A cabana, embora abandonada, carregava consigo vestígios de uma vida anterior. Dentro da mesma era sentido um odor peculiar, uma mistura de madeira antiga e mofo que preenchia o ar estagnado. Cada passo dos três amigos levantava uma fina camada de poeira, testemunha silenciosa do tempo que a cabana passou esquecida.
As teias de aranha, como tapeçarias finas, adornavam os cantos da sala, contando histórias silenciosas de aracnídeos solitários que reinavam supremos na ausência de visitantes. O piso rangia sob seus pés, um lamento sutil que ressoava como um eco do passado.
— Esse local está acabando, hein? — Kraus matava o silêncio questionando.
A garota avistava um rato no canto se assustando.
— Um rato! — a garota ficava atrás de seus amigos.
Os garotos não aguentavam a cena e gargalhavam em resposta.
— É sério isso? Estamos numa maldita floresta cheia de sei lá o que, e você está com medinho de um rato?
Lukky se aproximava do rato que ficava amedrontado. Pegava-o e mostrava a garota aproximando-o da mesma.
— Aaaaa!! Se afaste, idiota!
— Calma Sophia, é só um ratinho — o jovem ria enquanto levava para fora da casa.
A garota mostrava a língua enquanto eles riam da pequena brincadeira. Voltando ao foco, ficaram interessados no baú próximo à cama. Se aproximando, tentaram abrir, mas aparentava estar trancado.
— Droga, e agora? — olhava para seu colega
O seu amigo olhava de volta com um sorriso em seu rosto.
— Apenas observe — o jovem retirava uma pedra do seu bolso é ativava sua benção ”toque de geomita”.
Em breves momentos, a pedra assumia uma aparência líquida, moldando-se para se encaixar na fechadura como se fosse feita sob medida. Com habilidade, abriram o pequeno baú, revelando três livros. Pegaram-nos e leram os títulos nas capas.
”Grimório das Sete Chamas”
”Conceitos Mágicos: Núcleos”
”Diário do Desalinhado”
A garota se animou, um sorriso ansioso iluminando seu rosto.
— Incrível! Que ‘sorte’ a nossa!
Lukky, com o Grimório em mãos, o limpava, fazendo seu título brilhar ao remover a poeira.
— Esse livro é quente? — olhava com suspeitas.
Os outros se viravam para ele é perguntavam.
— Como assim, ”quente”? — o garoto tocava e sentia sua temperatura fria.
— Me parece normal… Você está bem, mano?
— Estou bem, relaxa — passava a mão sobre o grimório sentido algo ressoar.
Enquanto isso, Sophia abria o livro de ”Conceitos Mágicos” chamando a atenção.
— Isso daqui é muito importante! Vocês dois não passaram no teste mágico, certo? Acredito que isso pode estimular ambos — a garota explicava mostrando a primeira página.
”A magia, ou “mana”, é infinita, e acessível a todos os seres, desde que sigam algumas regras fundamentais. Dentro de cada corpo humano, há dois núcleos distintos: o Núcleo Mágico e o Núcleo Vital.
O Núcleo Mágico está localizado no core, desempenha um papel crucial na purificação da mana. É aqui que reside os elementos de cada indivíduo, o núcleo purifica a mana exterior e a torna sua para usar, mas dentro dos limites corporais do usuário.
O núcleo mágico tem um total de 5 estágios.
Núcleo Massivo: Consiste em uma Esfera totalmente preenchida a qual refina a mana de forma crua. Além de ter uma capacidade quase nula ainda traz perigos àqueles que tentam usar magias medianas, se limita apenas a coisas básicas como uma ”bola de fogo”.
Anel Estelar: Assim como o nome sugere, seu núcleo se alarga virando uma esfera oca ou anel com capacidade de adicionar espécies de estrelas, funcionam como multiplicadores ou potências, começando por apenas uma estrela chegando até a sétima. Magias medianas se tornam mais acessíveis, mas ainda difíceis, e as mais simples podem ser conjuradas de forma múltipla mesmo com dificuldade…”
— Ué!? Isso é estranho… — a garota questionava
Os dois jovens leram junto a ela as primeiras páginas, mas após o segundo estágio os outros estavam borrados.
— Você não sabe os 5 estágios, Sophia? — nosso jovem perguntava.
— Minha família só me ensinou até o segundo, pois o terceiro diz ser perigoso… — a garota fechava o livro ficando pensativa.
Um breve silêncio pairou, mas o outro garoto abriu seu livro, “Diário do Desalinhado”.
— Interessante… Parece que alguém documentou sua jornada mágica. Diz aqui que ele veio passar um tempo nesta floresta para treinar. — Kraus folheava as páginas em busca de algo mais, mas encontrava apenas anotações diárias.
Ao chegar nas últimas folhas, deparou-se com um registro que parecia ser uma despedida.
“Creio que esta será minha última entrada. Nos dois anos que passei buscando formas de me fortalecer para salvá-la. Percebi que este lugar é mais intrincado do que aparenta. Explorei algumas cavernas e muitas eram dungeons abandonadas; mal consegui sair vivo das que ousei entrar. O único item que consegui obter foi o ‘Grimório das 7 Chamas’. Acredito que seja necessário ter o elemento fogo para usá-lo, suas inscrições falam sobre o poder original das chamas, mas não consegui compreender totalmente, pois tudo está escrito de maneira enigmática…
Aqueles que entrarem em minha cabana, fujam imediatamente. Existe algo que desperta todas as noites… Eu não consegui derrotá-lo… Mapeei este lugar; apenas fujam e deixem minhas coisas aqui para que se alguém azarado encontrar, possa escapar também… Se o grimório ainda estiver aqui, podem levá-lo; não sei se tem valor…”
Kraus terminava de ler amedrontado notando a data que condizia há 10 anos.
— Nossa… Isso tem muito tempo.
O garoto virou a última página com um sorriso no rosto, mas ela estava rasgada. O sorriso de felicidade logo virou algo forçado.
— Maldito… Ele rasgou a folha do mapa.
Os outros que antes estavam acompanhando, suspiraram em desânimo.
— Que droga, estamos no inferno mesmo — Lukky colocava a mão no ombro de seu amigo que em resposta jogou o livro no chão.
Juntos olharam para a porta e notaram o sol se pondo. Mesmo sem esperanças, havia muita coisa a se fazer, deixando tudo isso de lado eles começaram a se preparar para acampar naquele local.
[Continua…]
