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“A verdadeira escolha não está entre o certo e o errado, mas entre o medo e a coragem. Cada decisão molda o caminho que trilhamos e define o destino que encontramos.”

O Código do Guerreiro Solitário, Verso 22.


O sol lançava um dourado brilho pela janela da sala, banhando a figura imponente de Pavel Vaselinna em uma aura luminosa. Mas o que mais surpreendeu Harley naquele momento foram as quatro majestosas estátuas negras, posicionadas estrategicamente, uma em cada canto da sala. Com um sorriso enigmático, depois de expulsar todos da sala, Pavel dirigiu-se ao jovem:

— Essas são as grandes representações. Os pilares de nosso clã. Justiça, verdade, criatividade e força.”

As estátuas pareciam observar atentamente a conversa, adicionando um toque de mistério à sala já luxuosa. Pavel, que se autoproclamou rei do local, também estava vestido luxuosamente. No entanto, a característica mais proeminente que se destacava imediatamente era a que se referia às suas mãos.

Pavel tinha apenas oito dedos, quatro em cada mão. Mas essa peculiaridade, que poderia ser vista como uma limitação, nunca o impediu de realizar suas tarefas com maestria.

— Esse rei perdeu os dedos em uma grande batalha. Reis sempre têm suas cicatrizes de guerra — disse Pavel Vaselinna com um tom contemplativo.

— Foi cortado enquanto descascava uma laranja, — a estátua da verdade interrompeu abruptamente, antes de voltar à imobilidade.

Harley deu um salto, surpreso com a estátua ganhando vida murmurando para si mesmo: 

— Então são meus ministros. Protetores e auxiliares submetidos ao silêncio.

— E o outro dedo? — o jovem perguntou curiosos, olhando para a pessoa que agora acreditava ser uma estátua.

A estátua respondeu com um tom monótono — A mesma coisa! — e retornou a imobilidade sem dizer mais nada.

O rei suspirou e explicou:

— Quantas vezes vou ter que dizer? Verdade só para mim! — gritou ele desesperado.

Virando-se para o jovem, Pavel suspirou e explicou:

— Cometemos erros, Harley, e é por isso que tenho a verdade aqui, para não me deixar esquecer do que realmente aconteceu. Mas ainda preciso ensinar alguns modos a esse interventor.

O jovem olhava admirado enquanto o líder tentava explicar sua visão para o clã. Suas mãos, apesar da peculiaridade, eram expressivas e transmitiam paixão por suas palavras. Mas o que realmente despertava a atenção era o luxo existente no lugar. 

Pavel estava vestido com roupas luxuosas de seda, ostentando um terno feito sob medida que exalava elegância. Ao redor de seu pescoço, pendiam correntes de ouro e joias brilhantes que pareciam competir pelo título de “mais reluzente.” A sala em que estavam era um verdadeiro espetáculo de opulência, com tapeçarias opulentas adornando as paredes e lustres extravagantes que lançavam uma luz dourada sobre tudo.

O rei percebeu o olhar inquisitivo de Harley e sorriu, como se lesse os pensamentos do jovem.

— Esses presentes — disse ele, apontando para as joias e decorações luxuosas — são gestos de gratidão daqueles que acreditam em nossa nobre causa. Às vezes, é mais fácil aceitá-los do que recusar e ofender nossos apoiadores.

O jovem estava prestes a concordar com Pavel quando a estátua da verdade voltou a vida e interrompeu com um tom sério:

— Errado! São propinas, apropriações indevidas e gastos desnecessários do dinheiro público! — a estátua voltou a interromper.

Harley segurou o riso enquanto a estátua retornava ao seu estado imóvel. O rei, por outro lado, parecia não desistir:

— Só para mim! Quantas vezes vou ter que dizer? — ele gritou, agora em completo desamparo e voltando-se novamente para o jovem disse — Não ligue para ele. A estátua da verdade tem uma opinião muito própria sobre nossas fontes de financiamento.

— Nem mais um piu! Todos quietos agora — gritou Pavel olhando para as estátuas que acabaram  desistindo do que iam falar. 

Então o velho olhou para Harley com uma expressão séria.

— Vou poupar o seu tempo e o meu e vou direto ao assunto. Meu clã está infestado de espiões e pessoas mal-intencionadas de outros clãs. Eles têm suas próprias agendas e não têm escrúpulos quando se trata de conseguir o que querem. No entanto, há algo muito mais precioso para mim do que todas as joias e riquezas deste mundo — Pavel começou a explicar, sua voz carregando um peso grave.

A estátua da verdade, como se tivesse ouvido o suficiente, tentou interromper novamente, mas foi contido por um arremesso de uma taça que acertou sua testa. E com uma expressão fechada, ordenou: 

— Silêncio!

— Como eu estava dizendo — continuou o rei — há algo muito mais precioso para mim do que todas as riquezas deste clã. Minha filha. Ela é minha única herdeira, meu único sangue. E acredito que a segurança dela possa estar comprometida.

O líder do clã olhou diretamente nos olhos do jovem e prosseguiu:

— Você é um faixa-preta do Clã da Adaga Arcana, alguém em quem posso confiar. Tenho uma ideia…”

Pavel lançou um olhar significativo para a estátua da verdade, que permaneceu obedientemente calada, e depois para as outras estátuas, que mantiveram suas expressões sob controle.

— Gostaria de fazer uma proposta a você. Aceite se tornar o guarda-costas da minha filha. Proteja-a com sua vida, se for preciso. Em troca, eu garantirei a você um lugar para residir, comida e água. Você será uma parte valiosa do clã, e juntos, podemos garantir a segurança dela.

Harley estava atônito. A ideia de se tornar o guarda-costas da filha de Pavel parecia a coisa mais insensata que ele já tinha ouvido. Quem em sã consciência entregaria a segurança de seu bem mais precioso para alguém que mal conhecia? No entanto, Pavel não parecia estar brincando. Ele estava disposto a fazer qualquer coisa para proteger sua filha.

— Como mencionei anteriormente, minha filha é o meu maior tesouro… — começou o rei.

— Errado! São propinas, apropriações indevidas e gastos desnecessários do dinheiro público! — a estátua da verdade não conseguiu se conter e interrompeu novamente.

Harley segurou o riso enquanto a estátua da verdade, mais uma vez, retornava ao seu estado imóvel enquanto Pavel Vaselinna  estava à beira de um colapso nervoso.

— Só para mim! Quantas vezes vou ter que dizer? — ele disse baixinho aparentemente pensado em formas dolorosas de cortar a língua da estátua.

Esquecendo as estátuas, ele pausou por um instante, como se estivesse pensando em algo importante. Então, continuou:

— Harley, há algo que você deve saber. Os nossos clãs, o Clã Lâmina Oculta e o Clã da Adaga Arcana, têm uma história antiga. Nossos ancestrais eram amigos e prometeram se ajudar nos momentos de dificuldades. Acredito que esta seja uma dessas situações. Por favor, aceite minha oferta como uma forma de honrar essa antiga aliança.

O jovem  ficou surpreso ao ouvir sobre essa aliança ancestral entre os clãs. 

O velho de oito dedos olhou novamente para as estátuas, como se quisesse garantir que elas não interrompessem desta vez. Então, ele se virou para o jovem com um olhar determinado:

—Confio em você. Você é o único que pode fazer isso. Proteger minha filha não será apenas uma tarefa, será uma missão para honrar a aliança entre nossos clãs. E, como um gesto de boa vontade, vou oferecer minha ajuda para garantir que você tenha tudo o que precisa aqui, no Clã Lâmina Oculta.

Harley percebeu que estava diante de uma escolha que o beneficiava mais do que prejudicava, pois estava ele ali como um fugitivo e perseguidos por forças maiores que a sua. 

— Está bem! Aceito sua proposta e me comprometo a ajudar a proteger sua filha. Honrarei a aliança entre nossos clãs e farei o meu melhor para garantir que ela permaneça segura.

Pavel Vaselinna não conseguiu conter sua felicidade. Seus olhos brilhavam com alegria enquanto ele se levantava da imponente cadeira e começava a andar de um lado para o outro na suntuosa sala.

— Meu amigo, você não imagina o alívio que isso me traz! — Pavel exclamou, seus passos cheios de entusiasmo — Sua decisão é uma bênção para nós dois! Para celebrar este momento, vamos organizar uma festa grandiosa em comemoração!

O rei parecia radiante com a ideia da festa, mas antes que Harley pudesse responder, a estátua da força, que havia permanecido em silêncio até agora, finalmente se manifestou:

— Teremos que criar um novo imposto para custear esse gasto, senhor.

Pavel, ainda empolgado, não hesitou em sua resposta: — Claro, crie um imposto maior! Quero que esta festa seja verdadeiramente esplêndida. Artistas nus, dançarinas, bebidas e comida em abundância. Vamos celebrar esta aliança e a proteção de minha filha com todo o esplendor que merece!

O ministro da força, surpreso com a resposta, concordou e recuou para seu lugar original, enquanto o velho de oito dedos continuava a pensar na festa com um sorriso que não podia ser apagado.

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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