“Quando as correntes do destino se apertam, o espírito busca libertação. Fugir das amarras de um passado opressor é o primeiro passo para a verdadeira liberdade.”
— Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.
No centro do majestoso átrio da grandiosa catedral do Continente das Terras Esquecidas, imponentes esculturas erguiam-se como guardiãs silenciosas das Tábuas das Dez Grandes Previsões.
A aura solene do lugar, reforçada pela penumbra das altas abóbadas e pelo brilho sutil das tochas, conferia ao ambiente um misticismo quase tangível.
Em tempos imemoriais, um renomado astrólogo e matemático, Nostradamus, havia se dedicado a cálculos meticulosos e ensaios científicos, que lançavam sombras de incerteza sobre o futuro da ilha.
Em sua previsão mais famosa e sinistra, Nostradamus anunciou, com todos os adornos linguísticos de um grande cientista, que a ilha um dia se racharia, tremeria e vomitaria lava.
Suas previsões, detalhadamente fundamentadas em cálculos intrincados e rigorosos ensaios científicos, eram como uma sentença de condenação pairando sobre os habitantes da ilha.
Durante anos de meticulosos cálculos e teorias que desafiavam as fronteiras do conhecimento, Nostradamus acreditava na insignificância da ilha e, com a convicção de que ambos não tinham importância, decidiu por um último ato insano.
Em um gesto dramático e desesperado, ele se lançou de um penhasco, buscando literalmente corresponder à sua visão da essência do Continente das Terras Esquecidas.
Essa história enigmática ecoou por gerações nas mentes e corações dos habitantes da ilha, permanecendo como um mistério sem solução e um sombrio prenúncio do que estava por vir.
A visão de Nostradamus, no entanto, não se limitava apenas a catástrofes iminentes; ela também sugeria desafios e oportunidades que poderiam moldar o destino do continente de maneiras imprevisíveis.
Uma dessas possibilidades era a transposição da névoa densa que envolvia a ilha, uma ideia que inflamou todos os clãs em um fervor de especulação e preparação.
E assim, uma corrida mortal estava prestes a começar na Floresta de Espinhos, um evento onde qualquer conduta, por mais sombria ou vil que fosse, era permitida.
Os clãs haviam chegado a um consenso tácito: para alcançar seus objetivos, os competidores não hesitariam em usar qualquer meio necessário, mesmo que isso envolvesse atos moralmente questionáveis.
O objetivo era determinar os doze Kamikazes de cada clã, escolhendo os guerreiros mais fortes, que seriam preparados para enfrentar os túneis que poderiam abrir-se na temida névoa densa quando a profecia de Nostradamus se concretizasse.
A previsão estabelecia um prazo que os clãs não poderiam ignorar, pois após esse dia, os túneis que poderiam atravessar a neblina intransponível poderiam surgir a qualquer momento.
A competição prometia ser brutal e impiedosa. Os primeiros a fazer suas escolhas seriam os doze candidatos do Clã Dragões de Sangue, o mais poderoso e misterioso de todos.
A chance de se juntar à elite, com benefícios que incluíam maior liberdade para explorar as áreas restritas, assim como a possibilidade de aproximar-se da neblina intransponível e quiçá, ultrapassá-la descobrindo outras realidades e mundos, era um chamado irresistível para muitos.
Naquele dia especial, a praça central estava aberta à população, marcando o início da seleção dos futuros Kamikazes.
Um mapa da região e os conhecimentos reservados aos escolhidos eram segredos bem guardados pelos líderes, baseando-se em análises e pesquisas profundas feitas na neblina e em toda ilha pelo grande cientista Nostradamus.
Enquanto Harley se dirigia para a praça central, pensamentos fervilhavam em sua mente sobre os mistérios e revelações que talvez estivessem ocultos do conhecimento público. Essas reflexões o acompanhavam em seu caminho, alimentando suas expectativas e desejos por um futuro grandioso.
Quando Harley finalmente chegou à praça, o inesperado começou a acontecer. O céu, antes ensolarado, começou a escurecer gradualmente. Um eclipse solar se formava, encobrindo o sol e criando uma atmosfera densa de antecipação.
Os líderes dos quatro clãs, agora livres de qualquer dúvida sobre a veracidade das previsões, observavam as pessoas na praça com uma seriedade solene.
Harley sentia a gravidade daquele momento na sua jornada. Seus pensamentos se agitavam enquanto ele se preparava para a competição que definiria seu destino como Kamikaze.
Avançando em direção ao centro da praça, Harley sentia seu coração martelar no peito, como se tivesse despertado de um longo sono. Era uma sensação estranha, mas revigorante, sentir essa urgência pulsante em suas veias, cada batida ecoando a determinação de sua busca.
Por tanto tempo, seus sonhos e desejos haviam sido sufocados pela monotonia e pela asfixia do Clã Dragões de Sangue. Lá, a perspectiva de uma vida além de suas paredes parecia tão distante quanto as estrelas no céu.
Agora, no entanto, ele tinha uma chance — uma oportunidade de escapar da influência sufocante do clã, de desafiar as probabilidades e encontrar um lugar onde pudesse verdadeiramente pertencer.
Competir na seleção dos Kamikazes era mais do que uma simples oportunidade; era a chave para sua liberdade, um momento decisivo que poderia mudar o curso de sua vida para sempre.
Apesar do ceticismo geral em relação às profecias, Harley se recusava a acreditar que o mundo se limitava à estreita faixa de terra engolfada pela névoa, dominada pelos quatro clãs.
Enquanto muitos aceitavam a ideia de que atravessar a névoa era uma impossibilidade, ele nutria uma fé inabalável no potencial de encontrar novos horizontes além das fronteiras conhecidas.
Para Harley, a perspectiva de explorar outros mundos, de se libertar do jugo opressivo do Clã Dragões de Sangue, era irresistível. Essa era sua oportunidade de perseguir seus sonhos, de descobrir a grandiosidade e diversidade que o mundo tinha a oferecer.
Com o eclipse transformando o dia em noite, a praça central encheu-se de uma expectativa palpável, uma tensão quase tangível no ar.
Os líderes dos quatro clãs, com suas posturas imponentes e olhares austeros, observavam os competidores que se reuniam diante deles. Harley teve poucos segundos para se recompor antes que a competição começasse.
Foi então que um dos líderes, com uma voz retumbante, proclamou:
— Preparem-se! O eclipse está prestes a começar!
Um murmúrio de ansiedade percorreu a multidão de competidores.Todos sabiam que o início da competição estava diretamente ligado ao fenômeno do eclipse solar.
Esta não era uma corrida comum, mas sim uma prova mortal que os conduziria diretamente à Floresta de Espinhos, um lugar repleto de armadilhas fatais, perigos indescritíveis e segredos sombrios escondidos nas sombras.
Contudo, o que tornava tudo ainda mais perigoso eram as trapaças e alianças traiçoeiras — um verdadeiro teste de sobrevivência onde a própria floresta e os competidores eram inimigos.
No instante em que o último raio de sol desapareceu por trás da lua, mergulhando a praça em escuridão, o líder do clã ergueu a mão em um gesto solene.
Os competidores se lançaram para frente como flechas disparadas, correndo em direção à Floresta de Espinhos. Harley se misturou à multidão, seus passos rápidos e decididos, cada fibra de seu ser clamando por liberdade.
A Floresta de Espinhos surgiu diante deles, um labirinto de árvores escuras e espinhos afiados, prometendo dor e morte a cada passo.
Os candidatos a Kamikaze se dispersaram, cada um escolhendo um caminho diferente através da vegetação densa. Logo, o terreno traiçoeiro se revelou, acompanhado pelos primeiros gritos de agonia que ecoaram na floresta.
Harley se movia com agilidade, desviando-se dos espinhos afiados e saltando sobre armadilhas improvisadas no chão.
O suor escorria por seu rosto enquanto ele forçava seu corpo a manter o ritmo frenético. Ele sabia que estava em desvantagem; o tempo passado na biblioteca havia diminuído sua prática física e suas habilidades nas artes marciais, deixando-o mais vulnerável.
A Floresta de Espinhos testaria seus limites como nunca antes, desafiando sua astúcia, sua força e sua determinação. Harley estava decidido a sair vitorioso dessa provação mortal, mesmo com a desvantagem imposta pela falta de treino recente. Ele sabia que não podia se dar ao luxo de fraquejar agora.
ANEXO: