Era bastante comum os bárbaros se unirem aos humanos. Não importa quão altos fossem seus atributos físicos ou instintos de luta, até mesmo os bárbaros precisavam de aliados após o primeiro andar. A abordagem padrão era formar uma equipe por volta do segundo ou terceiro mês para subir até o segundo andar.
“O problema é que é raro encontrar companheiros decentes.”
Elfos, anões, terians… as outras raças tiveram a melhor parte do negócio. Não só eram menos ingênuas do que os bárbaros, que haviam aprimorado apenas suas habilidades de combate na terra sagrada, mas seus corações não eram vendidos por um preço alto como ingredientes mágicos.
— O que os outros caras estão fazendo? A maioria já morreu.
Tão pouco tempo e nem um terço dos bárbaros que passaram pela cerimônia de passagem comigo permaneciam vivos. Isso realmente poderia ser atribuído apenas aos monstros?
“De jeito nenhum.”
Razoavelmente suspeitoso, ouvi a conversa deles.
— Então eu vou descansar agora também. Tenha uma boa vigília.
— Serei o próximo?
Todos adormeceram por turnos, e o assunto do bebê bárbaro não continuou além disso. Mas isso não foi um grande problema porque eu tinha uma ideia aproximada de como os outros três eram a partir dessa breve conversa.
“Não parece que eles pretendem fazer nada hoje.”
Eles devem ter planejado explorá-lo ao máximo e depois matá-lo no último dia, já que isso era mais prático.
“…O que devo fazer?”
Eu não sabia o que fazer. Sendo bárbaro, eu não queria ignorar o bebê bárbaro em perigo. Mas também não podia simplesmente segui-los para sempre e ficar de olho neles até revelarem suas verdadeiras cores.
“Devo apenas ir lá e matar todos eles?”
Franzi a testa e balancei a cabeça. Essa era uma opção fácil e conveniente, mas não a melhor. Não importava que ainda não tivesse evidências de que aqueles três eram saqueadores. Eu estava confiante de que poderia convencer Missha e o bebê bárbaro com um argumento plausível o suficiente.
“Mas mesmo que o fizesse, a mesma coisa aconteceria novamente.”
Às vezes, era necessário vivenciar algo você mesmo para aprender verdadeiramente com isso.
“De qualquer forma, nosso objetivo principal aqui era o treinamento, então posso investir até um dia aqui…”
Depois de pensar um pouco, elaborei um plano e acordei a Missha. — Missha.
— Hmm…?
Levantei um dedo para pedir que ela ficasse quieta e me movi para um lugar onde não seríamos ouvidos. Então, expliquei brevemente o plano.
Mesmo esfregando os olhos, Missha ouviu sem reclamações. — Uh… Então, você está dizendo que eles podem serrr saqueadores?
— Sim. Se estiver tudo bem para você, gostaria de tirar um tempo para verificar.
— Não me importo. Como é um bárbaro, não é como se fosse um estranho.
— …Não é um estranho?
— N-Não! Não foi isso que eu quis dizer… Só quis dizer que poderia ser alguém que já encontrei antes.
Ela parecia estar se referindo ao fato de que eu estava agindo como um guia para os jovens guerreiros nos últimos meses. Hmm, talvez esse cara fosse um deles. Embora eu tenha aconselhado os bebês bárbaros a serem cautelosos com os humanos inúmeras vezes, eles não entenderiam realmente o que eu queria dizer até vivenciarem por si mesmos.
— Então é isso. Vamos trocar de roupa. — Precisávamos fazer algumas preparações para colocar esse plano em prática. Coloquei minha maça, couraça e o escudo feito de lithinum em minha bolsa.
“Quanto à minha arma… Posso apenas dizer que a perdi.”
Após terminar minhas preparações, dei uma última olhada em minha aparência. Excluindo o capacete, eu parecia exatamente como um bebê bárbaro sem nenhum equipamento de ferro. E ao meu lado estava uma amadora terian.
— Nyah… isso está desconfortável… — Para garantir que o plano ocorresse sem problemas, fiz Missha vestir as roupas de iniciante de Jencia em vez de suas coisas habituais. Mas, por alguma razão, Missha continuava mexendo na parte do peito e me incomodando.
— O que você está fazendo?
— Hein? É só que a área do peito está superrr apertada…
— Área do peito?
Quando olhei para baixo, Missha me deu um golpe na barriga. Julgando pelo frio que penetrou em meus ossos, parecia que eu tinha recebido uma boa dose de dano de frio. — Onde você acha que está olhando? Definitivamente não é porque sou mais gorda do que aquela mulherrr, okay?
Quer dizer, eu não disse nada. Só olhei porque era um problema que não tinha considerado. Sua armadura original deveria ser do mesmo tamanho.
Quando apontei a contradição, Missha respondeu sem perder o ritmo. — A outra também era pequena, mas não tinha uma placa de ferro.
“Bem, se você diz.” Jencia e Missha tinham os corpos esbeltos dos personagens de agilidade, mas tenho certeza de que tinham suas diferenças. Por exemplo, suas constituições. Essa garota era um pouco mais alta. Eu não havia medido, mas ela devia ter por volta de 1,68 m. Ela também transmitia uma vibração de ser mais independente, o que me fez pensar que ela era do tipo briguenta no começo.
— É só a área do peito que está apertada, e o resto está bem folgado. Entendeu?
— Okay. — Eu não sabia o que ela queria de mim aqui, então mantive minha resposta vaga.
Percebendo isso, Missha soltou um suspiro profundo. — Hah, certo… o que você saberia sobre o corpo de uma mulher, né?
— Sim, você está completamente certa.
— Você vai continuar me respondendo desse jeito sonso?
— Se estiver pronta, vamos. — Não era hora para conversas vazias, então começamos a andar de volta pelo caminho que viemos, fazendo barulho de propósito.
— Behelahhh!
— Nyaaah! Prrr que está gritando de repente?!
— Só senti vontade!
— O quê? — Missha me lançou um olhar perplexo, mas o resultado foi ótimo.
— Q-Quem é você! — Um grito soou instantaneamente vindo da escuridão.
— Espera! Tem gente lá! — Gritei inocentemente e corri na direção de onde ouvi o som. Em pouco tempo, a escuridão do labirinto chegou ao fim e os quatro aventureiros ao redor de uma fogueira acesa apareceram à vista… três humanos e um bebê bárbaro, que ainda dormia profundamente.
— Pare, não se aproxime. — Os três humanos já estavam acordados e desconfiados de nós.
— Royce, acorde ele rápido.
Um arqueiro chamado Royce acordou o bebê bárbaro com um cutucão no pé.
— O-O que foi? É um monstro?
— São aventureiros.
— Aventureiros? Então por que você está me acordando? Estava tirando uma boa soneca…
— Não te avisei antes? Aventureiros podem ser tão perigosos quanto monstros.
— Ah! Eu lembro! Mas… aquele homem é um dos meus. — No meio de concordar com as palavras do arqueiro, o bebê bárbaro me avistou e acenou feliz. — Eu sou Kharon, filho de Tarson!
— Eu sou Bjon, filho de Thor! — Aproveitei a oportunidade para avançar, apertar sua mão e até bater nossos ombros juntos. Então, quando olhei por cima, as expressões nos rostos de todos eram um espetáculo; não apenas dos três humanos, mas até mesmo da Missha, a quem eu tinha contado o plano anteriormente.
“Que diabos esses bárbaros estão fazendo?”
O olhar nos olhos deles claramente dizia algo assim. Percebendo isso, Kharon me lançou um olhar que parecia dizer ‘não se preocupe’, então disse para seus colegas de equipe, — Todos baixem as armas! Bjon, filho de Thor, não é um aventureiro ruim!
— Sim! Eu não sou um aventureiro ruim!
Com nossas palavras, o arqueiro e o lanceiro olharam para uma pessoa em particular. Parecia que aquele cara era o líder. O homem suspirou e assentiu, e todos baixaram as armas. Acho que ele achou que seria ridículo manter a guarda nesse ponto.
— Então, bárbaro…
— É Bjon, filho de Thor.
— Sim, Thor…
— Thor é o nome do meu pai.
— Ahem, Bjon…
— Ainda não somos tão íntimos, então prefiro que me chame pelo meu nome completo.
O líder, que foi interrompido três vezes seguidas, parecia bastante irritado, mas manteve a paciência e sorriu. Ele se dirigiu a mim novamente. — Então, filho de Thor, Bjon?
— Diga.
— Se você não tem negócios aqui, gostaria que saísse. Como pode ver, estávamos descansando.
O pedido do líder era razoável e lógico. Era educado e costumeiro para os aventureiros não se aproximarem uns dos outros. Mas e daí? No momento eu era um grande e doce bebê bárbaro que não sabia nada sobre esse tipo de coisa.
— Que coincidência que vocês estão descansando! — Eu gritei como se isso fosse ainda melhor. — Estávamos apenas procurando um lugar para descansar!
— Então… o que isso tem a ver conosco?
— Isso é o destino. Vamos descansar juntos! Poderíamos ser… Acompanhantes Noturnos? Sim, isso acompanhantes!
— Acompanhantes Noturnos? — Como se tivessem acabado de ouvir algo que não deveriam, as expressões dos três humanos se contorceram.
Não é que eu não entendesse o motivo. Procurar acompanhantes para a noite era uma tradição limitada ao primeiro andar. Eles nunca teriam imaginado que receberiam uma proposta desse tipo de um bárbaro no segundo andar, onde os aventureiros operavam em grupos.
— Hah… Como se nem soubesse por onde começar a explicar, o líder tocou a testa.
Mas, enquanto isso, Kharon assentiu. — Ohh, essa é uma boa ideia. Venha cá, tava deitado aqui e não é tão duro como em outros lugares.
Foi um caos total. O líder exibiu uma paciência sobre-humana e me explicou os costumes dos aventureiros. Para resumir, era simples.
— Então, você quer dizer… vocês não fazem Acompanhantes Noturnos no segundo andar?
— Sim, é isso. Se você entende…
Bem, entender era para aqueles que estavam dispostos a ouvir. Em vez disso, falei com um tom que sugerisse que achava tudo o que ele disse genuinamente patético. — Vocês são tão estúpidos! Se todos dormirmos juntos, podemos dormir mais!
— Hein?
— Se vocês tem cérebro, pensem nisso. São quatro de vocês e dois de nós. Se seis pessoas se revezarem para ficar de guarda, cada pessoa pode dormir por… hum… Bem, vocês podem dormir mais! — Foi uma afirmação cabeça-dura de um bárbaro, do começo ao fim. Todos pareciam atordoados, quase como se estivessem se perguntando se estavam alucinando essa conversa inteira.
Exceto por uma pessoa. — Isso… é verdade! Por que nenhum aventureiro fez isso antes? — Enquanto Kharon concordava vigorosamente com meu argumento, sua equipe percebia que não havia mais sentido em discutir isso.
— Olha. Cuidaremos dos nossos próprios, então vocês devem levar seu grupo e ir embora… — O líder olhou para Missha para falar, mas de repente parou. Aparentemente, ele só tinha visto o rosto dela até aquele momento. Sua voz, que estava cheia de irritação, mudou antes que ele percebesse. — Ahem. Quero dizer, isso é definitivamente como geralmente funciona, mas o que você acha?
Aparentemente, Missha não apreciou a forma como aqueles olhos a escaneavam. Ela ficou tensa, mas quando lancei um olhar para ela, sua expressão mudou. — Bem… não tenho certeza. Como vocês têm um bárrrbaro também, vocês não parecem pessoas perigosas…
— Haha, o mesmo também vale para vocês.
— De qualquer forma, ele perdeu a arma, então estava preocupada em deixá-lo sozinho durante a vigília da noite. Então, se estiverrr tudo bem para vocês, não acho que seria uma má ideia passar a noite juntos…
— Caramba, você perdeu sua arma? — O homem me lançou um olhar estranho com as palavras de Missha. Parecia que ele acabara de perceber que eu estava sem arma.
— Oh, minha arma? Eu a deixei cair acidentalmente em uma luta com um monstro e ela desapareceu!
— Entendi. — Quando ofereci uma desculpa, o homem acreditou, assim, sem mais nem menos. Afinal, os bárbaros eram personagens totalmente roubados.
“De qualquer forma, isso deveriam ser iscas o bastante…”
Fiz a oferta final em voz clara. — Então, vocês vão ser nossos Acompanhantes Noturnos ou não? Decidam rápido. Porque estou ficando com sono.
Se ele recusasse, eu planejava seguir caminhos separados. Se ele recusasse mesmo depois de eu ter chegado tão longe, era provável que eu tivesse interpretado mal aqueles três.
— Bem… isso definitivamente não é a norma, mas… — o líder disse de repente, trocando olhares com os outros dois humanos. Então ele sorriu brilhantemente. — Mas como vocês estão em uma situação difícil, mandá-los embora seria muito cruel.
— Se você falar de uma forma tão complicada, não vou entender.
— …Vocês podem passar a noite aqui se quiserem.
Mal consegui conter o riso porque conseguia entender claramente suas intenções.
Parecia que todos aqui estavam tramando algo.
De qualquer forma, simples assim, uma relação de uma noite acabou sendo estabelecida. Era meio estranho descrever dessa forma, mas tudo bem. Trocamos apresentações primeiro.
— Este é Royce, aquele é Victor, e eu sou Briol. — Royce, o arqueiro, Victor, o lanceiro, e o líder-martelo Briol.
“…Nenhum Hans?”
Talvez eles estivessem usando nomes falsos? Não, se ele tivesse usado nomes falsos, aquele bebê bárbaro teria achado estranho.
Nos sentindo um pouco inquietos, Missha e eu nos deitamos por perto. A vontade de abrir um cobertor era muito tentadora, mas então eles perceberiam que eu tinha uma mochila expansível.
— Vocês descansam. Vou adiar o turno de vocês para o final da rotação.
— Ohh, vocês são realmente aventureiros legais!
— Hahaha… esse cara.
De qualquer forma, assim que me deitei, Missha sussurrou em meu ouvido. — Bjorrrn.
— Fique quieta.
— Será que realmente precisamos irrr tão longe? — Embora ela tivesse obedecido todas as minhas instruções, Missha não parecia satisfeita com nossa situação atual.
Verdade, mesmo que esses caras fossem amadores, ninguém se sentiria confortável deitar indefeso assim.
— Só aguente. Vou te dever um favor por isso.
— …Sério? Você prrrmete?
Eu mantive minha posição, até mesmo lançando uma nova cenoura para Missha. Havia a possibilidade de que, a partir de hoje, o bebê bárbaro Kharon Tarson renascesse como um guerreiro, desconfiado dos humanos e matando predadores.
