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Capítulo 106 – Emboscada

“Em uma emboscada, a linha entre o predador e a presa é tênue. O uso adequado do elemento surpresa em conjunto com o controle do terreno e a antecipação dos movimentos do inimigo definem o sucesso. Quando executada com precisão, ela revela a superioridade do planejador sobre o oponente.”

Sussurros das Sombras XXX, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.


Instintivamente, Aurora e Harley se olharam, indicando que ambos sabiam que precisavam agir rápido. Como escapar de algo inesperado e previamente preparado? Antes que pudessem mover-se, o círculo geométrico ao redor deles se fechou. 

Uma barreira invisível surgiu, emitindo uma energia que fez o ar ao redor vibrar intensamente. A sensação era sufocante, como se o próprio espaço estivesse se comprimindo contra eles.

O jovem sentiu a pressão crescente, e seus pensamentos dispararam em um turbilhão. “Como poderíamos prever e contornar uma armadilha tão meticulosamente planejada?” 

Ele sabia que cair em uma emboscada onde cada detalhe fora cuidadosamente pensado e todas as contingências consideradas exigia uma resposta rápida. “Droga! Estamos em desvantagem”, lastimou Harley. 

Os cinco magos da ‘Escola de Magia dos Ossos de Dragão’ mantinham suas posições, olhos fixos no centro do círculo onde os dois estavam presos. Pequenos círculos metálicos conectavam pontos imaginários, formando o contorno de uma estrela. Cada mago murmurava palavras ininteligíveis, enquanto as luzes emanavam de suas mãos. 

Seria uma visão magnífica de sincronia de movimentos, se não fosse direcionada a algo tão danoso para Harley e Aurora. Era uma coreografia sinistra, alimentando a barreira com energia mágica proveniente dos ossos de dragão. As formas geométricas ao redor deles pulsavam com uma luz quase hipnótica, intensificando a sensação de aprisionamento.

A garota, com uma expressão de determinação feroz, apertou a mão do jovem Ginsu enquanto dizia:

—  Até hoje não entendo direito se isso é uma encenação e todo poder vem das ferramentas mágicas ou se eles conseguem realmente manipular magia. 

Harley refletiu rapidamente sobre o que Aurora havia dito. Ele não tinha pensado nessa possibilidade de encenação. Realmente era uma informação valiosa em combate saber se o poder emanava do inimigo ou apenas de suas armas. 

O jovem sabia que dependendo da resposta, uma postura diferente poderia ser tomada. No entanto, buscar essa resposta agora não parecia possível. Independentemente da origem do poder, eles precisavam sair daquela prisão de luz.

— Nós precisamos pensar em algo rápido. Essa barreira está drenando nossa energia — disse Aurora, sua voz carregada de urgência expressando o óbvio.

Ela olhou ao redor, avaliando a situação e continuou:

— Eles não nos deram tempo para reagir. Precisamos encontrar uma fraqueza, algo que possamos explorar.

Harley assentiu, seu cérebro trabalhando a mil por hora enquanto pensava: “Se essa barreira é alimentada pela magia dos ossos de dragão, talvez possamos sobrecarregá-la ou interromper o fluxo de energia.”

A barreira de luz se apertava mais, e o espaço ficava cada vez menor. Os magos ergueram os braços, e mais luzes saiam das suas luvas em seus movimentos sincronizados. Ele sabia que eles tinham apenas um momento para agir, um instante para virar o jogo a seu favor.

A prisão de energia mágica continuava a encolher, diminuindo cada vez mais o espaço de movimentação de Harley e Aurora. Ele começou a ficar apreensivo, pois a cada momento ficava mais exposto e indefeso a ataques. 

No desespero, o jovem avaliou rapidamente suas opções e, diante da restrição de alternativas, acionou um dos três botões em sua pulseira grossa, ativando a arma conhecida como Barreira de Contenção. Inicialmente destinada à captura da Guardiã Sombria, Ele decidiu utilizá-la como última esperança, lançando a barreira em torno dele e da garota.

A barreira de contenção envolveu-os, criando uma bolha protetora que limitou o encolhimento da prisão de energia. Os magos, percebendo a resistência, canalizaram mais energia em seus feitiços. 

E mais dois círculos metálicos foram jogados na prisão de energia. As paredes da prisão de energia mudaram de cor, tornando-se visivelmente mais grossas e brilhantes. A tensão entre as duas barreiras era palpável, com faíscas de energia crepitando no ar ao redor deles.

O atrito ininterrupto entre a barreira de contenção e a prisão de energia continuou por um tempo. As cores da prisão de energia pulsavam violentamente, mas, gradualmente, começaram a enfraquecer. Finalmente, com um estalo quase ensurdecedor, a prisão de energia lançada pelos magos se desfez, liberando os dois.

Sem perder um segundo, Harley desligou a barreira de contenção e junto com Aurora atacaram os magos. Ele empunhava a adaga furtiva junto com sua adaga negra. Seus ataques eram fluidos como a água, suas posições mudavam de maneira quase impossível, e seus golpes eram descarregados nos pontos vitais dos magos como um rio que desce por uma cachoeira. 

A adaga furtiva, mesmo quando defendida, causava uma redução na reação dos adversários, apagando a memória recente deles e fazendo com que tivessem que repensar sua próxima ação do zero. 

Isso deu ao jovem uma vantagem significativa na iniciativa do ataque, ampliando seu tempo de resposta e tornando os adversários, mesmo em maior número, presas fáceis com reações cada vez mais lentas.

Harley matou dois magos com golpes precisos e implacáveis. Ele viu Aurora nocauteando outro mago com um movimento ágil. Nesse instante, ele percebeu que um dos magos restantes preparava um ataque traiçoeiro, uma bola de energia que visava as costas da garota. 

O ataque estava no ponto cego de percepção de Aurora, que não notaria o perigo iminente enquanto estava envolvida em seu último movimento contra o mago.

O jovem vendo a distância que separava ele de Aurora,  pensou desesperadamente: “Ela vai ser atingida!”

Sem armas de longo alcance, sem meios para aumentar sua velocidade, diminuir o espaço ou paralisar o tempo, Harley já previa o inevitável e torcia para que sua proteção fosse suficientemente resistente. 

Antes que pudesse gritar um aviso, outro mago, que estava mais afastado da luta, se teletransportou inesperadamente para o lado de Aurora. Com um movimento rápido, ele se jogou sobre ela, fazendo com que ambos caíssem no chão. A bola de energia passou perigosamente perto deles, errando por pouco.

O jovem e o mago atacante ficaram surpresos com a ação inesperada. O mago salvador disse com urgência:

— Você está bem, Milenium? Se machucou?

Aurora respondeu rapidamente, ainda atordoada:

— Estou bem. Obrigada, Marcus.

Aproveitando a distração, Harley correu em direção ao mago que havia lançado a bola de energia. O mago se virou para ele, girando seu cetro mágico, pronto para enfrentar a aproximação. Mas antes que o jovem chegasse, uma bola de energia foi disparada por Marcus, nocauteando o mago que não estava totalmente preparado para a traição.

O mago atacante, surpreso, pensou antes de perder a consciência: “Nem o amor, nem a amizade são seguras”

Harley olhou para Marcus, agora ao lado de Aurora, e questionou-se mentalmente: “Por que esse mago acha que ela é Milenium? Qual é a relação entre eles?” Antes que pudesse pensar e acumular mais dúvidas, a garota falou:

— Esse é Marcus e é um grande amigo. Pode confiar nele. Acho que suas ações contribuem mais do que minhas palavras para dirimir suas dúvidas.

O jovem considerou os argumentos de Aurora razoáveis, mas isso apenas aumentava sua cautela. Agora, ele tinha mais uma razão para se precaver até entender melhor com quem realmente estava lado a lado. Afinal, Marcus era amigo dela, não dele. 

E uma pessoa disposta a trair seus amigos, seu clã e suas convicções por outra pessoa era capaz de qualquer coisa. Para Harley, nada deveria ser maior e mais valioso do que sua honra. 

Se Marcus colocava Milenium acima de seus princípios, de seus deveres, de seus amigos e seu clã, ele deveria ter dito isso e agido de acordo desde o início. E suportado as consequências. 

Ele não duvidava que qualquer coisa que começasse com traição só poderia terminar em mais traição. O jovem Ginsu sabia que, se Marcus tratava pessoas ao seu lado com tanto descaso, nada o impediria de fazer o mesmo com ele ou mesmo com Milenium no futuro, se ela deixasse de ser útil ou se surgisse algo mais valioso.

Para Harley, nada era pior do que algo em que não se podia confiar. Melhor uma barra sólida de uma prisão do que um apoio que pudesse se esvair a qualquer sopro de vento. Marcus, percebendo a tensão, falou:

— Por favor, não os mate.

Harley sorriu interiormente, reforçando sua percepção de que, para Marcus, seus companheiros já não tinham mais importância. O pedido de Marcus parecia mais uma formalidade, uma frase socialmente adequada a ser proferida. O jovem não detectava nenhum vestígio de preocupação genuína ou culpa nas ações de Marcus. 

“Realmente, ele não é alguém confiável”, pensou Harley.

Inesperadamente, as ações de Marcus interromperam as reflexões do jovem. Marcus pegou a mão de Milenium e, puxando-a, disse:

— Vamos, não temos mais tempo. Logo mais inimigos estarão aqui. Todos querem a sua cabeça.

Aurora lançou um olhar para Harley, parecendo visivelmente desconfortável, porém, resignadamente, não retirou a mão, permitindo-se ser conduzida por Marcus.

Por outro lado, a urgência na voz de Marcus era clara. Ele parecia genuinamente preocupado com a segurança de Milenium, mas para o jovem, isso só reforçava a desconfiança. 

Observando Marcus puxar Aurora, ele decidiu seguir, mas manteve-se alerta. A cada passo que davam, ele observava os arredores, pronto para reagir a qualquer sinal de perigo.

Enquanto se moviam rapidamente, Harley não podia deixar de pensar nas implicações das ações de Marcus. Um aliado que traía tão facilmente poderia ser um grande problema. 

Confiar nele era um risco, mas naquele momento, era um risco que o jovem estava disposto a correr. No entanto, ele sabia que precisaria manter Marcus sob vigilância constante, pronto para agir se suas suspeitas se confirmassem.

Marcus olhou para trás, percebendo a hesitação de Harley, e disse com firmeza:

— Eu sei que você tem suas dúvidas, mas agora precisamos focar na sobrevivência. Há muito mais em jogo do que você imagina.

Harley assentiu, mantendo seus pensamentos para si mesmo. Ele sabia que precisava de mais informações antes de tomar qualquer decisão definitiva sobre Marcus. Até lá, cada movimento seria calculado, cada palavra cuidadosamente considerada. Para sobreviver naquele mundo de incertezas, ele precisava ser mais astuto do que nunca.

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