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Capítulo 275 – Ordem na casa.

Com o primeiro raio de sol iluminando o quarto, Ayla despertou em um estado de enjoo ainda mais intenso do que o habitual. A gestação avançava rapidamente, e as mudanças em seu corpo eram cada vez mais evidentes, trazendo consigo uma série de desconfortos que pareciam intensificar-se a cada dia.

Uma cólica leve percorria seu ventre, os seios estavam sensíveis e doloridos, e as tonturas tornavam-se frequentes. Além disso, um apetite voraz parecia dominá-la, deixando-a constantemente faminta, como se nada fosse suficiente para saciar sua vontade de comer.

Consciente da importância de cuidar de si mesma e do bebê que carregava em seu ventre, Ayla decidiu confiar às servas a responsabilidade de zelar por seu bem-estar durante aquele período delicado.

Enquanto isso, solicitou a Colin, com gentileza e um toque de preocupação em seu olhar, que assumisse os assuntos mais urgentes do dia antes de se dedicar ao seu treinamento matinal.

Na imponente sala de reuniões de Ayla, Colin assumiu uma postura descontraída, com os pés apoiados sobre a mesa e os dedos entrelaçados atrás de sua cabeça. Sua expressão tranquila transmitia confiança, mas também revelava um leve traço de preocupação. Eles tinham muitas responsabilidades e desafios à frente, e o peso do império repousava sobre seus ombros.

Num movimento oscilante, Colin balançava suavemente na cadeira, emitindo um murmúrio preguiçoso que ecoava pelo ambiente. A atmosfera na sala era de calmaria, interrompida apenas pelo sussurro das secretárias que transmitiam informações irrelevantes. Até que, em meio a esses murmúrios, uma das secretárias se aproximou e informou-lhe que havia apenas uma reunião agendada para o dia, uma reunião de extrema importância que ele esperava ansiosamente. Seu semblante sonolento começou a se transformar, revelando uma centelha de entusiasmo.

Os segundos pareciam se arrastar lentamente, como se o tempo tivesse adquirido vontade própria, prolongando a espera de Colin. Cada tic-tac do relógio ecoava pelos corredores, criando uma tensão palpável. Até que, finalmente, a porta se abriu timidamente, revelando uma fresta de luz que trespassou a atmosfera carregada da sala e ele se endireitou na cadeira.

O olhar de Colin fixou-se de imediato na abertura

— Senhor, eles chegaram — disse a secretária. — Posso pedir para entrarem?

— Claro.

Colin rapidamente retirou os pés da mesa e alisou sua camisa de lã escura, desejando transmitir uma imagem de respeitabilidade impecável.

O aguardo tedioso foi rompido quando a porta foi bruscamente escancarada, revelando a figura de Cymuel, o homem encarregado das ruínas de Ultan.

Os olhos de Cymuel se arregalaram em surpresa, enquanto seu indicador trêmulo apontava acusadoramente em direção a Colin, num gesto carregado de pavor.

— Vo-Você!

— Cymuel! — Colin abriu um sorriso. — Então você veio mesmo! Por que demorou tanto?!

Foi a vez de Bertina entrar, tendo a mesma reação que Cymuel.

— E-Eu sabia!

— Bertina? Você também veio, háhá!

Por fim, Josan, o ex-caçador de espectros, penetrou no cenário, ficando tão surpreso quanto seus companheiros diante da cena que se desdobrava diante de seus olhos.

Em um instante, um turbilhão de memórias percorreu sua mente, reavivando cada detalhe do combate épico travado por Colin contra seus antigos aliados. A imagem assombrosa daquele homem ensanguentado, engolfado em uma aura aterradora, dizimando impiedosamente seus oponentes, ecoava em sua mente como um pesadelo desperto.

Num reflexo condicionado, Josan instintivamente apoiou a mão trêmula na adaga que repousava em sua cintura, um gesto involuntário de autopreservação.

No entanto, um calafrio percorreu sua espinha quando seus olhos encontraram o olhar frio e penetrante de Colin, que já estava diante dele, segurando uma adaga faiscante de raios em seu pescoço, como uma serpente pronta para dar o bote.

“Merda!”, ele olhou em volta, não havia sinais de magia que indicavam que o carniceiro havia se deslocado, “Isso foi… teletransporte?”

— Bem que notei que faltou um de vocês! — O sorriso sádico de Colin ficou mais largo.

— Senhor Colin! — berrou Bertina. — Josan não é seu inimigo, e-ele estava prestes a sair dos caçadores, Jo-Josan não é uma pessoa ruim, por favor, me ouça!

— Cala a boca! — Bertina ficou em silêncio imediatamente. — Ele estava com os desgraçados que estavam caçando a minha esposa, queria matá-la, não queria? Viu que seria morto junto daqueles miseráveis e fugiu com o rabo entre as pernas, típico de um covarde.

Josan estava imóvel, ele não sabia o que fazer. Era como se estivesse de frente para um predador perigoso que o mataria se fizesse qualquer movimento.

“Tsc… o que faço, tento barganhar? Julgando pelo que conheço dele, se ele não me matou ainda, significa que ele quer algo, certo?”, ele encarou Bertina e em seguida Cymuel que estavam com os olhos arregalados, “Bertina e Cymuel, ele ainda não me matou por causa deles?”

— Sinto muito, senhor… não fazia ideia que ela era sua esposa… só pensei… que estava fazendo o correto, mas quero ajudar agora, por isso escoltei Bertina e Cymuel até aqui em segurança, não sou seu inimigo…

— Claro, ninguém se torna meu inimigo com uma adaga no pescoço. — Um filete de sangue escorreu do pescoço de Josan. — Posso deixar isso passar, mas não sem você me dar algo em troca. — Ele abaixou a adaga. — Quando essa reunião acabar, você fica, meu assunto com você ainda não terminou.

Colin afastou-se, sentando na cadeira.

— Podem se sentar. — Apontou com o queixo para o sofá.

Pairava um clima tenso no ar.

Todos eles se sentaram, e o semblante sinistro de Colin desapareceu por completo.

— E então, o que veio fazer aqui, quer juntar Ultan a Runyra?

— B-Bem… as ruínas de Ultan são um território independente, não é como se o dono delas fosse eu… — Encarou Colin com olhos determinados. — O senhor me mandou direto para cá, como sabe, não temos dinheiro, remédio, guardas ou qualquer outro tipo de infraestrutura. Nosso povo vive com fome e com medo dos mercenários que não param de alcançar os nossos portões. Senhor… queremos sua ajuda.

Colin assentiu.

— Normalmente quem toma esse tipo de decisão é minha outra esposa, mas ela está indisposta. Acho que… — Colin coçou a bochecha pensando nos processos burocráticos para fazer as ruínas de Ultan parte de Runyra. Decidiu falar com Ayla mais tarde, já que ela conhecia melhor a estrutura do reino. — Tenho que consultar algumas pessoas, mas não deve ser problema essa junção.

Cymuel e Bertina encararam-se com os olhos brilhando.

— O-Obrigado!

Colin abanou uma das mãos.

— Não me agradeça ainda, mas permaneçam na cidade. Peçam para algumas das secretárias arrumarem quartos para vocês enquanto esperam isso se resolver.

— Senhor… — Foi a vez de Bertina falar. — Alguns dos nossos homens que formaram uma guarda particular, transitaram pelas fronteiras… parece que os países que ocuparam a antiga Ultan do Oeste estão se preparando para uma guerra contra o senhor…  

Cymuel continuou.

— E-Eles não parecem estar de brincadeira, senhor, parecem estar se preparando há meses para a invasão… Cla-Claro que viemos aqui buscando ajuda, mas também proteção… S-Se eles avançarem, nós que estamos na fronteira seremos atacados primeiro.

“Então eles finalmente vão agir.”

— Já era esperado algo assim, me surpreende que eles ainda não desistiram dessa ideia. — Colin deu de ombros. — Bem, só me resta fazê-los entender, né?

Bertina engoliu em seco.

— O senhor entrará em guerra contra oito países?

— Não é o que eu queria, mas nortenhos são cabeças duras, eles não vão entender se não for pela força. Não posso mobilizar soldados para não deixar nossas fronteiras desprotegidas, então eu vou.

Um silêncio pairou o ar por alguns minutos, sendo quebrado por Cymuel.

— Vai entrar em guerra contra oito países… sozinho?

— Não, sozinho não. Vocês verão, em poucas semanas isso será apenas uma lembrança ruim.

Desviando o olhar, Cymuel engoliu em seco.

— Senhor… sei que é um homem bom… há pessoas boas, mesmo entre os nortenhos…

Colin segurou uma gargalhada.

— Que cara é essa? Acha que sairei matando qualquer um? Não sou um monstro. Se eu fizesse isso, aposto que todo continente se voltaria contra mim, e isso seria bem problemático. — Ele abriu um sorriso sutil. — Confia em mim, vai ficar tudo bem.

Cruzando olhares entre si, aqueles dois assentiram.

— Quando o senhor planeja partir?

— Em breve. Quanto antes resolvermos isso, melhor.

— Então acho que acabamos, falem com as secretárias enquanto resolvo minha pendência com Josan. Podem ir.

Bertina engoliu em seco, trocando olhares carregados de apreensão com Josan antes de se retirar da sala, seguida de perto por Cymuel, que não parecia mais confortável na presença de Colin.

O silêncio que se instalou no aposento era quase palpável, ampliando a sensação de desconforto que pairava no ar. Estar sozinho com alguém como Colin não era uma experiência agradável, especialmente depois das suspeitas que recaíam sobre Josan e suas atitudes em relação a uma das esposas de Colin.

— Você não é tão forte, mas sabe se esconder — disse Colin com um sorriso no rosto. — Não senti sua presença quando desapareceu, presenciou meu confronto contra o Bakurak?

Josan engoliu em seco.

— Sim… foi uma batalha impressionante.

— É, quase morri algumas vezes naquele confronto. Leyvell também era bem forte, se minha tia não tivesse ajudado, eu teria perdido. Por que estava com os caçadores de espectros?

— Eu… — Josan desviou o olhar. — Pensei estar fazendo o certo…

Colin balançou a cabeça com um sorriso.

— Claro que pensou. A minha vontade era te decapitar aqui e agora, não perdoo ninguém que aponte a lâmina contra minha família. — Colin apontou para a adaga na cintura de Josan. — Você tem uma dívida a ser paga comigo, Josan, e pagará uma pequena parte dela agora. Qual o seu braço dominante?

Josan arregalou os olhos.

Queria argumentar, mas aquele homem não parecia que mudaria de ideia tão fácil.

— O braço direito é meu dominante…

— Ótimo! — Colin relaxou na cadeira. — Pegue essa adaga na sua cintura e decepe seu braço esquerdo um pouco abaixo do cotovelo.

Ele não teve reação.

— Senhor… eu-

— Não quero ouvir desculpas. Você devia ser grato a mim, eu devia arrancar sua cabeça, mas estou dando a você a chance de se redimir por perseguir a minha esposa grávida.

Engolindo em seco, Josan tirou a adaga da cintura.

“Eu devia tentar matá-lo? Não, isso é impossível. Poderia fugir, mas com a velocidade que ele demonstrou mais cedo, é certeza que me mataria antes de ficar invisível. Merda! Esse Carniceiro é louco, não posso arriscar fazer algum deslize aqui e machucar tanto Cymuel quanto Bertina.”

Ele arregaçou as mangas do braço esquerdo, apoiou a adaga um pouco abaixo do cotovelo e começou a concentrar mana. Suspirou e assim que começou a decepar o braço, sentiu as mãos de Colin segurando a sua.

Josan ficou confuso.

O sorriso de Colin estava estampado.

— Tenho que dizer, isso me deixou surpreso. Obedeceu a minha ordem como um cãozinho. Você era mesmo um caçador de espectros? Isso é meio decepcionante. — Colin largou a mão dele. — Não precisa continuar, você já me mostrou o que eu queria ver.

Ele voltou a poltrona.

— Não pensa que perdoei você, só quero que saiba o seu lugar. Você pertence a mim a partir de hoje, caçador. Fará o que eu mandar e quando eu mandar. Se não o fizer, bem… então eu começaria a me preocupar se fosse Bertina e Cymuel. — Aqueles olhos selvagens focaram em Josan. — Eles não são importantes para mim. Sinceramente, seria mais fácil descartá-los e colocar alguém de minha confiança no lugar, mas não farei isso. Basta um deslize, um único deslize e eles estarão condenados, entendeu?

Josan cerrou os punhos enquanto suava frio.

— Entendi, senhor…

— Ótimo! Agora pode ir, aproveite a cidade, os arquitetos tem feito um ótimo trabalho.

Ele fez uma reverência.

— Vou me retirar…

Colin abanou as mãos.

— Vá logo antes que eu mude de ideia.

Assim que Josan saiu do quarto, Colin relaxou na cadeira após um longo suspiro.

Pensativo, permaneceu com os olhos no teto.

“Então finalmente vai começar, a batalha pelo que restou de Ultan”, ele entrelaçou os dedos e apoiou as mãos no abdômen, “Faz tempo que eu não entro em alguma batalha, merda, eu tô ficando empolgado!”

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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