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Capítulo 65 de 24 — Por favor, morra pelo bem do meu destino

Nove anos haviam se passado, e eu já tinha clareza do que deveria fazer com minha vida, além de aspirar a ser mais forte. Durante esse tempo, Kana tentou me matar algumas vezes, mas sem sucesso. Sem provas concretas sobre suas tentativas, as coisas permaneceram inalteradas.

Recentemente, um rumor começou a circular entre a linhagem secundária e descartável. Muitos estavam fugindo e conseguindo escapar com sucesso. Diziam que aqueles que tentavam matar os fugitivos morriam logo depois, vítimas de um ataque misterioso cuja autoria ainda era desconhecida.

Com o apoio da chefe Kata, conquistei uma posição respeitável na linhagem, e meus esforços foram reconhecidos e recompensados.

Ao atravessar o corredor da linhagem primária em direção ao encontro com a chefe do clã em seu estabelecimento, fui acompanhado por um dos guardas. O chalé dela se destacava pela sua imponência, com cores nas paredes que pareciam refletir o brilho das chamas.

Após percorrer o corredor, entrei no estabelecimento, seguimos à direita e depois viramos à esquerda, até chegarmos diante de uma porta. O guarda anunciou nossa presença batendo na porta, e uma voz vinda de dentro concedeu permissão para entrar. Com essa autorização, o guarda me indicou que era o momento de adentrar.

Assim que entrei, deparei-me com uma cena peculiar: uma mulher estava deitada em um sofá, cujas chamas pareciam envolvê-lo, enquanto outra, ao lado dela, me observava com um olhar sério. As paredes da sala estavam cobertas por chamas, criando um ambiente que sugeria uma atmosfera de mistério e poder.

— Pirralha, serei breve. Foste escolhida para ser caçadora de demônios. Partes amanhã. Mais detalhes, pergunte a sua chefe.

— Sim, mas porque eu?

— Grrrrrrrrrrrrr!

— Saia.

— …

Eu podia sentir a aura de força emanando daquelas mulheres. Se não me engano, o nome da chefe era Reda, mas não conseguia recordar o nome da outra.

Deixei seus aposentos e fui abordado por outro guarda, que me informou que os anciões desejavam falar comigo. Achei estranho, pois era incomum que as figuras mais proeminentes tivessem interesse em conversar comigo tão repentinamente.

O guarda me conduziu a outro chalé, um pouco mais simples que o anterior, mas igualmente imponente por dentro. Ele me levou a um quarto vazio e me instruiu a esperar ali. Fiquei confusa com essa situação, sem entender o motivo de ser convocada pelos anciões.

Esperei por meia hora, mas nada aconteceu. No entanto, percebi que o piso começava a esquentar cada vez mais, até que, de repente, não senti mais o chão sob meus pés. Caí em um lugar estranho e escuro.

Tentei pular para alcançar o teto, mas esbarrei em algo. Eu não tinha minhas flechas comigo, apenas estava vestindo um simples vestido do clã. Geralmente, para manifestar minhas chamas, eu usaria minhas flechas, mas elas não estavam comigo. Precisava encontrar algum objeto que pudesse utilizar para canalizar minhas chamas.

Comecei a explorar o local. O chão parecia ser feito de uma espécie de pedra dura, e não havia nenhum objeto que pudesse usar. Não queria danificar meu novo vestido recém-comprado, mas não tinha escolha.

Foi tão caro comprar esse vestido vermelho.

Rasguei uma das pontas e infundi minha aura nela, em seguida, fiz com que ela pegasse fogo. Com isso, pude vislumbrar melhor o lugar ao meu redor.

Parece que estou num subterrâneo.

Continuei avançando por cerca de cinco minutos até avistar um vislumbre de luz no final do caminho. Ao me aproximar, deparei-me com um cenário peculiar: uma mulher estava lá, no fundo, presa em uma cruz dourada. O local estava ladeado por um corredor com uma série de estacas vermelhas cravadas no chão. Ao olhar ao redor, percebi que as chamas nas paredes refletiam meu próprio corpo, como se estivesse observando minha imagem em um espelho d’água.

Continuei seguindo pelo corredor, e as estacas vermelhas começaram a acender conforme eu avançava, deixando-me preocupada com o que acontecia. O que aquilo significava?

Ao chegar ao final do corredor, encontrei uma poça de água, que parecia um lago pequeno, capaz de acomodar uma ou duas pessoas. Coloquei a mão na água e senti o calor emanando dela, enquanto vapor começava a se elevar. Por instinto, afastei-me, tomada pelo medo do desconhecido.

— Parabéns, você passou.

— Hum?!

Do fundo, à minha esquerda, surgiram duas figuras familiares. Eram eles, os anciões que outrora zombaram do meu irmãozão. Uma sensação de temor se apoderou de mim, e comecei a recuar lentamente. Eu sabia que minha vida estava em perigo se permanecesse ali por mais tempo.

— Não tenha medo, não vamos te machucar.

— …

— Marido, ela está confusa. Melhor explicar as coisas.

— Sim, tens razão.

— Garota, venha até cá.

Apesar da incerteza que permeava meu ser, percebi que fugir não era uma opção viável naquele momento. Decidi confrontar meu destino ali mesmo. Aproximei-me dos anciões conforme eles indicaram, porém, com cautela.

Nunca se sabe o que se passa na mente dessas pessoas arrogantes.

— Certo — O gesto repentino me pegou de surpresa, uma mão colocada sobre minha cabeça com firmeza. 

Diante da tentação de esquivar-me para o lado, uma intuição profunda sussurrou que não deveria fazê-lo. Comparado à chefe do clã, esse homem emanava uma aura diferente, uma presença que me deixava com a sensação de que escapar não era uma opção viável. Era como se o enfrentar fosse inevitável, e qualquer tentativa de fuga fosse fadada ao fracasso.

— Marido, pare de intimidar a garota.

— Me desculpe. Faz tempo que não vejo um estômago.

— Estomago? — resmunguei.

— Se passaste no teste. Quer dizer que és uma. A última foi Carmine. E desde então todas falharam.

— O que acontece com os que falham?

— Morrem!

— Marido, estás caduco? A última foi ela — Segui o gesto do seu dedo indicador, que apontava para a mulher presa na cruz.

— Não, a Vitory é um caso a parte.

Victory?

Carmine era uma figura conhecida para mim, mas quem seria essa tal Vitory? Para ser mencionada separadamente, ela certamente devia ser alguém notável. Quem, afinal, era essa mulher misteriosa?

— Continuando Idalme. Queremos que faça algo por nós. — Sua voz soou firme e decidida enquanto ele retirava a mão da minha cabeça.

— Algo?

— Sim, queremos que mates o filho do líder.

— Líder?

— Sim, o líder da cidade. O seu nome é Max, ele partirá em uma jornada com você. Se tiver oportunidade, o mate.

— Posso saber o porquê?

— Nananinão! — Seu toque gentil e firme ergueu meu queixo suavemente. — Já sabes demais. — Seus olhos encontraram os meus com uma intensidade penetrante

— Marido, deixa a garota em paz. Se ela fazer algo de mal, é só matarmos a raiz e pronto.

Aquela mulher parecia emanar uma aura de santidade, mas acho, na verdade, por dentro, era o próprio demônio personificado.

— Certo, Idalme. Aceitas ou não?

No momento em que ele disse isso, senti como se minha alma estivesse prestes a se despedaçar. Aquelas duas figuras não aceitariam um “não” como resposta. Por mais que sorrissem para mim por fora, eu sabia, no fundo, que aqueles dois eram verdadeiros demônios.

— Aceito. Matarei o filho do líder.

— Boa menina. E agora quero que coloques seu sangue nesse lago sagrado.

— Sim.

Sem pensar duas vezes, concentrei minha aura no meu dedo, ferindo minha própria mão. Gotas de sangue caíram na água, e começou imediatamente a ferver.

— Agora espere um pouco.

O lago fervilhava intensamente, soltava vapor em profusão. Após três minutos de intensa atividade, a fervura cessou e a água voltou ao seu estado normal.

— Idalme, tire as roupas.

— Quê?

— Marido, você já tem a mim, como podes?!

— Não seja idiota. Esqueceu do procedimento?

— Hah! Me desculpe.

— Sua idiota.

As dúvidas e o medo pairavam em minha mente enquanto eu ponderava sobre o que eles planejavam para mim. O que quer que fosse, eu sabia que não tinha escolha senão obedecer. Desafiar suas ordens seria o mesmo que assinar minha própria sentença de morte. Com um misto de relutância e resignação, tirei minhas roupas e fiquei completamente nua, preparando-me para o que quer que estivesse por vir.

— Não olhe! — disse a mulher enquanto tapava o rosto do homem.

Parando para observar mais atentamente, percebi que os dois eram incrivelmente semelhantes. Suas peles negras contrastavam com os cabelos vermelhos, que eram tão puros que pareciam emitir um brilho próprio. Nunca antes havia visto alguém com cabelos tão distintos como os deles. Além disso, seus olhos brancos eram incomuns dentro do clã, destacando-se pela sua singularidade.

— Agora, Idalme, entre no lago e fique lá por dois minutos. E mergulhe por trinta segundos.

— Sim.

Ao entrar no lago, uma sensação de bem-estar me envolveu, como se minha energia estivesse sendo renovada. Surpreendentemente, a ferida que eu havia feito antes começou a se curar quase que instantaneamente.

— Agora pode sair.

— Sim.

Ao sair do lago, apressei-me em vestir minhas roupas, que estavam encharcadas pelo mergulho. Antes que eu pudesse agir para me secar, Matra ergueu a mão. Num instante, minhas roupas e meu corpo secaram completamente. Era evidente que para realizar um feito tão impressionante em um instante, ela devia ter um controle imenso sobre suas chamas.

— Vou dizer novamente. Mate o filho do Líder. Entendeu?

— Sim.

— Agora pode ir embora. Volte do local onde saíste.

— Sim.

Segui pelo mesmo caminho, encontrando desta vez um teto em chamas. Sem hesitar, saltei e atravessei, emergindo do outro lado ileso. A sensação era de que nada havia acontecido, como se eu tivesse atravessado um simples portal. Não compreendia completamente como eles utilizavam essas habilidades, mas era inegavelmente impressionante.

Quanto a esse tal Max, não sabia quem ele era, mas compreendi que para alcançar meu objetivo de um clã livre de mortes desnecessárias e humilhações contra outras linhagens, seria necessário eliminá-lo. Era uma decisão difícil, mas uma que estava determinada a seguir.

Por favor, morra pelo bem do meu destino.

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