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Pararam em uma grande sala dentro daquele pequeno palácio. Havia vários guardas orcs cercando o local em fileiras, e o chefe da aldeia estava sentado no trono de argila, ao seu lado havia mais um orc, que estava com um rosto mal-humorado, olhando para as pessoas que haviam chegado. Dante e os demais estavam no meio daquela sala, na frente de Gradel.

O local não cheirava a flores e estava bem sujo. Provavelmente por conta da falta de comida consumível naquele lugar. Isso deve ter afetado quem cuidava da faxina. Em suma, aquele lugar era deprimente, por causa de sua ambientação.

— Como já falei, fui informado da situação por meio do meu guarda — disse Gradel, indo direto pro assunto — Então, você será o cozinheiro da noite, humano?

— Espero que não tenha problema — disse o garoto, meio nervoso.

— Sem problemas caso faça algo minimamente decente. Sabe, há um motivo por nós, orcs, não sabermos cozinhar.

Ele explicou que, como a raça orc era guerreira, a maioria focou em desenvolver sua força física para batalhas por territórios ou outros tipos de confrontos, tanto homens quanto mulheres. Outros que não escolheram esse caminho, focaram em construção e costura, que já não eram um grande forte.

Tinham casas feias e roupas abaixo do nível de decência. Nem Dante e nem Crim perceberam isso, já que os que estavam à sua volta usavam armaduras, e os aldeãos não se expuseram muito.

Com isso, havia poucos orcs cozinheiros. Com o passar dos anos, os cozinheiros vinham a morrer conforme a idade, e o número ia diminuindo, até chegar ao estado atual.

Inclusive, nem as armaduras foram eles que fizeram. O chefe da aldeia comprou de ogros que ainda estavam aprendendo a fazer um bom trabalho com armaduras. As armaduras dos ogros têm um nível de excelência quase parecido com a dos anões, o problema é que essa raça começou a fazer esse tipo de trabalho a menos tempo do que os próprios anões, e ainda tinham poucos neste cargo. A maioria era amador, pequena parte era excelente no que fazia, mas eram muito caros.

Não dava para comprar um trabalho de quem começou a pouco tempo e ainda está aprendendo com quem tem anos de experiência com esse trabalho. Pelo menos, as armas que os orcs tinham foram compradas de anões. Foi caro, só que mais acessível do que um conjunto de armaduras.

“Em resumo, eles gastaram a maioria dos pontos de experiência com o atributo de força do que com outros essenciais.”, com anos de experiência jogando RPG, e ainda mais enquanto estava isolado em seu quarto, Dante concluiu uma coisa: “Os orcs são idiotas.”

Entretanto, isso não era um jogo, e sim a vida real. Então, resolver essa situação não era tão simples quanto matar um monte de inimigos aleatórios e conseguir mais pontos de experiências para subir o nível de seus outros atributos. Dante era o tipo de jogador que gostava de equilibrar defesa e força nos jogos. E, agora, ele cuidaria desse equilíbrio.

Se ele conseguisse alimentar uma aldeia inteira, todos estariam mais motivados e com muita energia. Com isso, logo ensinaria a outros orcs o básico da culinária, para que todos possam comer comida decente sem precisar mais dele no futuro.

“É, parece que vou ter que ficar aqui por um tempinho, até resolver essa situação… Isso se me permitirem.”

E também tinha o motivo do jovem não ter onde dormir. Se essa aldeia fosse um bom local, ele já estaria satisfeito. Provavelmente ficar lá não seria um problema pro chefe, já que seria o único cozinheiro do lugar.

— Com isso, apesar dessa aldeia ser de orcs, nossa raça não é exclusiva. Também há fadas aqui. Então, saiba que muita comida será necessária para essa noite, meu jovem.

Isso já era óbvio, mas ter fadas naquele lugar deixou o garoto curioso.

— E, espero que, se sua comida satisfaça os meus cidadãos, que você fique aqui por um tempo.

— Na verdade, chefe. Eu estava planejando ensinar alguns orcs a cozinhar depois de hoje. Tenho que encontrar algumas pessoas, então acho que não poderei ficar por muito tempo. Bom, pelo menos, até a aldeia não precisar mais de mim.

— Oh… entendo. — O orc massageou queixo — Sendo assim, além de recompensá-lo com uma moradia aqui, que tal fazermos esse trabalho para você. Será o mínimo. Claro, isso se você fizer uma comida que satisfaça todo mundo. Caso não, iremos o abandonar na vasta floresta à nossa volta, onde tem vários monstros perigosos.

O jovem imaginou sendo expulso e atacado por monstros, e sentiu um frio na barriga.

— Se está tudo decidido, então…

— Espere um pouco, senhor Gradel.

— Sullivan?

O orc ao lado do chefe, aquele que estava com uma cara mal-humorada, levantou a mão e interveio na conversa.

— Podemos confiar mesmo nesse humano?

— Por que diz isso?

— Humanos odeiam orcs. Tenho certeza que esse jovem completamente mongolóide com aparência feminina tem más intenções por trás. É bastante provável que ele envenene a comida e mate todos nós — o orc gritou, apontando o dedo para o garoto.

— Quê…? “Mongolóide”? O que foi que eu fiz? — disse Dante, completamente surpreso com isso.

Tudo estava indo tão bem e de forma calma, que até esqueceu que algo assim poderia acontecer de novo. Ocorreu na entrada do lugar, mas logo se resolveu pacificamente. Também havia acontecido um receio humano quando o garoto e Grond se conheceram, ele ficou com medo. Agora, aconteceu de novo. Também não esperava que fosse insultado gratuitamente.

— Sullivan, você tem alguma prova disso?

— Não. Mas, com certe…

— Se não tem provas, então, não acuse. É burrice. Além do mais, esse humano estará sob supervisão do meu filho.

— Mas, senhor…

— Nem mesmo se ele quisesse, poderia fazer alguma coisa.

— Mas…

— Esse é o fim dessa conversa.

Gradel virou-se para o jovem.

— Me desculpe pela ofensa do meu subordinado.

— Tudo bem. Não é como se eu ligasse. Já fui ofendido de coisas piores.

Nos jogos online existiam bastante pessoas que não conseguiam conter sua raiva, xingando os outros jogadores. Isso já aconteceu com Dante frequentemente. Desde insultos mais leves, como: “seu idiota!”, até os mais pesados, como pedir para a outra pessoa do lado da tela se matar ou enfiar alguma coisa em seu buraco.

Quando Dante começou a jogar um jogo online que se podia conversar por voz, acabou fazendo uma besteira, que levou a um cara o xingar de todas as maneiras possíveis. Quando foi se desculpar, esse homem mudou seu comportamento rapidamente. Parou de xingá-lo e o enviou uma solicitação de amizade. Começou a elogiar o jovem e até mandou um presentinho dentro do jogo. Provavelmente, ao ouvir a voz do garoto, pensou que fosse uma garota.

— Humano, por favor, diga-me seu nome.

— É Dante Katanabe.

O orc assentiu e olhou para seu filho.

— Grond, leve-o até a…

Uma coisa saindo da garganta do chefe o fez parar de falar. Essa coisa era líquida, vermelha, pegajosa e com um sabor único. O sangue saiu violentamente pela boca de Gradel, sujando até sua armadura. Continuou cuspindo sangue violentamente enquanto tossia.

— Pai! — Grond gritou de forma desesperada. Não só ele, como todo que presenciaram isso ficaram em choque.

O homem iria até o chefe, mas apenas viu seu pai estendendo a palma de sua mão, em um sinal para ele esperar.

— Não se preocupe comigo. Estou bem. Apenas, leve o jovem Dante para a cozinha.

— M-mas… — Tentou hesitar, mas seu pai fez um movimento com a cabeça, indicando que era para obedecer sua ordem — Está… bem…

“O que acabou de acontecer…?”, o garoto se perguntou, não gostando do que poderia ocorrer daqui algum tempo.


Dante Katanabe estava preparado para sua próxima batalha. Pegou um avental branco e o vestiu, junto de luvas transparentes e uma rede de cabelo.

“Estou pronto…”, e sua batalha a seguir seria: “para cozinhar para uma aldeia inteira!”

Estava determinado. Faria uma grande refeição, que todos que comeriam, adorariam. Porém, ainda havia uma coisa que ainda precisava pensar…

— O que exatamente eu vou fazer…?

A sua volta, havia uma cozinha gigante, com boa parte da estrutura feita de argila. Ali, ele tinha acesso a água limpa, algumas fornalhas e vários itens de cozinha.

— Talvez… uma sopa…?

Seria uma boa ideia. Daria pra fazer em grande proporção e alimentar muita gente. Além do mais, viu uma grande panela, que poderia ser usada perfeitamente.

— Dante, quanto tempo vai ficar pensando aí? — Crim reclamou.

A sereia e o orc estavam há tempo segurando carne de monstro em suas mãos, enquanto o jovem estava perdido em seus pensamentos.

— Ah, desculpa, pode deixar as carnes ali.

Depois disso, o jovem pegou a grande panela e a encheu de água. Pediu ajuda de Grond pra isso, por causa do peso. Colocaram em uma das fornalhas e esperaram esquentar.

Enquanto isso, o jovem olhava os armários, onde deveria achar mais alimentos para fazer.

“Será que aqui tem macarrão? Seria muito bom se sim… Oh.”

Achou um saco de farinha.

“Se não tem macarrão, eu próprio faço o meu.”

Enquanto pegava outras coisas que precisava e colocava na mesa, o orc e a sereia observavam todo processo, sentados em uma cadeira ao lado de Joe, que tirava uma soneca.

Uns minutos se passaram, e Dante fez a farinha virar uma massa, misturando-a com ovo. Depois, abrindo-a e dobrando, cortando em formatos de palitos logo depois.

— O que você está fazendo?

Isso despertou o interesse naqueles dois espectadores, contudo, foi o homem que fez a pergunta.

— Macarrão.

— Macarrão?

— Ah! Macarrão! — Crim reconheceu o nome, e seus olhos se encheram de brilho.

— Conhece?

— Já ouvi falar! E tudo que sei que é muito gostoso!

— E na sopa vai ficar melhor — disse o garoto, separando seu macarrão caseiro em um pote e indo até a panela.

Jogou o macarrão na panela, e foi no armário novamente.

“Falta só cozinhar a carne, mas quero colocar uns temperos… Hã?”, achou uma pimenta azul no fundo da prateleira.

[Seria bom você usar essa pimenta. Ela não é tão forte e é muito gostosa.]

Com o que Sophie disse, o garoto já reservou o alimento.

— Por falar nisso, ô, Crim! Você não sabe cozinhar não? Seria bom uma ajuda…

— Só sei fritar ovo. Serve?

— Esquece…


— Acabei!

Com o fim do preparo, só faltava esperar a sopa ficar pronta, o que não demoraria. O jovem sentou numa cadeira, ao lado de seus companheiros, que bateram palmas.

— Parabéns, você conseguiu — disseram os dois, deixando o jovem com um olhar de realização.

Fazia bastante tempo que não cozinhava, e estava feliz que não perdeu a prática, mas quem determinaria o resultado seriam os habitantes.

— Cansei… — disse, descansando na cadeira.

Grond se levantou da cadeira, pegou um copo e um pouco de água fresca, entregando-a para o garoto.

— Bom trabalho, Dante. Estou extremamente agradecido.

O jovem aceitou de bom grado, bebendo a água.

— Não só agradeço por você fazer a comida, mas também pelo meu pai. — O orc sentou-se novamente.

— Como vocês viram, ele não está bem.

Se referiu ao momento em que Gradel cuspiu sangue no salão.

— O que houve com ele? — a garota disse.

— Ele foi amaldiçoado há muito tempo, por um dragão. Seus últimos dias de vida estão cada vez mais próximos.

Normalmente, maldições vinham de bruxas ou de algum outro ser mágico, mas era a primeira vez que ouvia falar de dragões amaldiçoando pessoas. Claro, ele comparava com o que tinha de experiência com fantasia, o que mostrava que tinha algumas diferenças com o mundo real.

— Então, eu desejo que, antes dele morrer, ele coma uma boa refeição, pelo menos por uma última vez.

Dante sorriu, levantando-se da cadeira.

— Então, vamos ver como está a sopa, pessoal?

Assentiram. De longe, o cheiro já estava muito bom. Porém, de perto, parecia que melhorava, fazendo aqueles dois que experimentariam a comida de Dante pela primeira vez, com água na boca. Eles pegaram uma tigela para cada um e colheres. Com uma concha, o garoto pegou um pouco da janta daquela noite, separando um pouco pra cada um.

Sem hesitar, pegaram tudo que era possível colocar na panela, desde um pouco do macarrão, carne, e outras coisas que o jovem acrescentou, e colocaram na boca.

O caldo que passou por suas línguas, junto da carne que desmanchava na boca e o macarrão o encheram de alegria. O coração do homem começou a palpitar, e lágrimas escorreram de seus olhos.

— Isso… isso é algo feito pelos deuses…! Isso é arte! Isso é uma obra de arte!

Ele disse, comendo devagar, para saborear o mais lentamente possível. Em contra parte…

— Sim, sim, está muito gostoso!

…Crim comia rapidamente. Cada bocada que dava, sentia a necessidade de comer mais.

— Tá normal, tá gostoso — Isso foi tudo que Dante conseguiu dizer, enquanto comia sem demonstrar muita reação.

Joe acordou e foi até os três, os olhando debaixo para cima, pedindo um pouco do que estavam comendo.

— Ainda sobrou bastante carne. Você quer, Joe? — Dante disse, e, em resposta, o lagarto pulou de alegria.

Por fim, a sopa já estava pronta, e todos poderiam aproveitar de bom grado. Enquanto isso, uma pessoa os observava pela porta, enquanto mordia os lábios de raiva.

— Está se divertindo… humano?

Sullivan se afastou do local, esperando para o mais tarde chegar.

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