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Capítulo 12 – Comunicação Difícil

— ahhh, É TÃO bom ter alguém pra conv — no meio do discurso, a Bruxa levanta a mão indicando para ele parar — …Grossa.

Sem incomodar-se com o comentário do cadáver, ela entrelaça as mãos e por alguns segundos considera por onde começar. Decidindo apontar para o ambiente ao redor deles com um olhar inquisitivo.

Apesar de não expressar facilmente, Bruno parecia naturalmente colocar grande ênfase na sua voz sobrenatural, mostrando claramente que ele está começando a gostar, sempre ter que deduzir o lado da conversa da Bruxa.

— Humm… Você… Não lembra como a instalação ficou desse jeito? — ela balança a cabeça indicando um “não” — Interessante.

“Conversar com ela é como jogos de puzzles, desafiador, refrescante e imensamente divertido. Alguns frustram-se com facilidade neles… Não consigo entender esse tipo de gente.” Apesar de pensar dessa forma, seu amor por “jogos de puzzle”, vem mais do fato deles alimentarem o ego de Bruno, do que qualquer coisa.

Bruno procede a explicar sobre a aparição da Maldição do Silêncio, e o subsequente massacre dentro da instalação. Simplificando a parte da conversa que ele teve com ela, para um: “Eu te acalmei”.

— …Em resumo, é isso! E se tem algo que posso te garantir, é que 90% da instalação foi de vapo. Só alguns que conseguiram sentir a aparição da maldição antes dela aparecer e se mataram rápido o suficiente… E um garoto G7, eu acho?

A Bruxa ouve atentamente a explicação com uma expressão complicada.

“Lá vamos nós… o que seria essa nova emoção Bruxa. Pera…”

O pouco do que têm do rosto da Bruxa é similar a modelos humanoides, com pele sintética e a estrutura facial comum aos humanos, desde a velha era. Não é como os modelos militares, sem expressões faciais e maximizando eficiência para o combate.

O real problema é que a Bruxa não possui a parte inferior do rosto, fazendo suas expressões faciais difíceis de serem lidas, caso ela não esteja sentindo algo extremamente óbvio.

No entanto Bruno adorava um desafio.

A Bruxa tinha um olhar distante e focado na lanterna entre os dois, ela também fechou os olhos por alguns segundos, depois de Bruno falar do momento que a maldição apareceu.

“Isso é… Culpa? CULPA?!”

— Eu não consigo acreditar. Você tá se sentindo culpada pela morte de alguns imbecis que vieram comigo, para te caçar, e as pessoas que te mantinham presa.

Um aceno com a cabeça, confirma a suposição.

A Bruxa pisca algumas vezes e passa as garras pelos cabelos, sem glândulas lacrimais, ela tem que guardar aquela angustia dentro do peito.

— Por que? Por que caralhos você deveria se importar com qualquer um que morreu aqui! Praticamente todo mundo, que tá morto, queria te explorar de alguma forma ou outra, até eu tô incluso nessa!

A Bruxa olha irritada, para seu companheiro cadavérico.

— …O que?

— AH! Certo! Certo! Perguntas complexas, são difíceis né?

Com uma expressão mais suave e melancólica, ela balança a cabeça de um lado para o outro, e fecha um punho, puxando um dedo de cada vez.

— humm… Você quer que eu abandone o assunto?

Depois de alguns segundos, ambos ficam em um desconfortável silêncio. Bruno decide dar um espaço para a Bruxa. Mesmo que achasse loucura se sentir culpado por pessoas que só queriam seu mal, ele está muito ocupado amaciando o próprio ego, por ter acertado o que ela quis dizer.

Finalmente a Bruxa, levanta o olhar cheio de cansaço, ela aponta interrogativamente, na direção do cadáver.

— Ohhh! Então você quer saber sobre mua? Que honra… O que você quer saber do seu ilustre colega? Como eu fiquei mais acabado que gambá no meio da estrada? Não, isso eu acho que é óbvio que foi obra da nossa amiguinha silenciosa. Então você quer saber… Como eu consegui sobreviver, com o meu corpo nesse estado! Certo?

Bruxa parece detestar o jeito que Bruno fala de si mesmo, não escondendo o quanto ele se valoriza, e treme um pouco quando ele cita a maldição de forma tão casual. No fim, ela concorda com a hipótese do cadáver.

— …Eeehhh. Quer saber, eu não tenho nada a perder mesmo né, não como se você fosse dar com a língua nos dentes…

“Um dos benefícios de não ter língua, ou cordas vocais… Ou voz, vai saber como funciona a biologia da Bruxa” Bruno guarda esse pensamento sórdido para si.

— Eu sou um amálgama.

Por alguns segundos a Bruxa encara Bruno, esperando algo a mais. Depois de alguns segundos, ela inclina a cabeça, confusa sobre a declaração.

— Você não tem medo? ou ódio? Seja lá o que vocês humanos sentem quando veem um do meu “Tipo” — A última palavra é carregada de veneno, vinda de antigas experiências e velhas cicatrizes.

A Bruxa parece ficar ainda mais confusa.

— Nem. Fo. Den. DO! AHAHAHAHAHA! EU REALMENTE SOU SORTUDO HAHAHAHA — o cadáver balança, junto da risada distorcida do amálgama, como uma marionete macabra.

Uma voz artificial, sem um pingo de emoção, ecoa pelos corredores, chegando até os dois ali no armazém.

— Amálgamas são: conjuntos de mentes classe H-12, ou seja, humanoides com nível de inteligência nata de 12 na escala de Basara. O alto nível de hostilidade dirigido a eles, pode-se inferir, que deve-se a forma como eles adicionam mentes ao seu coletivo. Eu discordo, acredito que o motivo principal de pessoas serem hostis a amálgamas, é mais por suas personalidades difíceis no melhor dos casos, e insuportáveis nos piores, do que a coleta de mentes.

A Bruxa e Bruno viram-se na direção da voz.

Da escuridão uma pequena sombra aproxima-se da luz da lanterna.

Um besouro metálico, do tamanho de um cachorro pequeno, e de cor laranja com detalhes pretos. Os olhos e pequenas aberturas da criatura brilhavam com uma cor esverdeada.

— Um besouro… Acabou de me delatar. É isso, esse é o fundo do poço. Se ficar pior que isso eu mesmo estoro meus miolos.

As asas do besouro abrem-se, ele faz um trajeto zonzo e demorado até chegar no ombro da Bruxa.

— Sinto muito pela minha demora, Sra. Sundown, a aparição súbita de uma maldição, foi algo inesperado. Minha oferta terá de sofrer mudanças, devido ao pátio de naves ter sido grandemente afetado, todas as naves estão destruídas ou cheias de armadilhas deixadas pela maldição.

“Sundown?” Bruno pensa “Nomes em inglês são bastante incomuns, até onde eu sei… Mas não para executivos de Megacorps!”

O escaravelho continua:

— No entanto, irei pensar em uma solução, que deve ser rápida o suficiente antes que os engravatados da Zanza cheguem aqui. Você ainda deseja seguir a minha oferta?

A Bruxa afirma com uma convicção sem hesitar. Bruno se impressiona com a determinação da sua colega, que ele via pela primeira vez, desde que ela acordou.

“Essa postura pronta para pular na garganta de alguém, o olhar de fúria controlada e a falta de hesitação é muito, muito diferente da Bruxa tristonha. Esta seria a Bruxa real? Talvez a Bruxa assassina! Me pergunto se-”

As deduções de Bruno são interrompidas, um puxão levanta seu corpo morto, e logo ele está sob o ombro da Bruxa.

— OPA! OPA! QUE QUE ISSO?!

— A Bruxa aparentemente tem seus próprios planos, já que ela nem quis esperar pela minha solução para nosso predicamento. Imagino que você tenha um papel nesses planos, amálgama.

— É SR. Bruno para você, seu roladorzim de bosta. E DESDE DE QUANDO EU CONCORDEI COM ISSO!

A Bruxa pega a lanterna que iluminava a sala e começa a procurar a saída com a ajuda do pequeno besouro.

Ignorando os xingamentos e resistência do amálgama, a Bruxa e seu pequeno bando atravessam a macabra instalação.

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Olá, eu sou Mulo!

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