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— Martim! NÃO! — Maria gritou ao ver seu amado sendo golpeado na barriga por Alvar.

Não! Não é possível!

Viu, com o horror apertando-lhe o peito, quando Martim caiu de costas, o sangue encharcando sua camisa.

Ele está vivo? Está bem?

Não teve tempo de pensar muito, pois Alvar se aproximava dela. Sem seu pé, não conseguia se levantar. Sua espada estava longe. Não tinha mais como se defender.

Acabou!

— Sabe — disse Alvar, com o olhar triunfante —, quando Catarina me convidou, eu fiquei excitado por trabalhar com você. Tinha ouvido histórias sobre sua bravura, sobre como você conseguiu acabar com uma conspiração e salvar a rainha. Além, é claro, das histórias de guerra. São muitas as histórias sobre a mulher guerreira que serviu na infantaria e ganhou uma medalha do rei Gregório, sabia?

Maria olhou para Martim, e seu coração se alegrou por um instante.

Ele está respirando! Está vivo!

— Mas agora, vejo que eram só histórias mesmo. Você não deu valor ao poder que tinha nas mãos. Hoje você teve a chance de se consagrar, tornar-se a mais respeitada capitã da guarda, a mais fiel defensora do reino. Mas preferiu jogar tudo para o alto, e entregar-se a um… soldado! Você não passa de uma mulher, tola e sentimental!

Aguente firme, Martim!

— Bem, se era só isso o que queria, é o que vai ter. Vai se juntar a Martim em breve.

Alvar se ajoelhou em cima de Maria e colocou as duas mãos em seu pescoço.

— Vê? Nem preciso de uma arma para matar você. Você é fraca.

Alvar começou a apertar a garganta de Maria. Ela não conseguia respirar. Tentava se livrar, mas seu esforço era em vão. Alvar era muito mais forte.

Desesperada e lutando para não desmaiar, procurou com uma das mãos embaixo da proteção de metal que tinha no antebraço. Enfiou o dedo com toda a força que conseguiu, e sentiu o metal pontudo por baixo.

— Pode deixar que eu tomo conta da guarda. Catarina vai me aceitar de volta, ela também é uma mulher idiota, uma velha fácil de seduzir. Vai ficar feliz quando souber que acabei com vocês dois, traidores.

Tremendo muito, Maria soltou a tira de couro que tinha ali. Esticou os dedos mais um pouco e conseguiu retirar seu punhal de dentro da armadura. Segurou-o com força e levou-o para o lado do corpo.

Seu peito doía. Seu coração lutava para bombear o sangue que era bloqueado pelo aperto em seu pescoço. Sua vista estava escura.

Mesmo sem enxergar direito, ergueu o braço com o punhal e tentou alinhar a ponta da lâmina o melhor que conseguiu. Mirou na mancha escura à sua frente e fez o movimento perfurante.

Sentiu a lâmina penetrando na pele, depois na carne. Um líquido quente começou a escorrer, molhando seu braço e seu peito.

O aperto em seu pescoço se afrouxou. Sua respiração voltou, vigorosa como antes. Aos poucos, sua visão se clareou, revelando o rosto de Alvar à sua frente. A expressão incrédula na cara dele foi se suavizando, tornando-se inerte e serena, até que os olhos se fecharam e a cabeça caiu para a frente.

Alvar estava morto.

Maria precisou respirar fundo por alguns segundos para recuperar as forças. Foi com muita dificuldade que conseguiu tirar o corpo do homem de cima do seu. Ele era pesado, mas depois de algumas tentativas estava livre.

— Martim! — ela tentou gritar, mas o som não saiu. O aperto em sua garganta tinha deixado-a sem voz.

Imediatamente, ela o procurou com os olhos e o achou, a poucos passos de onde estava. Engatinhando de maneira apressada e desesperada, foi se aproximando dele.

Por favor, esteja vivo, por favor!

Chegou ao seu lado. Ele estava pálido, com os olhos fechados e a boca entreaberta. Olhou para baixo. Havia muito sangue em cima dele, no ombro, na perna, e principalmente na barriga, que subia e descia vagarosamente.

Está respirando!

— Martim!

Ela colocou as duas mãos em seu rosto e começou a chamá-lo.

— Martim! Acorda, Martim! P-por favor, acorda Martim!

Sua voz, inicialmente muito rouca, foi ficando mais limpa e alta.

— MARTIM! ACORDA MARTIM!

Ele mexeu levemente a cabeça e enfim abriu os olhos. Maria sorriu e o beijou, molhando seu rosto com suas lágrimas.

— Martim! Você está vivo!

— M-maria? S-sim, acho que estou. O que aconteceu?

— Já acabou, vai ficar tudo bem agora, meu amor.

— Você está bem? Está ferida?

— Estou bem. Só levei uns cortes.

— Oh, que bom. — Ele fechou os olhos, suspirando.

— Não, Martim, abra os olhos, me escute! Você precisa me ouvir!

Ele obedeceu e olhou para ela. Seu rosto era sereno e calmo. Seus olhos azuis encaravam-na com ternura. Sua boca estava esticada em um sorriso tranquilo.

— Sim?

— Eu vou buscar ajuda. Você está ferido, precisa de um curandeiro. E-eu só preciso achar meu pé.

— Ah, sim, você perdeu seu pé, né? — Ele sorriu.

— É, perdi — ela respondeu, sorrindo —, mas eu vou pegá-lo, e vou buscar ajuda…

— Maria… — ele interrompeu-a. — Como você perdeu o pé? Me conta?

— Foi na luta, e-eu…

— Não agora. Eu me refiro à sua vida, seu pé verdadeiro…

— N-não, Martim, não temos tempo! Eu preciso…

— Pois é… — ele interrompeu de novo. — Eu acho que não tenho muito tempo, e eu queria muito saber essa história.

— Não fala assim, Martim. Eu te conto depois, com calma, agora eu preciso…

— Maria, por favor…

— N-não! — Ela chorava muito. — É t-tão bobo…

— Se esses vão ser meus últimos momentos na Terra, não tem nada mais que eu gostaria de estar fazendo agora. Ficar com você e falar de coisas bobas é tudo o que eu poderia desejar… Não me deixa sozinho.

Segurando os soluços, ela lutou para conseguir começar a falar. Deitou-se ao lado dele e começou a acariciar seus cabelos. Ele levantou seu braço e segurou na sua outra mão, acariciando-a também. Ela disse:

— Não foi nenhuma batalha, nenhum acidente ou coisa parecida. Eu só… nasci assim.

— Você nasceu sem um pé?

— É.

— Faz sentido. É por isso que você caminha tão naturalmente.

— É, tive bastante tempo para treinar.

— E por que não treinou dança também?

Maria soltou uma risada, mas engasgou e não conseguiu mais falar. Sua garganta estava entalada. Ela apertou o rosto de Martim com as mãos e começou a beijá-lo, ao mesmo tempo em que chorava copiosamente.

— Ei, não chore. Foi só uma brincadeira.

Ela não respondeu. Também não parou de chorar.

— Me desculpe, Maria. — Ele respirava com dificuldade. — Me desculpe, eu estraguei tud…

Nesse momento, Martim parou de falar.

— Martim.

Nada.

— MARTIM!

Ele não respondia mais.

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Olá, eu sou Daniel.Lucredio!

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