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Quando abri os olhos, a primeira imagem que me veio à mente foi a da faca ensanguentada que eu segurava. Um arrepio percorreu minha espinha enquanto a realidade sombria se impunha novamente.

O horror e a incredulidade deixaram-me atônito diante da cena macabra. Meu coração pulsava descompassado, ecoando em meus ouvidos como um lembrete constante de que eu estava preso nesse pesadelo.

Minhas pernas tremiam involuntariamente, meus dedos se contraíam em uma tentativa inútil de esconder o tremor que percorria meu corpo.

Eu não conseguia compreender como fui arrastado para esse abismo sinistro de eventos, mas uma coisa era certa: precisava encontrar respostas.

A urgência de sair dali tornou-se imperativa. Cada segundo que eu permanecesse naquele lugar aumentava o risco de ser “mal interpretado”, de ser considerado culpado por algo que nem mesmo eu sabia como havia acontecido. Meus pensamentos estavam confusos, mas a necessidade de escapar era clara e indiscutível.

Com um misto de repulsa e determinação, ignorei as náuseas persistentes que tomavam conta de mim. Decidi que era hora de fugir e, com o coração acelerado, olhei ao redor, buscando uma rota de fuga.

Me encontrava em um beco estreito, onde a pouca luz da lua infiltrava-se timidamente, oferecendo um lugar para me esconder. Mantive-me colado à parede, deslizando furtivamente pelas sombras projetadas.

O chão sob meus pés era de terra batida, marcado pelos inúmeros transeuntes que por ali passaram. Ao longe, avistei o brilho fraco de tochas que iluminavam o caminho principal.

O murmúrio da multidão e o tilintar de copos vindos de uma taverna enchiam o ar, anunciando a presença de vida e animação. Do outro lado da rua, a aproximadamente 100 metros de onde eu me encontrava, a taverna se erguia como um refúgio convidativo, um abrigo onde eu poderia me misturar na multidão e desaparecer.

— Chamem os guardas agora! Encontramos mais dois corpos — ouvi alguém gritar.

“Droga! Fique imóvel, Belshazzar! É um maldito guarda! Permaneça nas sombras, esconda-se”.

Concentrei-me por um instante enquanto o guarda soprou seu apito e se afastava correndo. “Preciso correr, mas eu não vou conseguir escapar com asma! Pera, asma!?”

De repente, uma sensação estranha percorreu meu corpo. Senti meus músculos se fortalecerem e meus sentidos se aguçarem. A náusea deu lugar a uma determinação feroz. Eu não era mais o mesmo homem frágil que havia acordado momentos atrás. Algo dentro de mim havia mudado, despertando uma força e agilidade surreais.

Um Novo Eu — era isso que me tornara.

Enquanto ponderava sobre essa mudança, um guarda passou bem ao meu lado. Assustado e ao mesmo tempo fascinado pela minha aparente invisibilidade.

O beco estreito e sombrio criava uma atmosfera opressiva, onde cada ruído ressoava como um sussurro ameaçador. Minha respiração acelerada se misturava aos sons da taverna, enquanto eu observava o guarda seguir adiante, ignorando completamente a minha existência.

Um arrepio percorreu minha espinha, acompanhado de uma sensação de triunfo e perplexidade. Como era possível eu estar tão imperceptível? Eu parecia uma sombra na escuridão, um espectro oculto aos olhos.

Cada detalhe do guarda passando despercebido ao meu lado intensificava minha confusão e fascínio. Será que essa mudança em mim também afetou minha aparência aos olhos dos outros?

Ou talvez, de alguma maneira inexplicável, tenha adquirido a habilidade de camuflagem, tornando-me indistinguível no ambiente obscuro e hostil. Essas reflexões preenchiam minha mente enquanto permanecia imóvel, aproveitando a vantagem momentânea concedida pelo destino ou pela ilusão onírica que me envolvia.

Só agora percebi a proteção de uma capa escura, não consigo distinguir sua cor exata, isso explica como eu me escondera do guarda. Além disso, vestia uma simples, porém eficiente armadura de couro sob o manto. A adaga, ensopada de sangue, permanecia comigo por precaução, embora eu precisasse me livrar dela para evitar mais problemas.

Quando o guarda virou a esquina, um breve pensamento de fuga surgiu, mas o tempo era curto e meus instintos gritavam: “Não se mova!”.

Então, um homem gordo se aproximou na escuridão e, mesmo com sua face quase invisível, reconheci-o como o chefe. Ele ostentava uma imponente armadura de ferro, com uma espada ao lado. “Espera aí! Ele carrega um molho de chaves consigo. Com toda certeza será útil na minha tentativa de fuga”.

Quando o chefe chegou perto dos corpos e os examinou de um jeito minucioso, meu corpo ficou tenso e a adrenalina correu pelas minhas veias. Eu estava pronto para agir.

Em um piscar de olhos, meus sentidos ficaram aguçados, captando cada som mínimo e cada movimento de sombra. Parecia que o mundo ao meu redor desacelerou, enquanto eu me concentrei no que tinha que fazer.

De repente, o homem se levantou e, com uma voz perturbada, disse: “Ele voltou…”. As palavras dele ecoaram pelo beco escuro como um aviso sombrio.

Com a agilidade de um felino, assim que o chefe virou as costas, meu corpo agiu por reflexo. Saltei de uma sombra para outra, silencioso como um fantasma. Cada movimento era preciso e elegante, sem fazer barulho algum. Segurei minha respiração para evitar qualquer som que pudesse me denunciar.

Enquanto me aproximava sorrateiramente, sentia a textura áspera das paredes e o frio que percorria meus dedos. O cheiro do sangue pairava no ar, misturado com a umidade das ruas. Eu estava totalmente concentrado, captando cada movimento e detalhe do ambiente.

E então, minha mão deslizou sorrateiramente em direção ao molho de chaves preso na cintura do guarda. Cada toque foi leve e calculado, sentindo o metal frio na palma da mão.

Meus dedos pulsavam de excitação, sabendo que a vitória estava próxima. Com habilidade nata, peguei o molho de chaves sem ele perceber. Era uma pequena conquista, um passo a mais rumo à minha fuga iminente.

“Okay, como exatamente eu fiz isso?” Eu não conseguia entender como meu corpo conseguia agir de maneira tão suave.

Mas, por mais que essa nova força fosse útil, havia uma sensação de estranheza, como se meu corpo estivesse rejeitando essa mudança. A cada movimento, uma leve dor latejava em meus músculos, e meu coração parecia lutar contra o ritmo frenético imposto por essa nova energia.

Segurando o molho de chaves na mão, uma sensação de triunfo tomou conta de mim. Meus olhos brilharam de satisfação e antecipação. Parecia que uma nova versão de mim mesmo estava nascendo, uma espécie de ladrão habilidoso. As possibilidades eram emocionantes, assim como os desafios que viriam pela frente.

Enquanto o chefe se afastava apressadamente (se é que posso chamar aquela movimentação desajeitada de corrida, dada a dificuldade que seu corpo colossal lhe impunha), defini minha estratégia: regressar ileso àquele quarto e descontar minha ira no Fragmentado, por ter me envolvido nessa perigosa situação.

Sentindo o frio gélido penetrar em minhas mãos suadas, comecei a escalar a parede de pedra, buscando um ponto de observação que pudesse me indicar o caminho a seguir.

Cada impulso rumo ao alto era um desafio, mas eu persistia, decidido a encarar o maldito reflexo que me colocou nessa enrascada. Era preciso sair dali primeiro para clarear meus pensamentos. Maldição, aquelas paredes pareciam não ter fim.

“Reflexo? De onde surgiu esse pensamento? Que reflexo? Eu não me lembro do que eu estava pensando…”

Escalando pelas pedras, senti a emoção correr em meu sangue. Era uma escalada fácil para o meu eu atual. Subi até o telhado e… Caramba! A cidade estava cercada por um muro? Parece uma era medieval, com suas muralhas altas e imponentes erguidas ao redor da metrópole.

Torres pontiagudas perfuravam o céu e os sinos das igrejas ecoavam pelo ar. Só agora, enquanto meus olhos percorriam a paisagem, eu percebia a magnitude do lugar em que tinha chegado.

Mas não havia tempo para contemplações. Eu precisava me apressar. Corri pelos telhados, pulando de um para o outro, sentindo a adrenalina. Meu coração batia acelerado, um ritmo frenético que acompanhava meus passos velozes. Eu não podia desistir. Era uma corrida contra o tempo, uma batalha pela minha liberdade.

— Chamem os guardas! Temos um fugitivo! — ouvi um grito ecoar pelos becos estreitos.

Droga, eu precisava ser ágil e astuto. A cidade estava em alvoroço, a notícia se espalhava rapidamente. Corri, saltando habilidosamente entre os telhados, desafiando a gravidade. Cada salto era uma aposta, cada movimento calculado. Eu me sentia vivo!

Enquanto me movia furtivamente pelos telhados, comecei a perceber mudanças sutis e intrigantes em meu corpo. Minha estatura parecia mais alta, minhas pernas mais longas e fortes. Meus músculos, antes fracos e atrofiados, agora eram firmes e ágeis, permitindo-me saltar com uma precisão e força que nunca imaginei ser possível. 

Minha visão estava mais nítida, capaz de captar os menores detalhes à distância, e meus ouvidos percebiam até os sussurros mais baixos no ambiente. Cada movimento era realizado com uma graça e velocidade sobrenaturais, como se eu fosse um predador adaptado à escuridão. 

Porém, junto com essa nova força, havia uma estranheza persistente, uma sensação de que meu corpo estava se moldando a uma força que minha mente ainda não compreendia totalmente.

Ao mesmo tempo, uma pergunta ecoava incessantemente em minha cabeça: “O que caralho está acontecendo?”


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