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Capítulo 44: Rumo Ao Ducado

[Três dias depois].

As estradas continuaram tranquilas sem mais surpresas pelo resto da viagem, então, não tiveram dificuldades pelo caminho até a chegada ao vilarejo dos camponeses.

Samantha conseguiu repassar o básico com êxito, e deixou os garotos treinarem sozinhos. Eles focaram em combate, juntando isso a meditação.

No começo, Kurth era o mais avançado, pois, ele já era experiente em combates, mas não demorou muito para que Loaus o alcançasse, deixando os dois bastante pareados.

Loaus é o tipo de garoto chamado de gênio. Ele pegava rápido as lições e seu entendimento na arte da esgrima só teve progresso.

Sua árvore era a da terra, e isso só deixava seu treinamento com Kurth ainda mais interessante. Usando o arco e flecha, Kurth havia conseguido potencializar seus disparos de maneira surpreende enquanto Loaus tentava se manter como uma muralha firme para bloquear os disparos de Kurth, mas a vasta experiência em combate de Kurth não seria superada com alguns dias de treinamento de Loaus.

Mesmo sendo um gênio, o trabalho duro de Kurth não devia ser ignorado. Os dois, praticamente melhores amigos no momento, estavam ao longe comendo peixe frito enquanto jogavam conversa fora.

Até mesmo Liena pareceu ter amadurecido.

Ela não queria ficar atrás do irmão, e focava sua habilidade puramente no ataque direto e mortal. O irmão era um pouco mais analista em combate, focando sempre no contra-ataque. Liena focava no ataque absoluto.

Apesar de serem gêmeos, a mana de Liena era mais abundante, e isso a dava mais liberdade para atacar indiscriminadamente.

— A árvore do pélago é ótima! — disse Liena sentada ao longe do lado de Alunys que bebia água de um cantil — Quando conseguir transformar água em gelo, acho que você vai ser uma das pessoas mais fortes que conheço.

Alunys entregou o cantil para Liena, que bebeu a água com a maior vontade do mundo.

— Eu não sou uma guerreira — disse Alunys limpando os lábios com as costas das mãos — Nem sou tão forte quanto você, seu irmão ou até mesmo Kurth… Consigo memorizar um texto de vinte mil palavras, mas não consigo vencer você em uma briga.

Liena fechou o cantil e o colocou ao lado de seus pés. As duas estavam debaixo de uma árvore que tinha uma sombra bem fresca. Inspirada por Alunys, Liena cortou o cabelo na altura dos ombros, e trocou a escova de cabelo pela espada.

— Eu meio que tenho inveja disso… — Liena abraçou os joelhos — Meu irmão mais velho sempre disse que era importante que eu fosse inteligente, então ele me entupia de pergaminhos antigos e livros sobre magia e línguas ancestrais, mas nunca fui boa nisso.

Alunys fez que sim com a cabeça.

— Você e seu irmão… desculpe falar isso, mas desde o dia que botei os olhos em vocês os achei suspeitos… Vocês têm uma certa etiqueta. Seu cabelo é muito brilhante, suas unhas são bem feitas e você tem um cheiro bom, me lembra o perfume de uma tia que fazia parte da corte dos elfos da floresta… me lembro que o perfume dela custava uma fortuna. Vocês são nobres, não são?

Liena ficou paralisada e engoliu o seco.

Ela pensou se realmente deveria contar para Alunys sobre seu segredo, mas já tinha um bom tempo que sentia que guardar aquilo era sufocante. Diferente de Loaus, ela não conseguia viver bem com esse tipo de mentira. Além disso, ela confiava em Alunys.

— Sim… — Liena encarava Alunys no fundo, de seus olhos — Loaus e eu… a gente meio que fugiu de casa… e tenho certeza que papai deve ter ficado muito bravo, ou ele nem deve ter se importado, já que era nosso irmão que sempre vinha visitar a gente…

Alunys ajeitou os óculos trincados com o indicador e olhou para baixo, mexendo na grama com um graveto.

— Do jeito que você fala… você e seu irmão parecem ser bem importantes…

Liena desviou o olhar.

— Somos… um pouco…

Engatinhando de quatro, Liena se aproximou de Alunys, e disse baixinho em seu ouvido:

— Meio que é um segredo meu e do meu irmão, mas sou Liena Ultan I, e meu irmão é Loaus Ultan II.

Alunys se afastou com os olhos arregalados e Liena suspirou com uma das mãos no peito.

— Pelos deuses, como foi bom contar isso para alguém, sério… me sinto bastante aliviada.

— I-Isso é sério? E-Eu não sabia que o imperador tinha mais filhos… — Alunys estava boquiaberta, atônita com a informação revelada.

— Ninguém sabia… a gente vivia trancado no castelo, por isso quando saímos foi tudo tão… tão mágico. — A princesa se sentou ao lado da amiga — Sentir o sol na pele, observar as espécies de pássaros que antes só víamos em livros, sentir frio, sentir medo, sentir felicidade e fazer amigos… Acho que a melhor decisão que tomamos foi a de sair daquele palácio que fedia a mofo e quinquilharia. — Liena olhou para o vazio e abriu um sorriso enquanto alisava as mechas do cabelo — Acho que alguns dias atrás eu rejeitaria fortemente a ideia de cortar meu cabelo, mas aqui estou…

— Pensando bem… — Alunys desviou o olhar — Você e Loaus são as pessoas mais legais da realeza que conheci. Os nobres da universidade são pessoas horríveis, não queira se meter com eles.

— Sério? Bom, nunca vi outro “nobre” além dos meus irmãos, então não sei.

— É sério, todos os nobres da universidade odeiam o senhor Colin, a mim e Kurth. Basicamente odeiam todo nosso pessoal. Tem um homem, Stedd, ele é amigo do senhor Colin, ele desafiou todos os nobres de uma vez, foi bem assustador.

— Esse Colin… — disse Liena abraçando os joelhos — Ainda não tive a oportunidade de conversar com ele como conversei com todos vocês. Vocês parecem o respeitar muito, ele é tão incrível assim?

— Eu também não o conheço tão bem, mas, sabe… acho que ele é do tipo que parece não demonstrar que se importa conosco, mas ele se importa, e muito…

— Não duvido, senhorita Samantha disse que ele estava lutando sozinho contra um demônio quase 30 vezes o tamanho dele… Ele deve ser mesmo forte como todos vocês dizem.

Samantha estava ao longe e acenou para as duas.

— Senhorita Samantha parece querer conversar conosco — Alunys se ergueu e ofereceu a mão para Liena, a erguendo em seguida.

Todos os quatro, incluindo Wiben, se reuniram próximo à Samantha.

Ela parecia bastante contente. A viagem foi tranquila, com alguns contratempos que eles conseguiram resolver. O treinamento continuou perfeitamente bem, e ela estava feliz com o resultado alcançado.

— Bom! — Samantha estampava um sorriso no rosto — Acho que enfim conseguimos concluir nossa missão. Entregamos os camponeses ao seu vilarejo com segurança e sem baias civis. Acho que devo parabéns a vocês e parabéns ao Colin também, sem ele não teríamos chegado tão longe. Pois bem, é hora de partirmos, e como expliquei a vocês, encontraremos Colin e realizaremos uma missão em conjunto. Podem arrumar suas coisas, os camponeses nos forneceram três cavalos e alguns suprimentos para a viagem. — Ela balançou uma carta com o selo do vilarejo — Aqui está a carta do senhor do vilarejo contando todos os perigos que passamos. Devemos ganhar um bom dinheiro com isso. Se apressem, partiremos o mais breve possível.

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Item por item, Loaus enchia sua mochila de couro com comida e armas brancas, além de um caderno de anotações e alguns livros. Ele pegou a mochila pela alça e caminhou até sua irmã que conversava com Alunys de maneira despreocupada.

Wiben e Samantha ficaram com um cavalo, Kurth e Loaus com outro e o último ficou com Liena e Alunys. Antes que pudessem partir, os aldeões se aproximaram.

— Já iriam partir sem se despedirem? — perguntou o velho com a boina apoiada no peito.

— O senhor já deve ter se cansado de nós. — disse Wiben.

— De maneira nenhuma, tem certeza que não querem ficar aqui mais uma noite? Temos comida e camas quentes se precisarem.

— Não precisa se preocupar — disse Samantha sacudindo uma das mãos — Nosso amigo está esperando por nós, e ele é um especialista em arrumar confusão, então é melhor a gente se apressar.

— Já que é assim… — Todos os camponeses se curvaram — Agradecemos a todos vocês, de coração. Se não fossem por seus esforços, jamais teríamos retornado para nossas famílias.

Todos eles ficaram sem graça, mas para os gêmeos, aquele foi um sentimento novo. Mesmo que os camponeses estivessem contentes, eram eles que de fato se sentiam gratos de alguma forma.

Entenderam que a gratidão nada custava, mas tinha um valor imenso.

Loaus se curvou e sua irmã fez o mesmo.

— Nós que agradecemos! — disseram os dois em uníssono.

O velho coçou a nuca e depois balançou as mãos.

— Não precisam se curvar há há, agradeçam o senhor elfo por nós quando o encontrar.

— Pode deixar! — Wiben deu dois tapinhas nas costas dos gêmeos e eles arrumaram suas posturas — Fiquem bem, pessoal, que os deuses os protejam.

Montaram em seus cavalos e partiram para onde o ducado se localizava. Seria uma viagem de mais três dias de volta. Loaus estava ansioso para mostrar o que aprendeu ao homem que salvou sua vida duas vezes.

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Em meio ao barulho de crianças correndo, Colin estava deitado na cama do seu quarto enquanto Melyssa e Brey estavam na mesma cama, porém, mais na ponta pulando sem parar.

Tobi, Bill e Potter fingiam ser soldados duelando, já Meg estava deitada ao lado de Colin tentando ler o que estava escrito nos jornais, mas sem muito sucesso.

Deitado com uma das mãos atrás da cabeça, Colin lia atentamente todas as habilidades de sua árvore na sua barra de status. Ele tentava formular mentalmente estratégias de combate contra os mais variados tipos de inimigos.

O barulho das crianças não o incomodava, na verdade, ele estava até se sentindo bem de vê-las se divertindo. O único, porém, era que ele sequer investigou algo nos últimos três dias, e o duque mandava homens a todo tempo para ver se Colin havia tido algum progresso.

Ele disse que teria se o duque arrumasse alguém para ficar com as crianças, mas o duque disse que os garotos eram responsabilidade exclusiva de Colin, e Colin disse que não iria mover um único dedo nas investigações até que seus companheiros retornassem. Tiveram este impasse e o duque disse que esperaria até que os companheiros de Colin viessem, mas frisou que tempo era dinheiro.

— Isso tem muitas letras — disse Meg lendo o jornal deitada — Quero ler as imagens, não tem um só com imagens, tio Colin?

— Não. Isso é um jornal, não achará muitas imagens nisso.

— Que chatice, como você conseguiu ler tudo isso?

— Conseguindo.

Meg não conseguia ver a barra de status de Colin, então ela apenas o observou mexendo com o indicador. A pequena pensou que ele estivesse desenhando no ar e começou a imitá-lo. Jogou o jornal de lado e começou a rabiscar o ar com o indicador.

— O que você está desenhando? — ela perguntou. — Acho que vou desenhar o coelho da Melyssa. Primeiro vem o corpo, pernas, braços, cabeça e orelhas, é assim, né?

Colin a encarou de canto de olho e ela sorriu para ele exibindo seu sorriso janelinha.

— Tio Colin, quando a gente vai fazer compras de novo? — Perguntou Melyssa ainda pulando na cama, quase caindo em cima dele.

— Fizemos isso ontem. — Ele respondeu sem tirar os olhos de seu status.

— Eu sei, mas é que eu e Brey nunca fizemos isso antes. A Brey disse que os pais cuidam dos filhos, compram coisas, dão comida, contam histórias e tudo que o senhor está fazendo. O senhor é como um pai para gente, né?

— Eu não sou o pai de vocês.

— Mas é como se fosse, não é? — perguntou Meg encarando Colin com olhos que pareciam enxergar sua alma.

— … eu não sei… — Colin se sentou na cama e calçou seus chinelos.

Ele não estava a fim de responder perguntas desconfortáveis como aquela, então ele precisaria de um pouco de paz no momento.

Afinal, ele ainda desenrolava estratégias de combate em sua mente. Ele se levantou e o quarto inteiro ficou em silêncio, até mesmo os meninos ficaram quietos.

— Aonde o senhor vai? — Perguntou Melyssa segurando seu coelhinho.

— Vou dar uma volta, volto logo. Não façam bagunça.

— Mas o senhor… volta mesmo, né?

As crianças aguardavam ansiosas a resposta.

Após tanto tempo, elas haviam encontrado alguém que estivesse disposto a ajudá-las. Apesar de Colin ter seus próprios motivos para fazer isso, ele as alimentou, comprou-lhes roupas e esteve com elas nos últimos dias.

Pela primeira vez em muito tempo, aqueles meninos e meninas puderam ser apenas crianças, sem se preocupar com o que comeriam no amanhã, sobre como sobreviveriam a uma noite fria, ou a segurança de não ter sua casa sendo invadida por algum maníaco. Colin era o porto seguro que eles desejavam há muito tempo.

— Não se preocupem, volto logo, eu prometo. — Colin encarou Potter — Você está no comando.

Potter prestou continência.

— Sim senhor!

— Não abram a porta para ninguém até eu voltar.

— Certo!

Colin fechou a porta e desceu as escadas com calma.

Passou pelo porteiro da estalagem em que estava e seguiu pela rua deserta. O sol havia acabado de se pôr, então, ele foi até uma praça deserta e se sentou debaixo de um poste no qual flutuava um orbe de luz.

Com mais calma, ele encarou seu Status.

Status
Nome: Colin
Idade: 23

 Árvore primária: Céu. Nível: 03.
Árvore secundária: Pujança. Nível: 04.
Árvore secundária: Caos. Nível: Bloqueada.

Habilidades desbloqueadas: 02

HP: 5000.
MP: 1380.

Habilidades:

Força: 42
Destreza: 35
Agilidade: 42
Inteligência: 27
Estamina: 52

200 pontos em pujança, pontos necessários para o nível 5: 50 pontos.
530 pontos primária, pontos necessários para o nível 4: 70 pontos.

Ele havia ficado mais forte do que o previsto. Isso se dava pelo acréscimo de 20% no bônus da última missão completada. Seu foco principal, que era força e agilidade, estava caminhando a passos largos para o que ele desejava.

Colin fez que sim com a cabeça.

Ele estava bem mais forte que semanas atrás. Grande parte disso era porque havia derrotado o demônio da estrada.

Suspirando, Colin encostou sua cabeça no banco e tornou a encarar as nuvens escuras que, lentamente, cediam seu lugar para uma imensa lua minguante.

Pela primeira vez em muito tempo, Colin estava sozinho, curtindo sua própria companhia em uma noite que começava a esfriar. Mesmo para um ducado bastante povoado, aquele silêncio estava começando a incomodar.

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— Vamos começar por aqui, Senhor Alistar? — perguntou um vampiro de cabelo preto observando o ducado em cima da estrutura mais alta da redondeza. A estrutura na qual estava se tratava de um tipo de catedral com um vitral ornado, representando todos os doze deuses em sua extensão. — O cheiro de mana aqui é bem fraco, não acho que valha a pena.

— Viemos aqui pegar comida, não para transformar alguém. Esse vilarejo realmente não tem nada de especial. Ele fede a decadência.

Mais outros vampiros subiram em cima do telhado. O vento começava a soprar gélido, balançando as vestes de todos, vestes que se resumiam a sobretudos pretos.

— Vamos somente fazer um pequeno reconhecimento. Este ducado parece pequeno, mas não é. Matem os velhos e o máximo de guardas que conseguirem. Levem as crianças e as mulheres, a carne delas é melhor para mastigar. Reduziremos as forças desse ducado e retornaremos em breve para limpá-lo do mapa.

— Sim senhor!

Os vampiros saltaram rapidamente e começaram a correr pelas ruas, invadindo casas e iniciando um verdadeiro massacre. Uma gritaria se iniciou em torno do ducado, acompanhada de explosões e do cheiro de sangue.

— Senhor… — disse o vampiro de cabelo preto — Tem uma mana considerável por perto — Ele apontou para a praça — Está naquela direção. O Senhor quer que eu vá dar uma olhada?

Alistar franziu o cenho e fez que não.

Ele também sentia.

— Você não conseguirá resolver. Eu vou.

Dobrando os joelhos, Alistar saltou, caindo no chão com graciosidade.  Alguns moradores começavam a sair de casa curiosos com toda confusão recém-iniciada. As garras da mão direita de Alistar cresceram alguns centímetros, e como se tele portasse, cortou a jugular de todos os curiosos, um por um.

Crash! Crash! Crash!

As ruas logo começaram a se inundarem de sangue.

Colin, por outro lado, correu de volta para a estalagem assim que ele ouviu a primeira explosão. Após passar por tanta coisa, ele aprendeu a farejar problema de longe.

Muitas coisas passaram por sua cabeça.

Pensou que talvez pudesse ser uma invasão de um exército inimigo, mas logo descartou a ideia e considerou que os vampiros resolveram realmente atacar.

O estalajadeiro já não estava na recepção, então ele subiu correndo pelas escadas, foi para o corredor e tentou abrir a porta, porém, estava trancada.

— Potter! — gritou Colin — Abre, sou eu!

A chave girou do outro lado e Colin se deparou com um Potter bastante assustado. O resto das crianças estava em um canto do quarto, abraçadas uma, as outras.

— Está todo mundo bem?

— S-Sim senhor!

— Ótimo!

Colin foi até o guarda-roupa e o abriu, retirando tudo que fosse inútil lá de dentro.

— Bill, Brey, Melyssa e Tobi, se escondam aqui!

Eles estavam bastante assustados, mas não disseram nada, apenas obedeceram.

[Explosão!]

Uma explosão foi sentida bem abaixo deles. O lustre se estraçalhou no soalho, assim como uma parte da parede que veio ao chão com o estrondo.

— Fiquem escondidos aqui e não façam barulho.

Antes de fechar o guarda-roupa, Melyssa segurou a borda da manga de Colin. Ela estava abraçada a seu coelhinho e se segurava ao máximo para não chorar. Então Colin deu uma olhada melhor em todas as crianças, elas estavam da mesma forma.

— Senhor Colin… — murmurou Melyssa com uma voz de choro.

Melhor do que ninguém, Colin sabia que eles estavam assustados, não por terem medo do que estava lá fora, mas por medo de não ver Colin novamente.

Seus corações entravam em desespero somente por flertar com a ideia de ficarem sozinhos novamente, afinal, elas eram apenas crianças que foram obrigadas a serem adultas cedo demais.

Colin se agachou, encarando-os nos olhos.

— Ei! — disse ele, sabendo o peso que suas palavras tinham para os garotos — Não precisam ficar assustados, tá tudo bem. Já resolverei o que quer que seja e voltar o mais rápido possível, tá bem?

Melyssa ficou na ponta dos dedos e abraçou Colin. O restante das crianças fez o mesmo, tornando aquele abraço coletivo uma forma de afeto que nem mesmo Colin estava acostumado. Aquilo era diferente, pela primeira vez ele lutaria por pessoas fracas demais para se protegerem sozinhas, crianças que já haviam passado pelo inferno e que viam agora  no próprio Colin uma chance de sorrirem de novo, de serem mimadas com presentes, de poderem viver despreocupadamente como crianças normais.

As crianças se afastaram e Melyssa ofereceu seu coelhinho para Colin.

— Pode ficar… — disse ela ainda se segurando para não chorar — Mamãe disse uma vez que o coelhinho da sorte, e que ia me proteger, então protegerá o senhor também…

— Então é melhor que fique com você. — Colin abriu um sorriso gentil — Vai proteger você, Brey, Bill e Tobi. Eu sou forte, não precisa se preocupar comigo.

Melyssa engoliu o seco e abraçou o coelhinho.

— Não façam barulho, eu volto logo.

Colin abriu um sorriso largo e fechou o guarda-roupa, encarando agora Meg e Potter que pareciam em pânico.

— Por aqui! — disse Colin indo pro quarto ao lado.

Ele fez o mesmo, abriu o guarda-roupa e os escondeu lá.

— Quando os barulhos acabarem, vá ver os outros — Potter fez que sim — Certo, já volto!

Colin fechou as portas do guarda-roupa e foi até a janela. Ele sentiu olhos sedentos de sangue sobre ele, olhos que tinham uma pressão assustadora. Assim que olhou para cima, viu um vampiro de cabelo prateado e olhos vermelho sangue o encarando.

Num piscar de olhos, o vampiro já estava na janela, a centímetros do rosto de Colin. Aquela foi uma velocidade surpreendente, e diferente da técnica bruta de Colin, os movimentos daquele vampiro tinham certa classe.

Assustado, Colin deu dois passos para trás.

— Você tem uma mana bem forte! — disse o vampiro saindo da janela e pisando no soalho sutilmente — Sinceramente, o encarando melhor, nenhum dos homens que eu trouxe hoje teriam alguma chance contra você.

Colin imediatamente ergueu os punhos na altura do pescoço e duas adagas elétricas surgiram em suas mãos.

O vampiro fez que sim com a cabeça enquanto sorria.

— Um usuário da árvore dos céus… — debochou o vampiro — Agora entendi… Fizemos o reconhecimento das redondezas e coincidentemente encontramos mana de um usuário dos céus e a mana de um demônio em um cenário pós, guerra fascinante. Foi você?

— E se tiver sido, vai fazer o quê?

— Nada. Só te agradecer, não é todo dia que enfrento um colega de árvore, ainda mais em um lugar como esse.

Colin ergueu uma das sobrancelhas.

“Colega de árvore? Não me diga que…”

— Você é um usuário da árvore dos céus? — indagou.

O vampiro fez que sim e ergueu uma das mãos que começou a ficar envolta de uma mana elétrica quase três vezes mais forte do que a mana de Colin.

— Nível 3? — debochou o vampiro — Tão fraco, mas mesmo assim conseguiu vencer um demônio de nível inferior… Isso será interessante.

— Como sabe o meu nível? — perguntou Colin irritado.

— O quê? Não vai me dizer que não sabe o básico do básico de uma análise… É mesmo um amador.

Alistar abriu a palma da mão e uma espada que emanava mana elétrica carmesim surgiu em sua mão. Colin ponderou fazer seu movimento, mas antes que pudesse se mover, Alistar já estava atrás dele com a espada em seu pescoço.
A única reação de Colin foi a surpresa. Ele não estava acostumado em ser superado naquilo que julgava ser o melhor, a velocidade.

— Deve estar se achando o máximo por derrotar um demônio de nível inferior — disse Alistar no canto do ouvido de Colin — Deixe-me mostrar a você, que demônios de nível inferior estão longe de alcançar vampiros de nível superior como eu!

[Pancada!]

Com um poderoso pontapé, Alistar fez Colin atravessar a janela num estrondo e ele foi além, transpassando o muro do prédio a frente. Parou quando suas costas encontraram uma estante, agora, destruída.

Aquele foi um chute e tanto, mas Colin não o sentiu tanto quanto Alistar previa. Com cuidado, Colin retirava os escombros de cima dele. Assim que ficou de pé, limpou a roupa suja de poeira dando leves bofetes.

Alistar passou pelo buraco na parede e estalou os dedos das mãos enquanto exibia um sorriso sinistro.

— Que bom que você não está morto. — disse o Vampiro pisando nos destroços da parede.

Pela primeira vez, o papel de combate de Colin estava invertido. Se tratando de força física, ele era superior, mas era inferior quando se tratava de velocidade.

— Vieram capturar pessoas para seu ninho? — indagou Colin.

— Que nada, estamos atrás de alimento. Você deve imaginar como é difícil alimentar uma legião de vampiros vorazes. Estamos atrás de mulheres e crianças, não de soldados. Acha que não senti o cheiro de crianças naquela estalagem? — Alistar lambeu os beiços — Assim que as coisas estiverem resolvidas aqui, degustarei uma por uma. Começarei pelas mãos, depois os braços, mas não as matarei. Sabe o quão gostoso fica o sangue de uma criança que está sofrendo devido à dor e do medo? Depois será a vez dos pés, pernas, tronco e cabeça. Isso tudo enquanto as outras crianças assistem, e depois-

[Pancada!]

Nem mesmo Alistar estava esperando aquele golpe.

Envolvendo seu corpo com mana elétrica, Colin dobrou os joelhos e avançou contra Alistar no prédio a frente, o golpeando bem embaixo do queixo.

Colin aplicou um baita gancho no vampiro, fazendo-o atravessar dois andares, saindo diretamente no telhado, mas ele não parou por aí, foi mais alto que a catedral, porém, Alistar conseguiu se recompor antes de cair graciosamente no telhado.

Ele jurou que era mais rápido que Colin, mas se perguntou: “O que diabos foi aquele movimento?”

Colin estava na outra ponta do telhado com uma expressão bem séria. Ele apoiou a mão no pescoço e o estalou.

— Você deve estar se perguntando “Mas que merda de ataque foi aquele? Como ele foi tão rápido?” — Colin abriu um sorriso debochado — Daqui a pouco vai se perguntar “Como acabei derrotado por esse fracote de nível 3”. Estou de saco cheio de enfrentar oponentes que acham que são mais fortes que eu por estarem níveis acima — Colin apontou para sua cabeça com o indicador — O jeito que lido com vocês está bem aqui, na minha cabeça. Então acredito que a gente pode parar de papo furado de que um é mais forte que o outro e partir para o que interessa.

Alistar cerrou os dentes pontiagudos e limpou com as costas das mãos o sangue que escorria por seu nariz.

Ele estava furioso pelo fato de um oponente como Colin se achar tão superior só por acertar um único golpe. Suas unhas ficaram maiores e sua aura tornou-se a ficar densa, tornando-se visível a olho nu.

Alistar fungou duas vezes e em seguida franziu o sobrolho.

— Você tem um cheiro estranho… o que você é?

Colin deu de ombros.

— Eu sou o Colin, apenas isso.

— Certo, Colin… vou tirar esse sorriso irritante da sua cara.

— Pode vir!

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Olá, eu sou Stuart Graciano!

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