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Nossos sonhos podem se tornar realidade, e o que desejamos pode se concretizar. Sem eles, nossa vida seria como uma manhã sem sol, um céu sem estrelas, um oceano sem ondas e uma existência sem propósito.

As palavras de Emma, uma vez dita à Benjamin, ressoaram com uma convicção intrigante. 

Sua perspectiva sustentava que a essência da luta humana não se encontrava na presença de indivíduos simples e despercebidos, mas na ausência de seres desprovidos de nome ou significado.

No entanto, entre aqueles que achavam que deveria haver limites, passou a ser vista uma distinção entre certo e errado, honra e desonra, heróis e vilões.

Cada decisão tomada e cada ato cometido tornou-se um elo na cadeia que separava a virtude do vício. 

Nessa rede de divisões, a moralidade e a ética definiam um domínio no qual as consequências eram definitivas e a consciência era importante.

Em meio a essa situação moralmente delicada, Benjamin se viu em um estado de turbulência mental em que teve de tomar uma decisão difícil. O medo lançou uma sombra perniciosa sobre si, e toda a educação dos pais da criança seria posta à prova.

O destino de Emma dependia de um fio tênue, oscilando entre a luz e escuridão, entre as possibilidades e os limites, antes da conclusão significativa que a aguardava.

A mãe, sempre atenciosa, preparava um chá para aliviar a dor do filho, que estava esperando à mesa.

— Fique aí, por favor. — insistiu. — Estou quase terminando.

Ele apenas assentiu, emitindo um murmúrio em concordância.

O leve farfalhar das folhas de chá e o estranho murmúrio da chaleira pontuavam a quietude da espera, que estava repleta de ansiedade reprimida.

À esquerda de Benjamin ficava o armário, uma presença silenciosa que, de repente, se fez audível no momento que uma voz sussurrou:

— Um desejo almejado precisa morrer para ser alcançado.

A voz era um eco na mente de Benjamin, guiando seus olhos em direção às gavetas. 

Novamente, a voz se fez presente:

— Compaixão é uma monotonia dolorosa, uma virtude que se prolonga até que você não possa mais suportá-la… — Simultaneamente, Benjamin se levantou da cadeira, movendo-se em direção a algo que parecia chamar por ele. — … e se essa virtude for mais intensa do que a vontade, é isso que deve ser sacrificado…

A gaveta rangeu ao ser aberta, revelando um arsenal de facas aguçadas. Benjamin pegou uma delas, mas seus movimentos não passaram despercebidos por Emma.

— Ben? O que você pretende fazer com isso?

O silêncio pairava no ar como uma ameaça enquanto ele avançava, a lâmina reluzindo à luz fria da cozinha.

— Devolve essa faca agora, isso é extremamente perigoso.

No entanto, Benjamin permanecia em silêncio, seu rosto revelando-se inexpressivo. 

Os segundos se estenderam, tensos como uma corda prestes a se romper.

A voz continuava a sussurrar: 

— Se o sentimento for comparado a um grão, ele crescerá, viverá…

Criança terrível, alimentada por uma ilusão que tomou vida própria.

Os sussurros da coisa reverberavam em sua consciência, uma sinfonia discordante que repercutia pelas passagens nebulosas de sua existência, despedaçando-o e abrindo passagens que davam acesso a um domínio onde o proibido e o profano faziam um balé ameaçador. 

Seus limites perceptivos entraram em colapso, expondo um labirinto de desejos desvirtuados alimentados pela indulgência subliminar da coisa – permissão que se transformou em sombras estendidas no terreno árido de sua alma.

Com cada dose de desespero, sua mente era turvada, manipulada, compelida a compreender apenas as convenções da lógica fria e fatídica. 

Sua própria sombra, algo mais íntimo, regia seus atos, percebendo além das máscaras de aparências assustadoras, tornando-se mais forte, mais voraz, dando sua sentença final:

— … e morrerá como um grão.

A consciência de Benjamin estava despida de todas as complexidades e ambiguidades. 

O que restava era o som da carne sendo rasgada, os respingos de sangue pintando um quadro aterrador de júbilo e pânico genuíno. 

A dor era contagiante, penetrante, como uma faca trespassando o peito de Emma, espetando suas emoções mais profundas.

Benjamin exibia um sorriso diabólico, mas, na verdade, desejava chorar. Era uma dor que se tornara desnecessária, uma agonia sem sentido. 

Ele estava começando a entender que essa dor existia, persistia e perdurava através de todas as experiências, não apenas da atual. 

Até que ele se libertasse dessa tortura, não haveria limites para seus atos.


Diante do corpo inerte de Emma, a visão impactou Ethan, apertando-lhe o coração com uma mistura avassaladora de tristeza e horror.

Suas vestes já estavam tingidas de vermelho, o líquido carmesim impregnando o tecido como testemunha silenciosa da tragédia que se desenrolara.

A desgarradora rasgadura nas roupas revelava uma ferida horrenda em seu estômago, de onde o sangue escorria.

Ethan viu-se tomado por uma tristeza forte e intensa que permeava cada parte de seu ser. 

Lembranças que ele vivera com Emma voltaram à tona, assombrando-o como fantasmas. 

A atmosfera que os cercava parecia estar carregando o peso de todos os sentimentos que eles haviam experimentado juntos como um casal.

Afinal, como poderia ser diferente?

Emma havia partido deste mundo, deixando um vazio que nada poderia preencher. Seu coração doía por ela, uma dor que parecia lancinante, como se a mera existência disso fosse insuportável.

Sua angústia interior parecia desafiar a gravidade, pois se recusava a se render à lógica ou à razão. Era uma dor que parecia ultrapassar os limites da realidade, uma aflição que não podia ser contida.

— Eu sinto muito, papai. — disse Benjamin, que quebrou o silêncio.

Ele segurava uma faca em sua mão, a lâmina manchada de sangue ainda fresco.

Ethan o encarou, seus olhos, uma mistura de confusão e raiva contida. 

Ele começava a entender a verdade, uma verdade tão sombria e perversa que quase parecia inacreditável.

— Mamãe… Ela foi para o céu e nunca mais vai voltar.

A confissão de Benjamin não tinha sombra de remorso. Era como se ele soubesse que seus atos eram inevitáveis, parte de um destino já traçado.

E então, as palavras do seu filho ecoaram em sua mente.

— Entendo o seu sonho, Benjamin. Mas se você continuar assim, nunca terá o que deseja.

— Mas pai, você… Você não está orgulhoso? — Um riso hediondo escapou de seus lábios. Não é esse o ponto? Não é isso que queremos…?

Era o dever de Benjamin, sua responsabilidade assassina. Uma ordem doentia daquele que o havia aprisionado em suas garras subconscientes. 

O que mais poderia ter feito? 

A alma de Benjamin estava manchada de escuridão, um servo obediente das vontades de seu mestre invisível.

O homem estava à beira do abismo, suas emoções oscilando entre a revolta e o desespero.

— Maldito seja o dia em que você cruzou nosso caminho. Eu me arrependo tanto de você como filho…

Proferiu palavras que jamais teriam sido imaginadas vindo dele, especialmente direcionadas ao seu próprio à criança que cuidou. 

Ele, que era conhecido como um pai afetuoso e presente, alguém que comete pequenos erros, mas sempre mantém sua postura firme.

— Pai…

A voz de Benjamin tornou-se cada vez mais perturbadora.

Seu timbre carregava um tom sinistro e mórbido, e sua mera pronúncia evocava uma sensação de terror inominável.

Ethan sentiu um arrepio percorrê-lo, um medo paralisante e pungente do filho que estava diante dele. 

Como uma criança tão jovem poderia abrigar uma atitude tão macabra e perturbadora? 

A realidade era tão sinistra que Ethan quase não conseguia processá-la. 

Seu filho, uma vez inofensivo, agora estava tomado por um desejo assassino.

Um impulso tão doentio nascendo e crescendo dentro dele.

As ideias preconcebidas de Benjamin sobre relacionamentos seguros e confortáveis foram desmentidas com brutalidade. 

A história estava longe de acabar; estava apenas começando. 

Seu enredo era entrelaçado com fracassos e sucessos, teias de decepções e triunfos. 

Um fracasso isolado poderia levar à desesperança, mas Benjamin estava destinado a mais do que isso.

Dentro de cada herói habita um monstro, e dentro de cada monstro espreita um herói. 

A dualidade é uma realidade inescapável. 

Seu espírito, uma arena onde o bem e o mal travam uma batalha constante, reflete essa dualidade. 

Dúvidas corroem as fundações da confiança, tanto nas ações de outros como nas próprias motivações.

—Sua própria vida é limitada. Não perca tempo se preocupando com a vida de outra pessoa.

Uma sombra alongou-se sobre Benjamin, assumindo uma forma humanoide, sua voz sussurrando em seu ouvido. 

Somente Benjamin podia ouvir essa presença oculta. 

— Eu vou garantir que ela também te encontre no céu.

A realidade começou a distorcer-se na mente do menino, suas ações sendo impulsionadas pela influência sinistra da sombra. Uma criatura cuja identidade permanecia oculta, um manipulador invisível que o conduzia a seus desejos mórbidos.

A ordem foi cumprida, o resultado foi alcançado. 

Ethan, tal como Emma, foi envolvido em uma corrente de emoções paralisantes. 

A energia negativa se derramou sobre ele como sombras gélidas, bloqueando qualquer vislumbre de clareza em seu pensamento. Era como se a angústia, que antes era apenas imaginada, estivesse subitamente se tornando um espectro palpável que o envolvia completamente.

Dessa forma, foi trespassado por lâminas afiadas. 

O arrependimento não encontrou espaço em seu coração. 

A tristeza que um dia poderia ter escondido o terror não podia mais fazer isso. A presença de Benjamin estava irrevogavelmente ligada a essa horrível criatura que agora habitava em seu âmago.

O elo estava rompido, os sentimentos estilhaçados e as sensações esmagadas. 

Sua alma choraria tanto quanto seu coração desejasse, cada lágrima tocando a dor da angústia, da falsidade e da decepção.

Havia feito a escolha, sem chance de retorno.

A esperança havia se esgotado, a vida havia perdido o sentido.

—Você entende agora? — As palavras da sombra ecoaram, penetrando sua mente. — A esperança traz consigo a ilusão…

Os olhos de Benjamin permaneciam fixos nos dois corpos mutilados diante dele, sua mente dominada por um comportamento doentio.

—… e a ilusão traz consigo o sonho…

Era forçado a testemunhar essa cena, uma realidade tortuosa que ele mesmo havia desencadeado.

—… e o sonho, por fim, traz consigo a decepção.

Portanto, era uma criança consumida por um vazio que se alastrava dentro de si.

— Benjamin…

À luz do cenário sangrento, uma presença surgiu como um imaginário que se escondia atrás da criança. 

Quando se virou para encará-la, percebeu a aparição que estava se passando por Amy. 

Seus olhos, que antes eram doces, exibiam uma distorção atroz, com uma aura macabra envolvendo suas feições.

— Está tudo bem. — Sua voz cortou o ar, doce e infantil, com um tom musical que se misturava com a escuridão do ambiente. — Você tomou a decisão correta. Para conseguir o que queremos, às vezes é preciso fazer sacrifícios.

A melodia de suas palavras contrastava dolorosamente com a destruição que a cercava, como se ela fosse uma aparição deturpada de um conto de fadas.

— Você é como um super-herói agora. Os heróis fazem o que é necessário, não é? Mesmo que seja feio. Mesmo que seja sujo. Eles fazem o que é necessário.

O olhar vago de Amy estava fixo em Benjamin, como se estivesse buscando sua aprovação para as mortes que haviam se desenrolado.

— Vermelho é minha cor favorita, você sabia? É tão bonita e… significativa.

Abaixou-se e deslizou os dedos sobre as manchas de sangue que pontilhavam o chão. 

— É tão bonito, não acha? Ver o mundo tingido dessa cor.

Seu sorriso, um deleite bizarro, alternava entre infantil e assustador.

— Obrigada por esse presente.

Amy se levantou e foi até Benjamin. 

Estendeu a mão para tocar a mancha de sangue na pele dele, como se aquilo fosse uma obra de arte a ser apreciada.

— É uma bela bagunça. Algumas vezes, o herói precisa sujar um pouco as mãos. Você fez isso muito bem.

A garota sorriu de forma assustadoramente grácil.

— Capitão Justiça, meu herói favorito.

O uso da palavra “herói” soava irônico.

Tinha o som de uma memória distorcida que outrora havia sido preenchida com uma dignidade honrosa.

A trajetória dos eventos havia distorcido o conceito de justiça, deixando-o como um reflexo confuso de sua forma anterior.

A própria palavra justiça pairava no ar, um lembrete sóbrio da realidade nebulosa que a natureza pode gravar no que antes era considerado nobre, em vez de uma promessa de salvação.

Em uma tentativa de bloquear a visão deturpada que estava aparecendo à sua frente, Benjamin fechou os olhos.

Ele suspirou profundamente e sussurrou para si mesmo:

— Eu quero morrer.

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Olá, eu sou Nyck!

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