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Conto com a presença de vocês.

Feito isso, boa leitura.


Quando me deitei na cama, o toque suave do travesseiro acariciou minha cabeça, criando uma sensação de conforto que me envolveu. O silêncio proporcionou o ambiente ideal para que meus sonhos desabrochassem, dando vida a um universo desconhecido dentro da minha cabeça.

Para mim, os sonhos não eram apenas pensamentos fantasiosos. Eles serviam como uma abertura perigosa para a fuga e uma porta de entrada para um universo concebido nos recônditos mais profundos da minha mente.

Esta noite, no entanto, o retorno foi particularmente angustiante. Os limites do imaginável ficaram embaçados enquanto eu mergulhava em um mundo onde a realidade se desvanecia, revelando uma paisagem flutuante moldada pelos caprichos caóticos do meu próprio fardo.  

O sonho me atingiu como um trem de carga, destruindo a frágil paz do sono. Os contornos antes familiares de minha paisagem mental se transformaram em uma paródia grotesca da realidade. As paisagens exuberantes não existiam mais. Em seu lugar, um terreno baldio desolado se estendia até onde a vista alcançava.

Por toda essa extensão árida, figuras cambaleantes, não homens, mas simulacros distorcidos da humanidade. Seus corpos, antes recipientes de vida e riso, eram agora contorções obscenas de carne e osso. Os membros se projetavam em ângulos não naturais, a pele esticada sobre crânios deformados. Os rostos, antes capazes de amor e alegria, estavam contorcidos em máscaras eternas de agonia. As demonstrações não eram apenas de angústia; eram espetáculos medonhos de agonia, cuja composição foi criada por uma entidade maliciosa.

O ar estava pesado com o fedor da morte, um odor doentio que se infiltrava em cada fenda desse mundo de sonhos ensimesmado. Era um fedor que falava de decadência e vida esquecida, em vez do aroma fresco e estéril da nova mortalidade. 

Minha garganta estava arranhada por um profundo horror que estava me envolvendo. 

Não apenas a cena horrível à minha frente era aterrorizante, mas eu também estava com a sensação horrível de que aquilo era mais do que um simples pesadelo – em vez disso, era um vislumbre dos horrores em potencial que causei.

O brilho vago de centenas de olhos me condenava com intensidade palpável, como se carregassem o peso de acusações eternas.

— Assassino…

A cada passo, eu descia às profundezas incompreensíveis de minha própria angústia. O último vestígio de minha sanidade mental foi destruído por sombras que se estendiam como garras famintas.

O tempo passou a ser um vento em meu espírito desnudo e indefeso, uivando em um grito crescente e trazendo sussurros horríveis que me feriam como agulhas afiadas.

— Seu toque é veneno, seu passo é o caminho da morte…

Antes apenas sangue, o chão encharcado agora parecia palpitar com uma energia perturbadora, como se a própria superfície estivesse trepidando de desgosto com a minha presença. 

O sangue nas tuas mãos clama por justiça, e a justiça é a tua própria perdição. — proclamava uma voz gutural, ecoando de um dos desfigurados.

O chão rangia sob o meu peso, uma espécie de lamento pela dureza à minha existência.

A distinção entre sanidade e insanidade desaparecera à medida que eu descia cada vez mais nesse pesadelo horrível, levando-me a um poço sem fundo de desesperança.

— A culpa é tua, o peso da tua decisão pesa sobre nós como uma sentença eterna.

Conforme adentrava no quadro medonho, a quantidade de vozes se tornava cada vez maior, misturando-se em um coro de agonia. 

— Assassino! — ressoou das profundezas uma alma perdida gritando.

Fui colocado em uma plataforma improvisada feita com os restos das vidas que eu havia destruído. Abaixo havia um panorama horrível de almas se contorcendo. Elas não eram meras espectadoras; eram um coro de acusações, cujas palavras eram um clamor de raiva e tristeza que alimentava um caldeirão já repleto de minha própria culpa.

O medo me puxava, exigindo que eu fugisse. No entanto, a liberdade era uma dura ilusão. Das ruínas de meus crimes, não havia refúgio, nenhuma saída para o estágio de julgamento. 

O cheiro de corpos em decomposição enchia o ar ao meu redor, uma mistura de maldição que fazia minhas narinas arderem. 

— Você pensou que o poder o libertaria, mas ele apenas o aprisionou em um inferno criado por você mesmo.

O som da voz sibilante envolveu meus ouvidos, causando arrepios na espinha, como dedos frios e esqueléticos.

— Em seu rastro, só restam meras almas sedentas, clamando por vingança que nunca será satisfeita.

O suspirar maligno soava como um fio invisível apertando, apertando, apertando em torno da minha consciência.

— Toda escuridão é um tributo à sua queda, um fantasma que o seguirá além da morte.

Gritos perdidos irromperam das fissuras, sinalizando um perigo visceral que ecoou como um trovão em um céu sem estrelas.

Contudo, finalmente, abri meus olhos.

Abri os olhos, um ato semelhante ao de um homem que estava se afogando, tentando chegar à superfície. 

A realidade voltou em uma velocidade vertiginosa, os contornos nítidos do meu quarto substituindo o pesadelo grotesco. A súbita ausência de pressão em meu peito, o silêncio opressivo – foi como uma ressurreição, uma fuga desesperada de uma profundidade desconhecida e sufocante.  

— Ah, puta merda…

A miséria que atormentava cada área da minha mente era óbvia na forma de suor frio que escorria. 

Minha respiração estava rápida e acelerada, como se escapar da prisão de seus sonhos fosse uma corrida contra o tempo. 

— Por que isso…?

A luz tênue da lua se infiltrava sorrateiramente pelas cortinas, expondo as silhuetas dos móveis.

O conforto do ambiente, no entanto, não aliviou o peso que continuava a pressionar meu peito. 

O brilho fraco do relógio na mesa de cabeceira indicava que eram 3h23 da manhã. 

Levantei-me, com o pé sentindo o piso frio, direcionando-me ao banheiro.

O mais cruel dos confidentes, o espelho, refletia olhos perturbados que não se reconheciam. 

Uma tristeza invisível criava cicatrizes em meu rosto. 

O som de vozes condenatórias ecoava em minha cabeça como fantasmas que se recusavam a deixar o palco.

— Cala… — Bati a mão na cabeça. — Cala boca, droga.

Curvando-me sobre a pia, derramei água fria sobre minhas mãos trêmulas. As salpiquei em meu rosto, tentando dissipar a névoa que obscurecia minha visão.

Ao levantar-me, o reflexo no espelho revelou uma figura que não era eu. 

Haviam olhos vermelhos, contornos de uma face que, sob o manto da ilusão, não se assemelhavam à minha própria imagem. 

— Caralho!

Com o susto, afastei-me.

— Tô sonhando ainda?!

O momento de potencial escapismo foi efêmero, despedaçado pela chegada inesperada.

— E não está? — disse a coisa. 

Era uma voz carregada de exaustão e profundidade, reverberando pelo espaço com uma melancolia quase tangível. 

Em um arrepio involuntário, o ambiente pareceu enregelar, enquanto meu corpo se enchia de uma sensação estranha, como se estivesse sendo corroído por um ácido invisível.

— Isso só pode ser brincadeira…

Tapando os ouvidos e fechando os olhos, minha primeira reação foi silenciar a voz intrusiva, uma presença inoportuna que eu preferiria ignorar. 

Mas, como se o universo conspirasse contra mim, as palavras continuaram a ecoar.

— Não finja que não ouviu. Estou falando com você.

A relutância em responder aquilo não a silenciaria, eu bem sabia. Um jogo interno forçado pela circunstância.

— Ah… vai ficar nisso?

— Só desaparece.

No entanto, a paz estava destinada a ser uma miragem.

— Não tem mais chances.

Eu desejava que ele pudesse se calar por um breve instante. 

Apesar de ter escapado das paredes tangíveis de uma prisão, descobri que estava confinado em uma prisão mais insidiosa: a minha própria mente. 

Um labirinto de tormentos pessoais, um inferno autoinfligido que parecia eternamente perpetuar-se. 

Era como pedalar numa roda-gigante doentia: um momento eu estava no topo, no próximo, mergulhava nos abismos mais profundos da minha própria desesperança.

O monstro sinistro residia dentro da jaula, e eu era forçado a lidar com as consequências das chaves que, ocasionalmente, outras pessoas imprudentemente usavam para libertá-lo.

— É uma situação lamentável. Você não se sente culpado pelas mortes que causou? — perguntou ele em tom cínico.

Abrindo os olhos, o olhei com uma raiva evidente.

— Eu? Eu fiz isso?! Ah, vai se foder, seu merda. Não ignore que você me colocou nessa vida de bosta. Sem você, a vida seria mais fácil.

— Eu acho que não.

Uma risada amarga escapou dele, reverberando como um eco sombrio no corredor labiríntico dos meus pensamentos. 

Era uma figura que desafiava meu controle, um ser cuja influência parecia se entrelaçar inextricavelmente com a minha própria identidade.

— Só fala logo que o que cê quer, cacete. Não tô com saco pra ficar aturando suas charadas miseráveis.

— Depois de tanto tempo é que finalmente consegui provar meu domínio sobre você. Quero isso de novo e entre outras coisas que ainda não posso alcançar. Mas até esse dia chegar, ainda seremos eu e você em um só para sempre.

Estranheza permeia nossas interações. 

Ainda mais estranho era o fato de que eu não estava completamente sozinho, mas compartilhava espaço com essa coisa atormentadora. 

Tinha quase morrido por causa dela, e mesmo assim, essa figura obscura não parecia disposta a desistir do seu terrível domínio.

— Olha, esse papinho é estranho. Mas, sinceramente, você não vai conseguir isso nem se eu deixasse.

— A razão para isso acontecer é um conceito relativo. Querendo ou não, você não tem controle sobre nada disso. Não importa o quanto acreditemos que estamos no comando, somos apenas peças em um tabuleiro muito maior.

Em meu rosto, com o franzir das sobrancelhas, havia somente desagrado.

— Você fala tanta merda. Enfia um poste no cu e tenta pular.

O desespero, puro e absoluto, fez-se presente, lembrando-me de tempos passados quando a dor era uma novidade avassaladora.

— Esse é o seu destino e será isso que seguirá como parte de um selamento idiota.

— Tá, tô nem aí, só me responde uma coisa, cretino.

Aproximando-me da pia, segurei as bordas e me inclinei para o espelho, rente à ele.

— O que enlouqueceu você pra matar aquela gente?

Cutuquei com o dedo indicador a minha têmpora.

— Perdeu algum parafuso?!

— “Enlouqueceu”? — Sua risada era um cântico sombrio. — Essa noção é realmente necessária? Você sempre foi assim, cético demais para ver além do óbvio.

— Te odeio tanto…

— Tenho plena consciência. 

Ele sorria de forma doentia. 

— A jornada ainda é longa. Espero que, eventualmente, possamos chegar a um entendimento.

— Não me importo com o que seja. Não tô aqui pra fazer amizade com um fiasco e nem preciso de um trato.

— Se isso é o que você pensa, tudo o que não é bom, é ruim. E se for ruim, terei que forçar a entrada.

Com a ameaça proferida, ele desapareceu com um simples piscar de olhos, assim como o peso que carregava, pelo menos por enquanto.

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Olá, eu sou Nyck!

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