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O rosto de Benjamin, que antes exibia um olhar vivo, havia se transformado em uma pintura desbotada com tons obscuros que sugeriam um espírito abatido. Ele havia se transformado em uma casca oca de si mesmo e era apenas uma sombra do que fora havia se tornado. 

Sob o domínio impiedoso de uma força desconhecida, o voto solene de enfrentar seus demônios internos e não ceder ao medo desmoronou como castelos de areia.

Uma voz ecoava dentro dele, as palavras daquela premissa sombria ecoando incessantemente em sua mente. 

“Eu tenho que matar…”

Repetia como um mantra macabro, uma frase que enraizava uma vontade insidiosa em sua consciência.

Benjamin se viu diante de sua casa, aquela residência onde a ternura materna e a bondade paterna costumavam acolhê-lo, mas tudo estava prestes a desmoronar. 

A fachada de amor e união estava à beira do abismo, ameaçando ceder diante da terrível verdade que Benjamin estava prestes a abraçar.

Um grito sufocado, cru de terror, saiu da garganta de sua garganta. 

— Mãe!

Sua voz ecoou pela sala, ricocheteando nos móveis como um pássaro em pânico.

Ela, ​​com o coração pulando na garganta, correu em direção ao filho. Seus pés descalços batiam no chão de madeira, o som era um contraponto frenético aos suspiros irregulares que escapavam dos lábios de Benjamin.

O medo, denso e sufocante, pairava no ar. Parecia pressioná-lo, um peso monstruoso ameaçando esmagar seu pequeno corpo. Parecia que as sombras escondidas nos cantos da sala estavam se estendendo, ansiosas para engoli-lo por inteiro.

Antes que pudesse alcançá-lo, um borrão de preocupação se fez presente na porta. Seu pai entrou correndo, com o rosto mascarado de preocupação que deixava linhas ainda mais profundas em suas feições já desgastadas. O sonho de um carro novinho em folha, símbolo das férias em família há muito esperadas, brilhava em sua mente como uma chama moribunda antes de ser apagado pela crise imediata.

— Benjamim, o que há de errado?! — Sua voz estava tensa com uma mistura de medo e pânico. — Fale pra gente!

Na interseção, Benjamin estava imóvel, uma cena solitária que refletia o caos interno. Todas as possibilidades que se abriam à sua frente se estendiam como um precipício, acenando para que ele enfrentasse a terrível verdade ou caísse no desconhecido. Um sentimento doloroso, desagradável e amargo, dilacerava seu próprio espírito.

A intensidade de suas emoções fez com que seu corpo se contorcesse como uma folha apanhada por uma chuva inesperada, estremecendo seus membros. 

— Para… foi…

Seus lábios tremiam incontrolavelmente, produzindo palavras que se recusavam a formar frases coerentes.

Todos os caminhos que ele tomava só serviam para levá-lo mais fundo no labirinto de suas próprias preocupações. Cada decisão que ele tomava e cada movimento que fazia representava uma descida perigosa em uma colina íngreme. Ele se sentia como se estivesse andando em uma corda bamba, no precipício entre o desastre completo e o desejo angustiante de um refúgio que talvez não existisse.

A mão gentil, quente e familiar de sua mãe apertou-lhe pelo ombro.

— Respire fundo, meu bem. Está tudo bem, a mamãe está aqui.

O olhou para o rosto dela, marcado pela preocupação, mas irradiando um amor inabalável. 

— Lembra do que eu disse? O que quer que você tenha visto, não há problema em me contar.

A realidade, uma cobra horrenda enrolada dentro dele, ainda tinha o potencial de morder. Mas, por uma fração de segundo, seu controle relaxou com o amparo incondicional de sua mãe. 

Com os olhos fechados e a respiração irregular, como se estivesse sendo rasgado, permitiu-se ter esperança de que, talvez, apenas possivelmente, a verdade não viesse a ser sua ruína. 

— Mamãe, eu…

A coragem estava prestes a vencê-lo, sua boca prestes a abrir-se para liberar a confissão. Todavia, uma convulsão súbita o atravessou, torcendo-o e sufocando sua voz. 

Seu corpo cedeu sob a pressão invisível, dobrando-o de joelhos em uma postura de agonia. Uma dor aguda explodiu em sua mente, como uma faca cravada em suas sinapses, enquanto seu estômago se torcia em espasmos violentos.

A situação era um labirinto, uma armadilha ardilosa que ele não conseguia desvendar. A condição estabelecida pelo estranho implicava uma obediência cega, uma submissão total a um controle psíquico aterrorizante.

— Ngh… Minha cabeça… — Ofegou, as palavras eram uma súplica distorcida perdida na tempestade — Tá doendo…!

Essa angústia inundou os olhos dela quando virou-se para seu marido em busca de ajuda.

— Faça alguma coisa, Ethan! Pelo amor de Deus! 

Ethan, no entanto, estava ancorado em uma realidade muito mais sombria. 

— O hospital não é bom, Emma. Esta cidade está mal equipada para essas… coisas. E as nossas finanças… — Arrastou-se, seu olhar caindo para o filho. Ambos sabiam a verdade que pairava no ar – uma verdade ainda mais sufocante do que a mão invisível que espremia a vida de seu filho. Simplesmente não havia boas opções. 

Mas o amor de uma mãe, feroz e primitivo, não seria silenciado.  Sua voz, embora trêmula, se ergueu novamente, com um lampejo de desafio aceso em seus olhos.

— Isso não importa! Não podemos simplesmente deixá-lo assim! Temos que tentar alguma coisa! 

O tom alarmado em que sua voz foi pronunciada quebrou a casca da paralisia de Ethan. A urgência crua em seu tom ressoou com um impacto físico, sacudindo-o em um frenesi de ação. 

Mas suas súplicas se depararam com uma parede de fria suspeita. Rostos envelhecidos olhavam para ele por trás das portas fechadas. Seus olhares tinham um desdém, uma distância forjada no crisol da autopreservação. 

As súplicas de Ethan, frenéticas e desarticuladas, eram mal interpretadas como os sussurros devastadores de uma mente que estava à beira da loucura, afinal, em meio às suas próprias dificuldades esmagadoras, a empatia era um luxo desgastado que eles não podiam se dar. 

— Por favor! Nosso filho está em sérios problemas, ele precisa de ajuda!

Para um pai cujo filho está no limiar do abismo, a dor era uma ferida exposta, que corria a cada batida ignorada na porta.

A quinta batida sem resposta cravou um prego na esperança já fraturada de Ethan. Cada negação era um pedaço de gelo alojado mais fundo em seu estômago agitado. Mas na sexta tentativa, o destino, ou talvez o puro desespero, abriu uma porta. 

Um homem estava ali, emoldurado pela luz fraca do corredor. A idade havia se gravado em seu corpo, uma tapeçaria de rugas e pele envelhecida, mas uma vitalidade juvenil ainda brilhava em seus olhos. Eles eram azuis, da cor de um mar tempestuoso, e continham uma profundidade de melancolia que falava muito de experiências passadas.

O alívio, um visitante passageiro, tomou conta de Ethan. 

— Graças a Deus. Preciso de ajuda para meu filho. Ele está…

O homem ergueu a mão

— Calma, calma. Vamos fazer isso passo a passo. Sem pressa.

Ethan, no entanto, recuou. Esse comportamento calmo, um forte contraste com suas próprias emoções agitadas, parecia um insulto. 

— Calma?! — cuspiu de volta. — Meu filho está doente, precisando de ajuda e você…

Os músculos de sua mandíbula se retesaram, fechou as mãos e deixou sua fala incompleta. Em seu peito ardia a raiva, uma chama acesa pela aparente indiferença do morador. Era uma reação incivilizada, um revide desenfreado contra um mundo que não parecia se importar. 

Por outro lado, o homem reagiu à sua explosão com serenidade consciente. Conhecia bem essa linguagem, falada por pais que haviam percorrido a jornada solitária de ver o filho sofrendo. 

— Peço desculpas pelo mal-entendido. Como está seu filho?

Não foi um gesto grandioso, mas era uma única vela tremeluzente na escuridão sufocante. Uma lasca de empatia.

Ethan, com a respiração ofegante devido ao esforço, permitiu que um suspiro escapasse de seus lábios. A tensão que havia se enroscado em seus músculos afrouxou um pouco, uma pequena concessão à possibilidade de auxílio. 

O olhar do senhor oscilava de um lado para o outro, um lampejo de incerteza obscurecendo seu comportamento até então tranquilo. Ele não era médico, isso ficou claro em sua hesitação. No entanto, a urgência na voz de Ethan e o tremor em suas mãos diziam muito. 

Em meio às duras realidades de suas vidas, uma solução rápida às vezes superava uma solução perfeita.

— Traga-o aqui. — disse finalmente.

A sobrancelha de Ethan se ergueu em resposta ao pedido inesperado, um olhar de ceticismo contra a esperança ansiosa.  

— Espere um pouco. — Cruzou os braços. — O que exatamente você está planejando?

— Posso levá-lo ao hospital na cidade vizinha. É uma viagem um pouco longa, não vou mentir.

— Então, cara! — Sua voz se elevou um pouco. — Estaremos perdendo tempo!

— Mesmo assim, sei que não é o ideal, mas é a melhor opção que temos no momento. Nós o levaremos até lá e tudo ficará bem, eu prometo. Enquanto isso, mantenha seu filho confortável. Se puder, anote quaisquer outros sintomas que ele esteja apresentando. Isso ajudará os médicos quando chegarmos.

Sentindo o peso do pensamento em seus ombros, Ethan exalou ansiosamente. Embora tenha feito isso com cautela, ele admitiu a gravidade da situação e um olhar determinado surgiu em seus olhos, indicando que estava disposto a seguir em frente com o plano sugerido, apesar de suas ressalvas.

— Estou confiando em você.

— Ele é seu filho, não faria mal a ele. 

Estendeu a mão à Ethan.

— Philip Gordon.

O mesmo correspondeu com um aperto forte.

— Ethan Moore.

— Muito bem, senhor Moore. Vá depressa.

Com firme determinação, ele caminhava de volta para casa. Contudo, interrompeu seu passo ao virar-se para Philip. Lançou-lhe um olhar perspicaz e, com uma ponta de desconfiança, perguntou:

— Você é daqui? — Ele levantou uma sobrancelha, como se buscasse por algo que não estava explícito nas palavras. — Acho seu sotaque e inglês um tanto distintos.

Gordon, percebendo a incerteza dele, esboçou um sorriso descontraído e elucidou:

— Na realidade, cresci em outro país. Essas nuances no sotaque e no inglês são resquícios da minha terra natal.

— Ah, é? — Franziu o cenho, mantendo sua postura cautelosa. — E o que te trouxe por aqui?

Ele fez um gesto casual com as mãos, como se estivesse tentando afastar qualquer suspeita.

— Bem, a vida dá voltas, não é mesmo? Eu estava procurando por novos ares, novas experiências. E aqui estou eu, descobrindo o que esta cidade tem a oferecer.

Ethan assentiu lentamente com a cabeça, mas a preocupação permaneceu em seus olhos.

— Parece um pouco vago. — Inclinou a cabeça, procurando decifrar algo oculto nas palavras dele. — Você não tem outros motivos para estar aqui?

O homem manteve o sorriso, mas seus olhos demonstraram uma mistura de sinceridade e prudência.

— Foi a curiosidade genuína que me trouxe até aqui. Gosto de desbravar novos lugares, conhecer gente nova. Não tem nada de obscuro nisso.

Com passos lentos, Ethan se afastou, mantendo um olhar cético.

— Tá… entendi. Espero que esteja falando sério. Já vi coisas bem estranhas acontecerem nessa cidade.

— Pode ficar tranquilo. — Philip ergueu as mãos em sinal de paz. — Não tenho a menor intenção de arrumar confusão. Estou apenas buscando uma nova fase na vida.

Ethan deu a Gordon um último olhar desconfiado por cima do ombro antes de voltar para casa. Ele o abandonou ali, deixando que as sombras insondáveis da cidade o condenassem.

Uma fragrância cruel e avassaladora atingiu as narinas de Ethan como um golpe direto no estômago assim que ele cruzou o limiar da porta. O cheiro de sangue impregnava cada centímetro do ambiente, deixando um rastro doentio e inescapável.

Perplexo, Ethan não podia simplesmente ignorar o repugnante rastro vermelho que se estendia sinistramente da cozinha. Movido por uma curiosidade temerosa, adentrou o cômodo, apenas para se deparar com uma visão horripilante.

— Não… não… — sussurrou, num lamento quase inaudível, enquanto o pânico se apossava de sua voz.

O corpo de Emma jazia estendido no chão, sua figura antes tão viva, agora imóvel e inerte. 

— Não!

A cruel realidade transparecia na quietude de seus membros, na palidez de sua pele. 

— Por quê? Quem fez isso contigo?!

O mundo prendeu a respiração, como se o próprio tempo, atordoado pela enormidade da tragédia, se recusasse a mover-se nem que fosse um centímetro. Os segundos seguintes foram um turbilhão de agonia, um redemoinho que sugou o ar dos seus pulmões e o deixou ofegante por uma razão, qualquer razão, para acreditar que isso não era real. 

— Meu amor…

Por fim, as lágrimas presas atrás de seus olhos se libertaram, uma enxurrada de amargura escorrendo por suas bochechas. 

Emma, o sol que mantinha seu globo vivo e quente e o centro de seu universo, havia se transformado em uma casca fria e indiferente. Em um espetáculo agridoce, o passado, um caleidoscópio de lembranças preciosas, ganhou vida diante dele. O amor deles havia se transformado em uma lembrança que o atormentava, servindo como um lembrete constante de como a vida é efêmera.

— Me desculpa…

Soluços irromperam em momentos de silêncio, testemunhas mudas da tempestade emocional que o consumia.

— Quem foi…?

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Olá, eu sou Nyck!

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