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Capítulo 42: Reencontro

O salão do palácio imperial permanecia parcialmente vazio. Somente empregadas, que eram Elfas, limpavam a grande mesa de madeira. Elas guardavam os copos e retiravam a pouca comida que havia sobrado. Lumur assinava alguns papéis e os colocava ao lado junto de um calhamaço.

Mergulhando a caneta em um tinteiro, ele parou quando notou que alguém estava atrás dele.

— Briana… o que você quer? Não solicitei sua presença.

Ela se aproximou para perto dele e fez uma reverência.

— Me desculpe, senhor, trago notícias dos seus irmãos.

Lumur parou de se escrever e olhou para as empregadas, que fizeram uma reverência e deixaram o grande salão rapidamente.

— O que têm meus irmãos? — perguntou retornando a assinatura de papéis.

— Meus espiões, senhor… eles seguiram o rastro de mana do seu demônio. Um pássaro chegou de manhã trazendo uma mensagem…

Lumur parou de assinar os papeis e encarou Briana.

— E o que dizia a mensagem?

— Seu demônio… foi banido.

Um silêncio sepulcral invadiu o recinto.

— Mas não foi só isso, senhor… encontraram um cenário pós, guerra. Havia crateras por todo lugar, árvores destruídas, arrancadas com a força do vento e encontraram também carcaças do demônio por quase toda floresta.

Incrédulo com o que ouvia, Lumur tentava deduzir o que de fato havia acontecido. Seu demônio não era fraco, mas não era seu espécime mais forte. Mesmo assim, precisaria de habilidade para vencer algo como aquilo, algo que pouquíssimos guardas reais tinham.

— Mais uma coisa, senhor… Chegou um falcão trazendo uma mensagem ontem de manhã. Dizia haverem estudantes que solicitavam ajuda do império para retornar. Encontraram os estudantes hoje de manhã. Havia algumas baixas, mas os que sobraram disseram que eles haviam sido atacados por bandidos que usavam ante magia.

Aquela, sim, foi uma notícia que pegou Lumur de surpresa. Ele já suspeitava que alguém tramava contra seu pai, mas ante magia era um recurso que estava além das habilidades dos membros da corte. Pedras de ante magia normalmente eram mineiradas em cavernas no Norte, uma informação exclusiva que Lumur demorou anos para descobrir. O povo do norte era bárbaro, moradores de terras congeladas que adoravam saquear qualquer santuário religioso atrás de ouro.

Pensativo, ele pensou em vários nomes que provavelmente estariam financiando excursões dos nortenhos para o continente, já que não era uma viagem tão tranquila assim. Havia monstros de que vagavam naquelas terras inóspitas, sem falar nas tribos de Orcs que vagavam pela fronteira.

Eram questões ele deixaria para mais tarde, agora seu foco seria no que aconteceu para que alunos retornassem vivos após trombarem com bárbaros usuários de ante magia.

— Como eles sobreviveram? — perguntou Lumur.

Briana se aproximou e colocou um envelope em cima da mesa. Lumur o abriu e tinha alguns documentos com nomes e fotos. Dentre eles, o de Colin, Samantha e Wiben.

— Senhor, o elfo negro, Samantha e Wiben, foram os que derrotaram os bárbaros. Disseram que o elfo negro lutou de igual para igual contra alguém que usava ante magia.

— Um usuário da pujança?

— Sim senhor. Pesquisei mais a fundo, e não se sabe muito dele. Não sei se o senhor lembra dos boatos que diziam sobre um elfo negro ter entrado na cidade trazendo a cabeça de um Bakurak, então, dizem que foi esse rapaz.

— Essa Samantha — disse Lumur encarando a foto — Já a vi em algum lugar, mas não me recordo onde.

— Se me permite, ela é filha do comandante da guarda imperial, e este Wiben é filho de um dos nobres que fornecem armas e grãos ao império.

Fuçando mais um pouco, ele retirou mais dois documentos. Estes eram de Kurth e Alunys.

— E estes dois, quem são?

— A garota é filha de um diplomata Élfico. O garoto é praticamente um nômade. Pela cor dos cabelos, deduzi que ele é do império do sul. Estes seguiram viagem, e dizem que dois irmãos gêmeos foram com eles.

Lumur devolveu os documentos ao envelope e entregou a Briana.

— Então quer dizer que um elfo negro, a filha de guarda imperial, o filho de um fornecedor de quinta e dois pirralhos conseguiram vencer o meu demônio?

— Não, senhor, pelos relatos, somente o elfo e os filhos de nossos funcionários conseguiram esse feito. Soube que o elfo enfrentou Anton na prova de seleção. Dizem que foi a melhor luta do festival.

— Ótimo… era só o que me faltava. Consiga mais detalhes desse elfo negro. Com quem ele anda, sobre seus amigos e qualquer coisa que possa ser útil.

Briana fez uma reverência.

— Pode deixar, senhor, retornarei em breve com notícias.

Lumur colocou a mão sobre os olhos e suspirou.

Ele tinha uma noção de quem eram os possíveis traidores da corte, mas não imaginava que alguém estaria armando os bárbaros do norte com ante magia. O exército de seu pai era bastante espalhado, e sempre atuava em frentes de batalhas decisivas. Manter a agenda expansionista tinha um preço alto.

Boa parte do que a capital comprava de seus fornecedores ia para linha de frente. O imperador só não contava que as pessoas fossem resistir com tanto ímpeto ao avanço de Ultan.

Os gastos públicos estavam começando a se extrapolar.

Lumur sabia que dentre alguns membros, havia desvio de dinheiro para reservas mais alternativas. Ele nada fazia, pois aquilo o beneficiava, mas Lumur começou a ver que as coisas estavam começando a ficar sérias.

Para ele, Loaus não conseguiria assumir as rédeas da situação, muito menos seu pai, que ele já julgava um velho doente e senil. Ele não queria ter de tomar medidas mais firmes, mas não lhe restavam opções.

Existia uma regra que os membros do lótus não se envolviam em assuntos de cunho político, e ele não planejava os envolver.

Mexendo no calhamaço de papéis, ele retirou um mapa e o desdobrou. Pegou a caneta e a molhou no tinteiro, marcando pontos estratégicos de abastecimento para o império e para as forças inimigas.

— Briana, ainda está aqui?

Ela saiu das sombras fazendo uma reverência.

— Sim, senhor, o que deseja?

— Prepare meu cavalo, irei resolver o problema com o sul primeiro.

— O senhor sozinho?

— Claro que não, você também vai. E reúna 50 soldados, será o suficiente.

— Desculpe, mas não acha 50 um número pequeno demais? O inimigo tem quase 100 vezes mais homens.

Lumur dobrou o mapa e guardou no interior do paletó.

— Não seja ridícula, você sabe que valho bem mais que 5 mil homens em combate. E os soldados estão há semanas travados nas fronteiras. Só destruirei a força de resistência deles e vocês vão avançar.

— E o assunto dos seus irmãos?

— Ah, sim, resolva isso antes de partirmos. Você tem um dia.

— Sim senhor…

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Samantha havia partido de manhã, bem antes de o sol nascer. Colin havia marcado em um mapa a localização de onde eles haviam lutado contra o demônio, e ela seguiu tranquilamente para lá. Sua mente pensava na missão dos camponeses, no treinamento dos garotos e principalmente no vilarejo atacado pelos vampiros.

Qualquer um que se preze já tinha ouvido falar de vampiros e da grande era da escuridão. Alguns pais contavam esse tipo de história para os filhos visando os impedir que saíssem a noite e nunca mais retornassem para casa.

Ela relutou se deveria aceitar essa missão para acabar com vampiros, pois aquele medo infantil ainda estava cravado em seu peito. Mas ela havia crescido, enfrentou demônios e demais seres vis. Lutar contra vampiros não seria grande coisa. Pelo menos era isso que ela achava.

Após cavalgar por quase três horas, ela havia chegado próxima ao lugar onde haviam enfrentado o demônio. Se ela não visse com seus próprios olhos, jamais acreditaria. Parecia que uma guerra havia acontecido ali. Ela olhou ao redor e viu abutres, também viu felinos de grande porte comendo a carne dos membros do demônio que Colin cortou.

Aquilo era impressionante, até mesmo para ela acostumada a ver cenários pós-batalha quando viajava com seu pai para acampamentos na linha de frente.

O mais bizarro de tudo, foi se dar conta que Colin segurou uma criatura como aquela sozinho durante um tempo. Ela sentiu um arrepio na espinha só de imaginar lutando contra alguém como Colin. Para ela, Colin estava ao menos no top 10 da universidade depois do que ela presenciou.

Sacudindo as rédeas, ela seguiu pela estrada que nem mais existia. Só restavam buracos e erosões naquele lugar. Usando a análise, ela conseguiu ver alguns rastros de mana que não estavam tão distantes dali.

Ao adentrar a floresta e caminhar cerca de dois quilômetros, ela começava a ver sinais do acampamento. Camponeses estendiam roupas em varais improvisados. Algumas crianças brincavam de pique pega, e os velhos jogavam conversa sentados em caixotes de madeira. Os homens esfolavam animais e arrumavam uma fogueira improvisada, enquanto as mulheres improvisavam uma cozinha.

Estava quase na hora do almoço.

Assim que deu as caras, os camponeses ficaram um pouco assustados com o barulho de galho quebrando, mas logo ficaram aliviados ao ver Samantha sã e salva em cima do cavalo.

Correndo até ela, os camponeses mantinham um olhar bastante alegre. Samantha não se lembrava de as pessoas terem ficado tão felizes ao vê-la.

— Senhorita Samantha! — disse uma senhora segurando as lágrimas — Orei tanto para que a senhorita ficasse viva, estou tão aliviada.

— É verdade que você derrotou um demônio? — perguntou uma garotinha com os olhos brilhando.

— Bem, sim…

— Eu não te disse?! — falou a garotinha encarando um moleque da mesma idade — Senhorita Samantha é a mais forte! Até mesmo senhorita Liena disse isso!

Samantha abriu um sorriso de canto. Aquela recepção foi bastante calorosa, algo que ela nunca sentiu na vida.

Descendo do cavalo, ela caminhou pelo acampamento puxando seu animal pelas rédeas. Todos os camponeses a cumprimentavam com um sorriso no rosto. O velho, responsável pelas caravanas, se aproximou de Samantha e ajeitou sua boina.

— Então você escapou da bendita morte! — Ele deu dois tapinhas no ombro dela — Eu sabia que você conseguiria háháhá.

O velho olhou para os dois lados.

— E o nosso elfo negro, onde ele está? Queremos agradecê-lo também.

— Bem, ele se arriscou muito para me salvar, e isso acabou fazendo com que ele ficasse sem mana. Mas ele está bem, não se preocupem com ele.

— Ué, dava para ele vir com você, não dava?

Samantha abriu um sorriso e coçou a nuca.

— É que acabamos aceitando uma missão no vilarejo onde estávamos. Colin ficará lá por enquanto.

— Ah, então tudo bem…

— Onde os outros estão? — perguntou Samantha.

O velho apontou para um grupo de rochas que ficava logo a frente.

— Estão depois daquelas rochas. Senhor Wiben está os treinando eu acho. Eles ficarão bem felizes ao ver que a senhorita está viva e bem!

Samantha assentiu com a cabeça e entregou as rédeas do cavalo para o velho.

— Pode cuidar dele para mim?

— Claro!

Caminhando para detrás da pedra, ela começou a ouvir o barulho de cachoeira. Quando viu melhor, observou todos eles meditando debaixo de uma queda d’água. Wiben estava mais afastado os observando.

A concentração deles era tão absurda que a mana que emanava deles era algo totalmente puro, algo natural que se fundia com perfeição a natureza.

Samantha fez barulho ao sair de trás da rocha, mas os garotos não se importaram, eles ignoraram tudo que era externo e se concentraram somente em seu diafragma, mantendo uma respiração lenta, porém, consistente.

Wiben foi o único que notou a presença de Samantha. Ao olhar sua amada de pé há alguns metros dele, sua reação foi a de não ter reação alguma. De alguma forma, ele sabia que ela estava bem, mas vê-la de pé na sua frente foi algo bastante inesperado.

Erguendo-se, Wiben começou a tremer e correu em direção a Samantha, dando nela um abraço apertado seguido de um beijo.

— Você… — disse Wiben com as mãos trêmulas no rosto de Samantha — Aquele desgraçado do Colin conseguiu mesmo!

Samantha deu mais um beijo em Wiben.

— Você está treinando os garotos, estou orgulhosa de você!

— Foram eles que insistiram… disseram que seria melhor assim do que ficarem parados. Onde está Colin? — perguntou Wiben com as mãos na cintura de Samantha.

— É uma longa história, mas resumindo, ele tá bem, só não vai seguir viagem conosco até a vila dos camponeses.

— O quê? Por quê?

— Ele não pode usar magia, e aceitamos um trabalho em uma vila. Colin ficou para firmar o acordo. Depois explico tudo, chamarei os garotos.

Desvencilhando de Wiben, Samantha reuniu força em seus pulmões e berrou o nome de cada um deles. Os quatro abriram os olhos e tiveram a mesma reação de Wiben num primeiro momento.

Os gêmeos foram os primeiros a se levantarem. Liena queria tanto dar um abraço em Samantha, mas ela estava todo molhada que parou antes que conseguisse realizar o ato.

Suas lágrimas se misturaram a água da cachoeira e ela mordeu os lábios.

Aquela foi a primeira vez que Liena temeu por alguém que não fosse de sua família. Foi um sentimento novo e um alívio se abateu sobre ela. Toda aquela angústia se desfez como fumaça ao ver que sua mentora que havia conhecido a pouquíssimos dias estava sã e salva.

Samantha abriu um sorriso e abriu também os braços, convidando Liena para um abraço. Ela não resistiu e pulou em Samantha a abraçando com toda sua força.

— Ei, ei, ainda não estou 100% — zombou Samantha acariciando os cabelos negros de Liena.

Ainda abraçando Samantha, Liena olhou para cima com os olhos cheios d’água.

— Desculpa, eu não pensei que… Desculpa… Alunys disse para que eu tivesse fé, então orei por horas enquanto meditava e nada acontecia. Senhor Wiben disse que senhor Colin era tão rápido quanto um raio, então pensei que ele retornaria rápido com notícias, mas se passou horas e eu temi o pior. — Ela abraçou Samantha mais forte — Ainda bem que a senhorita está bem!

A guarda de Samantha estava totalmente aberta. Aquela Liena emotiva havia a pego de surpresa. Ela se lembrou que sua irmã mais nova se sentia da mesma forma quando ela retornava para casa toda machucada após ter treinado com o pai.

— Estou bem! — Samantha deu dois tapinhas nas costas de Liena — Não precisa se preocupar. Se não fosse por Colin e claro, suas orações, eu talvez não tivesse sobrevivido. Obrigada por orar por mim!

Liena se afastou de Samantha e coçou os olhos. Loaus parecia congelado, mas ele estava feliz. Assim como a irmã, ele não entendia muito bem aqueles sentimentos. Foi como tirar um pedregulho enorme dos ombros.

— Senhorita Samantha… — murmurou Loaus — Fico feliz em vê-la bem. — Ele olhou para os dois lados — Kurth disse que você e o Senhor Colin lutaram contra um demônio. Eu… sinto muito por não poder ajudar… eu… ainda não sou tão forte como vocês.

Samantha se aproximou de Loaus que estava com a cabeça baixa.

— Ei — ela afagou os cabelos negros de Loaus — Não precisa ficar assim. — Ela colocou o indicador no queixo de Loaus e levantou sua cabeça — Você está treinando, quem sabe me ajude na próxima batalha?!

Loaus fez que sim com a cabeça.

Alunys e Kurth se aproximaram, ambos pareciam bem felizes com o retorno de sua companheira, mas logo ficaram preocupados de não verem Colin.

— Onde senhor Colin está? — perguntou Kurth procurando com os olhos.

— Bem, é uma longa história, mas resumindo… Acabamos indo parar em um vilarejo há algumas horas daqui. O duque do lugar nos forneceu uma missão e bastante dinheiro. A gente investigou um pouco e descobrimos que a causa pode ser vampiros. Colin resolveu ficar e esperar a gente, já que ele não pode usar magia pelos próximos 2 dias. Mas não se preocupem, ele é um usuário da pujança, então ficará tudo bem.

— Então vamos viajar sem o senhor Colin? — perguntou Alunys — Não acredita que é melhor o esperar? Pode ser perigoso se outro demônio aparecer.

— Por isso vamos ter que contar com a astúcia e um pouco de sorte. Suponho que Colin não iria querer que dependessem tanto dele. Gastaremos mais alguns dias para ir e outros para voltar, mas quando voltarmos, mostrem a ele o quanto evoluíram. Por isso também darei meu máximo para absorverem por completo meu treinamento. Precisaremos de todos caso o inimigo for realmente um vampiro.

Todos os quatro fizeram que sim com a cabeça. Dos quatro, Loaus era o mais determinado. Logo seria a chance de ele provar seu valor de verdade na frente de um guerreiro forte. Ele não vacilaria de jeito nenhum.

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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