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Os olhos marejados de Akira já diziam exatamente o que havia acontecido, sem saber o que fazer, fiquei paralisada, pensando em como confortá-lo.
— Ele não morreu, ainda — Noelle, determinada, foi em sua direção.
— Noelle? — perguntou surpreso — Quando que…
— Você precisa descansar, não sei o que aconteceu, mas mal estou conseguindo sentir sua magia daqui.
— É muito sangue! — Layla exclamou.
— Não tenho muita mana sobrando — ela se aproximou — isso vai ter que servir.
Com um leve toque sobre seu estômago, o sangue parou de escorrer. Runas mágicas começaram a aparecer pelos braços de Noelle e gradativamente passaram para o corpo de Kaiser, formando um círculo em volta do buraco em sua barriga.
— Não vai durar por muito tempo, consegui estabilizar sua situação, mas ele precisa de um médico — enquanto ela falava, Akira tentava invocar suas chamas para curá-lo, mas ele também parecia estar sem mana.
— Merda! — gritou.
— Akira, você precisa descansar — Layla o alertou.
— Parece que a coisa aqui foi feia — comentei — Sinceramente, tenho muitas perguntas, mas esse cara precisa ser tratado. Agora!
Todos corremos até o palácio Antariano, onde Kaiser poderia receber o melhor tratamento do continente.
— Saki, tem certeza que vão nos ajudar?
— Vocês podem ser procurados, mas as coisas mudaram, eles VÃO ajudar, querendo ou não.
Chegando lá, o clima de festa entre os membros reais logo foi quebrado. As pessoas se assustaram com todos nós com rosto surrado e um homem quase morto nas costas.
— MÉDICO! CADÊ ELE? — gritei.
— O que estão fazendo aqui? — Guldaf se levantou rapidamente de sua mesa — E por que estão tão machucados?
— Guldaf! Chame um médico agora! — Noelle respondeu.
— Jovem Celestial, por acaso esse nas costas da sua amiga seria o líder da Facção Sombra Dourada? — disse fazendo com que todos nas mesas ficassem com medo.
— O que isso importa? — rebateu.
— Sinto muito, mas tem uma ordem de prisão contra ele e seu companheiro. Devo levá-los imediatamente — os guardas ao redor apontaram suas lanças para o pescoço de Kaiser.
— Fiquem calmos, rapazes — Frost apareceu repentinamente, com serenidade do rosto.
— Frost? Onde você tava? — Akira interviu.
— Vamos deixar esse assunto para quando sua condição estabilizar — afirmou apontando para Kaiser.
— Tsc, estamos ficando sem tempo.
— Frost! Deveria estar ao lado do Rei Welt — Guldaf o chamou assustado — o que está fazendo aqui?
— O Rei Welt está morto — o terror no coração do povo foi instaurado — agora… como já havia sido acordado… eu sou o rei.
Ao anunciar seu reinado, o rosto de Frost fazia uma leve expressão amedrontadora, trazendo um ar de superioridade para si.
— Mas o quê? — gritou — Explique isso direito!
— Leve este homem para um médico. Ele precisa ser tratado urgentemente — ordenou — Explicarei tudo em breve.
Frost virou suas costas para nós, acompanhando Kaiser e os médicos que o levaram para tratá-lo. Eu não sabia bem como reagir aquilo, estava tão cansada que minha mente não conseguia pensar direito, mas o alívio veio finalmente e logo minhas pernas fraquejaram.
— Ufa! — suspirei com o peito leve — Fala sério, eu preciso de um banho — minha voz cansada suplicava por um descanso.
— Não tenho energia nenhuma pra festa — Noelle se escorava em meu ombro, também sonolenta — Vamos pra casa…
— Também estou indo — comentou Shosuke.
Pouco tempo depois, chegamos na porta de casa. Shosuke voltou para seu quartinho próximo ao armazém, e enfim, o primeiro nascer do sol do quinto milênio aconteceu.

O dia amanheceu como qualquer outro, na rua, pessoas estavam jogadas pelo asfalto após tanto festejar, o país inteiro estava sujo, ainda em festa, várias pessoas queimaram os fogos de artifício que sobraram. Acordei com uma forte dor de cabeça, com as marcas da noite anterior ainda se curando. Akira e Layla ainda dormiam na sala, eles queriam voltar para o QG da Sombra Dourada quanto antes, mas insisti para que esperassem o amanhecer.
Com um misto quente em mãos, saí de casa de fininho, encontrando com Noelle em uma cadeira poucos metros a frente.
— Já acordou?
— Na verdade, não consegui dormir ainda.
— Tem alguma coisa incomodando?
— Só… pensando em tudo que aconteceu. Não acredito que estivesse usando a tecnologia e magia desse lugar durante dois anos — ela torcia seus lábios angustiados — o pior é não ter desconfiado. Me sinto tão… idiota — deixando a frustração pesar seus ombros.
— Todas aquelas pessoas, tudo aquilo que o Akira contou… Não consigo imaginar como ele deve estar se sentindo.
— O Kaiser conseguiu desativar a máquina de extração, mas todos os corpos continuam lá.
— Não vamos embora antes de limpar toda a bagunça daqui.
— Segundo as anotações da minha mãe, o próximo destino está ao sul, em Nebuloria.
— Nebuloria… Já ouvi falar… o continente que possui a mais alta tecnologia e um país considerado “A Casa dos Inumanos”
— É. Acho que tô pronta pra isso.
— Que bom — respondi com um sorriso sutil, porém orgulhoso.
Enquanto desfrutamos da brisa suave do amanhecer, Noelle ainda parecia inquieta, e de repente disparou.
— Akira… conseguiu vingar o seu povo… — eu temia as suas próximas palavras — me pergunto qual deve ter sido a sensação.
— Noelle…
— Não mudou nada — Akira interrompeu, quase me matando de susto — o ódio ainda não desapareceu e minha família não voltou.
— Você também já tá acordado é? — perguntei ainda surpresa.
— Não consegui pegar no sono — disse com uma expressão melancólica — pelo visto, você e a Layla são as únicas que conseguiram dormir — sua aura de “personagem edgy” me irritava profundamente.
— Até quando vai ficar mantendo essa pose ridícula?
— Só tô refletido.
— Quer dizer “reflexivo”?
— Isso.
Ele ainda era um idiota.
— Então nada mudou quando você o incinerou? — Noelle perguntou.
— É claro que sim. Na hora, senti um alívio, como se finalmente estivesse fazendo justiça, mas… depois de esfriar a cabeça, é como se um vazio tivesse sido criado.
— Entendi… — pelo visto, Noelle ainda mantinha sua raiva por Samaell mesmo após anos.
— Eu já vou indo — disse rapidamente antes que o clima melancólico se instaurasse.
— Pra onde vai?
— Falar com o Frost — respondi com um suspiro — tem alguma coisa estranha com ele.
— É, também percebi isso.
— Vou com você — Akira se aproximou — preciso ver como Kaiser está.
Ponto de Vista de Noelle:
Saki e Akira partiram em direção ao palácio real ao encontro de Frost, enquanto isso, voltei para casa. Layla ainda dormia como uma pedra no sofá, considerei acordá-la, mas assim como nós, ela também estava cansada, então a deixei dormindo
Angustiada com a noite anterior, busquei em meus estudos o que poderia ter acontecido com a garota metamorfa.
Os livros que tinha não me disseram nada além do que já conhecia. Pensei ter errado o feitiço, mas claramente o executei da melhor forma possível.
“Tem algo faltando” um quebra cabeça começou a se formar na minha mente “Sua metamorfose não é nada natural e se tratando de magia proibida, não seria surpresa se algo tivesse dado errado. Não! Mesmo sendo algo tão perigoso e sombrio, ela poderia reverter a situação reutilizando a magia e não teria ficado tão enfurecida com aquilo…”
As peças lentamente se encaixavam.
“Meu feitiço certamente interferiu na sua transformação, mas como? Não faz sentido nenhum! Não é assim que a interferência funciona! O Enchiridion deve ter as respostas, mas ainda não conseguimos fazê-lo abrir…” a única pessoa que poderia me ajudar me veio à mente “Preciso falar com Galliard, com certeza ele sabe algo sobre isso!”
Com o próximo objetivo em mente, comecei a me preparar para viajar.
Ponto de Vista de Saki:
Akira e eu nos encontramos com Kaiser na ala médica do palácio de Antares, ele ainda estava inconsciente, porém suas condições eram estáveis.
— Ele vai sobreviver — Frost apareceu de repente — parece que levou vários golpes na região do abdômen, teve algumas costelas quebradas e perdeu muito sangue.
— É bom saber — respondi aliviada.
— Ainda assim… sinto que a situação poderia ser bem diferente… — Akira remoía o passado amargamente
— Sigh…
— Odeio admitir isso, Frost, mas ele está certo. Você desapareceu no último instante. Nos deve uma explicação.
— Algo inesperado surgiu.
— O QUE PODE SER MAIS IMPORTANTE DO QUE ISSO? — gritou agarrando violentamente a gola de suas roupas.
Os olhos doces e calmos do cavaleiro foram tomados por uma sede de sangue inexplicável.
— Isso não é da sua conta, moleque.
Sua pressão mágica abalou Akira rapidamente, o levando de joelhos. O clima pesado consumia o quarto, juntamente com uma aura fria e peçonhenta.
— Frost… — eu estava assustada com sua postura — não… quem é você?
— Não tenho tempo para discutir isso. O que foi feito, está feito. Deveria agradecer, afinal, VOCÊ matou o antigo rei, destruiu sua fonte de poder e sairá sem consequências.
— Tsc! — confrontando a pressão que sofria, se levantou arduamente — você não passa de um lixo, assim como aquele maldito careca — com um sorriso raivoso.
Akira saiu enfurecido, eu ignorei Frost por completo naquele momento e apenas corri até meu amigo. Tentei explicar a situação sem nem mesmo saber o que estava acontecendo, tudo que tinha certeza era que o Frost não era aquela pessoa, pelo menos não costumava ser.
Disseram que a recuperação de Kaiser demoraria alguns dias para que ele pudesse ao menos andar normalmente. Ele despertou algumas horas após sairmos, sem muitas complicações, tudo ocorria muito bem. Akira e Layla foram até sua base secreta contar as novidades aos seus companheiros, mas retornaram ao palácio assim que ouviram a notícia.
Na noite daquele mesmo dia, Frost convidou todos os cidadãos de Antares para um anúncio importante. Eu estava lá, ao lado de Noelle, Akira e Layla, me perguntando onde nosso tímido amigo estava.
— Senhoras e Senhores! — olhando para cima, ao lado de um grande pedestal, Welt, o Rei, abria seus braços para o povo.
— MAS O QUÊ? — gritamos perplexos.
— EU, SEU REI, WELT, CONVIDO MEU QUERIDO POVO PARA TESTEMUNHAR O NASCIMENTO DE UM NOVO REI! — um enorme murmúrio se formou entre os habitantes.
— Frost… O que ele tá fazendo… — Noelle se perguntava ainda chocada.
Passando ambas as mãos pouco acima de sua cabeça, Welt invocou uma coroa vermelha sobre si.
— A Coroa Carmesim! — minha amiga exclamou.
— Você conhece?
— Estava nas anotações da minha mãe. É um artefato poderoso. Cada nação tem sua própria coroa, com diferentes efeitos.
— Essa não é a verdadeira coroa — disse Layla, ampliando a pupila de seus olhos.
Noelle pensou por um segundo, até enfim quebrar o silêncio.
— Tem razão!
— Do que estão falando?
— É só uma coroa de plástico — Layla afirmou — chega a ser tosca.
— Se esse é o caso, então o que ele está planejando?
— HÁ ANOS VENHO ESPERANDO POR ESTE MOMENTO! EU O TREINEI E O ENSINEI A GOVERNAR! O TENHO PARA MIM COMO UM FILHO!
Enquanto proclamava seu breve discurso, uma gélida névoa cobria os pés dos espectadores.
— AGORA, ENFIM CHEGOU O MOMENTO. TENHO A HONRA DE ENTREGAR MEU REINADO NAS MÃOS DESTE HOMEM! — a névoa cobria todo o palco, mostrando em seu interior, duas silhuetas — O CAPITÃO DO EXÉRCITO ANTARIANO! AGORA, REEEEEEEEEEEEEI FROOOOOST! — em um grito, dissipou toda a névoa.
Frost surgiu com sua pose mais elegante e carismática, seu brilhante sorriso radiava como sempre.
— GRRRRRRRRRRRR! — Akira espumava de raiva.
— É melhor a gente vazar daqui antes que o pior aconteça — sugeri, também enfurecida.
Novamente em casa, Akira estava inquieto, gritando para todos os lados.
— EU TENHO CERTEZA QUE MATEI AQUELE DESGRAÇADO!
— Era um clone, o mais bem feito deles — respondeu Noelle.
— Já vi clones elementais antes — lembrando da minha mestra — eles são bizarramente parecidos com os originais.
— Por um segundo também pensei ser o original, sem contar que nunca o vi usar uma aparência de outra pessoa.
— Tsc! Acabamos de acabar com um psicopata e me aparece outro? Esse país foi amaldiçoado?
— Eu tenho certeza que foi — com uma voz arrastada, Kaiser o respondeu.
— KAISER? — gritamos.
— Vocês devem sair daqui quanto antes.
— Do que você tá falando? Ainda tá todo machucado! O que está fazendo aqui?
— Eu estou bem, não vou morrer — assegurou com um sorriso — Inclusive, agradeço a Jovem Bruxa Celestial por isso, enfim, com Frost sendo o novo rei, não podemos fazer nada além de esperar.
— Isso não faz sentido nenhum! — Akira rebateu — Ele desapareceu e voltou como se nada tivesse acontecido! E ainda vem com esse papo torto de ser o rei? Não me parece ser muito diferente do outro desgraçado!
— Eu sei disso… e é por isso que não posso arriscar que estejam aqui quando o pior acontecer. Não sabemos suas intenções e não temos nenhum plano para detê-lo caso algo aconteça. Por isso, peço que deixem isso comigo.
— Mas… por que você? Isso não faz o menor sentido!
— Com a derrota do Rei Welt, meus objetivos foram concluídos. Além disso… tem pessoas aqui que dão suas vidas pela Sombra Dourada. O submundo continua uma bagunça, com ou sem rei, e nós temos botar ordem naquele lugar.
— Então me deixa ajudar, você não está em condições!
— Ta… — deu com um suspiro cansado — a Layla fica, é mais que suficiente.
— O quê? Eu? — perguntou surpresa.
— Você é a mente pensante por trás de toda a tecnologia do submundo. E alguém vai precisar fazer manutenção no meu braço — disse ao virar-se para a porta.
Akira cerrava seus punhos com angústia, seu rosto expressava perfeitamente a indignação.
Kaiser partiu para a Zona Oeste, deixando seu amigo para trás. Akira ainda resmungava, um tanto quanto cabisbaixo, mas aceitando lentamente a decisão.
Pouco tempo depois, Noelle contou para mim sobre nosso próximo destino, e confesso que estava ansiosa para rever minha mestra, mesmo ela sendo a pessoa que é. Sabendo disso, fomos até a “casa” de Shosuke, uma pequena cabana ao lado do nosso campo de treinamento.
Chegando lá, batemos a porta diversas vezes, mas ninguém atendia. Em uma tentativa desesperançosa, girei a maçaneta suavemente, abrindo a porta.
— Estranho, a porta tá sempre trancada.
— Talvez ele tenha saído — minha amiga comentou.
— Impossível — respondi com um sorriso convencido.
Entramos calmamente, sem medo do ambiente escuro e sombrio, afinal era a mesma sensação que o dono passava. No chão, ao lado de uma pequena faca de pão, um misterioso papel chamava a atenção.
Com o papel em mãos, pude ler em seu verso uma mensagem deixada por uma péssima caligrafia.
“Não se preocupem, nós vemos em breve”
— Tá de sacanagem… — Akira bufou.
— Virou moda desaparecer é? Que saco!
— Espero que esteja tudo bem.
— Tsc, não tem nada que podemos fazer, parece que vai ser só nós 3.
— Heh! Como há 2 anos.
— Não… É bem diferente daquela época…

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Olá, eu sou Smaell!

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