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Pela manhã do dia 38, Aurora mal se insinua pelas frestas das cortinas, tingindo o ambiente de um tom suave e luminoso. Amai ergue-se da cama com leveza, o piso frio contra seus pés descalços desperta um arrepio. Sua calça de moletom cinza cai frouxa, enquanto a blusa preta justa molda sua silhueta, trazendo conforto enquanto ela caminha pelo corredor silencioso da casa.

Ao passar pelas paredes decoradas com quadros de familiares, cada retrato parece contar uma história. Olhos sorridentes a observam, alguns pertencentes a parentes já falecidos, enquanto outros ainda fazem parte de seu cotidiano.

Sua boca seca clama por um gole de água, mas algo a desvia do caminho para a cozinha. Quando passa pelo escritório de seu pai, o som suave e rítmico das teclas sendo pressionadas a envolve. Ele está ali, como de costume, imerso no brilho pálido do monitor. Seu foco é absoluto, como se o mundo ao redor deixasse de existir, exceto pela tarefa que ele realiza com precisão incansável.

A xícara de café ao lado, vazia, indica que ele já está ali há horas, em vigília silenciosa.

Curiosa, Amai se aproxima da porta entreaberta, com o olhar fixo na figura dele. Encosta-se na moldura e o observa com atenção. Ele não se move, exceto pelas mãos que correm sobre o teclado. É uma visão familiar e, de certo modo, tranquilizadora.

No entanto, há algo no ar naquela manhã, uma tensão sutil que paira sobre o momento.

— Já de manhã nos trabalhos? — quebra o silêncio com uma voz suave, mas carregada de uma leve provocação.

O pai solta uma risada baixa, abafada pelo bocejo que se segue, seus olhos cansados finalmente encontrando os de Amai por um breve instante. Ele coça a barba, o gesto evidenciando o cansaço acumulado.

— Eu nem dormi! — resmunga, a voz rouca, enquanto suas mãos voltam ao teclado por um momento. Seu corpo está tenso, como se algo maior do que a fadiga o mantivesse inquieto. Não é a habitual insônia causada pelo trabalho; há uma preocupação mal disfarçada nas rugas de sua testa. — Aliás, avisou os rapazes? — Ele levanta a cabeça, os olhos fixos em Amai com uma intensidade que parece buscar uma resposta antes mesmo que ela possa falar.

Amai sente um aperto no peito, aquele olhar a faz hesitar. Morde o lábio antes de responder, desviando o olhar brevemente.

— Ah, eu falei com o Yami… mas o Lewis… — sua voz treme levemente — Planejo dizer hoje… — completa, o nervosismo transparecendo nas palavras.

O pai franze o cenho, como se ponderasse algo que ela não está pronta para ouvir. Ele recosta-se na cadeira, os olhos ainda fixos nela, agora com uma expressão mais grave.

— Por quê? — ele repete, agora em um quase sussurro. A dúvida mal havia escapado de seus lábios, mas a razão o atinge com força logo em seguida. — Esqueci… Ele está em luto, não está?

— Luto? — Amai, pisca, surpresa, o coração acelerando. — Ahn? Hein? — As palavras tropeçam na confusão que toma sua mente.

Ele ergue uma sobrancelha, como se o que segue fosse um fardo pesado demais para ser dito de maneira casual.

— Não sabe? — pergunta, um leve tom de surpresa na voz. — Ah, achei que as notícias corressem rápido… — Coça a barba novamente, como se precisasse de um momento para ordenar os pensamentos. — Yelena Alekseeva foi declarada morta, possivelmente por demônios…

Ela congela, seu corpo reagindo antes de sua mente processar o que acabou de ouvir. Um calor sobe pelo peito até a cabeça, e ela bate a mão na testa, quase em descrença.

— O quê? Como eu não fiquei sabendo disso? Pai… — A voz dela se mistura entre choque e culpa, os pensamentos correndo enquanto tenta juntar os pedaços de informação.

— A ordem deve ter feito um pronunciamento aos parentes ou só aos amigos próximos — Ele a observa com um olhar triste, como se sentisse o peso daquela nova realidade sobre os ombros da filha.

Amai suspira profundamente, sentindo o ambiente ao seu redor parecer menor e mais apertado.

— Ele estava tão feliz…

— Merda! — murmura. — Sinto por jovens como vocês estarem em um mundo tão hostil.…— Ele faz uma pausa, os olhos fixos em algum ponto distante, como se contemplasse um futuro incerto. — É como construir casas de vidro em um campo de batalha, é trágico.

— Infelizmente… imagino que ele deva estar como você, quando o tio se foi… — enquanto diz isso, solta outro suspiro profundo, como se um peso deste fato tivesse finalmente caído sobre seus ombros. Mesmo que pequeno na época, ela sentiu na pele o abandono de seu pai quando caiu em depressão. E mais ainda, sentia um remorso crescente pela felicidade que experimentara no dia anterior, pela distração em relação à seriedade do que significava ser um exorcista.

Rimuru balança a cabeça lentamente, a expressão carregada de compreensão e um toque de melancolia.

— Talvez… todos temos nossa forma de lidar, não é? Às vezes sorrimos para parecermos fortes, às vezes nos afundamos na dor, e outras vezes tentamos nos livrar de tudo, por estarmos mais fracos do que aparentamos — Ele faz uma pausa, olhando para ela com um olhar que reflete uma compreensão profunda e cansada. — Julgar e comparar é difícil; cada um, lida à sua maneira, certo?

— É… — Amai concorda, uma determinação crescendo em seu tom, e uma ideia surge em meio à tempestade de sentimentos. — Talvez não seja o caso, mas vou chamar o Yami para vê-lo. Acho que, para qualquer pessoa, sentir que tem alguém ali, mesmo que não sejamos tão próximos, é algo reconfortante! — Ela se vira imediatamente, um brilho de decisão em seus olhos. — Te amo, tá? Eu… volto mais tarde!

— Certo, salvadora… — O pai se ergue, sua voz carregada de um tom mais leve e afetuoso. — Vou esperar você, mas não demore muito. Eu, sua mãe e seu irmão comemoraremos as boas novas dele, tudo bem?

— Pode deixar! A mamãe não vai se decepcionar, e nem o mano! — Amai pisca para ele antes de sair apressada. Segue para a cozinha, toma um copo de água rapidamente e, em seguida, se dirige ao seu quarto para se trocar, preparando-se para encontrar Yami e trazer um pouco de alívio e solidariedade ao coração aflito de Lewis.

Ao menos, Amai pensa que conseguirá trazer algum alívio, mas mal sabe o que realmente a aguarda. Ele está enfrentando uma dor profunda, um sentimento que não pode ser aliviado apenas por palavras ou gestos de boa vontade.

Ele se sente como um palhaço que, após fazer a plateia rir, encontra-se sozinho, sem ninguém para devolver-lhe o ânimo perdido. Ou como um herói colocado em uma enrascada, percebendo que apenas ele está de pé, vigia solitária em prol de um mundo que parece indiferente.

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