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A sacada do Albergue Yazuou, sustentada pelos galhos robustos de uma árvore centenária, se erguia como uma extensão encantada do próprio ambiente. A madeira envelhecida, polida pelo toque do tempo, contava histórias silenciosas de viajantes e contos mágicos. A brisa noturna dançava entre os bancos de madeira, sussurrando antigas melodias que ecoavam pelos recantos da sacada.

O entrelaçar dos galhos proporcionava uma atmosfera única, como se a própria árvore compartilhasse sua sabedoria com aqueles que se aventuravam naquele refúgio elevado. Lanternas mágicas pendiam delicadamente, lançando uma luz suave sobre o espaço, criando sombras dançantes que conferiam um ar de encantamento.

Os bancos de madeira, cuidadosamente dispostos ao redor da sacada, convidavam os visitantes a contemplar a vastidão dos campos e das colinas que se estendiam até onde os olhos alcançavam. Cada banco era uma testemunha silenciosa de inúmeras histórias, oferecendo um descanso merecido para aqueles que buscavam refúgio no Albergue Yazuou.

Ayasaka, ao se espreguiçar naquela sacada etérea, sentia-se imersa na magia do lugar. Os ventos, rebeldes e cheios de segredos sussurrantes, traziam consigo o aroma da noite e o murmurar suave das folhas. Era um convite à contemplação, um momento roubado da correria do mundo exterior.

Tuphi, ao lado de Ayasaka, observava com olhos curiosos, suas orelhas de lobo erguidas para captar cada nota da sinfonia noturna. A sacada, com sua estrutura entrelaçada e bancos convidativos, tornava-se um refúgio não apenas para o corpo cansado, mas também para a alma sedenta de serenidade.

 — Eu ainda não sei o que falar para este lugar. — Ayasaka comentou.
Tuphi observava Ayasaka em silêncio com as mãos atrás do quadril e um sorriso estampado em sua feição.

— Mestre, como era o seu mundo…?

— O meu mundo…?

Ayasaka caminhou até a beirada da sacada onde havia uma grade protetora de madeira e se escorou, olhando para as colinas a fundo que se perdiam em meio a escuridão da noite, sendo a única fonte de luz a luz da lua que estavam bem a cima delas.

— Você é bastante curiosa né, Tuphi? — Ayasaka riu.

— Me perdoe minha falta de modos.

— Não há nada para perdoar, Tuphi. Perguntas são naturais, e eu também ficaria curiosa com uma menina que veio de outro mundo. — Ayasaka sorriu gentilmente. — Meu mundo… era muito diferente. Não havia magia como aqui, não existiam criaturas fantásticas, pelo menos não que eu soubesse. Era um lugar mais… simples, mas também cheio de desafios e descobertas.

Tuphi se aproximou da beirada da sacada, ficando ao lado de Ayasaka.

— Me conta mais! Como eram as suas terras?

Ayasaka fechou os olhos por um momento, relembrando.

— Era um mundo moderno, cheio de tecnologia. Grandes cidades, arranha-céus, carros que se moviam sem a necessidade de cavalos, e todos estavam sempre conectados por dispositivos pequenos que cabiam nas mãos que possuíam todo o conhecimento do mundo. Tínhamos computadores, telefones, tudo instantaneamente acessível. Mas, ao mesmo tempo, havia uma certa solidão. As pessoas estavam conectadas digitalmente, mas pareciam cada vez mais distantes umas das outras.

Tuphi observava Ayasaka com fascínio, tentando imaginar esse mundo desconhecido.

— Parece muito diferente de Ataraxia. Você sente falta?

Ayasaka suspirou, ainda com os olhos fixos na escuridão além da sacada.

— Às vezes, sim. Havia coisas boas, mas também muita confusão e pressão. Aqui, em Ataraxia, tudo é mais simples, mais conectado à natureza. É como se o mundo ainda fosse mágico. Sinto falta de algumas comodidades, mas, de certa forma, me sinto mais viva aqui.

As duas permaneceram em silêncio por um momento, absorvendo a tranquilidade da noite. A lua derramava sua luz suave sobre a paisagem, e o Albergue Yazuou parecia uma joia entre as árvores.

A brisa noturna acariciava a pele de Ayasaka enquanto ela permanecia na sacada, observando a escuridão que se estendia além do Albergue Yazuou. Seus olhos distantes denunciavam uma carga emocional que ela relutava em compartilhar, mas a presença tranquila de Tuphi ao seu lado indicava um espaço seguro para essas confissões.
Ayasaka suspirou.

— Em Tóquio, as luzes da cidade de neon eram como uma cortina brilhante que encobria as sombras da minha própria melancolia. Eu tinha alguém, alguém que era meu pilar. Era como uma grande estrela cadente que ofuscava tudo a volta com sua intensidade — Ayasaka murmurou, seus olhos fixos em algum ponto distante no céu.

A lembrança desse “alguém” pairava sobre ela como uma sombra, uma figura que um dia foi um apoio fundamental em sua vida. A cidade movimentada e impessoal, no entanto, acabou por corroer as conexões humanas mais genuínas.

— Mesmo brilhando intensamente ao meu lado, senti que o rastro dessa estrela se perdeu com o tempo. As luzes brilhantes de Tóquio não podiam iluminar as partes escuras desse astro, muito menos da minha alma. — Ayasaka suspirou, as palavras carregadas de uma tristeza profunda.

Tuphi permanecia ao lado dela, sem interromper o relato doloroso de Ayasaka.

A melancolia nas palavras de Ayasaka ecoava na sacada do Albergue Yazuou. Ela continuou a contar, sua voz carregada de nostalgia e dor.

— Esse alguém… era realmente como uma estrela cadente que cruzou meu céu em Tóquio. Brilhava intensamente, iluminando as partes escuras da minha vida. Mas com o tempo, como todas as estrelas cadentes, começou a perder seu brilho. Foi como se a luz que nos conectava, que tornava tudo mais suportável, se apagasse lentamente. — Ayasaka olhou para as estrelas, como se buscasse uma explicação nos astros. — Um dia, essa estrela simplesmente desapareceu, e eu fiquei sozinha na escuridão da cidade mais iluminada do meu antigo mundo.

O peso das palavras de Ayasaka pairava no ar, e Tuphi permanecia em silêncio, sentindo a complexidade das emoções da garota. A noite abraçava suas confissões, e até mesmo as estrelas pareciam cintilar em uma espécie de simpatia cósmica.

— Essa estrela cadente era… meu irmão mais velho. Muito do que eu sou atualmente é graças ao seu brilho. No começo, eu o culpava por ter me abandonado, e também o culpava por tudo que aconteceu comigo após sua partida, mas… conforme cresci, entendi que uma estrela não tem culpa da intensidade que seu brilho alcança.

Ayasaka olhou para as estrelas, como se buscasse uma conexão com seu irmão perdido.

— Ele foi meu guia, meu protetor, meu mentor. Seu brilho me mostrou o caminho quando eu estava perdida na escuridão. Mas, como todas as estrelas cadentes, ele teve que seguir seu próprio curso, e antes de partir, eu tive de cuidar de um astro fragilizado que outrora foi uma brilhante estrela, sabe? — Ayasaka fechou os olhos por um momento, recordando os momentos compartilhados, segurando as lágrimas com uma voz turva e gaguejada. — Às vezes, acho que ele se tornou uma estrela no verdadeiro sentido da palavra, a minha estrela! Iluminando o céu noturno para que eu nunca me perca completamente.

Tuphi permanecia ao lado de Ayasaka, sua expressão uma mistura de compreensão e empatia. A brisa noturna parecia carregar as palavras de Ayasaka para além da sacada, como se o próprio vento quisesse levar essas memórias ao universo.

— Talvez, em Ataraxia, eu esteja mais próxima dele do que jamais estive em Tóquio. Aqui, entre as criaturas mágicas e a natureza encantada, sinto a presença dele de uma forma diferente. Não como uma ausência, mas como parte integrante deste mundo mágico que abraço agora, como se ele estivesse vivo nessa terra sabe?, Vivo e perto de mim. Estou feliz com essa sensação.

A luz das estrelas, como testemunha silenciosa, destacava-se no cenário noturno, lançando seu brilho suave sobre a figura de Ayasaka. A narrativa cósmica ecoava em cada centelha, contando uma história de perda, aceitação e renascimento. Enquanto Ayasaka esfregava o rosto delicadamente com as mãos, podia-se sentir a energia das estrelas a envolvê-la, como se estivessem tecendo um fio de esperança no tecido do cosmos.

Com os olhos ainda cerrados, Ayasaka parecia mergulhar nas profundezas do espaço sideral, onde as estrelas eram guardiãs de memórias e laços eternos. O céu noturno, pontilhado de constelações, revelava um espetáculo de luzes que transcendia o tempo e o espaço, um lembrete de que as conexões verdadeiras não conheciam fronteiras físicas.

A serenidade da noite envolvia Ayasaka, como se cada estrela fosse um fragmento do vínculo que ela compartilhava com seu irmão. Mesmo na separação cósmica, a conexão persistia, manifestando-se na luz que persistia no céu noturno. Era uma dança celestial, onde as estrelas eram os protagonistas de uma história que transcende a compreensão humana.

Ao esfregar o rosto, Ayasaka acolhia não apenas as lágrimas da saudade, mas também a aceitação serena da jornada que a vida havia traçado. O renascimento, como os ciclos das estrelas, era uma constante no universo, e Ayasaka, na sacada do Albergue Yazuou, estava imersa nesse fluxo eterno de transformação e crescimento, ciclos.

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