fazer você liberar a terceira restrição, consegue fazer isso sozinha?

Ainda rosnando, Leona ficou de quatro e suas unhas ficaram maiores, assim como seus ossos. Seu corpo ganhou pelos, seu focinho ficou mais aparente e suas caudas ficaram maiores.

Ela assumiu a forma de uma enorme raposa de pelo escuro com a ponta das caudas e das patas brancas. Sua baba resvalava no solo enquanto ela continuava rosnando. A raposa de três caudas era um pouco menor que o Terrasque que tinha quinze metros de altura.

De uma distância segura, Josan observava o confronto com olhos arregalados, surpreso com o que o carniceiro ainda tinha na manga mesmo após seu líder ser derrotado por ele. Ele havia entendido que eles jamais tiveram chance de derrotá-lo.

Ele não queria imaginar o que aconteceria se o Bakurak saísse vivo daquele confronto. Uma criatura como aquela poderia trazer a verdadeira calamidade ao continente que ainda estava de joelhos após a queda de Ultan.

Inconscientemente, começou a torcer para o carniceiro.

Colin saltou para cima da cabeça de Leona e suas invocações avançaram.

Foi a vez do Bakurak ficar de quatro e começar a se concentrar. Uma esfera que energia começou a ser formada frente a sua boca assustadora. A esfera escura parecia um buraco negro, sugando terra, poeira e os corpos dos caçadores para si enquanto ficava cada vez maior.

— Leona, sua vez!

A pandoriana abriu a boca e também começou a se concentrar. Frente a arcada dentária da raposa concentrou-se uma energia elétrica massiva. Faíscas púrpuras resvalavam entorno, destruindo tudo que tocasse.

— É sério? — disse Josan com uma das mãos erguidas frente ao rosto, protegendo-se da poeira e da ventania. — Eles vão mesmo fazer isso aqui?

— Leona! — bradou Colin competindo com o barulho das faíscas. — As invocações precisam chegar até o Bakurak, e eu tentarei absorver aquela esfera, não use muito poder destrutivo no ataque, eu tenho um plano!

Sem mana, Colin dobrou os joelhos, curvou o corpo e saltou em direção ao Bakurak. Com a mana zerada, seus saltos não eram tão efetivos, então ele alcançou o chão, correndo ao lado de suas invocações.

“Tia Cykna ainda está prestando atenção em mim, então espero que ela acerte o tempo, ou as coisas vão se complicar!”

Ele saltou para as costas do urso, depois saltou para a cabeça do Terrasque. À medida que se aproximava daquela energia massiva, ele sentia seu corpo ficar pesado.

“Aqui, daqui eu alcanço!”

Colin dobrou os joelhos a ponto de ficar em cócoras. Suas coxas ficaram mais grossas e ele concentrou-se.

Bam!

Saltou em direção a esfera que continuava a ficar maior a cada segundo. Entrou na órbita gravitacional do poder, sendo sugado por ele em uma velocidade assustadora. Segurou o cabo da lâmina Gram com os dentes e transformou Claymore em um anel enquanto esticava o braço direito na direção da esfera.

“Agora!”

Assim que tocou na esfera de energia massiva, sentiu como se os ossos de seu braço tivessem sido trincados. Ele ignorou a dor e começou a concentrar-se, absorvendo toda aquela energia destrutiva para suas tatuagens.

Wooosh!

Durou somente alguns milésimos de segundos a absorção.

Surpreso, o Bakurak continuava com a boca aberta sem entender o que havia acabado de acontecer.

Ligeiro, Colin retirou a lâmina Gram da boca e berrou.

— Leona, agora!

Boom!

A pandoriana disparou uma energia massiva que foi na direção de Colin. O Errante transformou Claymore em uma espada e apontou para o poder de Leona sem tirar os olhos do Bakurak.

A espada absorveu o ataque de Leona por inteiro.

Usando a mana da espada recém-carregada, Colin energizou todo o seu corpo com faíscas da cor roxa e preta.

Enquanto caía, uma flecha enorme feita de mana amarelada passou por cima de sua cabeça, cravando no crânio do enorme Bakurak.

Scrash!

Entrou somente a ponta da flecha, mas foi o suficiente para fazer a criatura urrar em um lamento agonizante. Enquanto o monstro balançava a cabeça de um lado para o outro, Colin havia chegado ao chão e avançado como um torpedo.

Foi na direção de uma das patas do monstro, apertou o cabo de suas espadas e cortou a pata peluda em diversos lugares em um curto período.

Seu pelo estava tão frágil que foi como cortar manteiga.

Ele subiu para as costas e começou a retalhá-lo com suas duas espadas, rasgando fundo aquele corpo enorme.

Sentindo demasiada dor, o Bakurak mal sentiu a potente mordida do Terrasque em seu ombro. O urso veio em seguida, mordendo o braço ensanguentado enquanto os lobos começaram a dilacerar as mãos da criatura.

 Colin transformou Claymore em uma espada grossa, pesada e longa. Energizou seu corpo mais uma vez e percorreu o Bakurak em um disparo, rasgando-o em todas as posições possíveis, facilitando suas invocações a devorarem o animal.

De cima da manticora, Cykna observava atenta. Ela abaixou as mãos, não havia necessidade de fazer mais nada.

“O garoto é bom, não deu sequer chance de o Bakurak revidar. O corpo dele foi curado três vezes, quando ele parar de se mover desabará cansado. Irmã, o seu menino é incrível”.

As invocações Colin continuavam a devorar o animal enquanto o mesmo havia saltado para longe. Ele estava há metros da criatura, observando-o ser devorador pelas invocações com estômagos sem fundo.

Respirando fundo, ele considerou avançar até o Bakurak e fazê-lo sua próxima invocação, mas ele não tinha força para dar um único passo. Suas mãos trêmulas largaram as espadas enquanto todo seu corpo tremia sem parar.

“Merda!”

Exausto, os joelhos de Colin foram ao chão e ele caiu, ficando ali, deitado de bruços, conseguindo mover somente a cabeça.

Suas invocações desfizeram-se e Leona se aproximou dele, o tocando com o enorme focinho e lambendo-o em seguida.

— Ei, Leona, pare com isso, sua língua é gelada!

Ela ganiu e sentou ao lado dele enquanto balançava as caudas.

A manticora de Cykna se desfez antes de ela chegar ao chão. Ficou na frente do sobrinho o encarando com um sorriso genuíno. Colin retribuiu.

— Você se saiu bem, sua mãe estaria orgulhosa.

Colin assentiu.

— A senhora está bem?

— Devia se preocupar com você.

— Basta uma noite de sono para que eu fique inteiro — Colin não conseguia mover-se. — Fazia tempo que eu não me divertia assim. Acho que por enquanto estou satisfeito. Vamos para casa, tia Cykna.

Ela abaixou-se e ajudou Colin a ficar de joelhos, passando o braço dele por seu ombro.

— Dessa vez eu cuido de você, e isso não tem discussão.

Colin assentiu enquanto era erguido.

— Tudo bem.

De pé sobre o que restou de um morro, Josan estava invisível, observando-os se afastarem. A rainha dos Elfos da floresta tinha uma quantidade absurda de mana. Enxergando com clareza, deduziu que Leyvell também seria derrotado por ela, mas seus métodos seriam outros.

Aquele homem que foi seu alvo horas antes, estava longe de ser alcançado, talvez fosse impossível se aproximar dele, concluiu isso depois do que presenciou.

Bertina havia dito-lhe que o carniceiro convenceu Cymuel a entrar em contato com Ayla, a rainha de Runyra, uma mulher com reputação forte, esposa do homem que matou seu líder. Deduziu que se ela resolvesse ajudar, o que sobrou de Ultan poderia ser erguido com a ajuda de Runyra, criando um império poderoso.

Sendo o marido de uma criatura do abismo, uma rainha poderosa e tendo a rainha dos Elfos como aliada, seria difícil alguém conseguir enfrentá-lo. Estas mulheres estavam ligadas ao carniceiro de alguma forma, deixando-o inalcançável.

Josan era esperto, ganhou a vida misturando-se e adaptando-se. No momento, ficar contra o carniceiro era loucura. Assim como aconteceu com Brighid, misticismo cercaria aquele homem, e as pessoas se atraiam por coisas assim.

Era questão de tempo até que ele se tornasse um símbolo e seu nome avançasse não somente pelo continente, mas por todo globo.

Tergiversando, Josan se afastou.

Ele já havia escolhido um lado.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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