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Capítulo 92 – A intersecção entre Magia e Ciência

“A magia é a ciência que ainda não compreendemos. Cada avanço científico revela um pouco mais do mistério, aproximando-nos da compreensão completa das forças invisíveis que moldam nosso mundo.” 

Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre Ciência.


Enquanto desciam a escadaria, Harley sentiu uma vertigem incomum, como se a própria realidade estivesse se transformando diante de seus olhos. Em vez da sensação familiar de descer os degraus até o subsolo, ele foi surpreendido por uma visão deslumbrante e surreal.

Num instante, a longa escadaria desapareceu diante de seus olhos, e Harley sentiu como se a própria percepção do espaço estivesse se transformando. O ambiente ao seu redor se expandiu, e tudo o que o cercava se desfez em uma confusão de imagens e formas. Em meio a esse turbilhão visual, uma nova realidade se materializou diante de seus olhos.

Os três foram transportados para um local completamente diferente do que ele esperava encontrar. À sua frente se estendeu um vasto e impressionante espaço, repleto de objetos e formas que desafiavam todas as suas concepções anteriores. 

Era uma maravilha de luzes e imagens em constante movimento. O jovem percebia que algum tipo de energia criava os contornos de imagens tridimensionais que flutuavam no ar até se estabilizarem e não terem mais diferenças nenhuma com as coisas reais. 

Conforme Harley explorava mais profundamente, ficava cada vez mais impressionado com o design único do local. Todas as formas eram curvas, suaves e fluídas, como se o ambiente fosse uma extensão do próprio movimento. Não havia linhas retas nem cruzamentos de linhas; em vez disso, tudo parecia se fundir em uma harmonia perfeita de formas e cores.

A predominância da cor azul anil em todo o ambiente evocava lembranças do céu de seu mundo natal. No entanto, era uma tonalidade única, radiante e intensa, que parecia pulsar com uma vida própria. Não havia nuvens ou um sol no horizonte, apenas bolas gigantes suspensas no ar, cada uma delas com um estranho funil de visualização no centro.

Harley observou essas bolas com fascinação, imaginando se seriam os locais destinados à construção e alteração das imagens em miniatura que ele havia presenciado até agora. Cada uma delas parecia ser uma janela para um universo distinto, um portal para uma realidade virtual que não era totalmente compreendida por ele.

Doravan estava sempre pronto para compartilhar seu entusiasmo com qualquer público receptivo aos seus temas favoritos. E observando atentamente as reações do jovem diante do novo mundo revelado por suas criações e experimentos, ele estava prestes a iniciar uma de suas longas explanações sobre ciência. 

No entanto, o velho foi surpreendido, assim como Harley, pelas palavras de Aurora, que parecia ter herdado a sua crescente fascinação por assuntos científicos:   

— Este é o meu lugar preferido — disse a garota, seu tom carregado de fascinação enquanto ela olhava ao redor — não temos um nome específico para essas criações, mas aqui nós nos dedicamos a manipular… Ilusões… imagens que enganam o olhar e desafiam a percepção dos outros sentidos.

Aurora, com um gesto de sua mão, demonstrou como as imagens podiam ser manipuladas e moldadas à vontade, criando formas e estruturas com uma simples força de vontade. Era uma visão de futuro, onde a imaginação era a única limitação para o que poderia ser alcançado.

Harley ficou maravilhado com tudo o que via, sentindo-se como se tivesse entrado em um mundo completamente novo e fascinante. Antes que pudesse refletir sobre tudo aquilo, ele foi tomado por uma vertigem familiar e o ambiente se transformou novamente diante de seus olhos. 

O jovem agora entendia e percebia mais claramente que a mudança não se limitava apenas às imagens, mas afetava todos os seus sentidos de maneira tangível e duradoura. 

Antes que pudesse visualizar todas as mudanças que o novo local representava, Harley foi imediatamente envolvido por uma sensação distinta. O cheiro que o saudou era algo único, uma fragrância penetrante que parecia saturar o ar ao seu redor. 

O som que ecoava pelas paredes do espaço era igualmente impressionante. Era um rugido baixo e constante, como o sussurro de uma tempestade distante, como se o próprio ar estivesse vibrando com energia. 

Observando de perto as expressões e reações de Harley, Aurora soltou uma risada contagiosa.

— rsrsrs! Logo, logo, você se acostuma — comentou entre risos.

À medida que seus olhos se ajustavam à penumbra do ambiente, Harley pôde ver que o espaço ao seu redor era completamente diferente do primeiro. Aqui, não havia formas curvas ou imagens em movimento; em vez disso, o ambiente era composto por uma infinidade de formas retas e angulares, como se estivesse em um grande depósito.

Os objetos e dispositivos estavam dispostos em expositores transparentes, protegidos por uma barreira de energia translúcida que os envolvia. Retângulos e mais retângulos se estendiam diante de Harley, separados por espaços vazios que pareciam convidá-lo a explorar cada artefato individualmente.

Todo o ambiente estava tingido de um tom profundo de marrom, uma cor que parecia absorver a luz ao seu redor e emanar uma aura de mistério e poder. Era uma tonalidade que evocava uma sensação de solidez e segurança, como se estivesse envolto em uma armadura protetora.

Aurora, mais uma vez adiantando-se ao seu mestre ao perceber o fascínio estampado no rosto de Harley, compartilhou:

— Aqui é onde a ciência e a tecnologia se unem à magia — disse ela, com um olhar admirado — este espaço é dedicado à criação e desenvolvimento de armas e dispositivos mágicos.

Enquanto as palavras de Aurora ecoavam em seus ouvidos, o jovem sentiu sua curiosidade crescer ainda mais, como se um véu fosse erguido para revelar um novo mundo de possibilidades diante dele. Enquanto ainda estava fascinado com a ideia, Harley foi novamente tomado por uma vertigem familiar, e o ambiente ao seu redor se transformou mais uma vez diante de seus olhos.

O som que preenchia o novo espaço era um zumbido suave e constante, como se estivesse cercado por um enxame de insetos mecânicos, combinado com estalos e cliques que ecoavam pelas paredes.

Este espaço era notavelmente diferente dos anteriores; era vasto, mas com menos elementos visuais chamativos. Para Harley, lembrava muito uma sala em seu clã natal onde eram guardados os itens mais preciosos e raros. Era como uma exposição de objetos, dispostos em plataformas geométricas.

— Merda! — exclamou Aurora, num lampejo de lembrança ao perceber que tinha esquecido de desligar um dos experimentos nos quais estava trabalhando.

E instantaneamente, os três foram cercados e envoltos por uma infinidade de pequenas esferas totalmente arroxeadas, que pareciam ter sido atraídas assim que os três entraram no novo ambiente. 

As esferas agiam como um enxame de insetos, dividindo-se em três partes e cercando cada um deles. Em segundos, foram completamente envolvidos pelas esferas, que se moviam rapidamente formando um escudo móvel em volta de cada indivíduo.

Cada conjunto de esferas era responsável pela construção de uma nova realidade, alterando todos os detalhes captados pelos sentidos. Elas criavam cheiros, sensações táteis e até mesmo sons, mergulhando os indivíduos em uma experiência sensorial única. 

Harley foi subitamente lançado em uma queda livre, mergulhando em um abismo negro e sem fim. A sensação de queda era avassaladora, evocando memórias do passado quando adquirira a adaga negra. Cada segundo parecia uma eternidade enquanto seu corpo cortava o ar em velocidade vertiginosa, a sensação de impotência o dominando por completo. 

Era como se tivesse sido arrancado do chão e lançado de uma altura inimaginável, seu corpo acelerando a cada instante enquanto se precipitava em direção ao desconhecido. Enquanto caía, Harley recordou uma antiga máxima de seu clã dizimado, reafirmando para si mesmo que sem enfrentar o medo e sem fazer sacrifícios, nada de bom poderia ser obtido.

Com renovado ânimo, o jovem recorreu à sua energia sombria, que tinha se solidificado em seu braço esquerdo decepado desde de sua saída do Mundo Sombrio. Harley explorava pela primeira vez o potencial da energia sombria para criar formas, moldando-a em um novo constructo.

Sua adaga branca tinha se transformado em um braço artificial, agora preenchido com energia sombria em vez da mágica branca anterior. Sem ter explorado completamente as capacidades deste novo artefato, Harley percebia que precisava encarar seus medos e receios pela perda do braço de forma mais realista e descobrir as habilidades, deficiências e limites rapidamente do novo braço.

Ao moldar a energia sombria, o jovem compreendeu que o formato de seu braço artificial se dissolvia, transformando-se em um prolongamento de energia sombria. Essa energia, agora livre de limitações físicas, podia ser dividida e moldada na ponta final em diversos tipos de objetos. 

Ainda assim, ele também compreendeu que, assim como antes, quando perdia a adaga branca ao optar por criar novos construtos de energia mágica, agora o jovem perderia o braço esquerdo ao utilizar essa habilidade.

Diante da transformação de seu braço artificial em uma extensão de energia sombria, enquanto continuava em sua queda livre, Harley dedicou um tempo para absorver e aceitar sua perda. 

Ele reconhecia que o luto era um processo contínuo, e nenhuma perda desaparecia instantaneamente. Os laços emocionais, as lembranças e a dor persistiam, e somente com o tempo poderiam se dissipar, embora nunca houvesse garantia de completa superação ou esquecimento.

Esquecendo um pouco suas reflexões e lamentos enquanto permanecia cortando o ar, o jovem concentrou sua determinação e criando um campo de força de energia sombria ao seu redor, numa tentativa desesperada de quebrar os efeitos da alteração da realidade. 

Contudo, ele logo captou que a tecnologia das esferas era poderosa o suficiente para penetrar até mesmo sua energia sombria. Determinado a não ser dominado pelo medo da queda vertiginosa, Harley expandia seu campo de força até o limite de sua energia negra armazenada.

O campo de força feito de energia sombria crescia rapidamente, chocando-se com as esferas e criando interferência. A realidade do abismo e queda sem fim começava a diminuir os efeitos físicos, ao mesmo tempo em que as esferas eram destruídas com um estrondo, e a realidade de queda desapareceu abruptamente. O efeito da alteração da realidade cessava, e Harley caía no chão do espaço que observava antes de ser envolto pelas esferas descontroladas.

Ele observou com angústia Doravan e Aurora ainda envoltos pelas pequenas esferas, presos em realidades alternativas criadas pelos artefatos mágicos. Agora livre do efeito de alteração da realidade que as esferas arroxeadas impunham, o jovem observava os dois lutando em suas próprias prisões, refletidas como um espelho no espaço circundante.

Examinando as esferas mais de perto, Harley percebeu que dentro delas havia um líquido roxo borbulhante que as alimentava. Com base em sua memória inicial do aparecimento das esferas, ele considerou que essa substância sustentava o funcionamento dos artefatos. Era uma energia mágica que parecia estar se esgotando lentamente.

O jovem observava que na realidade de Doravan, explosões aconteciam sem parar, experimentos falhavam e objetos defeituosos o machucavam, causando frustração e dor constantes. Enquanto isso, Aurora estava visivelmente constrangida e vulnerável, incapaz de se proteger ou se recompor diante de um vento forte que a expunha e a deixava desamparada.

Harley refletia, com base em sua experiência e no que observava acontecer com seus o velho e a garota, que de alguma forma o artefato parecia usar o medo predominante de cada um. Esse medo era escaneado de alguma forma pelas esferas, que então manipulavam a realidade para ampliar esse sentimento.

Decidido a libertar seus companheiros, Harley concentrou sua energia sombria e lançou-se contra as esferas, quebrando-as uma a uma. Com um estrondo, as realidades ilusórias desmoronaram, o velho e a garota foram libertados de seus tormentos.

Doravan, recuperando-se do choque, olhou para Aurora com firmeza e disse: 

— De novo, Aurora! Você vai consertar toda essa bagunça. Como punição, você vai cuidar das entregas hoje na cidade. E você também, Harley, vai junto.

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Olá, eu sou Val Ferri Sant. Ana!

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