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Ayasaka começou a observar a árvore, que se tornava distante à medida que cavalgavam em direção ao desconhecido para ela.

— Está uma tarde até que bem tranquila. Me surpreende. Talvez a benção de alguma Divindade esteja nos protegendo, o que acham? — Sannire comentou enquanto cerrava o olhar.

“Geralmente, quando alguém comenta que está tudo tranquilo, algo acontece em filme”, Ayasaka pensou com um olhar desconfiado.

— Já já chegaremos. Relaxe, mestre… — Tuphi comentou enquanto olhava levemente para trás.

Ayasaka suspirou a medida em que admirava os céus de nuvens excêntricas enquanto pensava em Fos.

“Será que ele está bem?… Bobagem. É um dragão. Nem sei por que estou preocupada, mas estou.” A garota olhou para frente e começou a observar a viagem em silêncio.

A noite se desenhava nos gramados azulados de Ataraxia, transformando o cenário em uma tapeçaria etérea de sombras e nuances. O cansaço envolvia Ayasaka como um manto, tornando cada passo mais pesado.

— Mestre, estamos chegando — Tuphi sussurrou delicadamente para Ayasaka, cujos olhos lutavam contra o sono iminente.

— Ahn? Ah, sério? — Ayasaka respondeu, lentamente emergindo de um estado entre a vigília e o sonho. — Está ficando frio né? nossinhora.

— Fique em paz, pois é logo ali. — Tuphi apontou para uma construção peculiar enroscada no tronco de uma árvore gigantesca. A estrutura em espiral, iluminada por luzes amareladas e suaves, parecia um eco de um conto de fadas, moldada pela magia da floresta.

— Eita poxa… — Ayasaka murmurou, maravilhada ao olhar para cima. A construção, com seus detalhes intrincados, parecia uma extensão natural da árvore-mãe que a sustentava. Luzes amarelas dançavam ao longo da espiral, proporcionando uma aura acolhedora.

Entretanto, à medida que o grupo se aproximava, a ilusão de encanto começava a desvanecer. De perto, o Albergue Yazuou revelava marcas do tempo e da natureza, suas paredes de madeira desgastadas e algumas partes cobertas por musgo. O brilho das luzes amarelas, visto de longe, parecia menos mágico quando confrontado com a realidade mais próxima.

Tuphi, ao notar a expressão surpresa de Ayasaka, soltou uma risada leve e explicou:

— Este é o Albergue Yazuou, um refúgio mágico para viajantes como nós.

À medida que se aproximavam, Ayasaka começava a perceber as imperfeições e a decadência do lugar. Entretanto, a magia que ainda pairava no ar, agora misturada com a melancolia de um tempo passado, conferia ao albergue um charme único, como uma relíquia viva do passado de Ataraxia. Cada ranger de tábua e sombra projetada pela lua criavam uma atmosfera de conto de fadas envelhecido, onde a beleza era encontrada na resiliência diante das marcas do tempo.

A construção, inicialmente uma visão transcendente que parecia manifestar os sonhos entrelaçados com a essência de Ataraxia, rapidamente revelava uma face mais sombria à medida que Ayasaka e seus companheiros se aproximavam. A espiral, outrora adornada com entalhes mágicos, estava agora marcada pelo desgaste do tempo e sinais de uma hostilidade que se ocultava sob a superfície.

A luz amarela, que antes pulsava em harmonia, agora lançava sombras distorcidas e ameaçadoras ao redor da estrutura em deterioração. Fadas, outrora graciosas dançarinas, pareciam agora sombras frágeis, suas figuras distorcidas pela aura opressiva que pairava.

Enquanto se aproximavam, as varandas suspensas e as pontes de cordas trançadas revelavam um estado perigoso de instabilidade. Plantas exóticas, antes exuberantes, agora tomavam uma aparência mais sinistra, dando ao albergue uma atmosfera de beleza selvagem, porém corrompida.

A entrada principal, outrora um portal encantado, agora era marcada por fissuras e uma sensação de presença maligna. Ao cruzar o limiar, Ayasaka sentiu uma mudança na atmosfera, mas era uma mudança para algo mais sinistro, como se o próprio albergue estivesse observando com olhos malevolentes.

No interior, a mistura de modernidade e rusticidade revelava-se mais para o lado decadente. Móveis de madeira, antes polidos, agora pareciam carregados de uma aura pesada e desgastada. Os tapetes tecidos à mão, embora ainda bonitos, exibiam padrões distorcidos e manchas que pareciam sussurrar histórias de tragédia.

O aroma que flutuava pelo ar indicava a presença de uma cozinha, mas era um odor mais amargo, como se algo tivesse se infiltrado na essência dos alimentos. A trilha sonora, antes relaxante, agora tinha um tom discordante, como se os ecos das melodias passadas estivessem impregnados de desespero.

Ao final do corredor central, a recepção esculpida em madeira mantinha uma aparência de grandeza passada, mas as marcações no mapa de Ataraxia pareciam distorcidas e confusas, sussurrando enganos para os desavisados.

Apesar da hostilidade que emanava do Albergue Yazuou, Ayasaka sentiu-se presa à sua atmosfera, como se estivesse adentrando um reino onde os limites entre o real e o surreal não só estavam entrelaçados, mas também eram desafiadores e perigosos.

O ambiente na recepção do Albergue Yazuou parecia impregnado com uma tensão palpável, como se o próprio ar estivesse carregado de energia hostil. Ayasaka observou atentamente enquanto Sannire realizava a transação com o homem atrás do balcão.

— Init Tibt Va Dilun. — Sannire proferiu as palavras com respeito, uma saudação que Ayasaka não compreendia completamente, mas que evocava um certo ar de formalidade. O homem atrás do balcão respondeu de maneira monótona, como se a interação fosse apenas um protocolo. — Preciso de três quartos.

Ayasaka contou as pessoas presentes: Sannire, Beatrice, Tuphi e ela própria. Três quartos solicitados para quatro pessoas. A confusão e a curiosidade se refletiram no rosto de Ayasaka.

— Três? Estamos em quatro! — Ela exclamou, buscando esclarecimentos.

— Relaxa, viajante. Um quarto para todos, então. Fica até mais seguro para todos nós. — Sannire tentou amenizar a situação, evitando chamar Ayasaka de Cavaleira diante dos olhares curiosos e hostis que começavam a se acumular na recepção movimentada.

O homem atrás do balcão informou o preço: trinta e sete cristais reluzentes. Uma quantia considerável para um quarto. Sannire, demonstrando confiança, colocou a quantia na mesa, apoiando-se casualmente com o braço, mesmo diante dos olhares intensos e desconfiados dos outros presentes.

— Trinta e sete… Tudo bem. A chave, por favor. — Sannire solicitou a chave, buscando concluir a transação rapidamente.

— Por que eles estão olhando tanto? — Ayasaka sussurrou para Tuphi, sentindo a atmosfera pesada que se instalava ao redor.

— Trinta e sete cristais é, digamos que, muito para um quarto só. — Tuphi explicou, mantendo-se atenta à crescente tensão no ambiente. A percepção aguçada de Tuphi captava não apenas as palavras, mas também os olhares carregados de desconfiança que eram dirigidos ao grupo.

Sannire pegou a chave com uma atitude confiante, indicando às garotas que o seguissem. O grupo se dirigiu à taverna do Albergue Yazuou, imersa na iluminação precária proporcionada por cristais de baixa qualidade. O chão rangia sob seus passos, e o ambiente era permeado por uma atmosfera ruidosa, com diversos indivíduos de aparência duvidosa presentes.

Escolhendo uma mesa no canto da taverna, um pouco afastada do frenesi, Sannire observou tudo ao seu redor com um desdém evidente. As garotas se acomodaram ao redor dele.

— É… parece que os tempos mudaram, né? — Sannire comentou, forçando um sorriso no rosto. — Da última vez que eu vim aqui, era bem diferente.

— Vivemos em uma era sem Deuses. Não me surpreende este lugar estar desta forma. — Beatrice acrescentou, sua voz carregada de uma certa melancolia. O ambiente na taverna, que outrora fora um refúgio acolhedor, agora refletia as marcas de uma era transformada e decadente. O olhar desdenhoso de Sannire indicava que a atmosfera hostil não era exclusividade da recepção, mas permeava todo o albergue.

— Init Meowbt, viajantes. O que vocês irão pedir esta noite? — Uma pequena garota com orelhas de gato, cuja pelagem se assemelhava à de uma onça, aproximou-se do grupo de Ayasaka. Ela trazia consigo uma lista que colocou sobre a mesa com um olhar muito travesso.

Sannire encarou a garotinha e puxou a lista para perto dele, revelando ser o menu da taverna.

— Quatro Ensopados de Ryuto, por favor. — Sannire respondeu à pequena garota com um olhar sério, mas ela pareceu não ligar, lambendo as costas de sua mão.

— Meowtendido. Alguma bebida para acompanhar?

Sannire olhou para as três, e Ayasaka desviou o olhar, mostrando claramente que estava com sede.

— Sim, dois sucos de rango e duas taças de vinho, por favor. — Sannire respondeu à atendente, que tinha uma cauda alaranjada com a ponta marrom e ficava em pé atrás dela o tempo todo.

Ayasaka fez um sinal de positivo com a mão na direção de Sannire, que retribuiu com um sorriso descontraído, aliviando a expressão séria.

— Desculpa, Cavaleira. Esses lugares pós Deuses me estressam. Coisa do meu povo talvez. — Sannire levou a mão para a nuca com uma leve risada.

— Tudo bem, imagino. — Ayasaka respondeu enquanto observava a garotinha que se retirava do local em um andar cheio de ginga. — Por que uma criança trabalha aqui? — Ayasaka perguntou, confusa.

— Não é uma criança. É uma Nekomata. Cadis adultos geralmente não passam dessa altura. — Beatrice explicou enquanto olhava para Ayasaka, que estava com dúvida.

— Quero uma Nekomata de estimação como faz?. — Ayasaka comentou, ainda olhando para a garotinha fofa.

— Desculpa, Mestre. Sinto muito ser uma imprestável. — Tuphi disse com uma voz chorosa.

— Não! Não! Não foi isso que eu quis dizer, Tuphi, perdão! Perdão! — Ayasaka juntou as mãos na frente do rosto, implorando o perdão da Lobian triste à sua frente, que virava o rosto em desdenho.

— Hahaha! Vocês são um barato juntas. — Sannire comentou com um sorriso genuíno em seu rosto.

Algum tempo depois dessa confusão e de algumas conversas paralelas, a pequena garota voltou trazendo uma bandeja claramente maior que ela em suas mãos, com as bebidas e as comidas.

— Aqui está, meow. Bom meowpetite. — A garotinha deixou delicadamente a bandeja sobre a mesa e fez uma pequena reverência antes de se retirar.

— Por que ela mia tanto? — Ayasaka perguntou, curiosa.

— Ela tem um sotaque nativo de Cadis. Eles geralmente são bem patriotas com isso. — Sannire respondeu à garota.

— Por que as Te Te não têm? — Ayasaka indagou novamente.

Sannire pegou a taça de vinho e deu seu primeiro gole.

— Simples. Elas nunca tiveram muito contato com outros de sua raça, exceto seus pais. — Sannire respondeu enquanto colocava a taça de madeira na mesa. — Sirvam-se.

— Elas não têm a maldade e malandragem dos Cadis. — Tuphi rosnou ao lado de Ayasaka enquanto pegava o copo de suco. Ayasaka deu um pequeno sorriso com a reação da garota lobo.

— Isso foi racista, Tuphi. — Ayasaka respondeu.

Tuphi se engasgou com a bebida ao ouvir as palavras de Ayasaka.

— É brincadeira, besta. — Ayasaka disse enquanto Tuphi a olhava com cara de choro.

O clima ameno da taverna foi interrompido pela chegada de dois indivíduos que carregavam uma aura pesada. Sannire, percebendo a tensão, manteve-se atento, levando a mão à cintura de forma instintiva, pronto para agir se necessário.

— Posso ajudar, senhores? — Sannire perguntou educadamente, tentando dissipar a ameaça iminente.

Os homens, de semblantes sombrios e ignorantes, simplesmente encararam Sannire, agindo como se ele fosse invisível. Ayasaka, insegura, desviou o olhar para o chão, sentindo-se desconfortável sob o olhar penetrante dos recém-chegados.

— O que carregas debaixo desta capa, bela moça? — Um dos homens disse com um sorriso malicioso, lançando um olhar sugestivo em direção a Ayasaka, referindo-se ao volume que Kazewokiru fazia em suas costas. Sua mão se aproximava da garota, insinuando uma intenção perturbadora. — Parece um violão, estaria eu errado? Geralmente bardas são ótimas prostitutas em albergues.

Os homens riram entre si das ofensas sem escrúpulos enquanto Ayasaka abaixava a cabeça em silêncio apertando as mãos sem reação.

— Deixe a Mestre em paz. — Tuphi interveio, rosnando enquanto dava um tapa na mão do homem, posicionando-se protetora diante de Ayasaka. Beatrice, ao lado de Tuphi, estava pronta para agir.

— Ora, o que temos aqui? Uma cadela? — O homem zombou ao ver as presas de Tuphi. — Pagou quanto nesse escravo aí jovem prostituta? — Acrescentou, com malícia em sua voz.

A situação ficava cada vez mais tensa, e Sannire não hesitou em agir ao ouvir o homem de aparência leviana chamar Tuphi de escravo e continuar chamando Ayasaka de prostituta. Levantou-se imediatamente e interveio, posicionando-se entre os homens e as garotas, usando sua presença física para afastá-los.

— Vamos deixar as garotas em paz, cavalheiros, por favor, sem palavreados de baixo calão, sei que são melhores que isso. — Sannire pediu, levando a mão ao peito com um sorriso fraco. Ele era visivelmente maior que os homens, de aparência robusta e rosto marcado por cicatrizes e rugas.

— E quem seria você, seu ninguém? — O homem da esquerda desdenhou, desafiando Sannire. O sorriso de Sannire desapareceu, dando lugar a um olhar acinzentado.

— Quem… sou eu? — Sannire sorriu novamente, mas dessa vez um sorriso sádico aflorava em seu rosto.

Em um movimento brusco, Sannire levantou os dois homens pelos colarinhos, pressionando-os contra a parede com uma força impressionante. A bandeja sobre a mesa saltou ligeiramente, testemunhando a violência contida naquele momento. A iluminação precária do ambiente acentuava a atmosfera indesejada.

— Sou alguém cujo nome vocês se arrependeriam de saber. Acho que nem suas vidas seriam o suficiente para saber meu nome, seus ratos de merda. — Sannire sussurrou junto aos ouvidos dos homens com uma voz sombria, mantendo-os suspensos. A visão de seus cabelos brancos e orelhas caídas deixava claro que ele não era um oponente a ser subestimado.

— Esse sou eu, entenderam, cavalheiros? — Sannire deu um sorriso falso na direção dos homens, colocando-os no chão.

Os dois homens aparentemente ameaçaram levar as mãos a cintura para alcançar algum tipo de objeto cortante mas desistiram em meia ação, bufando.

— Agora, por favor. Será que podem deixar as damas em paz? — Sannire ajeitou o colarinho dos homens, que permaneciam imóveis.

— Tsc. Um grupinho desses nem vale a pena perder o tempo. — Os homens responderam, acuados, enquanto se afastavam de costas.

            Com a ameaça afastada, Sannire permitiu-se um sorriso gentil, mas suas palavras eram firmes.

— Se retirem do albergue imediatamente. Não quero ver nenhum dos dois novamente nos próximos Solus. Nunca mais ofendam duas belas damas da maneira que fizeram esta noite seus vermes, em um caso normal, vocês pagariam com seu sangue. — Sannire instruiu, emitindo um aviso claro e definitivo. Os homens não ousaram contestar; em vez disso, dirigiram-se às escadas da taverna, cuja iluminação era proporcionada pelo sonoite iridescente, desaparecendo na penumbra do estabelecimento.

O ambiente tenso que se instalara momentos antes começava a dissipar-se. Sannire, voltando sua atenção para as garotas, forçou um sorriso tranquilizador.

— Peço desculpas por qualquer transtorno. Essas coisas são comuns por aqui, infelizmente. — Sannire comentou, tentando minimizar a preocupação que pairava no ar.

— Está tudo bem, Sannire. Obrigada por nos proteger. — Ayasaka expressou sua gratidão, e Tuphi e Beatrice concordaram em silêncio.

— Não mencionem. Agora, vamos aproveitar a noite. Não é sempre que estamos em um lugar tão movimentado. — Sannire sugeriu, tentando retomar o clima descontraído que havia sido interrompido. O grupo concordou, e a atmosfera na taverna gradualmente voltou ao normal, embora com um olhar mais atento de alguns dos presentes na direção de Sannire e suas companheiras.

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