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Capítulo 05 – Corrida Mortal I

“A determinação é o fogo que forja a adaga do guerreiro. Os mistérios da floresta são as provas que testam a força dessa lâmina.”
O Código do Guerreiro Solitário, Verso 1.

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A vegetação densa era um emaranhado caótico de espinhos, um mar revolto de agulhas afiadas que pareciam pulsar com intenções sombrias. Harley corria por uma trilha estreita, cercado por espinhos que surgiam em todas as direções, impossibilitando qualquer pessoa de sair ileso de seus cortes. 

Eles emergiam do chão como estacas famintas, escondiam-se entre caules grotescos e flores deformadas, enrolando-se nos troncos das árvores como serpentes traiçoeiras, tornando o percurso um verdadeiro campo de suplício. 

Cada passo que Harley dava aumentava os riscos de ferimentos e os encontros inevitáveis com seus adversários. Ele sabia que a prova poderia durar um dia inteiro ou mais para atravessar a Floresta de Espinhos, e cada minuto perdido poderia ser crucial na linha tênue entre sobrevivência e tragédia. 

Sentia o suor escorrendo por seu rosto, misturando-se ao sangue que pingava de pequenos cortes em sua pele, enquanto ele tentava manter o ritmo com cada respiração sendo um esforço para conter o cansaço crescente.

Atrás dele, três competidores o perseguiam de perto, seus pés batendo no chão com uma cadência caótica. O som das respirações ofegantes ecoava pela floresta, misturando-se ao som sinistro dos espinhos rasgando carne e galhos se quebrando sob o peso dos corredores. Era uma corrida macabra de sobrevivência, onde cada som indicava dor, cada movimento gerava um novo perigo.

Num momento de descuido, Harley olhou por sobre o ombro, tentando antecipar os próximos passos dos seus perseguidores. Foi nesse instante que um dos competidores aproveitou a oportunidade, avançando com um movimento rápido. O agressor agarrou a mochila de Harley e a puxou com força brutal, derrubando-o ao chão com um baque seco.

— Saia do caminho, inútil! — gritou o agressor, sua voz expondo um prazer sádico, seguido de perto por seus comparsas.

— Você deveria ter ficado na biblioteca! — zombou outro, sua risada ecoando pela trilha estreita da floresta. 

— Aqui, só a dor ou a morte te esperam! — acrescentou o terceiro, com um sorriso cruel.

Harley caiu pesadamente, a poeira subindo intensamente ao seu redor. O impacto o atordoou, uma onda de dor irradiando por todo o seu corpo. 

Antes que pudesse se recuperar, seus adversários passaram por cima dele, pisoteando-o sem piedade, como se ele fosse apenas um obstáculo insignificante em suas buscas frenéticas pela vitória.

Sentindo o gosto amargo e metálico do sangue misturado com terra em sua boca e a dor latejando por todo o corpo, Harley se ergueu com dificuldade, sacudindo a poeira das roupas. Durante muito tempo, ele havia suprimido sua fera interior — aquela parte selvagem de si mesmo que ansiava por lutar até o último suspiro. 

Motivado pela sobrevivência no Clã Dragão de Sangue e determinado a dominar novos modos de agir, Harley dedicou-se a controlar sua agressividade instintiva, acreditando que só assim poderia equilibrar seus impulsos e se tornar mais estratégico. No entanto, ele logo percebeu que essa repressão tinha um alto custo pessoal.

O longo tempo contendo constantemente sua natureza feroz, tinha lhe deixado mais lento, menos incisivo em momentos críticos. A falta de prática em liberar toda sua agressividade havia deixado suas reações mais hesitantes, tornando-o vulnerável em situações de combate direto, como a que acabara de enfrentar.

Respirando fundo, Harley tomou uma decisão. Ele não mais reprimiria completamente a fera que existia dentro dele. Com uma força renovada que surgia das profundezas de sua alma, ele se forçou a voltar a correr, permitindo-se usar aquela agressividade contida de forma direcionada, canalizando-a para sobreviver e triunfar, sem deixar que o controle absoluto de sua mente se perdesse. 

A dor e o cansaço ainda estavam lá, mas agora eram como combustível, incendiando uma determinação. A corrida estava apenas no início, e ele não permitiria que um incidente momentâneo o detivesse.

Harley aumentou a velocidade, sua mente trabalhando freneticamente para analisar e escolher o melhor caminho a seguir. Cada decisão era tomada em frações de segundo, pois nesta disputa, a rapidez era tudo. 

Ele saltava por cima de espinhos que surgiam de repente, desviava de armadilhas naturais ou criadas pelos competidores e mantinha os olhos fixos no caminho à frente, determinado a não ser surpreendido novamente.

A Floresta de Espinhos se espalhava vastamente, como se quisesse engolir tudo ao seu redor.. A trilha serpenteava entre árvores e arbustos traiçoeiros, cada curva ocultando novos perigos. A cada salto e desvio, Harley sentia a adrenalina percorrendo suas veias, seu corpo começando a responder com seus antigos reflexos.

Em certo ponto, ele alcançou outro competidor, encontrando-se ombro a ombro em uma corrida acirrada. Uma batalha de força onde cada um tentava empurrar o outro para fora da trilha, usando os ombros e cotovelos para desviar a trajetória e ganhar vantagem.

Os dois competidores corriam lado a lado, seus corpos se chocando violentamente em uma disputa feroz pela supremacia. Cada músculo estava tensionado ao máximo, enquanto mantinham o ritmo frenético. 

Harley percebeu que seu adversário estava preparando um golpe decisivo. Sentiu a leve mudança na pressão do corpo ao lado e se preparou para reagir, cada nervo em alerta máximo. Era como um cabo de guerra onde ambos aguardavam o momento certo para dar o golpe fatal.

Com um movimento rápido, aproveitando a investida do oponente, Harley usou sua mão esquerda para se estabilizar e girou seu corpo, utilizando a mão direita para empurrar o outro ombro do adversário. 

Ele realizou dois movimentos fluidos: primeiro, um semicírculo com o próprio corpo, e depois um empurrão decisivo que desequilibrou o oponente utilizando a própria força dele para aumentar o impulso do golpe. A manobra o colocou estrategicamente do outro lado do competidor, que, sem encontrar resistência, foi lançado para fora da trilha.

O impacto foi brutal, o som de carne rasgando e ossos se quebrando enquanto o adversário era lançado nos espinhos afiados e se chocava-se contra pedregulhos, desaparecendo na densa vegetação. Os espinhos se mancharam de vermelho ao penetrar sua pele, arrancando gritos de dor que ecoaram pela floresta.

Harley, com um olhar frio, deixou para trás o adversário e continuou sua corrida. Cada passo o aproximava mais de seu objetivo, e Harley estava determinado a superar todos os desafios que a Floresta de Espinhos lançava contra ele. Com cada adversário derrotado, ele se aproximava um pouco mais de conquistar sua vaga como Kamikaze.

A floresta parecia reagir à sua determinação. Os espinhos agora se moviam mais rápido, como se fossem capazes de antecipar seus movimentos. As árvores pareciam fechar suas copas acima dele, mergulhando a trilha em uma penumbra inquietante, mas na realidade apenas a sua velocidade tinha aumentado. 

Os sons de passos e gritos ao longe indicavam que outros competidores ainda estavam na corrida, mas Harley não tinha tempo para se preocupar com eles. 

De repente, um movimento à sua direita chamou sua atenção. Um competidor surgiu, atacando com uma faca. Harley, movendo-se por puro instinto, desviou-se para o lado, rolando no chão e levantando-se com um salto.

O atacante, agora desequilibrado, balançou a lâmina novamente, mas Harley estava pronto. Ele agarrou o pulso do oponente com uma força feroz, torcendo-o até ouvir o estalo seco de ossos se partindo. 

Mais um grito de dor ecoou na floresta, mas Harley não hesitou. Ele empurrou o competidor para longe, atirando-o contra um grupo de espinhos que parecia estar esperando, faminto.

— Desculpe, mas não tenho tempo para isso — murmurou Harley, mais para si mesmo do que para o adversário. 

Ele sabia que não podia parar. A Floresta de Espinhos se projetava à frente, imensa e impenetrável, sem revelar onde poderia terminar. A trilha diante dele se estreitava ainda mais, transformando-se em um túnel de vegetação densa. 

Espinhos pendiam das árvores, balançando como pêndulos cortantes. Ele saltou, desviou e se contorceu por entre os obstáculos, seus reflexos em perfeita harmonia com o ambiente hostil.

Harley estava em sua casa e se movia como um animal selvagem, seus sentidos aguçados captando cada movimento ao seu redor. Ele podia ouvir o som de passos ao longe, o farfalhar de folhas e o sussurro de galhos se quebrando. 

Outros competidores estavam se aproximando, mas ele não tinha tempo para olhar para trás. Cada segundo era precioso. Ele precisava seguir em frente, precisava sobreviver.

A trilha começou a descer em um declive acentuado, coberto de pedras soltas e raízes retorcidas. Harley ajustou sua postura, inclinando-se para a frente, deixando a gravidade ajudá-lo a ganhar velocidade. 

Seus pés mal tocavam o chão enquanto ele corria, evitando a cada momento uma queda catastrófica. Ele sabia que uma queda aqui poderia significar o fim. Não apenas o fim da corrida, mas o fim de tudo.

Inesperadamente, a trilha se abriu em uma clareira, um pequeno santuário no meio do caos. No centro, havia uma árvore colossal, seus galhos estendendo-se como braços protetores. 

Harley sabia que esse era um ponto crucial, um lugar onde muitos competidores fariam uma pausa para recuperar o fôlego, mas também onde muitos confrontos ocorriam.

Ele parou por um momento, os olhos varrendo a área. Ele precisava decidir rapidamente. Continuar correndo sem parar o deixaria exausto antes do final da corrida. Parar para descansar poderia significar uma emboscada. 

Ele ouviu um galho se quebrando atrás dele e se virou, apenas para ver dois competidores emergindo da floresta, suas expressões endurecidas pela selvageria da corrida.

— Parece que teremos companhia — Harley murmurou para si mesmo, suas mãos cerrando-se em punhos. Ele sentiu a familiar fera interior acordar mais uma vez, rosnando em antecipação.

Sem aviso, os competidores avançaram, um deles empunhando uma vara improvisada, o outro com um pedaço de pedra afiada. Harley esperou até o último momento antes de se mover, desviando da vara com um giro ágil e bloqueando o golpe de pedra com seu antebraço. 

A dor foi imediata, mas ele a ignorou, agarrando o braço do atacante e o puxando para frente, usando o próprio impulso do homem contra ele.

O competidor tropeçou e caiu para frente, direto nos espinhos que circundavam a clareira. Um grito de agonia escapou de seus lábios enquanto ele lutava para se libertar, mas os espinhos se enrolaram ao seu redor como serpentes, segurando-o firmemente no lugar. O outro competidor hesitou por um momento, sua confiança vacilando ao ver seu parceiro caído.

Harley não lhe deu chance de reação. Avançou com uma rapidez impressionante, acertando um soco direto no estômago do oponente. O competidor se contorceu de dor, soltando a pedra enquanto lutava para respirar, e Harley o empurrou, fazendo-o despencar pesadamente no chão.

Com os adversários caídos, Harley continuou sua corrida através da Floresta de Espinhos. A escuridão se tornava cada vez mais sua aliada, escondendo-o dos olhos de seus inimigos e dando-lhe a cobertura necessária para avançar sem ser visto. 

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